Artigos

Nanquim – As ilustrações de Malangatana em “O pátio das sombras”, de Mia Couto

O Nanquim é uma técnica antiga, que se originou na China, na região da cidade de Nanjing, que já foi a capital chinesa. Essa tinta também foi muito utilizada na Índia, mas ganhou popularidade pelo seu uso no Japão. O nanquim é um material muito usado para a escrita, a pintura e também para o desenho. Documentos de cerca de 2 mil a. C. comprovam que, na China, o nanquim já era utilizado em manuscritos. Geralmente, a tinta era utilizada em papel, pergaminho ou telas de seda, com pincéis e canetas de bambu (o que originou artes tradicionais como a Caligrafia e o Sumiê). Na Europa, o nanquim era utilizado com canetas bico-de-pena, que, no início, eram feitas de penas ...

Aquarela – Ilustrações de Luís Cardoso em “Leona, a filha do silêncio”, de Marcelo Panguana

Aquarela é uma técnica de pintura criada há cerca de 2000 anos na China. Esta tinta é famosa e inigualável por ser extremamente translúcida. Por trás das pinceladas, o papel branco é revelado e a pintura parece brilhar de dentro para fora, o que permite que a luz seja representada de forma única, diferente de outros materiais. Nas pinturas em aquarela, os pigmentos coloridos são diluídos em água ou suspensos sobre o suporte. As tintas fluem sobre a água de maneira bastante livre, o que pode criar manchas e texturas muito expressivas, sejam ela planejadas ou acidentais. Os papéis de qualidade mais usados são os de fibras de algodão, linho e cascas de árvore, com uma gramatura alta para que ...

[Sobre] O que acontece quando um homem cai do céu, de Lesley N. Arimah, por Roberta Estrela D’Alva

O povo negro sempre teve suas contadoras de histórias. Lembro-me de Dona Rosa, minha saudosa e enérgica avó, tecendo suas narrativas para uma plateia de netos um tanto atônita, um tanto maravilhada. Boas contadoras de história têm a capacidade de mover nossos sentidos com suas vozes. Foi exatamente assim que me senti ao ouvir Lesley Nneka Arimah. Sim, porque ainda que escrita, é uma voz que se escuta, e que faz com que muitas outras sejam escutadas, e às quais não há como se passar incólume. Vozes negras de um feminino diaspórico, que sempre chegando ou partindo de algo (uma pessoa, uma lembrança, um país, um medo) criam territórios imaginários, emocionais, familiares que nos transportam para o centro da ação ...

Esperança para voar: um livro envolvente e emocionante, por Luciana Bento

Sabe quando você começa a ler um livro e ele automaticamente transporta você para outro lugar? Esperança para voar é um desses livros. Ele conta a história de duas adolescentes, Shamiso e Tanyaradzwa, que fazem da perda – concreta ou iminente – um caminho para o florescimento de uma amizade e para o amadurecimento pessoal. Shamiso é uma jovem que retorna ao Zimbábue com sua família após crescer no exterior. Seu pai, um famoso jornalista investigativo e contrário ao governo, é morto em circunstâncias suspeitas e ela precisa se adaptar ao novo rumo de sua vida. A ausência do pai, o novo colégio interno e a distância das amigas da Europa... tanta coisa acontecendo! Shamiso sente dificuldades em se adaptar ...

Literatura colonial: a presença moçambicana, por Rosana M. Weg

“Contudo, apesar da atitude de desconfiança ou de rejeição que gerou, a literatura colonial é um fato consumado.” (NOA, Francisco. Império, mito e miopia: Moçambique como invenção literária. São Paulo: Kapulana, 2015, p. 39.) Francisco Noa, moçambicano, é Doutor em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade Nova de Lisboa, de Portugal. Ensaísta e professor de Literatura Moçambicana na Universidade Eduardo Mondlane (Maputo, Moçambique), é atualmente Reitor da Universidade Lúrio (UniLúrio), também em Moçambique. Estuda colonialidade, nacionalidade e transnacionalidade literária, a literatura como conhecimento e o diálogo intercultural no Oceano Índico, a partir da literatura. É autor de artigos e livros de análise e crítica literária[i]. Dentre eles, Império, mito e miopia: Moçambique como invenção literária, livro que ora destacamos ...

Um clássico moçambicano de volta ao Brasil – por Jorge Vicente Valentim

É sempre com alegria e satisfação, quando me deparo com edições brasileiras de autores de língua portuguesa de outros países, sobretudo, se estes se encontram praticamente fora de alcance das mãos e do alcance dos leitores. Por isso, falar desta nova edição da Editora Kapulana de um dos textos mais paradigmáticos da literatura moçambicana, para mim, constitui um prazer inestimável. Obra de visita obrigatória para aqueles que se dedicam ao estudo das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (e faço, aqui, uma ressalva importante, talvez a única à presente edição, porque estamos lidando com sistemas literários distintos e, por isso, é urgente que o plural seja respeitado e usado: literaturas africanas), o texto de Luís Bernardo Honwana possui uma riqueza tão ...

