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LANÇAMENTO! A vida verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira

A Kapulana lançará no Brasil, no primeiro semestre de 2024, A vida verdadeira de Domingos Xavier, do angolano JOSÉ LUANDINO VIEIRA. 

A vida verdadeira de Domingos Xavier é a história de Domingos, Maria e muitos outros angolanos que sofreram nas mãos do invasor e opressor colonialista português. Luandino Vieira nos mostra, com grande sensibilidade e habilidade, o absurdo do abuso, da agressão e da brutalidade do dominador sobre um povo invadido.

Domingos Xavier é sequestrado em sua própria casa, em sua própria terra, e torturado pelas forças portuguesas, mas não se rende. Enquanto isso, sua mulher Maria, com o filho pequeno Bastião, o procura incessantemente, acreditando na justiça humana.

A luta pela independência de Angola é o cenário da história de Domingos e Maria, representantes de um povo oprimido que deseja viver plenamente sua existência, como seres de uma nação livre cultural e politicamente, berço de sua história e identidade.

A vida verdadeira de Domingos Xavier deu origem ao filme Sambizanga, realizado pela cineasta francesa Sarah Moldoror, falecida em 13 de abril de 2020.

É o segundo livro de Luandino Vieira que a Kapulana publica no Brasil. O primeiro foi Nós, os do Makulusu.

A edição brasileira conta com capa de Mariana Fujisawa e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira.

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TRECHOS de A vida verdadeira de Domingos Xavier

O preso era alto e magro, muito magro mesmo. E embora a cara estivesse inchada, tornando-lhe quase irreconhecível, toda gente via era ainda novo. Ao descer da carroceria, caiu de frente no areal, e as mães chegando mais os filhos, murmuraram só:

— Aiuê!…

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A tarde caía quieta, o vento xuaxalhava nas folhas das mulembas e mandioqueiras. Meninos brincavam na terra vermelha suas brincadeiras, os mais-velhos olhavam só, mães e filhas lavando ou engomando, papás nas conversas, encostados nas paredes, filosofando da vida. E essa calma de fim de tarde de sábado entrou mesmo em Maria, que foi falando para miúdo Bastião, antes de avistar os miúdos brincando, na frente dos muros da prisão.

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Deslizando como as águas do rio, estas imagens carregam os pensamentos de Domingos Xavier, nascendo no cacimbo do cérebro cansado, dorido de botas de cipaio, quando o luar estendeu em cima do corpo caído na cela o seu lençol macio. A luz branca entrava no postigo defendido pela rede de aço, e o tratorista, mal erguendo a cabeça, pôde ver o céu azul, sem nuvens, por detrás das pálpebras inchadas e cheias de areia. Era o céu azul e a lua da sua terra que olhavam…

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Maria ouvia com atenção as palavras do cipaio enquanto tentava adormecer miúdo Bastião no colo. Os olhos abertos, quietos, fixavam longe as mangueiras da estação. O que o cipaio estava contar já não doía, já não sentia, na sua cabeça só as palavras do seu homem saltavam, repetidas como eco, ampliadas no coração: “não digo, não digo”.

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SOBRE A OBRA:

PEPETELA (Angola)

 “A vida verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira, é o primeiro romance retratando a luta de libertação de Angola. É, portanto, um livro seminal na literatura angolana. Já não seria pouca coisa. […] O romance é a consagração do que apreendemos nos contos. Claro que não poderia ser publicado por nenhuma gráfica de Angola ou Portugal, e foi passando em cópias sucessivas e clandestinas por um grupo interessado de angolanos, como um estandarte que deveria ser empunhado na luta inevitável pela independência nacional. Inspirou para a acção os que o puderam ler e encorajou alguns que tinham a aspiração de escrever sobre o mesmo tema.
Como diria alguma personagem de Jorge Amado: Saravá, Luandino.”

RITA CHAVES (Brasil)

“Assim, a estória de um herói popular combina-se exemplarmente com o percurso de sua companheira. Sem recorrer aos jargões, ele nos coloca diante de uma obra aberta à  perspectiva feminina, característica muito bem trabalhada em Sambizanga por Sarah Maldoror, a excelente diretora da adaptação para o cinema.
Só podemos celebrar a reedição dessa obra que salta no tempo e faz perdurar o impacto que nos levou, a tantos de nós, a ‘descobrir’ Angola naqueles complicados anos que envolveram as lutas de libertação.”

CARMEN TINDÓ SECCO (Brasil)

A vida verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira (1961) é um clássico da literatura angolana. Essa obra me atrai por seu questionamento aos regimes opressores e pela intertextualidade com a poesia de Agostinho Neto e o cinema de Sarah Maldoror, particularmente com o filme Sambizanga (1972), adaptação do referido romance. Tanto na narrativa cinematográfica, como na romanesca, o protagonista Domingos Xavier, revolucionário preso pela polícia portuguesa, é, arbitrariamente, levado para o calabouço. Como no poema “Mussunda Amigo”, de Agostinho Neto, dá sua vida pela liberdade de Angola. Mussunda é o alfaiate que politiza a consciência dos demais.

O autor: JOSÉ  LUANDINO VIEIRA

https://www.kapulana.com.br/jose-luandino-vieira/

 

JOSÉ LUANDINO VIEIRA é cidadão angolano por sua militância pela independência de Angola. Nasceu em Portugal e fez os estudos primários e secundários em Luanda. 

Como membro do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), participou da luta armada de resistência contra Portugal, o que fez com que fosse preso várias vezes pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), a polícia portuguesa, e condenado a 14 anos de prisão.

Em 1964, foi transferido para o Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, arquipélago de Cabo Verde, onde passou 8 anos. Lá escreveu muitos de seus livros. Em 1972, foi libertado e regressou a Angola em 1975. Atualmente, vive em Portugal, para onde retornou em 1992.

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O livro: A vida verdadeira de Domingos Xavier

https://www.kapulana.com.br/produto/a-vida-verdadeira-de-domingos-xavier/

Sobre a Editora Kapulana

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais, ou seja, de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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[07 de fevereiro de 2024.]

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NÓS MATAMOS O CÃO TINHOSO!, de Luís Bernardo Honwana, leitura para o vestibular da FUVEST

Nós matamos o Cão Tinhoso!, do moçambicano Luís Bernardo Honwana, publicado pela Kapulana, está indicado como leitura obrigatória para o vestibular da FUVEST

O livro de contos Nós matamos o Cão Tinhoso!, de autoria do moçambicano Luís Bernardo Honwana, faz parte da lista das obras literárias indicadas para leitura pela FUVEST (Fundação Universitária para o Vestibular).

O livro foi classificado entre os “100 melhores livros africanos do século XX” (Creative Writing), 2002, uma iniciativa da “Zimbabwe International Book Fair”, com a colaboração de African Publishers Network (APNET), Pan-African Booksellers Association (PABA).

A edição moçambicana original do livro é de 1964. Em 2017, a Editora Kapulana lançou  no Brasil a atual edição, recomendada pela Fuvest.

Nós matamos o Cão Tinhoso!, de Luís Bernardo Honwana, da série “Vozes da África”, é um livro clássico, já adotado em várias instituições de ensino brasileiras.  Como foi indicado para os vestibulares de 2024 e 2029, escolas passaram a adotá-lo já em 2022, para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio.

O livro é composto por sete contos emocionantes que denunciam a realidade sufocante vivida pelos trabalhadores colonizados e suas famílias durante a opressão colonial portuguesa em Moçambique, sendo a maior parte das narrativas do ponto de vista das crianças. A edição da Kapulana também traz o conto “Rosita, até morrer”, nunca antes publicado em livro.

É uma leitura cada dia mais necessária para que esteja sempre vivo o debate sobre racismo, discriminação, autoritarismo e opressão, práticas a serem permanentemente combatidas.

ALGUNS TRECHOS DO LIVRO:

“O Cão Tinhoso tinha a pele velha, cheia de pelos brancos, cicatrizes e muitas feridas, e em muitos sítios não tinha pelos nenhuns, nem brancos nem pretos e a pele era preta e cheia de rugas como a pele de um gala-gala. Ninguém gostava de lhe passar a mão pelas costas como aos outros cães.” (Conto: “Nós matamos o Cão Tinhoso!”)

“– Meu filho, tem de haver uma esperança! Quando um dia acaba e sabemos que amanhã teremos um dia igual, que sempre seremos a mesma coisa, temos de ir arranjar forças para continuar a sorrir e continuar a dizer “isso não tem importância”. Temos de marcar a nós mesmos um prêmio para todo o heroísmo do dia a dia. Temos de estabelecer uma data para esse prêmio, ainda que seja o dia da nossa morte!” (Conto: “Papá, cobra e eu”)

“Já não sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo.” (Conto: “As mãos dos pretos”)

ALGUNS LINKS DE INTERESSE:

SOBRE MATERIAL DE APOIO GRATUITO:

FUVEST RENOVA LISTA DE LEITURAS OBRIGATÓRIAS PARA O VESTIBULAR 2026-2029:

https://www.fuvest.br/fuvest-renova-sua-lista-de-leituras-obrigatorias-para-o-vestibular-2026-2029/

[Atualizada em: 24 de novembro de 2023.]

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KAPULANA NA FLIP 2023!

A Kapulana estará presente na FLIP-2023 com seus escritores Akwaeke Emezi e Mário Medeiros

A Kapulana estará representada na programação principal da edição de 2023 da FLIP (Festa Literária de Paraty) com a presença de dois de seus escritores: AKWAEKE EMEZI (da Nigéria) e MÁRIO MEDEIROS (do Brasil).

CONHEÇA MAIS SOBRE OS ESCRITORES:

AKWAEKE EMEZI

Nasceu em 1987, na Nigéria, em Umuahia, e cresceu em Aba. Atualmente vive nos Estados Unidos. Identifica-se como ọgbanje, palavra da cultura Igbo que significa um espírito intruso que nasce em uma forma humana, e que resultaria em uma criança com um terceiro gênero. Traduzindo isto para sua realidade terrena, Akwaeke nasceu em um corpo designado feminino, mas não é mulher, identificando-se como trans/não-binárie. Fez algumas cirurgias para adequar seu corpo – seu receptáculo – para que reflita sua natureza. Em Inglês, usa pronomes neutros para se referir a si mesme.

OBRAS DE AKWAEKE EMEZI PUBLICADAS PELA KAPULANA:

ÁGUA DOCE : https://www.kapulana.com.br/produto/agua-doce/

“Perguntamo-nos nos anos que se seguiram o que ela teria sido sem nós, se ela ainda teria enlouquecido. E se nós tivéssemos permanecido adormecidos? E se ela tivesse ficado para sempre naqueles anos em que pertencia a si? Olhe para ela, rodopiando pelo condomínio vestindo shorts pretos de batik e uma camiseta de algodão, o longo cabelo preto trançado em dois arcos amarrados com fitas coloridas, os dentes brilhando e um chinelo quebrado. Como um sol ofegante.
A primeira loucura foi que nascemos, que enfiaram um deus em um saco de pele.”

PET: https://www.kapulana.com.br/produto/pet/

“Porque se não existem mais monstros em Lucille, então por que Pet – um… monstro? Anjo? Monstranjo? – saiu de um quadro pintado pela mãe de Chimia, dizendo que estava ali para caçar um monstro na casa de Redenção? Agora, Chimia e o amigo enfrentam um dilema: como combater monstros se as pessoas não admitem que eles existem? Com seu habitual jeito sensível e direto de olhar para as coisas, Akwaeke Emezi e suas personagens perguntam: quem são os monstros, afinal? E como podemos caçá-los?”

MÁRIO MEDEIROS

Nasceu em São Paulo. É sociólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 2014. Sua área de pesquisa e publicação em Sociologia envolve temas dos intelectuais negros, o associativismo, o pensamento social brasileiro e a circulação internacional de ideias e pessoas. É autor de obras teóricas e obras literárias. Publicou dois livros de contos: Gosto de amora, da Editora Malê (2019, finalista do Prêmio Jabuti) e  Numa esquina do mundo: contos,  da Editora Kapulana (2020, semifinalista do Prêmio Oceanos).

NUMA ESQUINA DO MUNDO – CONTOS
https://www.kapulana.com.br/produto/numa-esquina-do-mundo/

“Depois, calmaria. Volta ao asfalto, olhos nos céus. Dez, doze papagaios, maranhão. Latinha de linha parado na calçada. Dando um tempo… Moleques em pose, em pé. Postura ereta, linha reta, espinha dura, pose de quebrada, pé na frente, pé atrás. Lata numa mão, a outra no dedo indicador e polegar trabalhando para manejar o pássaro no ar.
Devia ser esporte olímpico. Devia passar na TV.  
Eles deviam ter ganho algum dinheiro com isso. Heróis da minha Vila. (Conto: “O pó da rabiola”)

*Acompanhe nossos escritores na Flip 2023:

AKWAEKE EMEZI, com Carla Akotirene. Mediação: Maria Carolina Casati
24/11 – 6a. f. – 17h
Programa Principal: Mesa 11 “Contra a mentalidade decadente”
https://www.flip.org.br/evento/mesa-11-contra-a-mentalidade-decadente/

MÁRIO MEDEIROS, com Luciany Aparecida. Mediação: Schneider Carpeggiani
24/11 – 6a. f. – 15h
Flip+ Casa da Cultura: Mesa 8 “Inventando a nossa língua”
https://www.flip.org.br/evento/casa-da-cultura-mesa-8-inventando-a-nossa-lingua/

*Sessões de autógrafos na Livraria da Travessa, na Flip.

São Paulo, 16 de novembro de 2023.

 

 

 

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LANÇAMENTO! Editora Kapulana lança em novembro no Brasil SOB AS ÁRVORES DE UDALAS, de Chinelo Okparanta

A Kapulana lançará no Brasil, no Mês da Consciência Negra, em 9 de novembro, Sob as árvores de udalas, de autoria de CHINELO OKPARANTA. 

Sob as árvores de udalas (Under the udala trees), da nigeriana Chinelo Okparanta, é uma história de amor e luta, narrada por Ijeoma, a protagonista, que é ainda menina quando acontece a Guerra Nigéria-Biafra (1967-1970), conhecida como a Guerra de Biafra.

Deslocada de sua vila natal, Ojoto, Ijeoma conhece Amina, em Nnewi, e se apaixonam. São elas de etnias diferentes — uma é Igbo e outra, Hauçá. O relacionamento entre elas não é aceito socialmente, gerando censura e repressão da família e da sociedade.

Em um cenário social conservador e religioso, sob os efeitos devastadores de uma guerra, Ijeoma convive com outras personagens marcantes, além de Amina, como seu pai Uzo, sua mãe Adaora, Chibundo, Ndidi, Chidinma e o professor e sua esposa.

Chinelo Okparanta escreve um romance ao mesmo tempo lírico e trágico, em defesa do amor e no combate contra a opressão e qualquer tipo de discriminação.

A edição brasileira conta com tradução de Carolina Kuhn Facchin, capa de Mariana Fujisawa e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira.

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Trechos de SOB AS ÁRVORES DE UDALAS

[NOTA DA AUTORA] “Em 7 de janeiro de 2014, o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, sancionou uma lei que criminaliza as relações entre pessoas do mesmo sexo e o apoio a tais relações, tornando esses crimes puníveis com até catorze anos de prisão. Nos estados do Norte, a punição é a morte por apedrejamento. Este romance tenta dar aos cidadãos LGBTQIAP+ marginalizados da Nigéria uma voz mais poderosa e um lugar na história de nossa nação.”

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“Quanto a nós, andávamos naquele jeito sem pressa das borboletas, como se a brisa fosse delicada, como se o sol na pele fosse uma carícia. Como se passos lentos permitissem saborear os dois. Era assim que as coisas eram antes da guerra: nossas vidas, caminhando mansamente.”

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“Não há como contar a história do que aconteceu com Amina sem primeiro contar a história de como mamãe me mandou embora.
Igualmente, não há como contar a história de como mamãe me mandou embora sem contar também sobre a recusa de papai em refugiar-se no bunker. Sem sua recusa, a expulsão poderia nunca ter ocorrido, e se não tivesse ocorrido, então eu poderia nunca ter conhecido Amina.
Se eu não tivesse conhecido Amina, talvez não houvesse história para contar.”

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“A resposta era simples: claro que eu ainda pensava em Amina. E, sim, daquele jeito. Como poderia afastar as lembranças de uma pessoa com quem compartilhei todo aquele tempo? Havia noites em que sonhava com ela, sonhos tão vívidos que quando acordava parecia que o despertar era o sonho, e o sonho, a realidade: Amina e eu resolvendo coisas na rua, lavando roupas e pendurando-as para secar, cortando lenha, buscando querosene.”

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“Então, a história começa antes mesmo da história, em 23 de junho de 1968. Ubosi chi ji ehihe jie: o dia em que a noite caiu à tarde, como diz o ditado. Ou, como mamãe às vezes diz, o dia em que a noite tomou o dia: o dia em que papai se despediu de nós.”

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O nome do meu pai, Uzo, significa “porta” ou “caminho”. Era um nome sólido, forte e confiante, ao contrário do meu, Ijeoma (que era apenas um desejo: “boa viagem”), ou de mamãe, Adaora (que dizia apenas que ela era a filha de todos, filha da comunidade, que era o que todas as filhas eram, pensando bem).
Uzo. Era o tipo de nome que eu gostaria de dobrar e segurar na minha mão, se nomes pudessem ser dobrados e guardados dessa forma. De modo que, se algum dia eu me perdesse, tudo o que teria de fazer seria abrir a palma da mão e permitir que o nome, como a luz de uma tocha, me mostrasse o caminho.

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Pensei: então é isso que significa ser casada: ficar na igreja, tensa, observando a luz do sol se espalhar ao meu redor, com esse medo constante de uma punição. Isso deve ser a vida de casada: uma tentativa diária de se livrar de uma bacia cheia de desejos, mas sem esperança. E, no entanto, a bacia se recusa a ser esvaziada, como se os desejos fossem cimento molhado que já está se transformando em concreto.

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A autora CHINELO OKPARANTA

https://www.kapulana.com.br/chinelo-okparanta/

CHINELO OKPARANTA nasceu na Nigéria. É escritora e professora universitária no ensino de Inglês e Escrita Criativa. É autora de contos e romances. Seu primeiro romance, Sob as árvores de udalas (Under the udala trees), teve o reconhecimento da crítica e recebeu prêmios por sua qualidade literária e tratamento temático.

Recebeu vários prêmios, com destaque para:

  • 2014: O. Henry Prize (contos).
  • 2014: Lambda Literary Award – Lesbian Fiction: Happiness like a water (contos).
  • 2016: Lambda Literary Award – Lesbian Fiction: Under the udala trees (romance).
  • 2016: Jessie Redmon Fauset Book Award in Fiction: Under the udala trees (romance).
  • 2016: Inaugural Betty Berzon Emerging Writer Award, do the Publishing Triangle.

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O livro: https://www.kapulana.com.br/produto/sob-as-arvores-de-udalas/

Sobre a Editora Kapulana

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais, ou seja, de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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[Atualizada em 17 de outubro de 2023.]

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Editora Kapulana anuncia lançamento no Brasil de mais um livro de PEPETELA: AS AVENTURAS DE NGUNGA

A Editora Kapulana lança no Brasil, em agosto, edição de aniversário de AS AVENTURAS DE NGUNGA, de Pepetela

A Editora Kapulana lança no Brasil, em 31 de agosto de 2023, mais um livro de Pepetela, As aventuras de Ngunga, clássico da literatura africana. Trata-se de uma edição especial comemorativa dos 50 anos dessa obra, que teve sua primeira publicação em 1973.

As aventuras de Ngunga foi o primeiro livro publicado do angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, que adotou o nome PEPETELA, como era conhecido no MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).  Foi escrito em 1972, durante a guerrilha na luta de libertação de Angola contra Portugal, e publicado pela primeira vez em 1973.

A obra é resultado da experiência do autor como guerrilheiro que atuava na educação dos meninos (pioneiros). A partir de sua vivência na selva, como guerrilheiro e como educador, e da criação de textos de leitura para as crianças, surge essa sensível obra, em que a história de um menino de 13 anos, Ngunga, representa também a história de uma nação.

Em seu percurso por rios e terras, Ngunga conhece personagens inesquecíveis que despertam fortes emoções nos leitores, como o Comandante Nossa Luta, o Comandante Mavinga, o Comandante Avança, o Presidente Kafuxi, o professor União, a bela Uassamba, a menina Imba, o jovem Chivuala e o velho Livingue.

As aventuras de Ngunga é o 6o. livro de Pepetela  que a Kapulana lança no Brasil. A editora já publicou O cão e os caluandas (2019), O quase fim do mundo (2019), Sua Excelência, de corpo presente (2020), O desejo de Kianda (2021) e Jaime Bunda, Agente Secreto (2022).

Na edição brasileira, a capa e as ilustrações são de Mariana Fujisawa, e o projeto gráfico é de Daniela Miwa Taira.

TRECHOS:

“Ngunga é um órfão de treze anos. Os pais foram surpreendidos pelo inimigo, um dia, nas lavras. Os colonialistas abriram fogo. O pai, que era já velho, foi morto imediatamente. A mãe tentou fugir, mas uma bala atravessou-lhe o peito. Só ficou Mussango, que foi apanhada e levada para o posto.”

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“A verdade ele não dizia. Que procurava então o Ngunga? É simples: queria saber se em toda a parte os homens são iguais, só pensando neles. As pessoas da zona do Kembo pareciam melhores, davam comida mais facilmente. No entanto, ele pensava que era só aparência. Todos perseguiam um fim escondido.”

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“Mais tarde, as mulheres reuniram-se no terreiro de chinjanguila, e a dança começou. Os guerrilheiros e o povo imitaram as mulheres. Também Ngunga e Imba, e as outras raparigas.”

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“O povo veio com as crianças. O Comandante falou-lhes. A escola já estava pronta, podiam começar as aulas. O professor União tinha sido enviado de longe pelo Movimento, para ensinar. No tempo do colonialismo, ali nunca tinha havido escola, raros eram os homens que sabiam ler e escrever. Mas, agora o povo começava a ser livre.”

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RIOS e algum VOCABULÁRIO em As aventuras de Ngunga:

  • Rios Kwanza, Kuíto, Kwando, Kuembo, Kontuba.
  • alambamento (ou alembamento): espécie de dote que a família do noivo oferece à família da noiva, por ocasião do pedido de casamento; pode ser em moeda ou em bens.
  • chinjanguila:  dança de roda tradicional e particular da região sudeste de Angola; durante a luta armada de libertação, também nome dado a arma artesanal.
  • fuba: farinha de mandioca, ou de milho.
  • kimbo (umbundo): povoado, aldeia.
  • matabicho (mata-bicho): primeira refeição do dia; pequeno almoço; café da manhã.
  • pioneiros: jovens que participaram da Luta de Libertação de Angola.
  • quinda: espécie de cesto de palha.

O LIVRO: https://www.kapulana.com.br/produto/as-aventuras-de-ngunga/

O AUTOR: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

SOBRE A OBRA:

Jofre Rocha (Angola): “Tenho a agradecer ao talento de Pepetela em As aventuras de Ngunga, a perícia com que nos transporta para o universo dos homens que fazem a História, de que ele próprio faz parte, num plano de realidade crua mas humanizante, onde se entrechocam culturas, reminiscências do passado, avanços e recuos, crendices, afectos desencontrados.”

Mia Couto (Moçambique): “A escrita de Pepetela transporta-nos para as histórias da nossa História com a proximidade de quem vive por dentro a realidade angolana e a distância de quem sonhou um outro mundo.”

Rita Chaves (Brasil): “Mais que de um só escritor, em As aventuras de Ngunga temos um livro de um tempo e de um lugar. É a expressão de uma utopia que tomou conta de muitas gerações, de uma gente capaz de suspender o medo e, em seu lugar, erguer a esperança.”

