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Lançamento do livro Nós matamos o Cão Tinhoso!, do moçambicano Luís Bernardo Honwana, no centro cultural Tapera Taperá, em São Paulo

A Editora Kapulana lançou o livro Nós matamos o Cão Tinhoso! no centro cultural Taperá Tapera, no centro de São Paulo

Na noite de quarta-feira, 22 de novembro de 2017, aconteceu o lançamento do livro Nós matamos o Cão Tinhoso!, do moçambicano Luís Bernardo Honwana, mais recente publicação da Editora Kapulana. O evento ocorreu no centro cultural Tapera Taperá, que conta com biblioteca e livraria, no centro da cidade de São Paulo.

A Kapulana organizou uma mesa com roda de conversas mediada pela jornalista Rosane Queiroz, e que contou com a posfaciadora do livro, Vima Lia de Rossi, professora e pesquisadora da Letras-USP; com Luciana Bento, socióloga e blogueira, do Instagram “A mãe preta”; e com Oswaldo Faustino, jornalista e ativista do movimento negro. Além disso, a artista Daisy Serena leu trechos selecionados do livro, adicionando ainda mais emoção ao encontro.

Os convidados tiveram a oportunidade de ouvir os relatos e as impressões dos participantes da mesa sobre o livro Nós matamos o Cão Tinhoso!, relataram o impacto que a leitura dos contos causou neles e ofereceram teorias e interpretações diversas sobre os contos de Honwana. Após as falas dos três participantes da mesa, a conversa foi aberta para o público, que pôde dividir seus próprios sentimentos sobre este livro marcante.

Ficou evidente pela fala de todos os presentes o quanto o livro era aguardado por estudiosos da literatura africana e por leitores apaixonados pela boa literatura. Todos os que ofereceram suas impressões tinham algo a dizer sobre como Nós matamos o Cão Tinhoso! os havia marcado, em leituras antigas e recentes.

Nós matamos o Cão Tinhoso! apresenta sete contos nos quais Luís Bernardo Honwana denuncia e contesta a realidade brutal de Moçambique na época do colonialismo. O autor surpreende e inova ao trazer o olhar de narradores que ainda são crianças, suscitando diversas interpretações. A edição da Editora Kapulana traz, ainda, um conto nunca antes publicado em livro, “Rosita, até morrer”.

A Kapulana agradece aos participantes da mesa, que, trazendo seus sentimentos sobre esta obra fundamental, estimularam uma conversa aberta e interessante, e ao público presente, que enriqueceu o debate com suas impressões. Também agradece a Tapera Taperá por acolher o Cão Tinhoso e participar do retorno de Honwana ao Brasil.

São Paulo, 23 de novembro de 2017.

Saiba mais sobre o livro Nós matamos o Cão Tinhoso!https://www.kapulana.com.br/produto/nos-matamos-o-cao-tinhoso/

Saiba mais sobre o autor Luís Bernardo Honwana: https://www.kapulana.com.br/biografia-de-luis-bernardo-honwana/

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A violência do colonialismo pelo olhar de Luís Bernardo Honwana, por Vima Lia de Rossi Martin

A origem de Nós matamos o Cão Tinhoso! De autoria de Luís Bernardo Honwana, o volume de contos Nós matamos o Cão Tinhoso! é um marco da literatura moçambicana. Publicado em Moçambique em 1964, em uma edição do próprio autor, que na altura tinha apenas 22 anos, a obra foi alvo de polêmica, sendo criticada por parte daqueles que defendiam o colonialismo e simpatizavam com o regime do ditador português António de Oliveira Salazar, e aclamada por aqueles que, portadores de ideias nacionalistas, defendiam a liberdade e a autonomia do país.
Assim, no mesmo ano em que tem início a luta pela independência, conquistada apenas em 1975, a coletânea de Honwana – que ficou preso de 1964 a 1967 devido à sua militância junto à FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) – agita o panorama literário moçambicano. Seu livro é celebrado por poetas importantes, como José Craveirinha e Rui Knopfli, que reconheceram de imediato seu caráter questionador das estruturas de poder vigentes e saudaram o fato de que a obra punha em movimento a produção em prosa no país, estagnada desde a publicação de Godido e outros contos, de João Dias, em 1952.