Esculturas maconde – Ilustrações de “O caçador de ossos”, de Carlos dos Santos

A escultura maconde é uma das artes tradicionais do povo maconde (ou makonde), pertencente ao grupo étnico bantu da região de Cabo Delgado, nordeste de Moçambique e sudeste da Tanzânia, na África. A arte maconde é representada pela música, pela dança e por objetos produzidos em palha entrelaçada, com que são feitos cestos e esteiras. No entanto, a arte maconde mais conhecida é a escultura, em que o material utilizado é o pau preto, madeira extraída de uma árvore do continente africano. O pau preto também é conhecido como ébano africano ou ébano moçambicano. Com o uso de serrotes, catanas, machados e outras ferramentas menores, o artesão esculpe em pau preto adereços pessoais, utensílios domésticos, instrumentos e ferramentas para uso ...

Pintura a óleo – Ilustrações de Silva Dunduro, em “Na aldeia dos crocodilos”, de Adelino Timóteo.

A técnica de pintura a óleo é uma das técnicas mais antigas e tradicionais das artes plásticas. Quase todos os documentos de história da arte dizem que essa técnica de pintura surgiu na Europa no século XV. Porém, quando em 2001, no Afeganistão, foram destruídas estátuas gigantes de Buda, pesquisadores encontraram cavernas com milhares de imagens decoradas com pinturas de Buda e seres mitológicos, feitas entre os séculos V e IX. As surpreendentes imagens tinham sido feitas com tinta a óleo, o que significa que essa técnica já era utilizada na Ásia antes de chegar à Europa. Naquela época, as tintas eram feitas à base de nozes e sementes de plantas. A pintura a óleo, apesar de antiga, ainda é ...

Outras fronteiras: o brilho dos pirilampos e os fragmentos da memória, por Carmen Lucia Tindó Secco

O livro Outras fronteiras: fragmentos de narrativas divide-se em quatro grandes partes. A primeira tem como título “Como se a manhã do tempo despertasse”. O eu lírico peregrina dentro de si para se buscar; examina suas fronteiras; navega com um país dentro da língua, fazendo do coração paisagem antiga, mas sempre presente no olhar, no álbum de suas vivências, como se pudesse despertar. A escrita se apresenta como pena de um amor infinito, como um feitiço querendo escapar do eterno. Seria isso possível? O eu lírico conversa com quem escreve. Ana no espelho. E os pirilampos na noite, com sua luz, enfeitam lembranças. Como os vaga-lumes de Didi-Huberman, resistem, revelando-se metáforas da poesia em meio a um mundo-espetáculo de luzes ...

Nanquim – As ilustrações de Celestino Mudaulane em “Wazi”, de Rogério Manjate

O Nanquim é uma técnica antiga, que se originou na China, na região da cidade de Nanjing, que já foi a capital chinesa. Essa tinta também foi muito utilizada na Índia, mas ganhou popularidade pelo seu uso no Japão. O nanquim é um material muito usado para a escrita, a pintura e também para o desenho. Documentos de cerca de 2 mil a. C. comprovam que, na China, o nanquim já era utilizado em manuscritos. Geralmente, a tinta era utilizada em papel, pergaminho ou telas de seda, com pincéis e canetas de bambu (o que originou artes tradicionais como a Caligrafia e o Sumiê). Na Europa, o nanquim era utilizado com canetas bico-de-pena, que, no início, eram feitas de penas ...

A violência do colonialismo pelo olhar de Luís Bernardo Honwana, por Vima Lia de Rossi Martin

A origem de Nós matamos o Cão Tinhoso! De autoria de Luís Bernardo Honwana, o volume de contos Nós matamos o Cão Tinhoso! é um marco da literatura moçambicana. Publicado em Moçambique em 1964, em uma edição do próprio autor, que na altura tinha apenas 22 anos, a obra foi alvo de polêmica, sendo criticada por parte daqueles que defendiam o colonialismo e simpatizavam com o regime do ditador português António de Oliveira Salazar, e aclamada por aqueles que, portadores de ideias nacionalistas, defendiam a liberdade e a autonomia do país.
Assim, no mesmo ano em que tem início a luta pela independência, conquistada apenas em 1975, a coletânea de Honwana – que ficou preso de 1964 a 1967 devido ...

Posfácio do livro “Roda das encarnações” – por Francisco Noa

Este é o quarto livro de poesia de Sónia Sultuane – Sonhos (2001), Imaginar o Poetizado (2006) e No Colo da Lua (2008) – e que se inscreve numa singular trajetória de uma escalada em que o acento na sensação se afirma como inapagável imagem de marca. Marca que adquire agora novos contornos, já insinuados em No Colo da Lua, onde claramente o misticismo se posiciona para funcionar como expressão apoteótica (ou superação?) da volúpia sensorial que define o estilo criativo desta voz que se insinua nesta e noutras margens do Índico. E é logo o título que nos prepara não para uma ruptura, ou inversão, mas para uma espécie de aliança estruturante entre o pendor sensorial e o apelo ...
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