Luís Bernardo Honwana (Moçambique): “E porque já tinha lido As aventuras de Ngunga e sabia de tudo quanto na altura já se tinha difundido sobre a génese desse livro, senti-me imediatamente amigo de Pepetela, sem embargo do seu trato meio sacudido a que a hirsutez de aspecto não fazia senão acentuar. “

Francisco Noa (Moçambique): “Trata-se de uma das obras que, ao lado de Luuanda de Luandino Vieira, Nós matámos o Cão Tinhoso! de Luís Bernardo Honwana, Quem me dera ser onda de Manuel Rui, preencheu, de forma prodigiosa, a nossa imaginação de adolescentes, em plena ebulição revolucionária e que envolveu as nossas independências na década de 70.”

Carmen Tindó Secco (Brasil): “As aventuras de Ngunga é um livro encantador. […] A narrativa, assemelhando-se a uma singela epopeia do MPLA, erige o protagonista, Ngunga, como “pioneiro sem mácula”, “herói mítico”, amante dos pássaros, dos rios, da natureza.”

José Luís Cabaço (Moçambique): “Antes de ser amigo do Pepe eu já me sentia seu companheiro de jornada, juntos na mesma picada, sonhando sonhos paralelos. […] Neste caleidoscópio de entusiasmos, certezas e angústias me veio parar às mãos outro livro de Pepetela escrito nos anos da luta de libertação: As aventuras de Ngunga.”

Inocência Mata (São Tomé e Príncipe): “Gosto da simplicidade da escrita de As Aventuras de Ngunga, gerada na efervescência da luta de libertação nacional. Uma narrativa que me faz lembrar essoutra, anos depois, A Montanha da Água Lilás (2000): a diferença entre as duas não é de natureza, é de tempo – tal como esta novela, também As Aventuras de Ngunga é uma “Fábula para Todas as Idades”.

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[Atualizada em 16 de agosto de 2023.]

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As aventuras de Ngunga, de Pepetela: lembranças e mensagens

Os seguintes textos compõem a edição brasileira da Kapulana, comemorativa dos 50 anos de As aventuras de Ngunga, de Pepetela. Fazem parte da seção denominada Lembranças e Mensagens, e representam os sentimentos e pensamentos de leitores desse clássico da literatura africana, de amigos e de  companheiros de luta do combativo e sensível escritor angolano Pepetela. 

MIA COUTO [MOÇAMBIQUE]

A escrita de Pepetela transporta-nos para as histórias da nossa História com a proximidade de quem vive por dentro a realidade angolana e a distância de quem sonhou um outro mundo. Pepetela foi guerrilheiro contra as velhas injustiças, foi cidadão quando se construía uma nova nação e foi crítico quando foi necessário denunciar as novas elites do seu país. Mas acima de tudo continua a ser um escritor que nos orgulha a todos nós, cidadãos da língua portuguesa.

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 RITA CHAVES [BRASIL]

Mais que de um só escritor, em As aventuras de Ngunga temos um livro de um tempo e de um lugar. É a expressão de uma utopia que tomou conta de muitas gerações, de uma gente capaz de suspender o medo e, em seu lugar, erguer a esperança. Os anos eram os de 1960/70 e o chão era de uma Angola em movimento, de um território que saía de suas fronteiras e investia na transformação. Nem o canhão, nem a escrita — aliados na dominação, como bem define Manuel Rui em emblemático ensaio sobre as tradições orais — foram capazes de deter Ngunga ou de parar essa literatura que nos faz pensar e querer continuar imaginando um mundo mais justo. Como muitas vezes mais, Pepetela se faz intérprete dessa corrente e partilha a sua voz com a de tantos outros personagens que se moviam pelos terrenos minados, movidos por um sonho mais poderoso do que as armas do inimigo. Dessa invenção, participaram personagens de papel como Comandante Nossa Luta, Comandante Mavinga, professor União e Uassamba, tão misteriosa em sua beleza, e personagens reais, mulheres, homens e crianças que emprestaram suas vidas a uma causa.

Com seu talento excepcional, o autor soube associá-los e converter em energia viva os sinais da utopia, aquela utopia concreta que resiste a tantos ventos. Se o sonho do socialismo se esfumou, adiado talvez para outras idades, como insistimos em acreditar, o sonho de Angola está vivo e se reinventa no Ngunga que guardam no peito o escritor e alguns de seus companheiros de luta. E outros que prosseguem na vida difícil de cada dia resistindo ao desalento. E nós, leitoras e leitores apaixonados, só queremos acompanhá-los na esperança de novos dias. E, nos dizendo de um certo tempo e um certo lugar, de forma tão verdadeira, a narrativa salta para além desses limites e nos entrega a força de uma humanidade que nos faz melhores. Nessa comunhão reside a razão de ser da literatura que, em sua tão difícil definição, insiste em perdurar nesse mundo hostil.

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JOFRE ROCHA [ANGOLA]

Tenho a agradecer ao talento de Pepetela em As aventuras de Ngunga, a perícia com que nos transporta para o universo dos homens que fazem a História, de que ele próprio faz parte, num plano de realidade crua mas humanizante, onde se entrechocam culturas, reminiscências do passado, avanços e recuos, crendices, afectos desencontrados.

Abraça-nos então a vivência dos personagens mergulhados num idealismo não isento de interrogações, temores e incertezas que a ignorância e a superstição muitas vezes alimentam, mas que se revigora quotidianamente na vontade inabalável de vencer.

Bem haja, escritor Pepetela!

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LUÍS BERNARDO HONWANA [MOÇAMBIQUE]

Num momento do processo de afirmação das nossas literaturas em que o movimento geral poderia ainda ser definido como o de protesto e tomada de consciência — qualquer coisa que nasce, fermenta e ganha corpo nos corredores da clandestinidade, num tempo de espera, As aventuras de Ngunga de Pepetela é a primeira obra que  é engendrada no próprio “maquis”, como  nessa altura aprendemos a designar o espaço da luta armada de libertação nacional.

Do universo da CONCP eu já tinha como referências literárias (e também como amigos pessoais, pois conhecemo-nos ainda em Portugal no tempo de exílio, o Luandino Vieira e o Manuel Rui) além, bem entendido, dos clássicos da “Mensagem” e da Casa dos Estudantes Império. O Pepetela conheci-o na minha primeira ida a Luanda, como parte da delegação moçambicana às cerimónias da proclamação da independência de Angola. Apresentou-mo o Rui Mingas.

E porque já tinha lido As aventuras de Ngunga e sabia de tudo quanto na altura já se tinha difundido sobre a génese desse livro senti-me imediatamente amigo de Pepetela, sem embargo do seu trato meio sacudido a que a hirsutez de aspecto não fazia senão acentuar. (Juro que o som familiar que tem para um ouvido moçambicano o nome Ngunga, para nós um apelido, não teve e continua a não ter nada a ver com o assunto…)

E fico cada vez mais amigo de Pepetela, mais comovido com a limpidez daquelas histórias, mais solidário com o povo irmão de Angola e mais admirador da sua grandiosa literatura — de cada vez que releio esse livro saboroso que deu certo quando tinha tudo para dar errado: um texto que um “camarada Quadro” se põe a escrever porque sentiu que os alunos das escolas do MPLA que vem visitando não têm material de leitura e também porque é oportuno naquela conjuntura produzir histórias que inspirem os patriotas, que ajudem a compreender a luta e a difundir a mensagem…

Quem é que disse que a literatura que se faz por encomenda não pode produzir verdadeiras obras-primas (quando quem a subscreve tem real talento)?

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FRANCISCO NOA [MOÇAMBIQUE]

Trata-se de uma das obras que, ao lado de Luuanda de Luandino Vieira, Nós matámos o Cão Tinhoso! de Luís Bernardo Honwana, Quem me dera ser onda de Manuel Rui, preencheu, de forma prodigiosa, a nossa imaginação de adolescentes, em plena ebulição revolucionária e que envolveu as nossas independências na década de 70. O facto de terem como protagonistas crianças e adolescentes desencadeou, em cada um de nós, uma imediata e festiva identificação. No caso específico da obra de Pepetela, há toda uma vivacidade envolvente não só na inquestionável mestria da arte de narrar, mas também no desfile de personagens inesquecíveis como Comandante Nossa Luta, Comandante Mavinga, professor União, a bela e enigmática Uassamba, sem obviamente esquecer o próprio Ngunga. É, pois, à volta deste, onde se concentram e gravitam as inúmeras e apelativas peripécias, as decepções, os sonhos de uma nação, e muito particularmente todo um código de valores que tanto estruturavam as mensagens cruzadas no texto, como ajudaram, de forma muito didáctica, a inseminar a nossa imaginação, ajudando-nos a melhor interpretar o mundo novo que nascia diante dos nossos olhos ainda prenhes de inocência. A transformação de Ngunga, no final, representava todas as mudanças individuais e colectivas que as nossas jovens nações experimentavam, num genuíno exercício ritualístico de passagem.

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CARMEN TINDÓ SECCO [BRASIL]

As aventuras de Ngunga é um livro encantador. Quando me preparava para prestar o concurso para a cadeira das Literaturas Africanas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1993, li essa obra de Pepetela com meus alunos do Pedro II, colégio em que lecionei antes de ingressar na UFRJ. Houve interesse por parte  dos discentes da quinta série, pois a coragem exemplar de Ngunga e as lições de vida e liberdade por ele transmitidas foram alvo de grande admiração.

A narrativa, assemelhando-se a uma singela epopeia do MPLA, erige o protagonista, Ngunga, como “pioneiro sem mácula”, “herói mítico”, amante dos pássaros, dos rios, da natureza. Há um olhar e uma dicção poética captando a flora, a fauna da geografia angolana, em meio à luta de libertação vivenciada pelo menino órfão que perdera os pais na guerra.

O trecho poético e bastante político que mais me emocionou foi, ao final, quando compreendi que Ngunga “está em todos nós, os que recusamos o arame farpado”, “os que queremos o mel para todos”.

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JOSÉ LUÍS CABAÇO [MOÇAMBIQUE]

Antes de ser amigo do Pepe eu já me sentia seu companheiro de jornada, juntos na mesma picada, sonhando sonhos paralelos. Mayombe foi a referência da gesta dos nossos povos, do heroísmo e dos sacrifícios consentidos, convivendo com problemas que se adivinhavam e contradições incubadas.

Neste caleidoscópio de entusiasmos, certezas e angústias me veio parar às mãos outro livro de Pepetela escrito nos anos da luta de libertação: As aventuras de Ngunga. E se Mayombe me surgiu como um convite à reflexão sobre os obstáculos a superar pela geração que aceitara o grande desafio, nessas Aventuras eu li (ou quis ler) a generosa transparência do empenho dos Pioneiros a nos alertar para a importância de preservar a essência da Libertação do Povo e resgatar, a cada momento, os ideais que a inspiraram. Hoje, passado meio século, na leitura dessa narrativa voltamos a perceber essa utopia figurada em Ngunga como, mais que uma escolha, uma necessidade para seguirmos. Ao amigo e ao escritor agradeço a lucidez e a beleza da sua mensagem.

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 INOCÊNCIA MATA [SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE]

Embora ciente de que vale sempre repetir o óbvio, Pepetela é um escritor sobre o qual apetece dizer que dispensa apresentações. Vale, pois, a pena apresentar aquele que ganhou o nome na guerrilha: Pepetela (pestanas em kimbundu), nome por que é conhecido Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, nasceu em Benguela a 29 de Outubro de 1941. Fez os estudos primários na sua terra natal e os secundários no Liceu Diogo Cão, na antiga Sá da Bandeira, hoje Lubango. Completou os estudos secundários em 1958, ano em que rumou para a então metrópole, com o propósito de estudar Engenharia no Instituto Superior Técnico. Em 1961, decide mudar de curso, tendo-se matriculado no curso Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da então Universidade Clássica de Lisboa, hoje apenas Universidade de Lisboa. Em Lisboa frequenta a Casa dos Estudantes do Império. Narrativizaria essa experiência e essas vivências em A Geração da Utopia (1992), um romance de forte projecção auto-biográfica.

A partir da fermentação político-ideológica vivida na “Casa”, decide-se pelo exílio em França, em 1962. Em 1963 torna-se militante do MPLA – Movimento Popular da Libertação de Angola, para depois rumar à recém-independente Argélia onde estudará Sociologia. Na capital argelina, onde será co-fundador do Centro de Estudos Angolanos, faz parte da equipa da  História de Angola (a primeira escrita por angolanos).

Em 1969 é integrado na luta armada na Frente de Cabinda com funções na área da Informação e da Educação, ao mesmo tempo que participava na guerrilha. Ainda durante o ano de 1969, escreve Muana Puó, romance que só viria a ser publicado em 1978. Durante as pausas da guerra, nos anos de 70 e 71, como prolongamento pessoal de um comunicado de guerra, escreve Mayombe, que só seria publicado, após aturada reflexão pessoal e curiosa autorização, em 1980. Este romance valer-lhe-á, no mesmo ano, o Prémio Nacional de Literatura. Mas seria a necessidade de produzir material didáctico para ser utilizado na alfabetização das populações das zonas libertadas da guerrilha do MPLA que o levou a escrever As Aventuras de Ngunga. É que em 1972 é deslocado para a Frente Leste para, no ano seguinte, ocupar o cargo de Secretário Permanente da Educação e Cultura. É no desempenho destas funções, e dada a manifesta falta de materiais didácticos, que escreve as estórias que darão origem a As Aventuras de Ngunga, que serão primeiro distribuídas em exemplares mimeografados em 1973 e, em 1977, publicadas na forma que hoje se conhece.

As Aventuras de Ngunga é uma narrativa breve (não cabe no âmbito deste texto uma discussão genológica, se se trata de um romance ou uma novela) sobre o menino órfão-futuro-guerrilheiro, sobre combatentes como o guerrilheiro Nossa Luta, o comandante Mavinga, o professor União, a velha Ntumba ou mesmo Chivuala, o companheiro de Ngunga, que são representados com signos que constroem uma isotopia de (quase) perfeição humana – a isotopia do Homem Novo. Por isso, diferentemente das personagens de outros romances, mesmo os seus primeiros romances – como Ele e Ela (Muana Puó, 1969), Sem Medo e João (Mayombe, 1980), Alexandre Semedo, Vilonda, Ulisses/Joel (Yaka, 1984); Lueji e Tchinguri, uma personagem extraordinária que desafia os nossos limites de empatia e de construção de sentidos éticos e morais (Lueji, 1989), Aníbal, Sara e até Elias (A Geração da Utopia, 1992), e mesmo João Evangelista (O Desejo de Kianda, 1995) – que são “andarilhos de fronteiras”, de ideias, de afectos e de sentimentos, as personagens de As Aventuras de Ngunga, são “planas”, no sentido em que,  na sua constituição e desenvolvimento, são de percepção linear, sendo os (seus) defeitos e virtudes de carácter usados para desencadear excursos moralizantes e doutrinários: o valor da escola e do saber, a relação entre alfabetismo e liberdade, o sentido da solidariedade e de entre-ajuda, a humildade e o espírito de colectivismo, a sinceridade contra a mentira…. Mesmo considerando o perfil doutrinário da narrativa, ninguém pode discordar de que “a escola era uma grande vitória sobre o colonialismo”, como disse a Ngunga o admirável comandante Mavinga, ele próprio analfabeto… Compreende-se, assim, que em algumas classificações esta novela aparece no acervo da literatura (infanto-)juvenil. Uma vez que as personagens não são “volúveis”, por elas não se opera nenhum descentramento a fim de que se possa vislumbrar os limites de cada visão e aportar o cais da multiplicidade de perspectivas para conformar uma realidade, abarcá-la e traduzir a sua complexidade, possibilitando, deste modo, uma percepção dessa realidade, segundo vários interesses e afectos.

Com essas personagens, consagram-se as identidades perfeitas de mitos e figuras erigidas a heróis nacionais (e o primeiro é, sem dúvida, Nossa Luta que cai em combate), diferentemente do que se verá em Mayombe, por exemplo, também um romance de guerrilha. É que As Aventuras de Ngunga, que se pode considerar um romance de formação, é uma obra em que a verve pedagógica por/sobre uma sociedade nova atinge a sua realização plena, tendo em conta, sobretudo, o “apelo da modernidade” e a necessidade de combate ao obscurantismo, reminiscências da linguagem materialista do “partido da vanguarda” da nação.

Gosto da simplicidade da escrita de As Aventuras de Ngunga, gerada na efervescência da luta de libertação nacional. Uma narrativa que me faz lembrar essoutra, anos depois, A Montanha da Água Lilás (2000): a diferença entre as duas não é de natureza, é de tempo – tal como esta novela, também As Aventuras de Ngunga é uma “Fábula para Todas as Idades”. Com efeito, apesar de esta ser uma narrativa de guerrilha e aquela uma fábula em que, por intermédio da metáfora da água lilás, se questionam os motivos por detrás do prolongar da guerra em Angola, ambas as narrativas se propõem a ensinar cidadãos de todas as idades quanto custou a liberdade.

Citar como: PEPETELA. As aventuras de Ngunga. “Lembranças e mensagens”. São Paulo: Kapulana, 2023. [Série Vozes da África]

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LANÇAMENTO! Em 13 de junho, Editora Kapulana lança no Brasil MARGENS E TRAVESSIAS, do escritor angolano Boaventura Cardoso

Romance de Boaventura Cardoso mostra a história de vida de pessoas e de um país, a partir de relatos, depoimentos, cartas e cantos do povo angolano.

A Kapulana lança no Brasil, em 13 de junho, MARGENS E TRAVESSIAS, de autoria do escritor angolano BOAVENTURA CARDOSO. Margens e travessias é um romance cujo protagonista é o povo de Angola. Nesta história ficcional, a história da formação de Angola e da identidade de seu povo é contada por meio das lembranças de dois “mais-velhos”: Kitekulu, um soba (chefe tradicional) e Manimaza, filho das águas. As conversas entre eles acontecem enquanto percorrem os rios de Angola e suas aldeias ribeirinhas. Desse modo, fatos e mitos do país, desde os tempos pré-coloniais e da luta de libertação, até o período pós-independência, chegam ao leitor pelas vozes das personagens do romance.

Os rios e suas margens não são apenas acidentes geográficos. São personagens que são fios condutores das vivências e narrativas do povo angolano numa viagem no tempo e no espaço.

O romance conta com vários narradores que se expressam de maneiras diversas: troca de mensagens e cartas entre o soba, chefe de uma Zona de Acção, e o Comissário Distrital; relatos de uma mãe à procura e à espera de seu filho; e  lembranças e conversas entre Kitekulu e Manimaza. As narrativas em conjunto compõem o panorama da história de Angola, na forma de ficção. Presente e passado conversam nesse fluxo narrativo.

Margens e travessias, de Boaventura Cardoso, série Vozes da África
capa de Mariana Fujisawa e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira

[TAMBÉM EM E-BOOK!]

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Trechos de MARGENS E TRAVESSIAS:

“E os rios arrepiaram seus leitos de andanças. Primeiro foi o Chiloango, depois o Kwilu; Kambo, Lukala, Kwangu, Lwacimo, Dange, Keve e Kunhinga; mais o Zambeze, o Lwiana, o Kunene, o Kubangu, o Balombo, o Kuroka, o Mukope e o M’bridge; e finalmente o Kwanza. Todos kwanzando em seus kwanzas. Todos foram vindo em direção ao Ngola.”

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“Fora levado para uma feira de escravos. Viu escravos acorrentados a serem vergastados e a sangrar; ouvia-se, por isso, uma gritaria que só lembrava as almas a arderem no Inferno. Estava assustado com o ambiente de terror que predominava na feira. Pensou em fugir, voltar para junto dos pais, mas reconheceu que seria muito arriscado. Kileba temia pelo seu futuro, chorava de muito medo.”

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“E canoando, canoando foram desaguar no rio Kunene, lá. Soba Kitekulu e Manimaza continuavam desbraguando rios e revisitando memórias, o que faziam viajando no tempo que eles traziam dentro de si. Eram relembramentos de vivências vividas ou transmitidas, contadas ou intuídas dos seus antepassados.”

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Bertine… ele desapareceu, estão à procura dele… o meu filho…

Meu filho… eu quero o meu filho…

Não haverá perdão… a sentença…

Vamos orar juntas, Bertine

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“O Lukala se engravidara de muitas mortes; de muitos corpos que lhe tinham sido atirados para dentro de si; de muitas almas que se tinham adubado nas suas sempre renovadas águas.”

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“Mais-velho Mwata Cinyama tinha sua arte de caminhar sobre andas, apesar da idade. Quando jovem, era-lhe frequente participar em festas tradicionais como a da mukanda, na companhia de outros rapazes, andando sobre andas. Aliás, ele, em jovem, tinha passado não só pelo ritual da mukanda como também do mungonge.”

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Boaventura Cardoso

BOAVENTURA CARDOSO, escritor angolano, é licenciado em Ciências Sociais  e diplomata de carreira. Foi Governador da Província de Malanje e exerceu vários cargos em instituições de cultura em Angola, tendo sido Ministro da Cultura e da Informação do país.

Foi membro fundador da União dos Escritores Angolanos e o primeiro presidente da Academia Angolana de Letras. Atualmente, é Deputado da Assembleia Nacional onde exerce o cargo de Presidente da Comissão para a Cultura, Assuntos Religiosos, Comunicação Social, Juventude e Desportos. 

É autor de contos e romances, com destaque para Margens e travessias, que recebeu o Prémio de Literatura dstAngola/Camões, 2022. 

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Saiba mais:

Sobre o Autor e sua obra: https://www.kapulana.com.br/boaventura-cardoso/

Sobre Margens e travessias: https://www.kapulana.com.br/produto/margens-e-travessias/

Sobre a Kapulana: 

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais ou de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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[Atualizada em 13 de junho de 2023.]

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JOSÉ LUANDINO VIEIRA, autor de Nós, os do Makulusu, faz 88 anos de idade

José Luandino Vieira, autor do clássico da literatura angolana e mundial, NÓS, OS DO MAKULUSU, completa em 4 de maio de 2023, 88 anos de idade.

JOSÉ LUANDINO VIEIRA, nome literário de José Vieira Mateus da Graça, nasceu em 4 de maio de 1935, em Ourém, Portugal. Passou a infância e a juventude em Luanda, Angola, onde fez os estudos primários e secundários. É cidadão angolano por sua militância pela independência de Angola.

Participou da luta armada de libertação em Angola contra Portugal, como membro do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Em função de sua militância,  foi preso várias vezes pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), a polícia portuguesa, e condenado à prisão.

Em 1964, José Luandino Vieira é preso pela polícia política portuguesa, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), permanecendo oito anos no campo de concentração do Tarrafal, onde escreveu muitos de seus livros, dentre eles o Nós, os do Makusulu, publicado só em 1974.

Em 1972, foi libertado em regime de residência vigiada em Lisboa. Iniciou, então, a publicação da sua obra, grande parte escrita na prisão.

Em 1975, regressou a Angola, após a Independência do país, agora denominado República Popular de Angola. De 1975 a 1979, foi Diretor do Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA. Foi responsável pelo Instituto Angolano de Cinema (1979-1984) e cofundador da União dos Escritores Angolanos, de que foi secretário-geral (1975-1980 e 1985-1992). Foi secretário-geral adjunto da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos (1979-1984) e é membro da Academia Angolana de Letras. Atualmente, vive em Portugal, para onde retornou em 1992.

José Luandino Vieira escreveu muitos livros que marcaram e marcam a história da literatura africana e mundial, dentre eles A vida verdadeira de Domingos Xavier (1961),  Luuanda (1963), Nós, os do Makulusu (1974) e Papeis da prisão (2015).

A Kapulana teve a honra de publicar no Brasil, em 2019, Nós, os do Makulusu, e irá lançar em breve A vida verdadeira de Domingos Xavier!

Conheça um pouco mais sobre José Luandino Vieira e sua obra:

Nós, os do Makulusu, de José Luandino Vieira

Nós, os do Makulusu, a palavra e o outro”, por Rita Chaves.

Nós, os do Makulusu: do fundo humano, em cada caso”, por Jacqueline Kaczorowski

EM BREVE:

A vida verdadeira de Domingos Xavier, de José Luandino Vieira (em edição pela Kapulana).

[São Paulo, 4 de maio de 2023.]