Aspectos das narrativas

O volume é composto por sete contos que, de modo geral, recriam a atmosfera asfixiante vivida pelos trabalhadores colonizados e suas famílias e acabam por operar uma denúncia da violência material e simbólica, do racismo e de toda a sorte de injustiças a que era submetida a população moçambicana pobre em meados do século passado. Alguns textos, como “Inventário de móveis e jacentes”, que pode ser lido como alegoria da imobilidade social, e “Dina”, são narrados desde uma perspectiva mais distanciada, que capta a realidade de maneira análoga a de uma câmera, capaz de registrar com agudeza e precisão os detalhes significativos de uma cena. Outros, como “Nós matamos o Cão Tinhoso!”, que dá título ao livro, o belíssimo “As mãos dos pretos”, e “Papá, cobra e eu”, dão destaque às experiências infantis – são as crianças que, ao tentarem entender a sua realidade e a de seus pais, irmãos e amigos, acabam por revelar as tensões e as contradições do universo colonial, rigidamente dividido entre patrões e empregados, colonos brancos e trabalhadores negros.
Os textos, protagonizados por personagens que frequentemente se veem sem saída diante das arbitrariedades do sistema colonial, mostram como o silenciamento diante das humilhações e dos abusos era sobretudo uma estratégia de sobrevivência, uma vez que a tirania do colonizador não deixava brechas para a contestação ou as revoltas pessoais. Na caraterização do doloroso cotidiano dos colonizados, ligado diretamente à terra trabalhada exaustivamente para o enriquecimento dos patrões, articulam-se elementos plenos de significado: animais como cachorros, aves e cobras; alimentos como o milho, o arroz, o caril de amendoim, a farinha e o vinho; profissões como a do administrador, do capataz, da professora, do veterinário, do enfermeiro e do chefe dos correios; e línguas como o changana, o ronga e o swazi são referidos como índices do dia a dia vivido pelos colonizados, estabelecendo um território de significados múltiplos e intricados, que dão vida própria à matéria narrada.

O Português africanizado

Outro aspecto fundamental da elaboração das histórias diz respeito ao modo como o escritor trabalha a língua portuguesa. Falante do ronga e do português, Honwana optou por representar o contexto sociocultural a partir da incorporação de palavras, expressões e modos de fala tipicamente moçambicanos. Termos como “chiça”, “maguerre”, “machamba” e “kuka”, por exemplo, aparecem nos textos como marcas de uma língua literária que se quer distinta da norma portuguesa. O autor nomeia, inclusive, duas das narrativas com termos africanos: “Dina” deriva do inglês dinner (marcando a influência dos contatos com o inglês falado na África do Sul, através sobretudo do trabalho nas minas); e “Nhinguitimo” significa tempestade, na língua ronga. Essa africanização do português europeu afirma uma identidade cultural e nacional, gesto fundamental no momento de luta pela emancipação do país.

Relações e intersecções

Interessante é notar, ainda, a circulação e a recepção da obra no contexto das literaturas africanas de língua portuguesa. Em 2007, o escritor angolano Ondjaki publica o livro de contos Os da minha rua. Nele, um conto faz referência explícita ao texto de Honwana: “Nós choramos pelo cão tinhoso”, título do conto de Ondjaki, narra a experiência de leitura do conto do autor moçambicano por um grupo de alunos da oitava série, numa aula de português em uma escola de Luanda. O contato com a história da morte do cachorro, levada a cabo por um grupo de crianças moçambicanas que, de certo modo, haviam introjetado toda a brutalidade do sistema colonial, deixa o grupo de estudantes angolanos perplexo e emocionado, atestando simultaneamente o potencial humanizador da literatura e um diálogo solidário entre as gentes e as literaturas de Moçambique e Angola.

A publicação no Brasil

No Brasil, o livro de Honwana recebeu apenas uma edição, em 1980, no âmbito da extinta coleção Autores Africanos, da Editora Ática, que foi um marco para o estudo das literaturas africanas no país. Por isso, para nós, leitores brasileiros, esta nova edição brasileira da Kapulana de Nós matamos o Cão Tinhoso! é mais do que oportuna. De um lado, trata-se de obra fundamental do campo literário moçambicano que, ao se tornar acessível, amplia nosso repertório e favorece o cumprimento da lei 11.645/08, responsável pela legitimação do estudo da história, das culturas e das literaturas africanas e indígenas em nosso país. De outro, as questões presentes no livro, tão reveladoras da opressão e da exploração caraterísticas do colonialismo português, ganham especial relevo no contexto de crise em que vivemos, no qual se faz necessário reinventar formas de luta pela garantia dos direitos humanos.

São Paulo, setembro de 2017.

Obra consultada: 
AFONSO, Maria Fernanda. O conto moçambicano: escritas pós-coloniais. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.

Citar como:
MARTIN, Vima Lia de Rossi. “A violência do colonialismo pelo olhar de Luís Bernardo Honwana”. Posfácio in: HONWANA, Luís Bernardo. Nós matamos o Cão Tinhoso! São Paulo: Kapulana, 2017. [Série Vozes da África]

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No mês da Consciência Negra, Francisco Noa, escritor e professor moçambicano, participa de eventos no Brasil.

No mês da Consciência Negra, o professor moçambicano Francisco Noa fez conferência no Rio de Janeiro e participou de atividades de Festa da Cultura Negra, em São Paulo.

