CHINELO OKPARANTA é uma escritora nascida na Nigéria, em Porto Harcourt, e fez seus estudos nos Estados Unidos da América. É professora universitária no ensino de Inglês e Escrita Criativa.
Publicou vários contos e ensaios em revistas renomadas como a Granta.
Sob as árvores de udalas foi seu primeiro romance (2015). Foi recomendado para prêmios, ficou em listas como semifinalista e finalista, e ganhou o prêmio “2016 Lambda Literary Award”, na categoria “General Lesbian Fiction”.
Alguns trechos de Sob as árvores de udalas:
NOTA DA AUTORA
“Em 7 de janeiro de 2014, o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, sancionou uma lei que criminaliza as relações entre pessoas do mesmo sexo e o apoio a tais relações, tornando esses crimes puníveis com até catorze anos de prisão. Nos estados do Norte, a punição é a morte por apedrejamento. Este romance tenta dar aos cidadãos LGBTQIAP+ marginalizados da Nigéria uma voz mais poderosa e um lugar na história de nossa nação.”
“Quanto a nós, andávamos naquele jeito sem pressa das borboletas, como se a brisa fosse delicada, como se o sol na pele fosse uma carícia. Como se passos lentos permitissem saborear os dois. Era assim que as coisas eram antes da guerra: nossas vidas, caminhando mansamente.”
“O nome do meu pai, Uzo, significa ‘porta’ ou ‘caminho’. Era um nome sólido, forte e confiante, ao contrário do meu, Ijeoma (que era apenas um desejo: ‘boa viagem’), ou de mamãe, Adaora (que dizia apenas que ela era a filha de todos, filha da comunidade, que era o que todas as filhas eram, pensando bem).”
“O olhar em seu rosto era de uma pessoa observando um barco afundando gradualmente ao longe. Ela parecia prestes a gritar com o capitão do barco, mas também parecia entender que, se gritasse, o capitão não poderia ouvir. Não de tão longe. Em vez disso, falou baixinho, como se estivesse rezando, como se a oração pudesse ter o efeito que o grito não teria.”
“Naquele momento, desejei poder rastejar de volta para seu ventre, nem que fosse apenas para engordá-la, para colocar carne em seus quadris, em seus seios, para devolver vida às suas bochechas encovadas.”
“Reconheço que às vezes sou um caracol. Ando deslizando. Contraio meus músculos e produzo um lodo de lágrimas. Às vezes dá para ver as lágrimas, outras vezes, não. São elas que me permitem deslizar. Vou lentamente. Mas, lentamente, sigo. É um pouco antes de eu ir embora.”
“Diz a lenda que as crianças espirituais, cansadas de flutuar sem rumo entre o mundo dos vivos e o dos mortos, começam a se reunir acima das árvores de udalas. Em troca da moradia, eles tornam excepcionalmente fértil qualquer fêmea que venha e permaneça, mesmo que seja por um breve período de tempo, sob qualquer uma daquelas árvores. Eles a fazem ter filhos e filhas, tantos quantos seu coração desejar.”