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Sobre a Editora Kapulana

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais, ou seja, de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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LANÇAMENTO! Em 18 de abril, Editora Kapulana lança no Brasil PRETA E MULHER, da escritora e ativista do Zimbábue – Tsitsi Dangarembga

Livro da escritora zimbabuana é um conjunto de ensaios sobre a colonização inglesa no Zimbábue e os efeitos devastadores do império britânico sobre os povos africanos.

A Kapulana lançará no Brasil, em 18 de abril, PRETA E MULHER (Black and female), ensaios de autoria da escritora e ativista TSITSI DANGAREMBGA, do país africano Zimbábue.

Em Preta e mulher, Tsitsi Dangarembga mergulha profundamente em questões como racismo, misoginia e patriarcado, que marcaram e marcam a vida das mulheres no Zimbábue, país com histórico colonial violento.

Na “Introdução”, o leitor tem a oportunidade de conhecer parte da história pessoal de Tsitsi, no contexto da história de seu país.

O primeiro ensaio, “Escrever como preta e mulher”,  é dedicado a revelar como a escrita tornou-se um instrumento de análise de sua condição de preta e mulher escritora.

O segundo ensaio, “Preta, mulher e a supermulher feminista preta”, é sobre como a trajetória da sociedade zimbabuana durante o colonialismo determinou o comportamento das mulheres nos espaços públicos e privados.

No último ensaio, “Descolonização como imaginação revolucionária”, a autora defende a necessidade da descolonização mental africana para se alcançar a igualdade discursiva, por um futuro mais justo e sem medo.

Como parte final da obra,  são apresentadas notas bibliográficas de alto valor teórico para os leitores que queiram se aprofundar mais nas questões discutidas nos ensaios.

Preta e mulher, de Tsitsi Dangarembga, com tradução de Carolina Kuhn Facchin, capa de Mariana Fujisawa e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira.

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Trechos de PRETA E MULHER:

“Eu nasci, então, em uma sociedade perversa que me enxergava como essencialmente carente de humanidade plena, necessitada, mas nunca capaz, como resultado de ser um corpo preto, de atingir o status completo de humanidade. Este é o ambiente em que cresci. São essas malignidades, seus fundamentos e seus efeitos em minha vida e na vida de outros seres humanos de corpos pretos que traço nesses ensaios.”

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“Aqueles que, como eu, foram feridos pela arrogância da branquitude não mais dizem “Estou machucado” e se automedicam de maneira autodestrutiva, ou agem dentro de nossas comunidades de acordo com uma dor ruinosa, enraivecida e amarga, como essa arrogância exigia. Agora dizemos: “Você me machucou”, palavras que apontam não para a abjeção e a morte que seguem a automutilação implacável, mas para a possibilidade de se afastar daquele que fere e, a partir daí, transformar-se em alguém que aquele que fere não consegue mais desmembrar.”

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“Muito antes de as super-heroínas entrarem na moda, eu já tinha criado a minha. Ela tinha vinte metros de altura. Sua pele era cor de cobre. Ela usava extensões trançadas no cabelo, em um longo rabo de cavalo que descia por suas costas. Minha super-heroína caminhava sobre cabanas e casas. Ela chutava cobras que estavam prestes a morder crianças, puxava gado para fora de ravinas e segurava entre o indicador e o polegar homens cometendo violência contra corpos de mulheres; após o que ela os arremessava para o horizonte. Quem não teria medo dela?”

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“Tinha a sensação de viver fora de mim, não em integração comigo. O trauma causado por essa falha de integração foi tão intenso e tão forte que não consegui me identificar com ele, resultando em um maior distanciamento de mim, de modo que não conseguia me identificar comigo mesma. Eu me sentia como uma sombra que na verdade não existia.”

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“Pessoas melanizadas ainda vagam por pântanos de negatividade, ainda tentam alcançar o princípio que foi removido quando nosso ser foi sugado de nossos corpos pelas forças da colonização. Nosso sofrimento é o equivalente metafísico de um membro fantasma.”

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A autora TSITSI DANGAREMBGAhttps://www.kapulana.com.br/tsitsi-dangarembga/

TSITSI DANGAREMBGA é escritora e cineasta nascida na Rodésia, hoje Zimbábue. Iniciou sua educação na Inglaterra, onde viveu parte da infância, e concluiu o ensino básico em uma escola missionária na cidade de Mutare, Zimbábue. Estudou direção de cinema em Berlim, na Alemanha, onde produziu diversos filmes. Atualmente, Tsitsi Dangarembga vive com a família em Harare, capital do Zimbábue, onde fundou uma produtora de filmes, a Nuyerai Films. Feminista e ativista, é idealizadora e diretora de diversos projetos e programas que dão suporte financeiro e técnico para mulheres que atuam como artistas e cineastas no Zimbábue e na África como um todo. É autora de livros de ficção, para teatro e cinema e de ensaios.

A autora recebeu vários prêmios, com destaque para:

  • 2018 – Nervous conditions (Condições nervosas): Um dos 100 livros que moldaram o mundo (BBC).
  • 2020 – This mournable body (Esse corpo lamentado): 2020 Booker Prize for Fiction (finalista).
  • 2021: Pen Pinter Prize e “Prêmio da Paz na Feira do Livro de Frankfurt” (Peace Prize of the German Book Trade).
  • 2021: Honorary Fellowship of Sidney Sussex College, Cambridge.
  • 2022: Windham-Campbell Literature Prize (fiction).

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A Kapulana também lançou no Brasil a trilogia de ficção de Tsitsi Dangarembga, composta por Condições nervosas, O livro do Não e Esse corpo lamentado.

 

Sobre os livros de Tsitsi Dangarembga publicados pela Kapulana:

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Sobre a Editora Kapulana

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais, ou seja, de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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[3 de abril de 2023.]

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MUSEU DA REVOLUÇÃO, de João Paulo Borges Coelho, fica em 2º lugar no Prêmio Oceanos 2022

MUSEU DA REVOLUÇÃO, de João Paulo Borges Coelho, ficou em 2º lugar na  classificação final de 2022 do “Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa”.

O livro Museu da Revolução, do moçambicano João Paulo Borges Coelho, foi classificado entre os três primeiros livros na edição de 2022 do Prêmio Oceanos, sendo o segundo colocado. A cerimônia de premiação teve lugar em Maputo, capital de Moçambique com transmissão simultânea para Brasil e Portugal.

Museu da Revolução é a mais recente obra de João Paulo Borges Coelho, tendo sido publicado no Brasil, no primeiro semestre de 2022, pela Editora Kapulana.

A Kapulana orgulha-se de ter sido a primeira e única editora que trouxe os livros de João Paulo para o Brasil, oferecendo aos leitores brasileiros o acesso à magnífica e importante obra do autor.

Museu da Revolução é o 4º livro de João Paulo Borges Coelho que a Kapulana lança no Brasil. A editora já publicou As visitas do Dr. Valdez (2019), Crônica da Rua 513.2 (2020) e Quatro histórias (2021).

A edição brasileira de Museu da Revolução tem capa de Mariana Fujisawa, e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira.

O protagonista de Museu da Revolução, é um país: Moçambique. Nessa obra de ficção, João Paulo Borges Coelho nos mostra personagens diversas que participam da história de Moçambique. Em uma viagem em uma van – um Hiace antigo – várias pessoas se conhecem e percorrem caminhos em Moçambique à procura de sua história e de sua identidade. Nesse retrato contemporâneo do país africano da África Austral, o leitor não só é convidado a participar de uma viagem no tempo desde os tempos da luta de libertação, mas também a fazer um percurso geográfico por vários outros países que se relacionam com Moçambique de diversas formas.

Trecho:
“Por vezes o futuro parece estar mesmo ao alcance da mão, mas eis que um vento inesperado o sopra para diante. Reúnem-se então as forças que descobrimos ainda ter, com o fito de reiniciar a perseguição.”

A obra: MUSEU DA REVOLUÇÃO, do moçambicano JOÃO PAULO BORGES COELHO: https://www.kapulana.com.br/produto/museu-da-revolucao/

O autor JOÃO PAULO BORGES COELHO: https://www.kapulana.com.br/joao-paulo-borges-coelho/

Sobre os vencedores do Prêmio Oceanos de 2022:
https://associacaooceanos.pt/premio-oceanos-2022/

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A Kapulana parabeniza o escritor João Paulo Borges Coelho e agradece por sua gentileza e confiança no trabalho da Kapulana.

A editora agradece a todos que apoiaram e tornaram possível a publicação e a divulgação de MUSEU DA REVOLUÇÃO no Brasil: equipe da Kapulana, equipe do Prêmio Oceanos, DGLAB/Portugal, professores, estudantes, pesquisadores, clubes de leitura, jornalistas e, principalmente, agradece aos  leitores brasileiros que nos acompanham e nos fortalecem com suas leituras e comentários sobre as obras que publica.  

Acompanhe a Kapulana e saiba mais sobre nosso catálogo:

 [São Paulo, 09 de dezembro de 2022.]

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Luís Bernardo Honwana, autor de Nós matamos o Cão Tinhoso!, faz 80 anos de idade

Luís Bernardo Honwana, autor do clássico da literatura moçambicana e mundial, Nós matamos o Cão Tinhoso!, completa em 12 de novembro de 2022, 80 anos de idade.

Luís Bernardo Honwana nasceu em 12 de novembro de 1942, em Chamanculo, subúrbio da cidade de Maputo (Lourenço Marques, no período colonial).

A história da criação e da trajetória de sua obra prima Nós matamos o Cão Tinhoso! faz parte da história de vida de Luís Bernardo Honwana. A coleção de sete contos estreou no jornal A Tribuna, quando autor tinha 22 anos de idade, em momento em que Moçambique estava sob o domínio colonial de Portugal. Teve grande repercussão por serem histórias que ecoavam as vozes das crianças como representantes de todos os oprimidos. Por meio da ficção, vem à tona todo o processo de opressão e autoritarismo do invasor português sobre o povo moçambicano.

Em 1964, Luís Bernardo Honwana é preso pela polícia política portuguesa, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), permanecendo na prisão por quatro anos, junto com outras personalidades do meio artístico. Nesse mesmo ano, é publicado em forma de livro Nós matamos o Cão Tinhoso!, que é imediatamente recolhido pelo regime, e poucos moçambicanos tiveram a chance de ler essa primeira edição.

Com a independência de Moçambique, em 1975, o livro é finalmente libertado e teve o reconhecimento que merecia. Foram feitas várias edições em Moçambique, em Portugal e em outras partes do mundo. Foram publicadas traduções em países como Alemanha, Costa do Marfim, Cuba, Espanha, França, Inglaterra, Senegal, Suécia, Togo e Zimbábue.

No Brasil, a obra foi publicada pela Editora Ática (1980) e pela Editora Kapulana (2017). A edição da Kapulana faz parte da série “Vozes da África” e inclui o conto do autor “Rosita, até morrer”, de 1971, nunca antes publicado em livro.

Em 2002, Nós matamos o Cão Tinhoso! foi classificado entre os “100 melhores livros africanos do século XX” (Creative Writing), em iniciativa da “Zimbabwe International Book Fair”, com a colaboração de African Publishers Network (APNET), Pan-African Booksellers Association (PABA), associações de escritores africanos, conselhos para o desenvolvimento do livro e associações de bibliotecas.

Ao sair da prisão, Luís Bernardo Honwana continua seus estudos em Portugal e, no retorno à terra natal, participa da vida cultural e política de Moçambique como Diretor do Gabinete da Presidência, Secretário do Estado da Cultura e Ministro da Cultura de Moçambique. Colaborou firmemente para a fundação da AEMO (Associação dos Escritores Moçambicanos). Marcou também sua presença no meio internacional, quando foi Secretário da UNESCO.

Muitas homenagens são dedicadas ao querido escritor. Destacamos aqui um conjunto delas para que nossos leitores possam conhecer um pouco mais da vida e da obra de Luís Bernardo Honwana. Foram organizadas pelo jornalista moçambicano José dos Remédios, e divulgadas na forma de artigos, depoimentos e entrevistas no jornal O País, e no canal televisivo Stv. São textos marcantes sobre a vivência de Luís Bernardo como pessoa, estudante, militante político e escritor; revelam-nos sua infância, juventude, atuação política, experiência linguística e processo de criação literária.

A Kapulana agradece a Luís Bernardo Honwana por nos ter presenteado com livro tão belo, tão sensível e, ao mesmo tempo, tão forte e corajoso. Agradece a generosidade do autor em ceder essa obra prima para publicação no Brasil por nossa casa editorial, possibilitando que mais brasileiros conheçam esses maravilhosos contos.

Conheça um pouco mais sobre a história de vida de Luís Bernardo Honwana:

Saiba mais sobre:

[São Paulo, 11 de novembro de 2022.]

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Sobre a Editora Kapulana

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais, ou seja, de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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LANÇAMENTO! Editora Kapulana lança em 20 de novembro no Brasil ESSE CORPO LAMENTADO, da escritora e ativista do Zimbábue – Tsitsi Dangarembga

Livro da escritora do Zimbábue é o último volume da trilogia com a protagonista Tambudzai 

A Kapulana lançará no Brasil, em 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), ESSE CORPO LAMENTADO (This mournable body), de autoria da escritora e ativista do Zimbábue, TSITSI DANGAREMBGA, com tradução de Carolina Kuhn Facchin, capa de Mariana Fujisawa e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira.

ESSE CORPO LAMENTADO é o terceiro livro de uma trilogia composta por: Nervous conditions, The book of Not e This mournable body, editados no Brasil pela Kapulana como Condições nervosas (2019), O livro do Não (2022) e, agora, Esse corpo lamentado. A protagonista da trilogia é Tambu (Tambudzai Sigauke), uma adolescente de origem shona, nascida no Zimbábue (antiga Rodésia).

Esse corpo lamentado (This mournable body) foi finalista no “2020 Booker Prize for Fiction”.

Em 2023, a Kapulana lançará o livro de ensaios de Tsitsi Dangarembga: Black and Female.

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A TRILOGIA

Na trilogia, Tsitsi Dangarembga mostra corajosamente os resultados devastadores das ações destruidoras do sistema colonial inglês sobre a cultura e a formação de mulheres como Tambudzai Sigauke. É uma sequência de livros que, além de aproximar o leitor da história de um país pouco conhecido dos leitores brasileiros, emociona ao mostrar a saga de uma personagem sempre em processo de reflexão e luta, da mesma forma que a autora dessa incrível trilogia.

1º volume da trilogia – Condições Nervosas (Nervous conditions) – 11/11/2019

Tsitsi Dangarembga conta como foi a infância de Tambu com seus pais e irmãos em uma aldeia nos arredores de Umtali, na Rodésia, nos anos 60 do século XX, quando o país estava sob domínio britânico. Tambu estudava numa escola missionária na aldeia onde seu tio Babamukuru era o diretor. Depois da Independência, o país passou a se chamar Zimbábue, e a cidade, Mutare.

Condições nervosas (Nervous conditions) foi classificado pela BBC como “Um dos 100 livros que moldaram o mundo”.

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2º volume da trilogia – O livro do Não (The book of Not) – 07/02/2022

Tambu vai estudar na Escola para Moças Sagrado Coração, colégio secundário religioso para alunas da elite branca, um internato que mantinha algumas vagas para alunas negras. Depois de formada, Tambu vai trabalhar como redatora em uma empresa de marketing em Harare (antiga Salisbury), capital do país e passa a morar em um pensionato, também com maioria de residentes brancas. Nesses dois momentos de sua vida, Tambu esforça-se para atingir níveis de excelência, mas sem sucesso por sofrer discriminações de todo o tipo. Além disso, é confrontada com situações em que sua identidade é colocada à prova. A história se passa nos momentos finais da luta de libertação do país até sua independência, em 1980. Tambu, por ser de família negra, e ter estudado em colégio de elite para meninas brancas, passa a questionar os valores com que foi educada e convive com os representantes do país colonizador e também com os que lutam pela independência do país, sua irmã Netsai e seu tio Babamukuru, por exemplo.

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3º volume da trilogia – Esse corpo lamentado (This mournable body) – 20/11/2022

Nesse romance, última parte da trilogia, Tambu (Tambudzai), a protagonista, nascida no Zimbábue, é uma mulher adulta que tenta afirmar-se, depois de terminar os estudos e ter tido uma experiência profissional negativa. Em Harare, capital do país, Tambu esforça-se para atingir a excelência nas suas atividades e alcançar alguma estabilidade financeira e pessoal, mas se depara com questões desafiadoras – marcadas desde a infância e juventude – como a discriminação racial e social e o não reconhecimento de seu esforço.

Memórias, traumas e experiências do passado e a dramática e violenta experiência do presente vêm à tona nessa emocionante obra de ficção, em que Tambu consegue se reconhecer e se reconstruir numa sociedade em que forças políticas e históricas do colonialismo permanecem enraizadas no tecido social do Zimbábue.

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Trechos de ESSE CORPO LAMENTADO

“Você sente como se seu útero estivesse escorrendo entre os ossos de seu quadril e caindo numa poça no chão.”

“A boca dela é um poço. Está puxando você. Você não quer ser sepultada por ela. Baixa os olhos, mas não se afasta porque, por um lado, está cercada pela multidão. Por outro lado, se voltar à solidão, cairá dentro de si mesma, onde não há lugar para se esconder.”

“Você se preocupa que vá começar a considerar acabar com tudo, já que não tem nada pelo que viver: nem casa, nem trabalho, nem laços familiares. Esse pensamento induz um pântano de culpa.”

“Cobras, aquelas sobre as quais sua avó falava quando você era criança e perguntava a ela as coisas que não podia perguntar a sua mãe, as cobras que seguram seu útero dentro de você, abrem suas bocas ao ouvirem falar da guerra. Todo o conteúdo em seu abdômen escorre para o chão, como se as cobras tivessem liberado tudo ao abrirem suas bocas. Seu ventre se transforma em água. Você fica ali parada, sua força aniquilada.”

“As mulheres da guerra são assim, um novo tipo de ser que ninguém conhecia antes, não exatamente homens, mas não mais mulheres.”

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A autora TSITSI DANGAREMBGAhttps://www.kapulana.com.br/tsitsi-dangarembga/

TSITSI DANGAREMBGA é escritora e cineasta nascida na Rodésia, hoje Zimbábue. Iniciou sua educação na Inglaterra, onde viveu parte da infância, e concluiu o ensino básico em uma escola missionária na cidade de Mutare, Zimbábue. Estudou direção de cinema em Berlim, na Alemanha, onde produziu diversos filmes. Atualmente, Tsitsi Dangarembga vive com a família em Harare, capital do Zimbábue, onde fundou uma produtora de filmes, a Nuyerai Films. Feminista e ativista, é idealizadora e diretora de diversos projetos e programas que dão suporte financeiro e técnico para mulheres que atuam como artistas e cineastas no Zimbábue e na África como um todo. É autora de livros de ficção, para teatro e cinema e de ensaios.

Recebeu vários prêmios, com destaque para:

  • 2018 – Nervous conditions (Condições nervosas): Um dos 100 livros que moldaram o mundo (BBC).
  • 2020 – This mournable body (Esse corpo lamentado): 2020 Booker Prize for Fiction (finalista).
  • 2021: Pen Pinter Prize e “Prêmio da Paz na Feira do Livro de Frankfurt” (Peace Prize of the German Book Trade).
  • 2021: Honorary Fellowship of Sidney Sussex College, Cambridge.
  • 2022: Windham-Campbell Literature Prize (fiction).

Sobre os livros de Tsitsi Dangarembga publicados pela Kapulana:

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Sobre a Editora Kapulana

Editora voltada para a publicação e divulgação de autores brasileiros e estrangeiros com foco na literatura africana com seleção de títulos marginais, ou seja, de pouca visibilidade na mídia. O catálogo da editora Kapulana preza pela diversidade e apresenta obras voltadas para literatura infantil, jovens e adultos, assim como memórias, biografias e obras científicas. Com o compromisso de ampliar e apresentar diversas linguagens literárias ao público brasileiro, os escritores, ilustradores e colaboradores da Kapulana são de países como Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Nigéria, Quênia e Zimbábue.

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[Atualizada em 11 de novembro de 2022.]

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MUSEU DA REVOLUÇÃO, de João Paulo Borges Coelho, está entre os finalistas do Prêmio Oceanos 2022

Museu da Revolução, de João Paulo Borges Coelho, está entre os finalistas de 2022, anunciados pelo “Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa”.

O livro MUSEU DA REVOLUÇÃO, do moçambicano João Paulo Borges Coelho, finalista em 2022 do Prêmio Oceanos, foi publicado no Brasil, no primeiro semestre de 2022, pela Editora Kapulana.

A edição brasileira de Museu da Revolução tem capa de Mariana Fujisawa, e projeto gráfico de Daniela Miwa Taira.

O protagonista de Museu da Revolução, é um país: Moçambique. Nessa obra de ficção, João Paulo Borges Coelho nos mostra personagens diversas que participam da história de Moçambique. Em uma viagem em uma van – um Hiace antigo – várias pessoas se conhecem e percorrem caminhos em Moçambique à procura de sua história e de sua identidade. Nesse retrato contemporâneo do país africano da África Austral, o leitor não só é convidado a participar de uma viagem no tempo desde os tempos da luta de libertação, mas também a fazer um percurso geográfico por vários outros países que se relacionam com Moçambique de diversas formas.

Museu da Revolução é o livro mais recente de João Paulo Borges Coelho, lançado originalmente em 2021. A Kapulana é a única editora que publica livros de João Paulo Borges Coelho no Brasil.

Museu da Revolução é o 4º livro de João Paulo Borges Coelho que a Kapulana lança no Brasil. A editora também publicou As visitas do Dr. Valdez (2019), Crônica da Rua 513.2 (2020) e Quatro histórias (2021).

Trecho:

“Por vezes o futuro parece estar mesmo ao alcance da mão, mas eis que um vento inesperado o sopra para diante. Reúnem-se então as forças que descobrimos ainda ter, com o fito de reiniciar a perseguição.”

A obra: MUSEU DA REVOLUÇÃO, do moçambicano JOÃO PAULO BORGES COELHO: https://www.kapulana.com.br/produto/museu-da-revolucao/

O autor JOÃO PAULO BORGES COELHO: https://www.kapulana.com.br/joao-paulo-borges-coelho/

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Acompanhe a Kapulana e saiba mais sobre nosso catálogo:

 [08 de novembro de 2022]

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MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA com descontos na Kapulana

Em Novembro, Mês da Consciência Negra, a Editora Kapulana oferece descontos nos livros de sua loja online

A Kapulana sempre teve a preocupação e a iniciativa em trazer obras de autoria de negros e negras para os leitores brasileiros. 

Nesse sentido, no período de 5 a 20 de novembro de 2022, a Editora Kapulana, como forma de destacar a importância do Mês da Consciência Negra, oferece aos seus leitores desconto de 40% em todos os livros de seu catálogo online. 

O leitor encontra no catálogo da Kapulana livros para crianças e adultos. São obras de ficção, poesia,  memórias, biografias e livros de estudos sobre literatura e cinema.

Escritores e ilustradores dos livros publicados pela Kapulana são de países diversos como Angola, Brasil, Moçambique, Nigéria, Portugal, Quênia e Zimbábue.

Tsitsi Dangarembga
Ungulani Ba Ka Khosa
Akwaeke Emezi
Maria Celestina Fernandes
Mário Medeiros

Venha visitar nosso site e conhecer nossos maravilhosos livros, todos agora em promoção!

[04 de novembro de 2022]

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PEPETELA EM SÃO PAULO! Bate-papo com sessão de autógrafos

PEPETELA participa em São Paulo de bate-papo com sessão de autógrafos na Livraria da Travessa, no bairro de Pinheiros, em novembro próximo.

PEPETELA, consagrado escritor angolano, participa no dia 1º de novembro de 2022, às 19h, de bate-papo com sessão de autógrafos, na Livraria da Travessa, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A conversa com Pepetela será mediada pelo pesquisador de literaturas africanas ISSAKA MAÏNASSARA BANO, doutorando em Sociologia pelo IFCH/ Unicamp (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas).