O professor, ensaísta e reitor moçambicano Francisco Noa, autor de três livros publicados pela Editora Kapulana no Brasil, retornou ao nosso país para importantes atividades de intercâmbio cultural entre Moçambique e Brasil, em novembro deste ano:

Em 14/11/2017, Prof. Noa proferiu palestra na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, a convite da Prof. Dra. Regiane Matos, em atividade coordenada pelo Grupo de Estudos de História da África , Departamento de História e Departamento de Letras da conceituada universidade. O tema abordado, que despertou grande interesse de alunos e outros pesquisadores de literatura africana, foi “O telúrico e o mar: Moçambique entre a concentração e a dispersão identitária”.

No período de 16 a 18/11/2017, Prof. Noa participou da 5a edição da “FlinkSampa – Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra”, tradicional evento em comemoração ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro), que ocorreu na Faculdade Zumbi dos Palmares,  na cidade de São Paulo.

No dia 16 de novembro, na FlinkSampa, Francisco Noa integrou uma mesa temática intitulada “No contexto das políticas públicas”. Fizeram também parte da mesa autoridades da Faculdade Zumbi dos Palmares e de órgãos governamentais brasileiros das áreas de Educação e de Políticas de Igualdade Racial. Ao público presente, majoritariamente formado por educadores da rede pública de ensino, foram apresentadas questões relativas às experiências educacionais do Brasil e de Moçambique, discutidas ao final da sessão.

No dia 18 de novembro, Francisco Noa participou de uma Roda de Conversa intitulada “África-Brasil: versos em laços”, com dois poetas de cabo-verdianos Filinto Elíseo e Armênio Vieira. A atividade foi mediada pela conceituada pesquisadora de literaturas africanas de língua portuguesa, Maria Nazareth Fonseca, professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Na ocasião, os três escritores africanos tiveram a oportunidade de apresentar suas ideias sobre as influências mútuas entre as literaturas do Brasil e Cabo Verde, o que despertou grande interesse do público, que interagiu com os escritores, colocando questões pertinentes à influência cultural entre os dois países.

O reitor moçambicano atendeu a um amplo programa de sessões culturais e literárias com destaque para as representações afro-brasileiras, como desfile de moda afro-brasileira, concurso literário, oficinas de artesanato etc.

A Editora Kapulana esteve presente na Feira de Livros da FlinkSampa, com obras de todos seus escritores moçambicanos como Aldino Muianga, Clemente Bata, Lica Sebastião, Lucílio Manjate, Luís Carlos Patraquim, Noémia de Sousa, Sangare Okapi, Suleiman Cassamo, Ungulani Ba Ka Khosa. Seus títulos infantis, de Moçambique e Angola, também estiveram à venda.

Os três livros de Francisco Noa publicados pela Kapulana tiveram bastante procura, particularmente o recém-lançado Uns e outros na literatura moçambicana, ensaios.

A Editora Kapulana agradece ao estimado escritor Francisco Noa, que sempre apoiou a editora em ações incansáveis para a promoção da literatura moçambicana no Brasil. A Kapulana agradece também à organização da FlinkSampa e da Faculdade Zumbi dos Palmares pela oportunidade de apresentar seu trabalho em prol da interação das culturas africana e brasileira por meio da literatura.

São Paulo, 20 de novembro de 2017.

Veja as fotos das atividadeshttps://www.kapulana.com.br/16-18112017-francisco-noa-escritor-mocambicano-na-flinksampa-em-sao-paulo-sp/

Sobre o escritor Francisco Noahttps://www.kapulana.com.br/francisco-noa/

Livros de Francisco Noa publicados no Brasil pela Kapulanahttps://www.kapulana.com.br/cientificos/

Leia o prefácio do livro Uns e outros na literatura moçambicana: “Meu encontro com Jorge Amado”: https://www.kapulana.com.br/o-meu-encontro-com-jorge-amado-por-francisco-noa/

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Lançamento do livro “Nós matamos o Cão Tinhoso!”, do moçambicano Luís Bernardo Honwana

Lançamento do livro com mesa de debates e leitura de trechos do livro.

PARTICIPANTES
Vima Lia de Rossi Martin (posfaciadora do livro)
Oswaldo Faustino (jornalista e escritor)
Luciana Bento (do blog A mãe preta)
Rosane Queiroz (mediadora)
Daisy Serena (leitora e performer)

QUANDO:  22/11, 4a. f., 19h-21h

ONDE:
Centro Cultural Tapera Taperá (Galeria Metrópole)
Av. São Luís, 187 – Centro – Loja 29, 2º andar
São Paulo – SP – CEP 01046-001
Metrô República
Estacionamentos na Rua da Consolação
http://taperatapera.com.br/events/lancamento-e-leitura-nos-matamos-o-cao-tinhoso

 

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Orgia dos loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa

Orgia dos loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa

FINALISTA DO PRÊMIO JABUTI 2017, categoria ILUSTRAÇÃO!

Em Orgia dos Loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa, a artista Mariana Fujisawa fotografou recortes de papeis sobrepostos, em tons de branco, preto e cinza, de diferentes texturas. Os papeis foram talhados e fotografados, com incidência do sol, e sobrepostos sem colagem ou pintura. O resultado é um jogo de sombras com efeito tridimensional.

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