Narração noturna

LANÇAMENTO DO E-BOOK: 19 de agosto de 2025.

No romance Narração noturna, João Paulo Borges Coelho nos conduz pelos caminhos da história, da geografia e das origens da formação política, cultural e social de Moçambique. Pelos olhos, sons e letras de personagens diversas, somos levados a conhecer o processo de invasão e dominação dos muitos reinos de Moçambique, na região do Rio Zambeze, província de Tete.

Algumas personagens marcantes: José Fernandes Jr., o Chipazi (Pé Grande), e  sua filha Mwezi (Lua); o Chefe do Posto, o Kumbuyo (corcunda) e seu sipaio Lucas; Padre Victor Courtois, o alemão Carl Wiese e régulos e guerreiros de reinos originários.

Várias vozes narrativas conversam e se completam neste romance: a voz do narrador observador, pela narrativa principal; a voz de José Fernandes Jr., por seus textos escritos (um sobre fatos reais e outro de encomenda para o Chefe do Posto), e a voz do alemão Carl Wiese, registrada em seu diário escrito e enviado a José Fernandes.

 
Categoria:

Narração noturna, de João Paulo Borges Coelho, é um romance da série “Vozes da África”, da Editora Kapulana.

A Kapulana é a editora que trouxe a obra de João Paulo Borges Coelho para os leitores brasileiros. Narração noturna é o 6º livro do autor que a editora publica no Brasil. 

Alguns trechos:

“Lá fora, no pátio, nem uma folha mexe. Debaixo de outra mangueira, a curta distância dos sipaios, um burro aguarda atrelado à sua carroça como se os dois fossem um só. Virado para o tronco de uma das árvores, o burro é a personificação da paciência. Só as orelhas mexem, agitando as moscas.”

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“E, por cima de tudo isto, outro argumento importante: o de saber escrever. Contam-se pelos dedos os pretos que como o velho sabem escrever. Aliás, com a idade a que ele chegou pode mesmo dizer-se que não há mais nenhum em toda a Chiúta.”

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“Sim, a palavra é uma espécie de estação intermédia na viagem entre nós e o mundo, e é nela que tantas vezes nos perdemos.”

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“Pangonopangono significa devagar, e era assim que as pernas curtas do burro lhe permitiam mover-se por aqueles caminhos: muito devagar. E, por outro lado, se pronunciado em voz alta, Pangonopangono era também o som que faziam os cascos do bulu batendo no chão sempre que ele se punha em movimento.”

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“O meu nome é José Fernandes Júnior, também conhecido por Chiphazi, o Pé-Grande. Sou filho da minha mãe Ervilha e de Chapuruca, nome dado pelo povo ao meu pai, que na verdade se chamava José Fernandes e de quem recebi o nome, a que os padres acrescentaram um Júnior para nos distinguir um do outro.”

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“No mato o tempo é rebelde, ora para por completo deixando as coisas imóveis durante uma espera larga, ora num repente se põe a fazer tudo acontecer.”

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“Quem poderia ordenar o castigo dos carregadores que fugiam, senão ele? Quem arrancou os dentes aos elefantes, deixando-os a agonizar e a apodrecer na planície? Sim, quem fez isso não iria deixar-se atormentar pelo olhar de uma criança.”

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“Os indunas maiores ostentavam as suas mexiras, rabos de guerra preparados pelos médicos e que consistiam em caudas de antílope incrustadas de pequenos chifres de gazela e cabra recheados de carvão, ossos, espinhas de cobra, penas, unhas e bicos de aves, coisas capazes de arranhar e de morder.”

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“— A razão que o Comandante alega para defender o negro como irmão do branco tem outras razões escondidas, não é senão a razão do mais forte que quer secretamente apoderar-se das terras e escravizar o mais fraco, como eu outrora fazia, no tempo em que tinha força, impondo assim a minha autoridade e exigindo obediência. O branco inglês faz como eu fiz. E se eu estou errado é porque o branco também não está certo.”

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“[…]o Ngoma, essa dança masculina grave e austera a que as mulheres se limitam a assistir nas margens da clareira, feita do compasso das pancadas dos pés no chão e da ausência de tambores e de palavras, uma espécie de dança do silêncio aconchegada na neblina do planalto.”

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“As árvores de mbawa e mtumbwi abriram alas para ela passar, agora são os arbustos que se inclinam para o chão para voltarem a eriçar-se depois que ela passa, como verdadeiras mankwaras, e os regatos que escorrem lá do alto para lhe alisarem o caminho.”

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*Capa de Mariana Fujisawa e projeto gráfico de Daniela  Miwa Taira.

**Conheça os outros livros de João Paulo Borges Coelho, publicados pela Kapulana no Brasil:

Título original

Narração noturna

Autor

Idioma

País de origem

Ano

Formato

brochura, e-book

Páginas

240

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