PEPETELA é escritor bastante premiado e autor de vasta obra publicada em Angola e em outros países, como o Brasil. Em 25 de outubro recebe em cerimônia na UFRJ o título de Doutor Honoris Causa, outorgado pela renomada universidade.

PEPETELA é bastante conhecido também por sua militância política e atuação na área de Educação. Participou da Luta de Libertação de Angola e integrou a primeira delegação do MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola), como Diretor do Departamento de Educação e Cultura e do Departamento de Orientação Política. Após a independência de Angola, foi vice-ministro da Educação, passando depois a lecionar Sociologia na Universidade Agostinho Neto, em Luanda.

PEPETELA é autor de muitos livros, sendo o primeiro As aventuras de Ngunga, de 1973. Durante o evento do dia 1º de novembro de 2022, os leitores poderão conversar com o escritor e receber autógrafos dos livros publicados no Brasil pela Kapulana, da série “Vozes da África”, à venda no local.

Jaime Bunda, o Agente Secreto (2022)

O desejo de Kianda (2021)

Sua Excelência, de corpo presente (2020)

O quase fim do mundo (2019)

O cão e os caluandas (2019)

 

Saiba mais:

O EVENTO:

  • “PEPETELA – Bate-papo com sessão de autógrafos”
  • Mediação: Issaka Maïnassara Bano
  • Quando: 01/11/2022 – 19h
  • Onde: Livraria da Travessa – Pinheiros
  • Rua dos Pinheiros, 513 – São Paulo / SP  – CEP 05422-010
  • Próximo à estação Fradique Coutinho da Linha 4 do Metrô – Linha Amarela

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A Editora Kapulana agradece à equipe da LIVRARIA DA TRAVESSA mais essa oportunidade de participar de evento que reuniu escritor e leitores para a troca de ideias sobre a criação literária. Agradece também a todos e todas que participaram do emocionante encontro.

Algumas fotos do evento:

 

[Atualizada em 28 de outubro de 2022]

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Kapulana lança obra sobre o CINEMA ANGOLANO

A Editora Kapulana lança mais um livro sobre cinema africano: CineGrafias Angolanas: memórias e reflexões

A Editora Kapulana lançou em 27 de julho de 2022 a obra CineGrafias Angolanas: memórias & reflexões. Trata-se de uma coletânea de ensaios, entrevistas e depoimentos de profissionais do cinema angolano. Foi organizada por Carmen Lucia Tindó Secco (brasileira), Ana Paula Tavares (angolana), Ana Mafalda Leite (portuguesa) e José Octávio Van-Dúnem (angolano).

A  partir do conjunto de textos e fotos, a obra aproxima o leitor da história do cinema angolano, desde seu princípio como cinema documental de guerra pela independência até os dias de hoje. O leitor tem contato com a geração de cineastas que  deu os primeiros passos na cinegrafia do país até os jovens inovadores do século XXI. 

Conheça alguns dos profissionais que marcaram e marcam o cinema angolano retratados na obra:

Sarah Maldoror, Irmãos Henriques, António Ole, Ruy Duarte de Carvalho, Afonso Salgado da Costa, Óscar Gil, Asdrúbal Rebelo, Jorge António, Zézé Gamboa, José Manuel Antunes, Nguxi dos Santos, Maria João Ganga, Pocas Pascoal, Ondjaki, Fradique, Jorge Cohen, Ery Claver, Kamy Lara, Hugo Salvaterra e Tchiloia Lara.

Trecho do livro (Apresentação dos organizadores):

A ideia da publicação de um livro com entrevistas de cineastas, realizadores e produtores de Angola despontou em virtude da constatação de ser ainda pequena a bibliografia acerca do cinema angolano e por inexistir, atualmente, em Angola, uma política cultural voltada para o incentivo e a valorização de produções cinematográficas, como ocorreu nos primeiros tempos da independência angolana.

O leitor tem, ao final, um panorama não só da história do cinema de Angola como também uma representação crítica, em linguagem cinematográfica, da  história do povo angolano.

CineGrafias angolanas: memórias & reflexões é a mais recente obra da série Ciências & Artes da Editora Kapulana, com foco no cinema desenvolvido na África. A Kapulana também publicou:

Mais dados sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/cinegrafias-angolanas-memorias-reflexoes/

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[27 de julho de 2022]

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Editora Kapulana anuncia os próximos lançamentos de 2022! De ANGOLA e MOÇAMBIQUE

Em maio de 2022, a Kapulana oferece ao leitor brasileiro três obras de escritores de ANGOLA e MOÇAMBIQUE – Pepetela, Lucílio Manjate e João Paulo Borges Coelho

Em maio de 2022, durante a IV Feira do Livro da Unesp, a Editora Kapulana lançará 3 livros de escritores africanos de língua portuguesa, todos da série “Vozes da África”:

  • RABHIA, do moçambicano LUCÍLIO MANJATE
  • JAIME BUNDA, AGENTE SECRETO, do angolano PEPETELA
  • MUSEU DA REVOLUÇÃO, do moçambicano JOÃO PAULO BORGES COELHO

[1] RABHIA, DO MOÇAMBICANO LUCÍLIO MANJATE: https://www.kapulana.com.br/produto/rabhia/

A história começa com a descoberta do corpo de Rabhia, uma prostituta. Quem vai investigar o crime é Sthoe, detetive excêntrico que já atuou em outros livros de Lucílio Manjate. A trama parece simples, comum, semelhante à maior parte das histórias policiais. No entanto, somente a partir dos relatos de testemunhas e investigadores, é que o retrato de Rabhia é construído, ao mesmo tempo que o da cidade de Maputo, capital de Moçambique.

Rabhia é o 3º livro de Lucílio Manjate que a Kapulana lança no Brasil. A editora publicou O jovem caçador e a velha dentuça (2016) e A triste história de Barcolino, o homem que não sabia morrer (2017). Rabhia recebeu o “Prémio Literário Eduardo Costley-White”, em 2017.

Trecho:

“Nesse dia, o sal, o açúcar e o carvão foram esquecidos, o comboio chegou sem sobressaltos. Nunca se ouvira madrugada mais silenciosa no bairro, sem as ordens das balas na mira dos saqueadores. Desta vez, as ordens eram tacitamente outras, espalhar a notícia: a prostituta mais amada e odiada do Bairro Luís Cabral morreu.”

O autor Lucílio Manjate: https://www.kapulana.com.br/lucilio-manjate/

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[2] JAIME BUNDA, AGENTE SECRETO, do angolano PEPETELA: https://www.kapulana.com.br/produto/jaime-bunda-agente-secreto/

Jaime Bunda é membro de uma família tradicional angolana que sempre quis ser detetive. Consegue, por influência de um parente bem relacionado no governo, a vaga de estagiário nos serviços secretos de Angola. Inicialmente não tem muito sucesso na função pelo fato dos colegas não o levarem a sério, não só por ser novato, mas por suas características anatômicas avantajadas. Com o uso de métodos pouco convencionais e aprendidos em livros policiais americanos, finalmente, tem a oportunidade de mostrar sua capacidade de investigação no caso em que a vítima é uma adolescente. Nesse romance policial satírico, Pepetela, ao mesmo tempo em que nos apresenta Jaime Bunda, o James Bond angolano, com humor fino revela as contradições da sociedade do seu país.

Jaime Bunda, Agente Secreto é o 5º  livro de Pepetela que a Kapulana lança no Brasil. A editora publicou O cão e os caluandas (2019), O quase fim do mundo (2019), Sua Excelência, de corpo presente (2020) e O desejo de Kianda (2021).

Trecho:

“Mas foi numa aula de educação física, mais propriamente de vôlei, que surgiu a alcunha. Às tantas, o professor, irritado com a falta de jeito ou de empenho do aluno, gritou:
— Jaime, salta. Salta com a bunda, porra!
A partir daí, ficou Jaime Bunda para toda a escola.”

O autor PEPETELA: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

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 [3] MUSEU DA REVOLUÇÃO, do moçambicano JOÃO PAULO BORGES COELHO: https://www.kapulana.com.br/produto/museu-da-revolucao/

O protagonista de Museu da Revolução, é um país: Moçambique. Nessa obra de ficção, João Paulo Borges Coelho nos mostra personagens diversas que participam da história de Moçambique. Em uma viagem em uma van – um Hiace antigo – várias pessoas se conhecem e percorrem caminhos em Moçambique à procura de sua história e de sua identidade. Nesse retrato contemporâneo do país africano da África Austral, o leitor não só é convidado a participar de uma viagem no tempo desde os tempos da luta de libertação, mas também a fazer um percurso geográfico por vários outros países que se relacionam com Moçambique de diversas formas.

Museu da Revolução é o livro mais recente de João Paulo Borges Coelho, lançado originalmente em 2021. É o 4º livro de João Paulo Borges Coelho que a Kapulana lança no Brasil. A editora publicou As visitas do Dr. Valdez (2019), Crônica da Rua 513.2 (2020) e Quatro histórias (2021).

Trecho:

“Por vezes o futuro parece estar mesmo ao alcance da mão, mas eis que um vento inesperado o sopra para diante. Reúnem-se então as forças que descobrimos ainda ter, com o fito de reiniciar a perseguição.”

O autor JOÃO PAULO BORGES COELHO: https://www.kapulana.com.br/joao-paulo-borges-coelho/

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 [04 de abril de 2022]

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Editora Kapulana lança no Brasil 2º livro de Tsitsi Dangarembga – O LIVRO DO NÃO

O livro do Não, da escritora do Zimbábue, Tsitsi Dangarembga, é o 2º da trilogia iniciada com Condições Nervosas

A Kapulana lança em 07 de fevereiro de 2022 O Livro do Não, de autoria da escritora e ativista zimbabuana Tsitsi Dangarembga, com tradução de Carolina Kuhn Facchin.

O livro do Não é o segundo livro de uma trilogia composta por: Nervous conditions, The book of Not e This mournable body. A Kapulana lançou o primeiro volume em 2019 (Condições nervosas) e agora lança o 2º: O livro do Não. O 3º livro já está em processo de tradução.

A protagonista da trilogia é Tambu (Tambudzai Sigauke) uma adolescente de origem shona. No primeiro livro (Condições Nervosas), Tsitsi Dangarembga conta como foi a infância de Tambu com seus pais e irmãos em uma aldeia nos arredores de Umtali, na Rodésia, nos anos 60 do século XX, quando o país estava sob domínio britânico. Depois da Independência, o país passou a se chamar Zimbábue, e a cidade, Mutare. No primeiro livro, Tambu estudava numa escola missionária na aldeia onde seu tio Babamukuru era o diretor. Nesse segundo livro da trilogia, O LIVRO DO NÃO, duas outras fases da vida de Tambu são retratadas: sua vida escolar em um internato para moças, na sua maioria brancas, e o início de sua vida profissional em uma agência de publicidade, após curta experiência como professora.

Após finalizar os estudos primários em sua aldeia natal, Tambu vai estudar na Escola para Moças Sagrado Coração, colégio secundário religioso para alunas da elite branca, um internato que mantinha algumas vagas para alunas negras. Depois de formada, Tambu vai trabalhar como redatora em uma empresa de marketing em Harare (antes Salisbury), capital do país e passa a morar em um pensionato, também com maioria de residentes brancas. Nesses dois momentos de sua vida, Tambu esforça-se para atingir níveis de excelência, mas não tem sucesso por sofrer discriminações de todo o tipo. Além disso, é confrontada com situações em que sua identidade é colocada à prova. A história se passa nos momentos finais da luta de libertação do país até sua independência, em 1980. Tambu, por ser de família negra, e ter estudado em colégio de elite para meninas brancas, passa a questionar os valores com que foi educada, ao mesmo tempo em que convive com os representantes do país colonizador e também com os que lutam pela independência do país, sua irmã Netsai e seu tio Babamukuru, por exemplo.

Tsitsi Dangarembga traz corajosamente à tona os resultados devastadores das ações destruidoras do sistema colonial inglês sobre a cultura e a formação de jovens como Tambudzai Sigauke. É um livro que, além de aproximar o leitor da história de um país pouco conhecido dos leitores brasileiros, emociona ao mostrar a saga de uma personagem sempre em processo de reflexão e luta, da mesma forma que a autora dessa incrível trilogia.

TRECHOS

Mai, nossa mãe, caiu. E não se levantou. Assim, novamente, algo foi exigido de mim. Eu era a menina mais velha, a filha mais velha, agora que dois irmãos estavam mortos. Esperava-se que eu agisse de forma apropriada. Então me levantei do pano Zâmbia estendido na areia que minha mãe tinha me lembrado de trazer, movendo-me lentamente, primeiro engatinhando sobre os joelhos e as mãos como uma velha, e mantendo minha cabeça baixa para invocar a paz que vem com não ver, a paz que eu tinha em tempos de guerra.

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“É horrível, né?” Ela também estava olhando pela janela. “Olha todo o combustível que gastamos apenas tendo medo. Você não tem medo, Tambu? Eu tenho! Como vamos conseguir todas essas coisas? Não vejo a gente chegando lá antes de ficarmos sem combustível.”

TSITSI DANGAREMBGA

Tsitsi Dangarembga é escritora e cineasta nascida na Rodésia, hoje Zimbábue. Iniciou sua educação na Inglaterra, onde viveu parte da infância, e concluiu o ensino básico em uma escola missionária na cidade de Mutare, Zimbábue. Estudou direção de cinema em Berlim, na Alemanha, onde produziu diversos filmes. Atualmente, Tsitsi Dangaremgba vive com a família em Harare, capital do Zimbábue, onde fundou uma produtora de filmes, a Nuyerai Films. Feminista e ativista, é idealizadora e diretora de diversos projetos e programas que dão suporte financeiro e técnico para mulheres que atuam como artistas e cineastas no Zimbábue e na África como um todo. É autora de livros de ficção e para teatro e cinema. Dois deles já publicados pela Kapulana (Condições Nervosas e O livro do Não) e um em processo de edição (This mournable body). Recebeu vários prêmios, os mais recentes em 2021: “2021 Pen Pinter Prize” e “Prêmio da Paz na Feira do Livro de Frankfurt” (Peace Prize of the German Book Trade).

Mais dados sobre o livro e a autora em:

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[19 de janeiro de 2022]

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TSITSI DANGAREMGBA, escritora do Zimbábue, recebe o Prêmio da Paz na Feira do Livro de Frankfurt

Tsitsi Dangarembga, do Zimbábue, autora da Editora Kapulana, recebe o Prêmio da Paz na Feira do Livro de Frankfurt

Tsitsi Dangarembga, escritora e cineasta, feminista e ativista pelos direitos humanos e pela paz, recebeu, em 24 de outubro passado, o prêmio do júri do “German Book Trade” da Alemanha, um dos mais importantes prêmios do país. É primeira mulher negra a receber esse prêmio. 

A Associação dos Editores e Livreiros alemães (German Publishers and Booksellers Association) concede o prêmio à personalidade que mais contribuiu para que a ideia da paz se realizasse. 

O júri referiu que o trabalho de Dangarembga na literatura, no cinema, no teatro e em outras artes, denuncia conflitos sociais e morais que ultrapassam os limites regionais e alcançam a humanidade como um todo e indicam propostas para solucionar o problema da violência.

Em seu discurso, Tsitsi falou do passado colonial de seu país, o Zimbábue, e das formas de opressão e violência que persistem no mundo de hoje. A partir daí, destacou a necessidade de novo olhar global e novas atitudes em prol da paz, colocando o racismo como causa principal da violência, e que deve ser eliminado.

Em sua trilogia literária, Tsitsi conta a história da vida e da luta da jovem protagonista Tambu (Tambudzai). 

Os livros de sua trilogia, traduzidos por Carolina Kuhn Facchin, são os seguintes:

Para conhecer um pouco mais sobre Tsitsi Dangarembga: https://www.kapulana.com.br/tsitsi-dangarembga/

Os leitores brasileiros parabenizam Tsitsi Dangarembga pelo merecido prêmio.

São Paulo, 26 de outubro de 2021.

[Atualizada em 11 de novembro de 2022.]

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Kapulana lança nova obra de literatura nigeriana: PET, de AKWAEKE EMEZI

A Editora Kapulana lança, no Brasil, em outubro, PET, de Akwaeke Emezi, com pré-venda a partir de 29 de setembro, com preço promocional

A Editora Kapulana lança no Brasil, em 21 de outubro de 2021, PET, novo romance de Akwaeke Emezi, da Nigéria, cuja obra já é bastante admirada pelos leitores brasileiros. Pet (2021) é o segundo livro de Akwaeke que a Kapulana publica no Brasil. A editora já publicou Água doce (2019), livro de grande sucesso nacional e internacional.

A capa da edição brasileira de PET é de Mariana Fujisawa e a tradução do inglês para o português é de Carolina Kuhn Facchin.

Leia mais adiante trecho da Nota da Tradutora sobre o uso da neolinguagem, também conhecida como linguagem neutra, utilizada na tradução da obra e adotada pela Kapulana.

AKWAEKE EMEZI

Nasceu em 1987, na Nigéria, em Umuahia, mas cresceu em Aba. Atualmente vive nos Estados Unidos. Identifica-se como Ọgbanje, palavra da cultura Igbo que significa um espírito intruso que nasce em uma forma humana, e que resultaria em uma criança com um terceiro gênero. Traduzindo isto para sua realidade terrena, Akwaeke nasceu em um corpo designado feminino, mas não é mulher, identificando-se como trans/não-binárie. Fez algumas cirurgias para adequar seu corpo – seu receptáculo – para que reflita sua natureza. Em Inglês, usa pronomes neutros para se referir a si mesme. 

Não era mais para haver monstros em Lucille”.  Assim começa a história de Chimia, uma adolescente trans, e seu melhor amigo Redenção. Em Lucille, a história que as crianças aprendem na escola e em casa é que os anjos expulsaram todos os monstros da cidade, e não há nada mais motivo para ter medo. Elas aprendem que lembrar é importante, porque é esquecendo que os monstros voltam. Mas será que lembrar é o mesmo que contar uma história só até certo ponto, recusando outras possibilidades? Porque se não existem mais monstros em Lucille, então por que Pet – um… monstro? Anjo? Monstranjo? – saiu de um quadro pintado pela mãe de Chimia, dizendo que estava ali para caçar um monstro na casa de Redenção? Agora, Chimia e o amigo enfrentam um dilema: como combater monstros se as pessoas não admitem que eles existem? Com seu habitual jeito sensível e direto de olhar para as coisas, Akwaeke Emezi e suas personagens perguntam: quem são os monstros, afinal? E como podemos caçá-los?

Pet é um livro de fantasia que já chama a atenção da mídia literária internacional:

  • Foi incluído na shortlist para o “National Book Awards” em 2019.
  • Foi indicado entre os “100 Melhores livros de Fantasia de todos os tempos”, na Revista Time, por um júri formado pelos principais autores de obras de fantasia. A lista indica as obras de ficção mais engajadas, inventivas e influentes do século IX até hoje: https://time.com/collection/100-best-fantasy-books/

Leia alguns trechos do livro:

Não é a mesma coisa quando monstros se vão. Você só se lembra de sombras, histórias que parecem limitadas às páginas ou telas onde você as lê. Murchas e opacas. Então, sim, as pessoas esquecem. Mas esquecer é perigoso.
É esquecendo que monstros retornam.

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Chimia fez uma cara. Mas Lucille, o prefeito e o conselho e todo mundo que se juntou para destruir monstros, elus eram anjos, não esses aí, ela disse com as mãos.

-.-.-.-.

Mas alguma coisa devia ter escapado, ter dado errado, porque agora Pet estava ali, ume exterminadore caçando o monstro erva-daninha que havia brotado no jardim reformado que era Lucille, um perigo solto e secreto.

Leia trechos da Nota da Tradutora:

Queride leitore,
Sim, já começamos a nota desse jeito, marcando um aspecto importantíssimo deste livro: o uso de neolinguagem, mais conhecida como “linguagem neutra” – mas, se nada é neutro, muito menos a língua e a linguagem, certo?

[…]

Assim, em Pet utilizei a neolinguagem para me referir a personagens que não têm gênero, ou são não-bináries.
O que isso muda? Como isso impacta o processo de leitura?
Isso nós não podemos dizer, vai depender de cada ume, e de sua disposição a desbravar um novo jeito de se referir às pessoas, e, no caso de Pet, a… monstros? Anjos? Monstranjos?

Para conhecer mais sobre Pet e Akwaeke, acesse:

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[27 de setembro de 2021]

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Kapulana lança nova obra de estudos literários sobre Angola e Moçambique, por CARMEN LUCIA TINDÓ SECCO

A Editora Kapulana lança, em novembro, no Brasil, A magia das letras africanas – Angola e Moçambique: ensaios, de Carmen Lucia Tindó Secco

A Editora Kapulana lança no Brasil, em 03 de novembro de 2021, A magia das letras africanas – Angola e Moçambique: ensaios, de Carmen Lucia Tindó Secco, renomada pesquisadora e professora titular na UFRJ, autora de múltiplos ensaios e livros sobre as literaturas africanas de língua portuguesa.

A magia das letras africanas – Angola e Moçambique, uma coletânea de ensaios sobre a prosa e a poesia de Angola e Moçambique, faz parte da série “Ciências e Artes”, da Editora Kapulana. É uma obra de referência, de leitura imprescindível para aqueles que têm interesse ou curiosidade em conhecer mais profundamente a literatura desses países africanos.

CARMEN LUCIA TINDÓ SECCO

É doutora, professora titular de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ensaísta e pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Cientista do nosso Estado da FAPERJ (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Tem artigos e livros publicados desde os anos de 1970, muitos deles publicados pela Editora Kapulana.

Alguns trechos do livro:

Os textos que estudamos – os de poesia e os de prosa – foram engendrados por cosmovisões, pensamentos, imaginações dos autores que, através da elaboração poética da linguagem, conseguiram apreender, criativamente, aspectos culturais e sociais de seus países, sentimentos e emoções de seus povos.

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Duas imagens costumam surgir com frequência: a da Mãe-África idealizada pelos lugares-comuns de uma mítica “africanidade imaginada”, configurada por sons de tambores, danças sensuais, avós contadoras de estórias; e a da África dizimada por doenças, miséria e guerras. […]
Ao focalizarmos obras das literaturas africanas, desejamos mostrar que o encantamento despertado por elas provém, em muitos casos, do grande labor estético que possuem, não podendo, portanto, receberem o rótulo de “literaturas menores”, conforme foram designadas por certos segmentos da crítica literária ocidental.

Mais dados sobre o livro e a autora em:

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[28 de outubro de 2021]

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Editora Kapulana anuncia lançamento de mais um livro de PEPETELA no Brasil: O DESEJO DE KIANDA

A Editora Kapulana lança no Brasil, em setembro, O DESEJO DE KIANDA, de Pepetela, com pré-venda a partir de 16 de agosto

A Editora Kapulana lança no Brasil, em 16 de setembro de 2021, mais um livro de Pepetela – O desejo de Kianda – romance do escritor angolano bastante admirado pelos leitores brasileiros. O desejo de Kianda (2021) é o quarto livro de Pepetela que a Kapulana lança no Brasil. A editora já publicou O cão e os caluandas (2019), O quase fim do mundo (2019) e Sua Excelência, de corpo presente (2020).

O desejo de Kianda foi publicado originalmente em 1995. A ação se desenvolve em 1994, numa Angola marcada por sequelas da guerra civil. O cenário é a cidade de Luanda, em meio ao caos que faz parte da vida de todos. O romance se inicia com o desmoronamento de um prédio no dia do casamento de João Evangelista. Outros desmoronamentos misteriosos se sucedem sem aparente motivo, alterando o ritmo de vida dos habitantes da cidade. Com uma linguagem ao mesmo tempo crítica e irônica, Pepetela nos traz Kianda, espírito que vive em todas as águas – mar, lagos e rios. Kianda é personagem determinante nessa história em que tradições angolanas e atualidade política e econômica são retratadas com maestria e sensibilidade.

Trecho:

“O primeiro prédio desabou pouco depois da partida do cortejo de automóvel levando noivos e convidados para o banquete de casamento de João Evangelista e Carmina Cara de Cu. Foi um acontecimento nacional. Todos os relatos são coincidentes. Não houve explosão, não houve fragores de tijolos contra ferros, apenas uma ligeira musiquinha de tilintares, como quando o vento bate em cortinas feitas de finas placas de vidro. As paredes foram se desfazendo, as mobílias caindo no meio dos estuques e louças sanitárias e as pessoas e os cães, papagaios e gatos, mais as ninhadas de ratos e baratas, tudo numa descida não apressada, até chegarem ao chão.”

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[13 de agosto de 2021]

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NA SEMANA DA CRIANÇA: livros com 30% de desconto na Editora Kapulana

De 9 a 17/10, na loja da Editora Kapulana os livros de autores brasileiros e africanos para crianças estão com 30% desconto!

A Editora Kapulana tem em seu catálogo livros infantis de autores de Angola, Moçambique e Brasil.

A Editora Kapulana tem em seu catálogo livros infantis de autores de Angola, Moçambique e Brasil. Conheça alguns para dar de presente e para sua própria leitura nessa semana da Criança:

de Moçambique:

de Angola

do Brasil

Consulte o link do catálogo das obras infantis publicadas pela Kapulana:

https://www.kapulana.com.br/infantis/

[8 de outubro de 2021]

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCdg9-g5GiahREhT6Vf6of9g

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20 anos de “SANGUE NEGRO”, da moçambicana NOÉMIA DE SOUSA

Em 2021 completam-se 20 anos do lançamento da primeira edição de Sangue Negro, de Noémia de Sousa, a “Mãe dos poetas moçambicanos”

20 de setembro é uma data a ser destacada em nossos calendários! Foi nesse dia, em 1926, que nasceu Noémia de Sousa, escritora moçambicana, a Mãe dos Poetas Moçambicanos.

Em 20 de setembro de 2001, foi publicada a primeira edição de um dos livros mais importantes da literatura moçambicana – SANGUE NEGRO – coletânea de 46 poemas, escritos entre 1948 e 1951, por Noémia de Sousa (1926-2002). Essa primeira edição, da AEMO (Associação dos Escritores Moçambicanos), foi organizada por renomados pesquisadores – Fátima Mendonça, Francisco Noa e Nelson Saúte – que contribuíram com textos importantes que fazem parte da obra. A capa, de António Sopa, é um ícone da arte africana.

10 anos depois, em 2011, a editora Marimbique, sob a direção de Nelson Saúte, lançou a segunda edição do livro de Noémia de Sousa. Essa edição não só é uma homenagem à escritora, mas um marco na produção editorial de Moçambique.

Em 2016, em novembro, mês da Consciência Negra, a Editora Kapulana publica no Brasil Sangue Negro, cujos poemas já faziam parte do universo dos leitores brasileiros, mesmo não havendo ainda uma edição nacional até aquele momento. Os versos de Noémia de Sousa finalmente aportaram em território brasileiro. Um ano antes vieram pelas mãos do consagrado escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa para a casa da Kapulana.

A edição brasileira traz magnífica capa de Amanda de Azevedo, ilustrações internas inesquecíveis de Mariana Fujisawa, que nos fazem retornar à leitura de cada poema, e cuidadosa coordenação editorial de Rosana M. Weg. Os importantes ensaios da primeira edição, de Fátima Mendonça, Francisco Noa e Nelson Saúte, foram mantidos.

Além disso, a Kapulana recebeu de muitos, generosamente, textos e artes em homenagem a Noémia de Sousa, que fazem parte da edição brasileira. Encontramos aí uma conversa de inestimável valor entre a arte de Noémia de Sousa e a de emocionados amigos, parentes, conhecidos, artistas plásticos, poetas, prosadores, estudiosos, ativistas culturais; mais jovens, mais velhos; brasileiros, moçambicanos, angolanos, portugueses, goeses… A todos, a Kapulana não se cansa de agradecer:

Adelino Timóteo, Aldino Muianga, Ana Mafalda Leite, Calane da Silva, Carmen T. Secco, Clemente Bata, Domi Chirongo, Fátima Mendonça, Francisco Noa, José dos Remédios, José Luandino Vieira, José Luís Cabaço, Lucílio Manjate, Luis Carlos Patraquim, Marcelino Freire, Mariana Fujisawa, Mia Couto, Nazir Ahmed Can, Nelson Saúte, Rita Chaves, Roberto Chichorro, Sílvia Bragança, Suleiman Cassamo, Tânia Tomé, Ungulani Ba Ka Khosa e Virginia (Gina) Soares.

Os poemas de Noémia de Sousa impressionam por sua universalidade e pelo impacto que têm ainda hoje nas vidas de pessoas de várias nacionalidades. Seus versos atravessam mares, ares e terras, e encontram ressonância em todos os cantos do mundo. São lidos ou ouvidos por pequenos grupos, em reuniões familiares, em saraus; em revistas, em antologias e livros didáticos; nas redes sociais e em eventos maiores como nas feiras literárias.

Hoje, a voz de Noémia de Sousa ecoa dramaticamente por sua atualidade, por expressar o sofrimento e a luta contra o racismo, a intolerância e a opressão. Os versos de Noémia, ao mesmo tempo que emocionam por sua beleza, alertam o leitor e o ouvinte para que se mantenham sempre atentos e firmes na luta contra o opressor.

Um pouco da voz de Noémia:

NOSSA VOZ (06/08/1949)

Ao J. Craveirinha

Nossa voz ergueu-se consciente e bárbara
sobre o branco egoísmo dos homens
sobre a indiferença assassina de todos.
Nossa voz molhada das cacimbadas do sertão
nossa voz ardente como o sol das malangas
nossa voz atabaque chamando
nossa voz lança de Maguiguana
nossa voz, irmão,
nossa voz trespassou a atmosfera conformista da cidade

e revolucionou-a
arrastou-a como um ciclone de conhecimento.

E acordou remorsos de olhos amarelos de hiena
e fez escorrer suores frios de condenados
e acendeu luzes de esperança em almas sombrias de desesperados…

Nossa voz, irmão!
nossa voz atabaque chamando.

Nossa voz lua cheia em noite escura de desesperança
nossa voz farol em mar de tempestade
nossa voz limando grades, grades seculares
nossa voz, irmão! nossa voz milhares,
nossa voz milhões de vozes clamando!

Nossa voz gemendo, sacudindo sacas imundas,
nossa voz gorda de miséria,
nossa voz arrastando grilhetas
nossa voz nostálgica de ímpis
nossa voz África
nossa voz cansada da masturbação dos batuques de guerra
nossa voz negra gritando, gritando, gritando!
Nossa voz que descobriu até ao fundo,
lá onde coaxam as rãs,
a amargura imensa, inexprimível, enorme como o mundo,
da simples palavra ESCRAVIDÃO:

Nossa voz gritando sem cessar,
nossa voz apontando caminhos
nossa voz xipalapala
nossa voz atabaque chamando
nossa voz, irmão!
nossa voz milhões de vozes clamando, clamando, clamando!

Para saber mais sobre a obra: https://www.kapulana.com.br/produto/sangue-negro/
Saiba mais sobre a autora: https://www.kapulana.com.br/noemia-de-sousa/

[15 de setembro de 2021]

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Editora Kapulana anuncia lançamento de maio: O BEBÊ É MEU, de Oyinkan Braithwaite

Em 27 de maio de 2021,  a Kapulana lança no Brasil mais um livro da nigeriana Oyinkan Braithwaite.

A Editora Kapulana lançará em 27 de maio, em formato de livro de bolso, O bebê é meu, romance de Oyinkan Braithwaite, jovem escritora nigeriana, autora do Minha irmã, a serial killer, lançamento de sucesso da Kapulana em 2019.

Em O BEBÊ É MEU, da nigeriana Oyinkan Braithwaite o cenário é uma cidade da Nigéria, no período de lockdown durante a pandemia da Covid-19, quando um casal se separa. Ele, Bambi, é expulso do apartamento onde vivia com a namorada Mide, e busca refúgio na casa de seu tio – falecido durante o surto da Covid-19. Surpreende-se ao encontrar a casa habitada: pela viúva do tio, Bidemi, pela ex-amante do tio, Esohe, e por um bebê. O mistério consiste em descobrir, em meio a uma situação de isolamento, quem é a mãe do bebê: Bidemi ou Esohe?

Trechos:

Ficamos lá parados, com as pequenas fontes de luz iluminando nossas expressões vazias. Eu estava tentado a apagar minha vela, para caso minha cara dedurasse o que eu estava pensando. Ver Esohe aqui, quando minha tia também estava em casa, era bizarro. Tinha várias perguntas que eu queria fazer, mas não podia perguntar nada sem revelar meu segredo. E eu não queria ser expulso de duas casas no mesmo dia.

-.-.-.- 

“Mas não vi nenhum policial e nenhum outro carro na rua. Era só uma da manhã, mas mesmo assim… estávamos em Lagos! Abuja pode ser a capital, mas é em Lagos que todo mundo quer estar – a cidade está transbordando com vinte milhões de habitantes. Então foi estranho passar pela Rodovia Alexander e não ver quase nenhum veículo. É difícil imaginar que algum dia a vida vai voltar a ser o que era.”

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[15 de abril de 2021]

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Revista da Faculdade de Letras da UFRJ publica artigos sobre livros da Kapulana

Revista Metamorfoses, da Faculdade de Letras da UFRJ publica artigos sobre livros da Kapulana

A Revista Metamorfoses – Revista de Estudos Literários Luso Afro-brasileiros da Cátedra Jorge de Sena da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresenta em seu v. 17, n. 1 (2020), artigos de pesquisadores sobre livros de literatura e cinema de Moçambique publicados pela Editora Kapulana no Brasil, a saber:

Na seção “LER E DEPOIS”:

  • Resenha por Guilherme Rezende Machado sobre o livro:
    CineGrafias Moçambicanas: memórias & crônicas & ensaios, organizado por Carmen L. T. Secco, Ana Mafalda Leite e Luís Carlos Patraquim
  • “Lúcidos ensaios sobre a literatura moçambicana contemporânea”, por Tania Celestino Macedo, sobre o livro:
    O campo literário moçambicano. Tradução do espaço e formas de insílio, de Nazir Ahmed Can

Na seção “LITERATURAS AFRICANAS”:

  • “Ungulani Ba Ka Khosa e o fim dos mundos em Orgia dos loucos”, por Eliel Januario de Morais, sobre o livro:
    Orgia dos loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa

 
Para ler os ensaios da revista:

https://revistas.ufrj.br/index.php/metamorfoses/issue/view/1718/showToc

 
Para conhecer mais sobre os livros da Kapulana e seus autores:

CineGrafias Moçambicanas: memórias & crônicas & ensaios, org. por Carmen L. Tindó, Ana Mafalda Leite e Luís Carlos Patraquim: https://www.kapulana.com.br/produto/cinegrafias-mocambicanas-memorias-cronicas-ensaios/

O campo literário moçambicano. Tradução do espaço e formas de insílio, de Nazir A. Can: https://www.kapulana.com.br/produto/o-campo-literario-mocambicano/

Orgia dos loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa: https://www.kapulana.com.br/produto/orgia-dos-loucos/

São Paulo, 7 de junho de 2021.

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Pepetela recebe o título de “Doutor Honoris Causa”, pela UFRJ

Em 13 de maio de 2021,  a UFRJ concedeu ao escritor angolano Pepetela o título de  “Doutor Honoris Causa”

PEPETELA, Artur Carlos Maurício Pestana, renomado escritor angolano, recebeu do Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Consuni/UFRJ), por unanimidade e sob aclamação, o título de “Doutor Honoris Causa”.

O escritor é conhecido por sua militância política e atuação na área de Educação. Participou da Luta de Libertação de Angola e integrou a primeira delegação do MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola), como Diretor do Departamento de Educação e Cultura e do Departamento de Orientação Política. Após a independência de Angola, foi vice-ministro da Educação, passando depois a lecionar Sociologia na Universidade Agostinho Neto, em Luanda.

Pepetela é escritor bastante premiado e autor de vasta obra publicada em Angola e em outros países, como o Brasil.  A Kapulana publicou três livros do autor no Brasil, e vai lançar mais um em 2021. São eles:

  • O cão e os caluandas (2019)
  • O quase fim do mundo (2019)
  • Sua Excelência, de corpo presente (2020)
  • O desejo de Kianda (2021, em edição)

Os leitores brasileiros parabenizam Pepetela pelo merecido prêmio.

Para conhecer um pouco mais sobre Pepetela e sua obra, acesse: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

São Paulo, 16 de maio de 2021.

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Editora Kapulana anuncia lançamento de abril: A BOCA DO MURO, de Bruno Honorato

A Editora Kapulana anuncia livro inédito do brasileiro Bruno Honorato!

Em 22 de abril de 2021,  a Kapulana lança o premiado livro do brasileiro Bruno Honorato, A BOCA DO MURO, vencedor, na categoria Romance, do concurso Seja Nosso Autor-2019, promovido pela Kapulana.

Bruno Honorato conta a história de quatro amigos: Gordo, Negazul, Nina e Bonito, que formam um grupo de pixadores, os ALKIMISTAS. Cada um deles faz um pixo: GRAJAUEX, NOITE, ANGÚSTIA e BONITO.

Ao longo da leitura, as histórias de cada uma das personagens e da amizade do grupo são aprofundadas, assim como as reflexões sobre questões sociais e políticas que envolvem o pixo e a ocupação da cidade. O pano de fundo é a arte de rua paulistana e a vida na periferia de São Paulo. Na primeira parte da história, os ALKIMISTAS apanham da cidade, literal e metaforicamente, até que um acontecimento fantástico muda de forma surpreendente o rumo da narrativa.

Trechos:

“A noite feia e fria, e o dia inteiro aquele chove-não-molha. Pelo menos a garoa tinha parado. Umas dez e pouca da noite, muita nuvem e a lua quase sumindo, só aquele traço pálido que aparecia de vez em nunca. Eles vão trocando ideia, caminhando devagar. Os ALKIMISTAS estão chegando. Mais perto agora. Os ALKIMISTAS chegaram.”

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“A parede era comprida e cercava um terreno baldio. Numa ponta tinha uma guarita abandonada e na outra um poste de luz. O muro branco, para escrever o que quiser. Puta de um achado. E Gordo se achando, claro. É ou não é? Falei para vocês!”

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[atualizada: 15 de abril de 2021]

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Editora Kapulana anuncia o 1o. lançamento de 2021! de João Paulo Borges Coelho

O primeiro livro de 2021 da Editora Kapulana é do moçambicano João Paulo Borges Coelho: QUATRO HISTÓRIAS

Em 12 de fevereiro de 2021, a Editora Kapulana lança – em formato de livro de bolso – o novo livro do moçambicano João Paulo Borges Coelho: QUATRO HISTÓRIAS.

Nesse conjunto de quatro contos, João Paulo Borges Coelho conduz o leitor por caminhos, tempos e situações diversas. Ora estamos no Congo, ora em Moçambique, ora na China. A história da África, particularmente de Moçambique, aparece nesse cenário desde os inícios do século XIX. São histórias que emocionam por destacar personagens exploradas, sofredoras e resistentes.

É o terceiro livro do autor que a Kapulana publica no Brasil. Os anteriores são os romances As visitas do Dr. Valdez (2019) e Crônica da Rua 513.2 (2020).

Trechos de QUATRO HISTÓRIAS, de João Paulo Borges Coelho 

“A chegada dos captores à aldeia em Bukavu, nos confins do interior congolês, surgindo do nada como feras rapaces, ávidas de tudo quanto mexia. A fuga precipitada do povo pelo mato fora, ela puxada por um braço pela mãe apavorada, esta caindo trespassada por uma comprida lança para que aprendesse a não fugir, última e escusada lição. E a rapariga ficando ali a segurar a mão de um cadáver trespassado e inútil, até que chegou o árabe com um olho de cada cor – Ahmed lhe chamavam – […]” (Conto: “Maria Ernestina e as quatro senhoras”)

“A princípio, a coisa não me pareceu problemática. Tratava-se apenas de seguir a pista dos roubos e identificar autores, chineses ou não. Afinal, tínhamos a chamada lei do nosso lado. Todavia, à medida que a investigação prosseguia foi ficando evidente que, além da carne para canhão e dos chineses propriamente ditos, havia também peixe graúdo, se me faço entender. Autoridades. Gente que não me fica bem nomear […].” (Conto: “Pau Macau”)

Conheça um pouco mais sobre o livro e seu autor:

https://www.kapulana.com.br/produto/quatro-historias/ 

JOÃO PAULO BORGES COELHO

 

[10 de fevereiro de 2021]

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‘Sua Excelência, de corpo presente’, de Pepetela, ganha novo prêmio!

Pepetela foi vencedor do “Prémio  Literário dstangola/Camões”, com seu mais recente romance “Sua Excelência, de corpo presente”

A Editora Kapulana publicou o livro no Brasil em dezembro de 2020, com lançamento na Flipelô, Festa  Literária Internacional do Pelourinho, em Salvador, Bahia.

Neste romance do angolano PEPETELA, o protagonista, narrador da história, é um ditador africano morto, deitado em seu caixão. Durante seu próprio velório, ele vê, ouve e observa os que estão ali para se despedir dele. Passa, então a recordar as histórias vividas com os presentes – familiares, amigos, auxiliares, membros de governos dentre outros. Com suas memórias, a personagem revela a estrutura do poder político, o nepotismo, os abusos, as estratégias e ações de um regime ditatorial. Mesmo morto, o ditador não deixa de tentar controlar a sua sucessão através do seu espião-de-um-olho-só, que lhe é tão fiel na morte como era em vida. A obra surpreende por sua atualidade e universalidade.

Pepetela demonstra, como sempre, estar atento às situações de injustiça, opressão e abuso de poder que poderiam ter ocorrido em qualquer região do mundo em qualquer época. Por meio da ficção, com uma linguagem literária mordaz e, muitas vezes, irônica, Pepetela conduz o leitor ao submundo do poder opressivo.

O prêmio literário “dstangola/Camões” é uma iniciativa do dstgroup em parceria com o “Instituto Camões”, e visa distinguir, anualmente e de forma alternada, livros editados em poesia e prosa de artistas angolanos.

Além desse mais recente prêmio, de 2021, o livro foi o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas 2020 e finalista do Prêmio Oceanos 2019. É o terceiro livro de Pepetela que a editora Kapulana publicou no Brasil. Em 2019 publicou O cão e os caluandas e O quase fim do mundo.

Leia um trecho:

            Estou morto.
            Estou morto, de olhos cerrados, mas percebo tudo (ou quase) do que acontece à minha volta. Sei, estou deitado dentro de um caixão, num salão cheio de flores, as quais, em vida, me fariam espirrar. As pessoas não sabem que flores de velório cheiram mal? Sabem, mas a tradição é mais forte e velório sem flores é para pobre.
            Ora, não somos pobres, dominamos uma nação.
            Estou morto, no entanto posso escutar, entender os dizeres, mesmo os sussurros e, em alguns casos, adivinhar pensamentos.

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Saiba mais sobre o escritor Pepetela: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

Saiba mais sobre o livro: 
livro físico: https://www.kapulana.com.br/produto/sua-excelencia-de-corpo-presente/
e-book: https://www.kapulana.com.br/catalogo-de-ebooks/ 

[19 de março de 2021]

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Muitas histórias, em ‘Quatro histórias’, de João Paulo Borges Coelho – por Larissa Lisboa

João Paulo Borges Coelho nos presenteia com um novo livro ficcional, “Quatro histórias”. O pequeno formato, contudo, tem como proposta grandes discussões que possibilitarão ao público brasileiro conhecer ainda mais o universo plural de sua obra artística.

Somos convidados a adentrar em diversos espaços para além de Moçambique. Seja através do diálogo com um passado não tão distante, onde as fronteiras geográficas africanas se faziam ainda mais complexas, seja através do presente, nas mais de quatro décadas de Independência do país e nas conflituosas relações globais, Borges Coelho nos desnuda a sua visão crítica, como historiador, a partir de uma genialidade artística que se constrói, inclusive, em histórias enigmáticas.

Assim, os três últimos séculos estão presentes nessas potentes narrativas que resgatam personagens históricas da África Austral, a exemplo de Abushiri ibn Salim al-Harthi (líder árabe da Revolta de Abushiri, no século XIX), além de comuns indivíduos, mas retratados como espelhos sociais que giram em torno dos processos coloniais, como a escravidão, e do neocolonialismo, na China como nova potência.

Portanto, ao público leitor da editora Kapulana, o convite é lançado: a leitura de uma pequena obra, consoante com o formato tradicional do conto, na possibilidade de uma profunda reflexão, além do prazer pela apreciação de um excelente texto.      

São Paulo, 09 de fevereiro de 2021.

Larissa Lisboa
Universidade Federal de São Paulo.

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Citar como:

O ARTIGO:
LISBOA, Larissa. “Muitas histórias, em ‘Quatro histórias’, de João Paulo Borges Coelho”, São Paulo: Kapulana, 2021. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/muitas-historias-em-quatro-historias-de-joao-paulo-borges-coelho-por-larissa-lisboa/>

O LIVRO:
COELHO, João Paulo Borges. Quatro histórias. São Paulo: Kapulana, 2021. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/quatro-historias/>

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José dos Remédios, jornalista moçambicano, publica seu primeiro livro

O primeiro livro do jornalista e ensaísta José dos Remédios, O HORIZONTE E A ESCRITA, sai sob chancela da editora Fundza, de Moçambique.

O horizonte e a escrita, de autoria de José dos Remédios, resulta de um estudo realizado sobre oito romances do escritor Adelino Timóteo, que, em 21 anos de carreira, publicou 19 títulos, sendo nove romances, sete livros de poesia, dois estudos e um livro infantojuvenil.  A Editora Kapulana publicou no Brasil dois livros de Adelino Timóteo: Cemitério dos pássaros (romance) e Na aldeia dos crocodilos (infantojuvenil).

O interesse pela realização e publicação deste ensaio, segundo José dos Remédios, decorre, primeiro, da carência de estudos sobre os autores pertencentes à geração que começa a publicar por volta do início da década de 2000, e, segundo, da necessidade de eternizar pelo menos os mais importantes criadores dessa geração.

“Um dos mecanismos a ter em consideração é a recensão literária, por via da qual se criam condições para que o espólio desses mesmos criadores não fique desvalorizado”, lê-se na introdução do livro do autor.

O lançamento do primeiro livro de José dos Remédios marca o início das celebrações dos cinco anos da existência da editora Fundza, sediada na cidade da Beira, em Moçambique. O livro, patrocinado pelo BNI, está em pré-venda desde 9 de Fevereiro.

José dos Remédios nasceu a 1 de Agosto de 1987. Tem uma formação no ensino e uma licenciatura em Literatura Moçambicana. É jornalista e ensaísta. Possui inúmeros ensaios publicados na imprensa nacional e no Brasil. Atua como assessor na organização de festivais e feiras de livro. Publicou o artigo “Noémia: a poesia do mundo”. É co-fundador da editora “Kuvaninga Cartão d’Arte” e colabora com várias outras editoras (nacionais e estrangeiras) na edição de textos e/ou na promoção da literatura moçambicana. Como jornalista, escreveu vários roteiros de vídeos em homenagem a personalidades como Marcelino dos Santos, Ungulani Ba Ka Khosa, Dom Dinis Sengulane, Mia Couto e Paulina Chiziane. Foi roteirista, técnico de som e fotógrafo do documentário “Maputo, a doropa“.

José dos Remédios é antigo colaborador da Editora Kapulana com vários artigos publicados sobre os livros do catálogo da editora: https://www.kapulana.com.br/jose-dos-remedios/

Adelino Timóteo, objeto dos ensaios do livro de José dos Remédios, tem dois livros publicados no Brasil pela Editora Kapulana: https://www.kapulana.com.br/adelino-timoteo/

[9 de fevereiro de 2021]

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Editora Kapulana anuncia os primeiros lançamentos de 2021! De João Paulo Borges Coelho e Bruno Honorato

No primeiro semestre de 2021, a Kapulana oferece ao leitor brasileiro novo livro do moçambicano João Paulo Borges Coelho e livro inédito do brasileiro Bruno Honorato

Em 12 de fevereiro de 2021, a Editora Kapulana lança – em formato de livro de bolso – o novo livro do moçambicano João Paulo Borges Coelho: QUATRO HISTÓRIAS. 

QUATRO HISTÓRIAS, de João Paulo Borges Coelho  

Nesse conjunto de quatro contos, João Paulo Borges Coelho conduz o leitor por caminhos, tempos e situações diversas. Ora estamos no Congo, ora em Moçambique, ora na China. A história da África, particularmente de Moçambique, aparece nesse cenário desde os inícios do século XIX. São histórias que emocionam por destacar personagens exploradas, sofredoras e resistentes.

É o terceiro livro do autor que a Kapulana publica no Brasil. Os anteriores são os romances  As visitas do Dr. ValdezCrônica da Rua 513.2.

Trechos de QUATRO HISTÓRIAS

“A chegada dos captores à aldeia em Bukavu, nos confins do interior congolês, surgindo do nada como feras rapaces, ávidas de tudo quanto mexia. A fuga precipitada do povo pelo mato fora, ela puxada por um braço pela mãe apavorada, esta caindo trespassada por uma comprida lança para que aprendesse a não fugir, última e escusada lição. E a rapariga ficando ali a segurar a mão de um cadáver trespassado e inútil, até que chegou o árabe com um olho de cada cor – Ahmed lhe chamavam – […]” (Conto: “Maria Ernestina e as quatro senhoras”)

“A princípio, a coisa não me pareceu problemática. Tratava-se apenas de seguir a pista dos roubos e identificar autores, chineses ou não. Afinal, tínhamos a chamada lei do nosso lado. Todavia, à medida que a investigação prosseguia foi ficando evidente que, além da carne para canhão e dos chineses propriamente ditos, havia também peixe graúdo, se me faço entender. Autoridades. Gente que não me fica bem nomear […].” (Conto: “Pau Macau”)

Conheça um pouco mais sobre o livro e seu autor:

https://www.kapulana.com.br/produto/quatro-historias/ 

JOÃO PAULO BORGES COELHO

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Ainda no primeiro semestre de 2021, em abril,  a Kapulana lança o premiado livro do brasileiro Bruno Honorato, A BOCA DO MURO, Vencedor, na categoria Romance, do concurso Seja Nosso Autor-2019, da Kapulana.

A BOCA DO MURO, de Bruno Honorato: 

Bruno Honorato conta a história de quatro amigos: Gordo, Negazul, Nina e Bonito, que formam um grupo de pixadores, os ALKIMISTAS. Cada um deles faz um pixo: GRAJAUEX, NOITE, ANGÚSTIA e BONITO.

Ao longo da leitura, as histórias de cada uma das personagens e da amizade do grupo são aprofundadas, assim como as reflexões sobre questões sociais e políticas que envolvem o pixo e a ocupação da cidade. O pano de fundo é a arte de rua paulistana e a vida na periferia de São Paulo. Na primeira parte da história, os ALKIMISTAS apanham da cidade, literal e metaforicamente, até que um acontecimento fantástico muda de forma surpreendente o rumo da narrativa.

Conheça um pouco mais sobre o livro e sobre o autor:

https://www.kapulana.com.br/produto/a-boca-do-muro/ 

BRUNO HONORATO

 

[atualizada: 09 de fevereiro de 2021]

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Neste final de ano, a Editora Kapulana presenteia o leitor brasileiro com três incríveis lançamentos!

Em novembro e dezembro de 2020, a Kapulana presenteia o leitor brasileiro com a publicação de três livros de alta qualidade de três países diferentes: Brasil, Angola e Nigéria

A Editora Kapulana lançou em novembro um livro de memórias do nigeriano WOLE SOYINKA e um de contos do brasileiro MÁRIO MEDEIROS. Em dezembro, no dia 12, lançará na Flipelô, mais um livro – o terceiro – do angolano PEPETELA. 

AKÉ: OS ANOS DE INFÂNCIA, de Wole Soyinka: Um dos 12 melhores livros africanos do século XX (ASC Library).

É a história da infância do autor no oeste da Nigéria, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. É um emocionante livro de memórias considerado clássico no gênero. Transcende o relato lírico de vivência do autor quando criança pois acaba por revelar a cultura de um povo. Uma atenção especial é dada pelo autor nigeriano, de origem Iorubá, às expressões da cultura local, como as canções, comidas, bebidas, vestuário e religião, em um país colonizado pelos ingleses.

Conheça um pouco mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/ake-os-anos-de-infancia/

NUMA ESQUINA DO MUNDO, contos, de Mário Medeiros: na categoria Conto, foi Vencedor do concurso Seja Nosso Autor-2019, da Kapulana, e Finalista do Prêmio Jabuti 2020.

É um conjunto de 12 contos escritos pelo brasileiro MÁRIO MEDEIROS. Compostos com enorme força narrativa, os contos abrem um leque extremamente diverso de histórias com protagonistas negros em ambientes urbanos, passando da infância à velhice e à morte, do trem ao escritório, das ruas de São Paulo a uma esquina em Paris. A humanidade, mostrada na obra a partir de sua capacidade de agir, reagir e refletir, é afinal o que une um trabalhador no escritório, empinadores de pipas, um sindicalista morto, uma garota que não vende balas no semáforo quando chove e tantos outros que permeiam os contos. 

Conheça um pouco mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/numa-esquina-do-mundo/

SUA EXCELÊNCIA, DE CORPO PRESENTE, de Pepetela: Vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas 2020.

Neste romance do angolano PEPETELA, o protagonista, narrador da história, é um ditador africano morto, deitado em seu caixão. Com suas memórias, a personagem revela a estrutura do poder político, o nepotismo, os abusos, as estratégias e ações de um regime ditatorial. Mesmo morto, o ditador não deixa de tentar controlar a sua sucessão através do seu espião-de-um-olho-só, que lhe é tão fiel na morte como era em vida.  Pepetela demonstra, como sempre, estar atento às situações de injustiça, opressão e abuso de poder que poderiam ter ocorrido em qualquer região do mundo em qualquer época. A obra surpreende por sua atualidade e universalidade.

Conheça mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/sua-excelencia-de-corpo-presente/    

[8 de dezembro de 2020]

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Editora Kapulana lança no Brasil ‘Sua Excelência, de corpo presente’, de Pepetela – agora na versão impressa

A Kapulana publica no Brasil o mais novo romance de Pepetela – um retrato dos regimes ditatoriais de qualquer tempo e lugar

A Editora Kapulana lança no Brasil a versão impressa do premiado romance de Pepetela – Sua Excelência, de corpo presente. O livro foi lançado inicialmente em versão de e-book e agora chega na versão impressa por ocasião da participação do autor na Flipelô (Festa Literária Internacional do Pelourinho),  em dezembro de 2020, quando o escritor participará de um bate-papo virtual.

Neste romance do angolano PEPETELA, o protagonista, narrador da história, é um ditador africano morto, deitado em seu caixão. Durante seu próprio velório, ele vê, ouve e observa os que estão ali para se despedir dele. Passa, então a recordar as histórias vividas com os presentes – familiares, amigos, auxiliares, membros de governos dentre outros. Com suas memórias, a personagem revela a estrutura do poder político, o nepotismo, os abusos, as estratégias e ações de um regime ditatorial. Mesmo morto, o ditador não deixa de tentar controlar a sua sucessão através do seu espião-de-um-olho-só, que lhe é tão fiel na morte como era em vida. A obra surpreende por sua atualidade e universalidade.

Pepetela demonstra, como sempre, estar atento às situações de injustiça, opressão e abuso de poder que poderiam ter ocorrido em qualquer região do mundo em qualquer época. Por meio da ficção, com uma linguagem literária mordaz e, muitas vezes, irônica, Pepetela conduz o leitor ao submundo do poder opressivo.

O livro foi o vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas 2020 e finalista do Prêmio Oceanos 2019. É o terceiro livro de Pepetela que a editora Kapulana publica no Brasil. Em 2019 publicou O cão e os caluandas e O quase fim do mundo.

Leia um trecho:

            Estou morto.
            Estou morto, de olhos cerrados, mas percebo tudo (ou quase) do que acontece à minha volta. Sei, estou deitado dentro de um caixão, num salão cheio de flores, as quais, em vida, me fariam espirrar. As pessoas não sabem que flores de velório cheiram mal? Sabem, mas a tradição é mais forte e velório sem flores é para pobre.
            Ora, não somos pobres, dominamos uma nação.
            Estou morto, no entanto posso escutar, entender os dizeres, mesmo os sussurros e, em alguns casos, adivinhar pensamentos.

-.-.-.-.-

Saiba mais sobre o escritor Pepetela: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

Saiba mais sobre o livro: 
livro físico: https://www.kapulana.com.br/produto/sua-excelencia-de-corpo-presente/
e-book: https://www.kapulana.com.br/catalogo-de-ebooks/ 

[2 de dezembro de 2020]

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Editora Kapulana lança no Brasil o livro de contos de Mário Medeiros: ‘Numa esquina do mundo’

Livro de contos do escritor brasileiro Mário Medeiros expõe literariamente situações e cenários trágicos de personagens que vivem à margem da sociedade

A Kapulana publica em 19 de novembro de 2020 Numa esquina do mundo, o livro de contos do brasileiro MÁRIO MEDEIROS, ficcionista e pesquisador universitário na área de Sociologia. Tanto seus contos como sua pesquisa acadêmica focam na temática sobre os marginalizados, desfavorecidos e não atendidos pelo sistema social e político brasileiro. O lançamento do livro está marcado para novembro – mês da Consciência Negra.

Numa esquina do mundo, obra vencedora, na categoria Conto, da edição de 2019 do Seja Nosso Autor, da Editora Kapulana, é um conjunto de 12 contos de Mário Medeiros, compostos com enorme força narrativa.

Com escrita precisa e terna, o autor nos revela  a humanidade de personagens marginalizadas em meio à realidade trágica do dia a dia. São histórias com protagonistas negros em ambientes urbanos, passando da infância à velhice e à morte, do trem ao escritório, das ruas de São Paulo a uma esquina em Paris. A humanidade, sem estereótipos, mostrada na obra a partir de sua capacidade de agir, reagir e refletir, é o que une personagens tão diversas como o trabalhador no escritório, empinadores de pipas, o sindicalista morto, a garota que não vende balas no semáforo quando chove e tantos outros.

Leia alguns trechos:

“Aí, tia! Deixa eu subir aí para pegar a pipa? Deixa, tia? Quebra nada não! Porra…! Tia chata do caralho! Sem cerimônia, o palavrão. Sem cerimônia também, um pé no muro, outro no portão, dois tempos em cima do telhado, driblando os cachorros no quintal, movendo a posição da antena, chiado riscando na RV. Puta que pariu! ” [Conto: “O pó da rabiola”]

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“Qual o peso de um homem negro sob o sol? Qual o peso de sua sombra?
O peso de seu passado, do pretérito dos seus? Quanto marca na balança o seu futuro?” [Conto: “Durmo no fundo dos seus olhos”]

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“Agora é a vez de Tiquinho. Vender os doces lá em cima. O negócio é assim. Os Dois lá embaixo, com os vidros. Eu, de um lado, com os paus de fogo e Nadela, do outro, pedindo, vendendo bala ou batendo pau, sem bola de fogo, jogando bola. Lá em cima, Tiquinho, moleque ranhento, não deve de ter nem oito anos. Vende bala. A gente forma uma cruz. Sinal abriu, fechou, um de nós tá sempre em ação. Hoje, Nadela não veio. “Vai chover!”, ela disse. Hoje tem grana a menos. Hoje, Nadela apanha.” [Conto: “Vaga-lume”]

Saiba mais sobre o escritor Mário Medeiros: https://www.kapulana.com.br/mario-medeiros/
Saiba mais sobre o livro:  https://www.kapulana.com.br/produto/numa-esquina-do-mundo/

[07 de novembro de 2020]

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Editora Kapulana lança no Brasil o livro de memórias de Wole Soyinka ‘Aké: os anos de infância’

Wole Soyinka, nascido na Nigéria, foi o primeiro negro africano a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1986, e “Aké: os anos de infância” está classificado entre os “12 melhores livros africanos do século XX”.

A Kapulana, editora voltada para a publicação e divulgação de obras de autores brasileiros e estrangeiros, com destaque para literaturas africanas e foco em temas marginais, lança em novembro de 2020 o livro de memórias do premiado escritor nigeriano WOLE SOYINKA. Trata-se de AKÉ: OS ANOS DE INFÂNCIA, publicado originalmente em 1981. O livro foi classificado entre os “12 melhores livros africanos do século XX” (ASC Library).

Aké: os anos de infância, do nigeriano Wole Soyinka, é uma autobiografia que transcende as biografias tradicionais centradas na pessoa do narrador. Ao relatar seus dias da primeira infância, sempre rodeado de livros, Soyinka nos presenteia com um retrato de época marcado por acontecimentos, conversas, sonhos e preocupações do narrador e de todos os que ele observa ou que com ele convivem. A chegada do rádio e da eletricidade à casa de Wole, a visão do primeiro avião em Aké, a ameaça de Hitler e a luta das mulheres por liberdade são fatos acompanhados das reflexões de uma criança curiosa que chama o pai de “Ensaio” e a mãe de “Cristã Impetuosa”. Uma atenção especial é dada pelo autor nigeriano, de origem Iorubá, às expressões da cultura local, como as canções, comidas, bebidas, vestuário e religião, em um país colonizado pelos ingleses.

Leia alguns trechos:

“Eram essas as bruxas de que nos falavam? Eu nunca tinha visto seios tão achatados, não parecia humano. Mas quando olhei de novo para as bandejas, reconheci cascas e raízes parecidas com as que meu pai comprava e enfiava em garrafas e jarros, onde elas ficavam mergulhadas por dias. Algumas nós tomávamos para certas doenças. Outras nós bebíamos em períodos comunicados misteriosamente aos nossos pais. E havia ainda mais cascas, cultivadas em panelas enormes. […]”

“Todos os avós eram Papa e Mama – e de algum jeito nós falávamos essas palavras em letras maiúsculas. Lá as vigas eram esfumaçadas, despidas do forro de teto usual. Havia objetos nos cantos do telhado, envoltos em folhas, em couro. Alguns não eram muito misteriosos, já que Papa frequentemente remexia esses embrulhos, uns que pareciam cobertos por cem anos de seca. Mas deles não saía nada mais estranho do que nozes-de-cola ou rapé.”

“Eles pareciam conversar em um novo idioma, não que falássemos iorubá com tanta desenvoltura. Ao redor de suas fogueiras no quintal, esse som enchia a noite como uma cantiga esquisita e cúltica, não muito diferente do canto dos ogboni que às vezes chegavam a nossa casa vindas de suas reuniões no Aafin.”

Saiba mais sobre Wole Soyinka: https://www.kapulana.com.br/wole-soyinka/
Saiba mais sobre o livro:  https://www.kapulana.com.br/produto/ake-os-anos-de-infancia/

[28 de setembro de 2020]

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TSITSI DANGAREMBGA é finalista no The Booker Prize 2020

Tsitsi Dangarembga, escritora do Zimbábue, é finalista em prêmio internacional altamente reconhecido.
 
A autora de Condições Nervosas, publicado pela Kapulana no Brasil, é finalista no The Booker Prize 2020 , com o livro This mournable body.
 
O livro finalista faz parte de uma trilogia escrita por Tsitsi Dangarembga, a saber:
 

1988 – Nervous conditions (Condições nervosas. Kapulana, 2019)
2006 – The Book of Not (O livro do Não. Kapulana, 2022)
2018 – This mournable body (Esse corpo lamentado. Kapulana, 2022)

 

[15 de setembro 2020]

 

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Faleceu a escritora SÍLVIA BRAGANÇA (1937-2020)

Sílvia Bragança, poeta, pintora e educadora, nascida em Goa e há muitos anos vivendo em Moçambique, morreu ontem, dia 21 de setembro de 2020.

É com enorme tristeza que a Editora Kapulana noticia o falecimento, aos 83 anos, da artista  e professora Sílvia Bragança, na última segunda-feira (21/9). A Kapulana publicou, em 2015, no Brasil, seu livro infantil Sonho da Lua, em que a autora revela grande sensibilidade no uso da palavra, encantando as crianças. A edição brasileira foi ilustrada pela artista Amanda de Azevedo. Na ocasião da edição do livro, Sílvia acompanhou todo o processo de produção editorial brasileiro, dando opinião sobre o projeto gráfico e as ilustrações que acompanham o texto.

A edição original foi publicada em 2010, em Moçambique, pela Brinduka, e contou com ilustrações da própria Sílvia e de seus sobrinhos Ariel e Luciana Dinis.

A Kapulana sente muito a perda de tão incansável educadora, na certeza que seu legado estará sempre entre nós e entre as crianças.

[22 de setembro de 2020]

Conheça mais  sobre a vida e a obra do autora: https://www.kapulana.com.br/silvia-braganca/

Conheça o livro Sonho da lua: https://www.kapulana.com.br/produto/sonho-da-lua/

 

Webinar com Prof. Francisco Noa

PALESTRA: O poder da representação na literatura colonial: o caso de Moçambique

O professor Francisco Noa apresentará, nesta palestra, uma reflexão sobre o que vem a ser literatura colonial, a partir da identificação de um conjunto de elementos estéticos que caracterizam essa produção literária, produzida ao longo da última década do colonialismo português em Moçambique, destacando os principais autores e obras representantivos dessa estética.

Inscrições até 20/09/2020: https://www.unifesp.br/reitoria/proec/noticias/1160-webinar-com-prof-francisco-noa

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A oficina de Nazir Ahmed Can em “campos, espaços” da escrita moçambicana, por Rita Chaves

Seis anos após o lançamento, em Moçambique, de Discurso e poder nos romances de João Paulo Borges Coelho, o primeiro trabalho exaustivo sobre o ficcionista moçambicano que acaba de ser publicado pela Kapulana, Nazir Ahmed Can entrega ao leitor brasileiro O campo literário moçambicano: tradução do espaço e formas de insílio. Durante esse período, a capacidade analítica de seu autor materializou-se em livros coletivos e em algumas das melhores revistas acadêmicas do Brasil e não só, revelando um leitor profundamente interessado na literatura do continente africano. Foi também esse o tempo que do território moçambicano, solo inicial de suas pesquisas, ampliou seu olhar arguto e sensível na direção de países como Angola e Cabo Verde, incorporando ainda espaços pouco palmilhados entre nós como  alguns países situados no Oceano Índico. Assim, em suas análises, nomes como Ondjaki, Ruy Duarte de Carvalho, Mario Lúcio de Sousa e Ananda Devi vieram se associar a João Paulo Borges Coelho e outros moçambicanos como Luís Bernardo Honwana, Luís Carlos Patraquim, Mia Couto, Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa e Helder Faife, alguns dos nomes aqui visitados.

Nesse movimento, o pesquisador habituado a romper fronteiras físicas transitou por diferentes gêneros literários para investigar problemas fundamentais da produção africana, menos empenhado em encontrar respostas do que no compromisso de formular questões – marca que define uma qualidade do intelectual contemporâneo de seu tempo. Nesse volume em que volta a se concentrar em Moçambique, notamos que tal regresso ao lugar de partida articula-se a uma notável capacidade de renovar o modo de percebê-lo. A partir do(s) conceito(s) de espaço, Nazir Ahmed Can avança no processo de análise e interpretação de textos que espelham e constroem as intrincadas relações entre ficção e realidade e convida-nos a uma viagem em que a mobilidade é, mais que um objeto, um modo de ver o mundo, o literário e aquele que catalisa a escrita das tantas páginas examinadas.

 

Na escolha do conceito de campo intelectual, cunhado por Pierre Bourdieu e muito utilizado no domínio das ciências sociais, marca seu apreço pela interdisciplinaridade como método, mas sabe evitar sua utilização como um recurso meramente terminológico para o exercício metalinguístico tão a gosto de algumas modulações críticas. Ao contrário, fugindo à tautologia, suas análises têm no fenômeno literário um cais de partidas e chegadas, expressando o firme propósito de captar vários movimentos para focalizar com pertinência e respeito inclusive um repertório ainda pouco divulgado como o identificado com o símile campo. Para isso concorrem o seu conhecimento do lugar, as suas vivências na realidade viva das ruas que compõem o espaço dos escritores e seus personagens. A pesquisa no terreno iniciada há mais de dez anos está na base de uma experiência capaz de facultar ao leitor brasileiro o acesso a todo um universo inexplorado, sem a trivial convocação à bênção paternalista que traduz alguns de nossos equívocos na relação com as literaturas africanas.

No corpo a corpo com a escrita dos autores visitados, reconhecendo sempre que a literatura é a arte da palavra, definição banal mas às vezes ignorada por tantos estudiosos, ele perscruta a linguagem e seus artifícios na tarefa de desvelar os projetos artísticos que constituem a literatura no país. A concepção de insílio surge como uma chave para observar alguns dos impasses vividos pelos escritores moçambicanos, e, sobretudo, compreender como os dilemas vividos no tempo e no espaço que respiram são operados na estrutura de seus textos. Um quadro assim configurado explica a presença da tradução como um procedimento que se impõe na mediação de mundos misturados e mesmo contraditórios. Sem diluir a contradição que define espaços socioculturais marcados pela diferença e pela desigualdade, ela favorece hipóteses de diálogos entre as pontas, recorda-nos o autor.

Com uma fina seleção de instrumentos de análise e a atenção posta em referências teórico-críticas, como Edward Said, Bernard Mouralis e Antonio Candido, por exemplo, ele procura também captar as redes que envolvem a literatura como instituição, identificando o seu lugar na dinâmica social e política de um estado nacional de formação recente e convulsionada. Contrapondo-se aos procedimentos meramente judicativos e aos apelos à celebração, Nazir Ahmed Can defende o direito à exigência, a que em 1994 já se referia Ruy Duarte de Carvalho. O processo de descolonização do conhecimento e do imaginário no território das chamadas “Africanas” tem em sua reflexão uma forte aliança porque nela estão inscritos os sinais da maturidade desejada por aqueles que nesse barco viajam desde há muito ou em tempos mais recentes.

São Paulo, 10 de junho de 2020.

Rita Chaves
Universidade de São Paulo.

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Citar como:

O ARTIGO:
CHAVES, Rita. “A oficina de Nazir Ahmed Can em ‘campos, espaços’ da escrita moçambicana”. Prefácio: In: CAN, Nazir Ahmed. O campo literário moçambicano: tradução do espaço e formas de insílio. São Paulo: Kapulana, 2020. [Ciências e Artes] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/a-oficina-de-nazir-ahmed-can-em-campos-espacos-da-escrita-mocambicana-por-rita-chaves/>

O LIVRO:
CAN, Nazir Ahmed. O campo literário moçambicano: tradução do espaço e formas de insílio. São Paulo: Kapulana, 2020. [Ciências e Artes] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/o-campo-literario-mocambicano-traducao-do-espaco-e-formas-de-insilio/>

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O pó e a fissura, os muros e a sombra… Quantos tempos cabem na rua?, por Nazir A. Can

Publicado pela primeira vez em 2006, mais de três décadas depois da independência moçambicana, Crônica da Rua 513.2 reconstrói esse período com a distância suficiente para se demarcar da justificada euforia e incidir na contradição que qualquer temporalidade transitória abriga. Sem apresentar um herói, que iria contra o tom antiépico deste romance, e ambientado em Maputo, cenário raramente percorrido pela prosa moçambicana, João Paulo Borges Coelho avalia o modo como uma rua (simples e complexa) vive o tempo (belo e conturbado) da passeata revolucionária. O título, de resto, sintetiza o programa da obra: aliar o pequeno espaço (da rua) ao imenso tempo perdido (da crônica).

Também no “Prólogo: sobre os nomes e a rua” é possível notar o relevo dado a três elementos decisivos para a formação da identidade: o tempo, o nome e o espaço. Após sublinhar os tons da segregação racial, que hierarquizou pessoas, lugares e culturas no período colonial, bem como a herança armadilhada deixada pelo imaginário que nesse tempo se instalou, o narrador reflete sobre o processo de renomeação das ruas e avenidas retomado pela nova ordem. À valorização de indivíduos que lutaram pela libertação (Samora Machel, Eduardo Mondlane ou Josina Machel), de alguns modelos estrangeiros que com ela tiveram uma vinculação ideológica (Marx, Lenine, Kim Il Sung, Siad Barre) e de algumas datas históricas (25 de Setembro ou 25 de Junho) associa-se o desejo de apagamento das referências do passado. As exceções a essa lógica são os espaços numerados, como a rua 513.2, que se manteve como estava. Vale referir que, neste caso, ao invés do esperado 2.513 (fórmula mais próxima do que podemos encontrar hoje em algumas ruas de Maputo), temos o número 2, da dualidade, colocado no fim. Se seguirmos o sutil convite do narrador para não “desprezar a aritmética” e dividirmos estes números (513 por 2), teremos o seguinte resultado: 256.5. Ou inclusive uma data velada, 25-6-75, dia da independência do país. Tanto no título quanto no prólogo, portanto, se articulam algumas das principais estratégias da obra: a metonímia, a seleção onomástica, o jogo de inversões simbólicas e a sobredeterminação das coordenadas de existência tempo e espaço.

Seguindo a lógica da exceção, os nomes de várias personagens, como Josefate, Basílio, Valgy, Tito, Judite, Filimone ou Santiago, anunciam o propósito narrativo de se apropriar do texto bíblico. De maneira lúdica, (e) com efeito, o romance problematiza alguns dos postulados do período pós-independência através da imbricação de enunciados que aproximam o discurso socialista da revolução a uma visão teológica do mundo. Assim, depois de anunciar o desejo de transformação de estatuto no ambiente histórico representado (a doxa), o narrador, com base no mesmo material (o nome), sugere a ambivalência forçada que provam as personagens (o paradoxo). Com a partida de uns (portugueses, em sua maioria), a chegada de outros (moçambicanos dos subúrbios, mas não só) e a permanência de um pequeno e hesitante grupo (como o branco Costa e o indiano Valgy) sucedem-se os encontros e os mal-entendidos engendrados no interior de uma experiência coletiva intensa. Procurando desconstruir modelos de ortodoxia através da sátira, o autor investe ainda na criação dos “resquícios do passado”, espectros dos antigos habitantes da rua que, após a revolução, se escondem nas casas com a cumplicidade dos atuais moradores. O antigo PIDE Monteiro (rivalizando a poltrona da sala com o Secretário do Partido, Filimone Tembe), a prostituta branca Arminda (que, sentada na borda da cama, aconselha a nova moradora Antonieta), o mecânico Marques (cúmplice de garagem e de interesses de Ferraz) entre outros, auxiliam João Paulo Borges Coelho a construir os seus já característicos e insólitos limiares simbólicos. Significando tanto um resto (do espaço) como uma fissura (do tempo), o termo “resquício” sugere a contiguidade como traço constitutivo da jovem nação. Além de representarem a dificuldade de controle da heterodoxia popular, todas estas personagens indiciam, devido a sua natureza especular, que a linha que separa a transição da transação é porosa. Em suma, mais do que “pós-colonial”, conceito que nos remeteria a uma ideia romantizada de corte com o passado, estamos diante de uma sociedade ficcional que partilha os seus espaços com o pó colonial.

Com aquela mordacidade que humaniza, embora nem sempre redima, João Paulo Borges Coelho lê as dinâmicas de um tempo que, a sua maneira, também selou a descoincidência entre a austeridade do discurso público e a fluidez dos gestos privados. Entre a euforia de uns, a hesitação de outros, a improvisação de muitos e a melancolia de todos, espelhada nos muros que se agigantam na reta final da narrativa, anunciando possivelmente a voracidade neoliberal dos dias que correm, as relações entre as personagens dão a medida de uma época vivida sob os signos da solidariedade e do sobressalto. Por via de uma cuidadosa escolha lexical, capaz de enlaçar ritmo, imagem e sentido, além da ironia, que assume aqui plenamente as funções pragmática (por acionar a antífrase e a paródia) e estética (favorecendo a conversão do segredo em indício), o autor devolve à ficção aquela virtualidade poética que constrange qualquer afã de linearidade. Talvez por isso, e tal como a árvore da Rua 513.2 que se mantém firme após tantas intempéries, oferecendo sua sombra ao cortejo de indivíduos comuns que por ali circula, este romance resistirá aos humores do tempo.

Que siga a leitura, pois. E que se façam as contas depois.

Rio de Janeiro / Salamanca, 19 de fevereiro de 2020.

Nazir Ahmed Can
Universidade Federal do Rio de Janeiro / FAPERJ / CNPq / CAPES.

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Elaborado entre 2019 e 2020, este texto contou com o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ (Programa Jovem Cientista do Nosso Estado, processo nº E-26/203.025/2018), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Nível 2, processo nº 307217/2018-3) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES/PrINT) – Finance Code 001, Projeto 88887.364731/2019-00.
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Citar como:

O ARTIGO:
CAN, Nazir Ahmed .“O pó e a fissura, os muros e a sombra… Quantos tempos cabem na rua?”. Prefácio. In: COELHO, João Paulo. Crônica da Rua 513.2. São Paulo: Kapulana, 2020. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/o-po-e-a-fissura-os-muros-e-a-sombra-quantos-tempos-cabem-na-rua-por-nazir-a-can/>

O LIVRO:
COELHO, João Paulo. Crônica da Rua 513.2. São Paulo: Kapulana, 2020 [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/cronica-da-rua-513-2/>

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[Sobre] Condições Nervosas, de Tsitsi Dangarembga – por Rutendo Tavengerwei

Condições nervosas, de Tsitsi Dangarembga, é incrível.

A história se passa na Rodésia (hoje Zimbábue) na década de 1960, antes de o país conquistar a independência, e é narrada por Tambu, sedenta por uma educação que não lhe foi oferecida porque sua família é pobre e acha mais importante que seu irmão vá para a escola. No entanto, ela tem a oportunidade de estudar após a morte do irmão, e Dangarembga nos conduz pela progressão da vida de Tambu, por sua mudança da área rural, onde sempre viveu com os pais, para a escola missionária onde o tio é diretor.

A história incorpora as realidades de várias mulheres da vida de Tambu: a mãe e a tia, que apresentam as dificuldades da existência como mulheres negras, pobres e sem estudo, controladas pelas demandas de uma sociedade patriarcal; e Maiguru e Nyasha, que por terem estudado na Inglaterra, agora se veem presas no constante conflito entre a cultura africana e a ocidental, e por suas identidades perturbadas pelo colonialismo.

Condições nervosas aborda questões de extrema importância, e absolutamente merece ser chamado de clássico moderno.

Rutendo Tavengerwei
Escritora do Zimbábue, autora de
Esperança para voar (Kapulana, 2018)

Citar como: TAVENGERWEI, Rutendo. [Sobre] Condições Nervosas, de Tsitsi Dangarembga [orelha]. In: DANGAREMBGA, Tsitsi. Condições nervosas. São Paulo: Kapulana, 2019. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/codicoes-nervosas-tsitsi-dangarembga/>

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A pena da Abolição, por Laurentino Gomes [sobre José do Patrocínio, a pena da Abolição, de Tom Farias]

José do Patrocínio, a pena da Abolição, de Tom Farias, é mais do que uma boa biografia de um dos maiores abolicionistas brasileiros. É também o relato minucioso, bem documentado e bem escrito de um dos momentos cruciais da história do Brasil. O movimento que levou à libertação dos escravos pela Lei Áurea em Treze de Maio de 1888, e que teve em José do Patrocínio um de seus protagonistas, foi a nossa primeira campanha genuinamente popular e de dimensões nacionais. Envolveu todas as regiões e classes sociais, carregou multidões a comícios e manifestações públicas, dominou as páginas dos jornais e os debates no parlamento e mudou de forma dramática as relações políticas e sociais que até então vigoravam no país.

Nunca antes tantos brasileiros se haviam mobilizado de forma tão intensa por uma causa comum, nem mesmo durante a Guerra do Paraguai. Como efeito colateral, deu o empurrão que faltava para a queda da monarquia e a proclamação da República, no ano seguinte. É esse o fio condutor deste livro fascinante de autoria de um dos mais respeitados e talentosos jornalistas e escritores da atualidade. Leitura fundamental para entender o fenômeno da escravidão e seu legado que ainda hoje assombra os brasileiros.

Rio de Janeiro, setembro de 2019.
Laurentino Gomes
Escritor e jornalista

Citar como:

O ARTIGO:
GOMES, Laurentino .“A pena da Abolição”. Prefácio. In: FARIAS, Tom. José do Patrocínio, a pena da Abolição. São Paulo: Kapulana, 2019.  Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/a-pena-da-abolicao-por-laurentino-gomes-sobre-jose-do-patrocinio-a-pena-da-abolicao-de-tom-farias/>

O LIVRO:
FARIAS, Tom. José do Patrocínio, a pena da Abolição. São Paulo: Kapulana, 2019. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/jose-do-patrocinio-a-pena-da-abolicao/>

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Velho mundo, mundo novo, por Ana Paula Tavares [sobre O quase fim do mundo, de Pepetela]

Calpe pode ser tudo menos a cidade feliz e os seus centros e margens estreitam-se quando a terra se rompe e o desaparecimento sucessivo da vida (homens, mulheres, insetos e outros bichos) acontece sem que uma razão clara (peste, guerra, furacão) tudo justifique. Ao contrário de um anjo carregado de futuro aqui sobrevivem indivíduos e uma imensa solidão incapaz de suportar todo o peso do mundo para descobrir e resolver. Os que sobrevivem procuram razões para todos os acontecimentos e ainda formas de resolver os estilhaços da vida que sobrou de um imenso passado por conhecer. A dimensão da violência perturba a observação e o quotidiano dos dias e das noites que o silêncio prolonga e acentua. Com uma linguagem trabalhada o romance abre-se às vozes das várias visões do acontecido como se Calpe se tornasse no pequeno quintal do mundo onde se discutem razões, hipóteses e estratégias. Os mares estão vazios de peixes e nos rios só sobrevivem as formas elementares da vida. Sobram demasiadas coisas materiais para tão pouca vida.

Devorados por um tempo que não é o deles os sobreviventes iniciam o ciclo das viagens onde como novos sujeitos da história descobrem os destinos e vão refundar o mundo. O continente africano resolve de novo o enigma da fundação: a partir de um centro renovar os ciclos, perceber o novo sentido da vida porque Calpe e o mundo à volta só conservam os mortos. A aventura começa e tudo se renova nesta narrativa misteriosa e fundadora.

26 de agosto de 2019.

Ana Paula Tavares
Escritora e historiadora angolana

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O ARTIGO:
TAVARES, Ana Paula .“Velho mundo, mundo novo”. Prefácio. In: PEPETELA. O quase fim do mundo. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/velho-mundo-mundo-novo-por-ana-paula-tavares-sobre-o-quase-fim-do-mundo-de-pepetela/>

O LIVRO:
PEPETELA. O quase fim do mundo. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/o-quase-fim-do-mundo/>

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O criado, o criador e outras criaturas: notas sobre As visitas do Dr. Valdez e a escrita de João Paulo Borges Coelho, por Nazir A. Can

As visitas do Dr. Valdez integra-se em um projeto literário que se apresenta, hoje, como um dos mais desafiadores dos contextos de língua portuguesa. Desde 2003, ano de sua estreia como ficcionista, com As duas sombras do rio, João Paulo Borges Coelho publicou sete romances, dois volumes de contos e três novelas. A este registro vertiginoso, que não dispensa o rigor e a experimentação estética, juntam-se três livros de histórias em quadrinhos, lançados em Maputo no início dos anos 80, e algumas narrativas curtas espalhadas em edições de natureza diversa. Embora também seja um reconhecido historiador, João Paulo Borges Coelho evita em seu trabalho artístico o caminho da restituição didática do passado. Apoiado em estratégias como a metonímia, a metáfora ou a alegoria, frequentemente mediadas pelos recursos do humor e da ironia, o jogo que propõe aponta antes para as trocas simbólicas entre o “pequeno” (cotidiano) e o “grande” (história). Virtuoso, o primeiro abre fendas no solo rígido do segundo.

Ambientado na Ilha do Ibo e na cidade da Beira, em um tempo complexo que se situa entre o já agônico colonialismo português e a eufórica independência moçambicana, As visitas do Dr. Valdez coloca em cena a experiência do interstício. A narrativa gira em torno do empregado doméstico Vicente e de suas patroas, as velhas mestiças Sá Amélia e Sá Caetana. Preocupada com os delírios da primeira, que reclamava das ausências do Dr. Valdez, entretanto já morto pelo excesso de manteiga ingerido em vida, Sá Caetana propõe um jogo a Vicente: resgatar o médico das cinzas. Assim, nos domingos de folga, Vicente disfarça-se de senhor doutor branco, em uma tripla transformação que visa devolver alguma alegria à Sá Amélia. Mas não só.

Com o disfarce do velho colono, elaborado na escuridão solitária e precária de seu quarto, o jovem empregado encontra uma criativa maneira de confrontar Sá Caetana e todo o imaginário por ela representado. Por trás da máscara, Vicente aciona um discurso estrategicamente ambíguo e passa a atuar em um dos campos que mais aflige os poderes autoritários: o da imaginação reivindicativa. A imitação que faz do Dr. Valdez, na cara e na casa da autoridade, desestabiliza a velha ordem colonial ancorada nas premissas da superioridade racial e científica e, como tal, no privilégio que decorre da primazia e da lei. O jovem procura libertar-se, portanto, de uma vida de submissão que lhe parecia destinada e acompanhar a mudança que, a um nível mais abrangente, se vai anunciando em Moçambique. Contudo, recorda com frequência as palavras de seu pai: o velho Cosme Paulino exigia-lhe que desse continuidade a uma história de servidão, cuidando das senhoras como se de sua própria família se tratasse. A vinculação quase umbilical a dois mundos opostos acentua a ambiguidade das relações entre as personagens, que são convidadas a ocupar distintas posições durante a narrativa.

Realizadas em três domingos e estruturadas em torno de outros tantos núcleos de significado (gesto, voz e olhar), as visitas do Dr. Valdez asseguram ao empregado alguma margem para expressar seu descontentamento. O discurso de Vicente, na primeira visita, adquire uma capa predominantemente visual. A maneira como se disfarça e os pensamentos que elaboram seus gestos constituem uma eficaz afirmação pública de sua rebelião privada. Executando de maneira sagaz e irônica os gestos doutorais de Valdez, avança por fronteiras até então intransponíveis: senta-se pela primeira vez no sofá, aceita o chá servido pela patroa, toma a iniciativa de observar da janela o quintal e espanta-se com o espaço miserável que é reservado aos criados… Enfim, graças ao novo lugar que lhe cabe no cenário, vê o mundo de um ângulo inédito. E se faz ouvir, mesmo quando silencia. Em contextos onde o estatuto impera, a autoridade não necessita de muitas palavras para se fazer valer. O discurso verbal da dupla Vicente/Valdez progride do comedimento, na primeira visita, para o confronto aberto, na segunda. Programada nos bastidores, depois de um inusitado encontro entre o criador Vicente e a criatura Dr. Valdez, a terceira visita sintetizará as duas anteriores, além de trazer o complemento fundamental da máscara-elmo, peça tradicional da arte maconde que se sobrepõe a do Dr. Valdez. Em dificuldade por ter que se dirigir a quem não vê totalmente, Sá Caetana perde um dos seus principais pontos de apoio: o desigual duelo de olhares.

Assim, após a performance física da primeira visita (que conforma ironicamente a imagem do colono) e da reivindicação retórica da segunda (que confirma a indignação do colonizado, mas o expõe a um risco), a terceira visita será marcada pelo impacto do olhar e de seus desdobramentos. Qualquer desses encontros terá contornos e resultados imprevisíveis, que não nos cabe aqui esmiuçar. Mas não resistimos a uma especulação: a representação de Vicente talvez nos queira dizer, entre outras coisas, que a arte é menos transformadora no momento em que explicita a raiva do que quando, sem renunciar ao compromisso político, faz a adequada mediação das estratégias que lhe são específicas (o gesto, a voz, o olhar e a necessidade de se colocar no lugar do outro). João Paulo Borges Coelho, por seu turno, parece querer complementar com uma pergunta: até quando serão necessárias as máscaras?

Cada uma dessas visitas, por outro lado, nasce de contextos específicos dentro dos quais a memória – imediata, remota, inventada – desempenha uma função relevante. Os jogos de espelhos internos à própria estrutura narrativa, que nos reenviam ao universo íntimo das personagens, complementam e orientam o sentido da teatralização. Compondo os bastidores – ou a pré-história – da encenação, o olhar retrospectivo do narrador e das personagens afigura-se como chave de leitura para as três visitas do Dr. Valdez. No que se refere a Vicente, as memórias remontam, por exemplo, ao tempo da infância, quando presenciou a humilhação pública de que foi alvo seu pai às mãos do patrão Araújo, em um dos episódios mais violentos já relatados na ficção moçambicana; indicam ainda o presente das saídas noturnas, tensão e excessos partilhados com seus amigos Jeremias e Sabonete, que também são empregados domésticos; finalmente, projetam o futuro enganador, metaforizado nas luzes de neón da Boite Primavera e na dança sinuosa de Maria Camba. As figuras do pugilista Ganda, herói nos ringues e engraxate fora deles, e do estranho dançarino que com sua arte recupera a complementaridade perdida do mundo, funcionam também como ativos lugares de memória para o empregado.

A compulsão memorial que atravessa a narrativa e a escrita de João Paulo Borges Coelho, conferindo-lhe unidade, está subordinada a uma resposta artística às formas de produção do esquecimento, especialmente aquelas que são elaboradas pelo discurso político. Este tipo de discurso possui uma natureza programática que choca com o espaço da intimidade (dos rumores e dos desejos, dos ódios e dos segredos, das ambivalências e das confluências) onde sua literatura se alimenta. Em suas obras, aliás, qualquer tipo de mergulho no passado é orientado por um presente repleto de complexidades. E vice-versa. Ao autor, por isso, interessa menos enquadrar a lembrança em um registro fixo de verdade do que ligá-la a um campo aberto de interrogações e interpelações.

Ao eleger caminhos que favorecem a sobreposição de tempos e memórias, a pluralização da geografia literária, a densidade existencial de heróis e personagens secundárias, a diversificação de posturas do narrador e a desestabilização de doxas por via de uma pesquisa estética sobre o paradoxo, João Paulo Borges Coelho consolida o romance moçambicano e constrói um novo lugar no campo literário.

Celebremos, pois, sua primeira visita ao leitor brasileiro.

Rio de Janeiro, 20 de julho de 2019.
Atualizado pelo autor em 01 de outubro de 2019.

Nazir Ahmed Can
Universidade Federal do Rio de Janeiro / FAPERJ / CNPq .
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Este texto foi escrito com o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ (Programa Jovem Cientista do Nosso Estado, processo nº E-26/203.025/2018) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Nível 2, processo nº 307217/2018-3).
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Citar como:

O ARTIGO:
CAN, Nazir Ahmed .“O criado, o criador e outras criaturas: notas sobre As visitas do Dr. Valdez e a escrita de João Paulo Borges Coelho ”. Prefácio. In: COELHO, João Paulo. As visitas do Dr. Valdez. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/as-visitas-do-dr-valdez/>

O LIVRO:
COELHO, João Paulo. As visitas do Dr. Valdez. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/as-visitas-do-dr-valdez/>

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Mulheres, violência e reconciliação em Aldino Muianga (sobre o romance Asas Quebradas), por Ana Braun

Asas quebradas, romance do ficcionista moçambicano Aldino Muianga, é um livro sobre mulheres, violência e reconciliação. Estruturado a partir da perspectiva de duas moçambicanas, Macisse e Celinha, o romance narra a história de mãe e filha separadas por um episódio de brutalidade que resultará em conflitos das mais diversas ordens, em particular configurando uma ausência geradora de angústia pelo desconhecimento do próprio passado.

A representação da violência é uma das marcas da produção literária moçambicana. Tendo surgido em grande parte como resposta à barbárie que significou a implantação e o estabelecimento do sistema colonial, a literatura de autores já tidos como canônicos, como Luís Bernardo Honwana, José Craveirinha, Noémia de Sousa, entre outros, se mostrava comprometida em retratar pelo viés realista a opressão, racismo e discriminação que marcaram o período colonial em Moçambique.

Também em momentos anteriores da obra do próprio Aldino Muianga, como nos livros de contos O domador de burros e outros contos (2015) e A noiva de Kebera (2016) – ambos publicados pela Editora Kapulana –, a violência esteve tematizada, ainda que por vezes camuflada pela ironia e humor: na representação dos diferentes espaços associada à descrição das práticas sociais que denunciavam o conflito social, político e econômico como elemento estruturador das relações entre os indivíduos em Moçambique. Se, no entanto, nesses casos a representação da violência se dá a partir das dinâmicas que ocorrem em espaços públicos, no romance Asas quebradas, a violência emerge do âmbito do privado, do seio das relações familiares, e acaba amplificada por uma estrutura social que, mesmo em transformação, ainda é em grande parte insensível ao sofrimento das vítimas – em sua grande maioria mulheres – das múltiplas formas que a opressão doméstica adquire. Pois, mesmo tendo sido parte consistente e atuante da luta anticolonial, as mulheres moçambicanas ainda enfrentam nos dias de hoje uma situação de subalternização no âmbito econômico, cultural e social, experimentando em seu cotidiano diversas formas de sujeição e resistência ao modelo patriarcal.

O romance de Muianga se apresenta, nesse sentido, como representação da lógica que rege as relações de gênero na sociedade moçambicana de hoje. Divididas entre o desejo de uma vida plena e a impossibilidade dessa realização naquele contexto, as protagonistas do romance acabam personificando toda a complexidade da existência feminina no mundo africano contemporâneo, ele mesmo cindido entre o modo ancestral e as transformações sociais advindas da colonização europeia e suas práticas ocidentalizadas.

No romance, convivem – e não exatamente em harmonia – práticas associadas às sociedades tradicionais africanas (o peso do julgamento coletivo da comunidade, o saber dos mais velhos, o poder dos rituais) e esse outro mundo, estruturado por um Estado regido por leis, que, apenas em tese, alicerçariam a construção de uma nova sociedade marcada pela justiça social. Assim, se por um lado, a tradição e o sentido comunitário ancestral são relativizados pelos valores da modernidade, por outro, a narrativa nos alerta que a lógica do mundo ocidentalizado também é insuficiente para captar as especificidades das relações nesses contextos, não sendo capaz de proteger as mulheres das agressões perpetradas tanto pelos indivíduos quanto pela própria sociedade, de maneira geral. São elas, portanto, quem mais sofrerão as consequências de viver num mundo que, apesar de cindido entre essas duas lógicas, vai invariavelmente conferir às mulheres papel secundário, subalterno e de abandono. O romance mostra a tensão gerada pela impossibilidade do enfrentamento individual de uma estrutura social que criminaliza e responsabiliza a mulher pela violência à qual é submetida.

O predomínio do discurso interior das personagens, mediado por um narrador onisciente que nada esconde do leitor, coloca-nos em posição privilegiada, já que temos acesso a dados desconhecidos, ignorados pelas demais personagens. Ganhamos, por consequência, também o poder de julgar suas ações e de nos posicionar ante as injustiças vivenciadas pelas mulheres no romance. Nesse sentido, as personagens masculinas aparecem em clara desvantagem em relação ao leitor. A narrativa indica que, seja em maior ou menor grau, todos acabam de alguma forma exercendo modos de opressão que submetem as mulheres ao sofrimento, solidão e sentimento de inadequação.

Assim, do mesmo modo que o sistema colonial representou uma forma de dominação, o modo patriarcal que rege as relações entre as pessoas naquela sociedade também o é. E, à medida em que avançamos na leitura do romance, vai se tornando cada vez mais claro que a lógica do patriarcado está incorporada também no modo de ação das próprias mulheres, que se veem, muitas vezes, não apenas impedidas de serem solidárias umas com as outras mas mesmo como inimigas, em disputa pela suposta estabilidade emocional e financeira oferecida pelo relacionamento amoroso. Ao mesmo tempo, há, em vários outros momentos da narrativa, a ênfase na solidariedade feminina, no entendimento de que a chave para uma existência plena está na conciliação entre indivíduos, reatando, em parte, presente e passado.   

Sendo a literatura lugar tanto de afirmação quanto de contestação de práticas sociais, é possível ver o romance de Aldino Muianga como meio de desvelamento da complexidade da questão. Ao incorporar em sua prosa a tensão que ainda permeia as relações entre os gêneros na sociedade moçambicana contemporânea, Muianga apresenta ao leitor um exercício de reflexão inestimável.

Guarapuava, 10 de junho de 2019.

Ana Beatriz Matte Braun
Pesquisadora de literatura moçambicana e Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Citar como:

O ARTIGO:
BRAUN, Ana Beatriz Matte .“Mulheres, violência e reconciliação em Aldino Muianga”. Prefácio. In: MUIANGA, Aldino. Asas quebradas. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/mulheres-violencia-e-reconciliacao-em-aldino-muianga-sobre-o-romance-asas-quebradas/>

O LIVRO:
MUIANGA, Aldino. Asas quebradas. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África]. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/produto/asas-quebradas-aldino-muianga-mocambique/>

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Aldino Muianga, escritor moçambicano, lança no Brasil o romance “Asas quebradas”

O consagrado escritor moçambicano, Aldino Muianga, lança em agosto na XIII Bienal Internacional do livro do Ceará, seu romance Asas Quebradas, publicado pela Editora Kapulana.

ALDINO MUIANGA, autor de vasta obra literária, tem forte vínculo com o Brasil, tendo já participado de várias atividades culturais no país em 2016, ocasião em que divulgou seus dois livros anteriores. 

Asas quebradas é o terceiro livro de Aldino Muianga que a Editora Kapulana publica no Brasil, dentro de seu projeto de divulgação da literatura africana “Vozes da África”. O primeiro foi O domador de burros e outros contos (2015) e o segundo foi A noiva de Kebera, contos (2016).

Asas quebradas é um romance sobre os caminhos de duas mulheres, Maria Cecília (Macisse) e sua filha Marcela (Celinha), separadas no tempo e no espaço, em busca de suas identidades. A partir do percurso de resistência e luta dessas mulheres, que enfrentam abusos, carências, discriminação e opressão, e têm que tomar decisões dramáticas para sobreviverem, o autor nos apresenta a saga de várias gerações da família e discute questões bastante atuais sobre a situação da mulher na sociedade. De Inhambane, local de origem dos antepassados, até Maputo,  mais ao sul, dados de história, geografia e cultura do sul de Moçambique são revelados ao leitor com emoção e esmero literário.

Asas quebradas tem prefácio da Profa. Ana Beatriz Matte Braun, pesquisadora brasileira de literatura moçambicana e atualmente docente da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Guarapuava. A capa do livro é ilustrada pelo brasileiro Dan Arsky, que também ilustrou os livros anteriores de Aldino Muianga publicados pela Kapulana.

Sobre Aldino Muianga e sua vasta obra literária: https://www.kapulana.com.br/aldino-muianga/

Sobre os livros de Aldino Muianga publicados pela Kapulana:

Sobre a participação de Aldino Muianga na XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará:
https://www.kapulana.com.br/eventos/kapulana-na-xiii-bienal-internacional-do-livro-do-ceara-16-25-08-2019/

20 de agosto de 2019.

★★★

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Ana Paula Tavares, escritora angolana, lançou no Brasil livro inédito de crônicas “Um rio preso nas mãos”

Ana Paula Tavares, premiada escritora e historiadora angolana, lançou no Brasil o livro inédito Um rio preso nas mãos, crônicas, publicado pela Editora Kapulana.

Um rio preso nas mãos, lançado em primeira mão no Brasil, é um conjunto de 38 crônicas publicadas anteriormente, de forma esparsa, no jornal online Rede Angola. A maestria da escritora revela-se delicadamente quando combina oralidade e escrita, passado e presente, poesia e prosa, abordando situações e temas sobre Angola que transcendem o regional, provocando reflexões sobre questões atuais e universais, como o papel e os direitos da mulher na sociedade, seja ela angolana, brasileira ou de outra região. 

Há séculos que não chove, não há música no telhado nem pingam gatos arrepiados de frio. Tudo está saturado de calor e seca.
Uma mulher antiga tem um rio preso nas mãos e guarda-o como a aranha do deserto a sua preciosa gota.

Ana Paula Tavares, poeta, cronista, historiadora e professora universitária, nasceu em Lubango, Angola. É autora de vasta obra literária em prosa e poesia e de textos científicos. A escritora tem vínculos fortes com o Brasil, com participação em pesquisa e eventos no país. 

Para lançar seu livro no Brasil, Ana Paula Tavares participou de eventos em 3 estados: Rio Grande do Norte, São Paulo e Rio de Janeiro:

Natal (RN) de 29 a 31/07/2019: III Encontro da Afrolic (Associação Internacional de Estudos Culturais e Literários Africanos)
Ana Paula Tavares foi uma das escritoras homenageadas nesse importante encontro nacional de professores e pesquisadores. Participou de várias mesas de debates e sessão de autógrafos de seu novo livro: Um rio preso nas mãos, crônicas.

A Kapulana esteve também representada na edição da Afrolic-2019 por Mariana Fujisawa (ilustradora) e Jacqueline Kaczorowski (prefaciadora).

São Paulo (SP): 

02/08/2019: Biblioteca Mário de Andrade
A escritora participou de um bate-papo mediado pela pesquisadora Larissa Lisboa, sobre sua obra em geral e o novo livro em particular. Após a mesa, houve sessão de autógrafos.

05/08/2019: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). Sob coordenação da Profa. Tania Macêdo, com apoio do CEA-USP.
A autora participou de uma roda de conversa que contou com a participação das professoras Rita Chaves (FFLCH-USP) e Leila Leite Hernandez (CEA-USP). Em um auditório lotado, a escritora falou para alunos, professores, pesquisadores e interessados em geral na sua obra, sobre o seu trabalho de escrita na literatura: 

O que sempre me ajudou, no trabalho de escrita, foi o respeito à palavra. Eu acho que a palavra, muitas vezes, nos sai das mãos, nos escapa. Não se sai vivo do poema. Cada poema é uma pequena transformação. Esse aprendizado é uma luta imensa. Então, há de se respeitar a palavra. Porque a palavra é côncava, convexa, ela alarga, encurta. E é preciso muito cuidado. É ter rigor e ciência da palavra que está a fazer.  

Rio de Janeiro e Niterói (RJ), de 06 a 09/08/2019:
A escritora participou de mesas de debates na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade Federal Fluminense (UFF), sob a coordenação dos Profs. Carmen L. T. Secco (UFRJ) e Júlio Machado (UFF).
Além disso, ministrou na UFRJ um minicurso sobre “Cinema, poesia e história”.

[Notícia atualizada em 20 de agosto de 2019.]

SAIBA MAIS:

Sobre o livro Um rio preso nas mãos, crônicas, de Ana Paula Tavares:

O livro: https://www.kapulana.com.br/produto/um-rio-preso-nas-maos-cronicas/

A autora: https://www.kapulana.com.br/ana-paula-tavares/

O Prefácio do livro, por Carmen Lucia Tindó Secco: https://www.kapulana.com.br/avisos-a-navegacao-por-carmen-tindo-secco/

Fotos e vídeos:

Afrolic 2019 (fotos): *créditos organização Afrolic
https://www.flickr.com/photos/afrolic2019/albums

Biblioteca Mário de Andrade (fotos):
https://www.kapulana.com.br/02-08-2019-lancamento-e-sessao-de-autografos-de-um-rio-preso-nas-maos-de-ana-paula-tavares-na-biblioteca-mario-de-andrade-em-sao-paulo-sp/nggallery/page/1

Biblioteca Mário de Andrade (vídeo):
 https://www.facebook.com/ekapulana/videos/398609767702137/

FFLCH-USP (fotos):
https://www.kapulana.com.br/a-literatura-angolana-hoje-roda-de-conversa-com-ana-paula-tavares-na-fflch-usp-em-sao-paulo-sp/

FFLCH-USP (vídeo):
https://www.facebook.com/ekapulana/videos/2310952762554032/

UFRJ e UFF (fotos):
https://www.kapulana.com.br/06-08-a-09-08-de-2019-ana-paula-tavares-na-ufrj-uff-rj/

Entrevista Kapulana (vídeo): https://www.youtube.com/watch?v=Z8lA8EGbs9o&feature=youtu.be

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O Campo de Concentração do Tarrafal, onde Luandino Vieira escreveu “Nós, os do Makulusu”

O autor passou 8 anos preso, onde escreveu muitos de seus livros, dentre eles o “Nós, os do Makusulu”

Grande parte de  Nós, os do Makulusu foi escrito por José Luandino Vieira, em 1967, quando estava preso no Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde (Campo de Trabalho de Chão Bom), e que a Editora Kapulana publica neste mês.

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

Inaugurado em 1936, quando Portugal vivia no regime ditatorial do Estado Novo, sob o comando do ditador Oliveira Salazar, que pretendia, por meio da repressão, aprisionar todos que se opunham ao seu governo. Por isso, a criação do Campo de Concentração do Tarrafal, localizado na ilha de Santiago, região norte caboverdiana, Cabo Verde era colônia portuguesa e o terreno havia sido adquirido pelo Estado português, separado da jurisdição do Governo do arquipélago. Na primeira fase do campo de concentração, que foi de 1936 até 1954, passaram 360 prisioneiros, 32 morreram nesse período. 

Em junho de 1961, o Tarrafal foi reaberto, seis anos depois de seu encerramento, instituindo-se no Chão Bom, região noroeste de Cabo Verde, um Campo de Trabalho, mas, na realidade, era um novo campo de concentração de presos políticos das ex-colônias portuguesas. Com o advento da Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974, o regime ditatorial de Salazar foi deposto e o Campo de Trabalho de Chão Bom terminou no dia 1º de maio do mesmo ano. Todos os presos foram libertados. Nessa segunda fase, 4 pessoas morreram. Em 2009, o local foi aberto como Museu da Resistência.

ANOS DE CÁRCERE

Por sua participação nas lutas de libertação nacional de Angola, José Luandino Vieira foi preso pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) em 1961 e condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança. Foi, então, transferido, em 1964, para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde escreveu a obra Nós, os do Makulusu. Lá passou 8 anos, e foi libertado em 1972, em regime de residência vigiada em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra, na grande maioria escrita nas diversas prisões por onde passou. Depois da independência de Angola, em 1975, Luandino voltou ao país, morando até 1992, quando se mudou para Portugal, onde vive atualmente.

Considerado um dos maiores clássicos da literatura do século XX, a obra narra a história do personagem Mais-Velho, que se junta a outras três personagens que cresceram juntas no Makulusu, bairro pobre de Luanda: Maninho, Paizinho e Kibiaka. O enredo, ambientado em um momento agudo da luta de libertação nacional de Angola, demonstra como a violência do colonialismo obriga os companheiros de aventuras infantis a escolherem caminhos inconciliáveis, alguns se envolvendo na luta armada e sendo presos, outros omitindo-se ou atendo-se apenas ao trabalho clandestino.

2 de julho de 2019

★★★

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Kapulana publica livro de crônicas da escritora angolana Ana Paula Tavares

As crônicas de Ana Paula Tavares são marcadas por uma escrita profundamente poética e incisiva

Chega às livrarias do Brasil, o livro de crônicas inéditas da premiada escritora angolana Ana Paula Tavares: Um rio preso nas mãos. Publicadas originalmente de forma esparsa no jornal Rede Angola, as 38 crônicas que compõem o livro viajam por diferentes assuntos e narrativas, deslizando entre a autobiografia e o ficcional, a oralidade e a escrita, o passado e o presente, além de abordar temas sobre Angola em uma magistral linguagem poética e incisiva: “Uma mulher antiga tem um rio preso nas mãos e guarda-o como a aranha do deserto a sua preciosa gota”. O escritor angolano Ondjaki destacou sobre esta obra de Ana Paula Tavares: “Chegam, ao Brasil, as palavras embrulhadas em pedra antiga, como um lugar feito canoa: a cultura de Angola a navegar o universo africano para pousar nessa américa tão latina”.

Ana Paula Tavares é poeta, cronista, historiadora e professora, nasceu em Lubango, Angola. Autora de textos científicos e poesia dispersa em antologias da Galícia, Itália, França e em Portugal, e de vasta obra literária em prosa e poesia. Tavares tem vínculos fortes com o Brasil, com pesquisa e participações em eventos no país. Também diz ter sido influenciada por escritores brasileiros e pela música brasileira.

1 de julho de 2019

★★★

 

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Leia três curiosidades sobre “Água doce”, de Akwaeke Emezi

Festejada obra de estreia de Akwaeke Emezi chega em agosto no Brasil

A Editora Kapulana publica em agosto no Brasil o aclamado livro Água doce, do autor nigeriano Akwaeke Emezi. A obra conta a história de Ada, estudante do último ano de faculdade nos EUA. Quando criança, vivendo no sul da Nigéria, a família se preocupa com ela. Seguindo a tradição, os pais rezaram para consolidar a existência da criança ainda no ventre, mas algo deu errado: talvez os deuses tenham esquecido de fechar a porta, pois Ada nasceu com “um pé do outro lado”, e começa a desenvolver diferentes personalidades. Akwaeke brilhantemente cria uma obra que traz à tona reflexões universais e questões bastante atuais como o fortalecimento de identidades e o empoderamento pela diversidade, além do diálogo entre o tradicional e o inovador.

O livro foi pré-finalista do “Carnegie Medal of Excellence” e do “The Brooklyn Public Library Literary Prize”, além de receber resenhas elogiosas de jornais internacionais como New York Times, Wall Street JournalNew YorkerGuardian e LA Times.

Separamos três curiosidade sobre a obra: 

Akwaeke Emezi: É autor nigeriano de Água doce. Akwaeke é ọgbanje e fez algumas cirurgias para adequar seu corpo – seu receptáculo – para que reflita sua natureza, incluindo a retirada do útero e redução dos seios. Por sua realidade espiritual, identifica-se como não-binário/trans e em inglês usa pronomes neutros; no Português, pede que seja referido no masculino – lido como neutro.

ọgbanje: Traduzido diretamente do Igbo, ọgbanje significa “criança que vem e vai”. São espíritos intrusos que nascem dentro de corpos humanos e não permitem que se desenvolvam até muito além da puberdade, quando, então, morrem propositalmente e retornam em outro corpo, para reiniciar o ciclo de infortúnio. Costumam afetar a mesma mãe, que, assim, perde diversos filhos durante a vida. No livro, os ọgbanje são narradores de grande parte da história e são personagens fundamentais. 

Ala: Ala é uma deusa do povo Igbo, natural do leste da Nigéria. Ela é a deusa da fertilidade, guardiã do mundo inferior e mãe da terra. Segundo a crença Igbo, as pessoas nascem na boca de Ala e, ao morrer, vão para seu ventre, que guarda o domínio dos mortos. Seu agente na terra é a cobra píton, mensageira de seus desejos e advertências. Na obra de Akwaeke Emezi, A Ada, personagem principal e ọgbanje, é filha de Ala. Ela conhece a Mãe ainda criança, uma píton enrolada no chão do banheiro, que a assusta. A jornada de A Ada para autoconhecimento e autoaceitação é a jornada de volta para a Mãe Ala.

26 de junho de 2019

★★★

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Nós, os do Makulusu: do fundo humano em cada caco, por Jacqueline Kaczorowski

 

Tantos pisam este chão que ele talvez
um dia se humanize. E malaxado,
embebido da fluida substância de nossos segredos,
quem sabe a flor que aí se elabora, calcária, sangüínea?
(“Contemplação no banco”, Carlos Drummond de Andrade)

Após anos de ausência das livrarias brasileiras, somos finalmente agraciados com uma nova publicação desta obra-prima: Nós, os do Makulusu, de José Luandino Vieira. O magro e denso romance angolano impacta desde a primeira frase e, como pode gerar certo estranhamento, nesta edição [1] são apresentados brevemente alguns elementos da narrativa com o objetivo de incentivar o leitor a caminhar por este labirinto refinado. Aquele que o percorrer perceberá seu esforço recompensado por uma obra que, não se rendendo a qualquer didatismo, aposta numa composição cuja elaboração ao mesmo tempo requer e oferece ferramentas para a sofisticação do olhar.

Nestes tempos em que presenciamos atônitos o ressurgimento de uma tendência global à intolerância e aos totalitarismos, dados a maniqueísmos de toda sorte, urge combater o afluxo e recorrer a exercícios de humanização. As redes sociais têm sido um bom exemplo de arena onde algoritmos ensinam a reduzir o outro: ali, via de regra, somos induzidos por certo sentido de urgência a não lhe reservar o direito ao erro, ao diálogo, ou mesmo ao processo de aprendizado, percurso que cada um trilha a seu tempo e que exige paciência. Sob aparente fugacidade, fixamos um momento do outro como dado acabado, interditando, assim, possibilidades de transformação. 

Diante de tal cenário, parece senso comum recorrer à sugestão do mergulho na literatura como remédio. A sensibilidade que aciona, o tempo que exige para contemplação, absorção e amadurecimento da apreciação, a identificação com o diferente que demanda e proporciona, a transformação de personagens diante de nossos olhos são algumas das faculdades que caminham na contramão do simplismo que facilmente se transveste em algoz. Recuperando a voz de Antonio Candido, o texto literário “não corrompe nem edifica (…); mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver”.

Importa salientar, entretanto, que, apesar de todo o potencial de humanização que a literatura efetivamente comporta, nem sempre é esta a vocação que privilegia. Um exemplo pode ser encontrado na pena de outro grande escritor, o nigeriano Chinua Achebe, quando ensina que o “vasto arsenal de imagens depreciativas da África que foram coletadas para defender o tráfico de escravos e, mais tarde, a colonização, deu ao mundo uma tradição literária que agora, felizmente, está extinta; mas deu também uma maneira particular de olhar (ou melhor, de não olhar) a África e os africanos que, infelizmente, perdura até os dias de hoje”.

Vale recordar que, no final do século XIX, após a famigerada Conferência de Berlim, o acirramento das disputas territoriais exigia maior firmeza na ocupação das colônias, levando as metrópoles à criação de uma série de órgãos e mecanismos de controle dos territórios e de suas populações. O contexto angolano não foi exceção. Colonizado por Portugal, cujo império precário não teve a brandura que ainda defendem alguns, foi alvo de uma violência que também se expressou na constituição de um vasto repertório discursivo a serviço da dominação. Os “Concursos de Literatura Colonial” promovidos a partir de 1926 pela Agência Geral das Colônias, com alto investimento financeiro e o objetivo de “intensificar por todos os meios a propaganda das nossas colónias e da obra colonial portuguesa”, ilustram bem como a escrita literária passou a exercer função importante nesse quadro.

Ainda que tenha se prestado ao papel de instrumento a serviço da sujeição, a literatura também pôde ser tomada pelo avesso em seu potencial criativo e transformada em “arma que eu conquistei ao outro”, como define Manuel Rui, outro escritor angolano. Desde o século XIX é possível identificar, em Angola, manifestações literárias que desafiam o padrão proposto pelo opressor. No século XX já se verifica o desenvolvimento de um projeto literário autônomo, resultado do empenho de uma geração de escritores e intelectuais entre os quais podemos situar José Luandino Vieira.

Nascido em Portugal em 1935, muda-se cedo para Luanda, onde vive sua infância. É por seu compromisso radical com a luta pela libertação nacional que se torna cidadão angolano e adota o nome “Luandino”. Em decorrência de sua atuação é preso duas vezes e tem sua vida “hipotecada por muitos anos”, desde muito jovem. Conforme conta em seus Papéis da prisão, “do Aljube, em Lisboa, ao Campo de Trabalho no Tarrafal, passando por todas as cadeias disponíveis na nossa terra de Luanda, palmilhei doze anos da estrada da minha vida”. É nesta condição de exceção, portanto, que o autor desenvolve seu primoroso trabalho literário.

Suas memórias do cárcere, ao contrário do que seria esperado, sugerem um pacto com a liberdade capaz de extrapolar o espaço da cela e inscrever as ruas de Luanda e sua cultura popular em textos que, por meio da memória e da imaginação, ajudavam a substituir a vida, para tomar de empréstimo uma expressão do escritor. Confinado em espaços que impossibilitavam outras intervenções diretas, Luandino Vieira atuou dentro de seu “particular campo de acção – o estético”. Os resultados excepcionais demonstram a eficácia da apropriação da língua portuguesa como “despojo de guerra” e o empenho em construir uma voz narrativa que, desestabilizando a lógica da opressão, engendra novos modos de dizer a realidade.

Um dos frutos deste projeto literário é a escrita, em 1967, “de um só jacto”, deste romance singular, composto no Campo de Concentração do Tarrafal, onde Luandino Vieira passou oito anos. Imerso na severidade do “campo da morte lenta”, surpreende a trilha potente e lúcida que desenha para mostrar que “não há outros homens para com eles construir o mundo. É com esses mesmos que se fará – ou nunca se fará”. A capacidade de aderir radicalmente a um projeto ético e também se colocar habilmente na pele do outro, mesmo do mais antagônico, revela como a literatura pode, sim, vestir o manto diáfano da fantasia para combater a violência objetiva do real sem prescindir da “cortesia de dar a cada um o que lhe é devido”, lembrando novamente Achebe.

O início da leitura pode provocar um choque: que língua é essa que, ao mesmo tempo, sinto que conheço e desconheço? O que ela está me contando? Quem fala e de quem fala? Na primeira sentença somos lançados no meio de uma guerra, mas, logo em seguida, adentramos uma brincadeira em um dia de sol. O que aconteceu?

O leitor que aprender a ouvir o movimento do texto notará que um dos recursos utilizados pelo escritor é a justaposição de ideias, cenas e imagens que podem parecer desconexas. Ao longo da obra, no entanto, muitas delas são retomadas, desvelando aos poucos algumas associações complexas e sempre aprofundando sentidos. Com paciência é possível construir familiaridade com os procedimentos e perceber que alguns se assemelham àqueles do funcionamento da memória, que muitas vezes irrompe de maneiras imprevistas, nem sempre lineares.

Seguindo o movimento da memória de Mais-Velho, acionada pela dor, passamos a reconhecer sua voz e outras tantas que incorpora à sua, num emaranhado cada vez mais complexo, mas também mais nítido. Lembranças, projeções e muitas indagações são misturadas ao momento real que este narrador-personagem vivencia: sua caminhada em direção ao irremediável reconhecimento da morte de Maninho e do “viver de morte” que agarrou Paizinho. Nesta deambulação conhecemos os outros três protagonistas: Maninho, Paizinho e Kibiaka. A realidade asfixiante do colonialismo obriga os companheiros inseparáveis de aventuras infantis pelos capins do Makulusu a carregarem “o alegre caixão da nossa infância” na escolha de rumos inconciliáveis: Maninho, branco nascido na metrópole (assim como seu irmão Mais-Velho) integra o exército colonial português, escolha forçosa que defende com a ideia de que “só há uma maneira de a acabar, esta guerra que não queres e eu não quero: é fazer-lhe depressa, com depressa, até no fim, gastá-la toda, matar-lhe”. Paizinho, meio-irmão mestiço dos dois, participa de ações clandestinas e acaba preso pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Kibiaka, amigo negro morador do Bairro Operário, junta-se à guerrilha. Mais-Velho é aquele que segue imerso em dúvidas; o “escrupuloso” que, segundo o olhar de Maninho, não teve certeza suficiente para tomar uma decisão radical como as de seus companheiros e “limitou-se” ao trabalho clandestino. São “quatro ritmos e saberes e vidas diferentes” atravessados pela violência, inexorável.

No trajeto descobrimos pela voz de Mais-Velho que Maninho, “o melhor de todos nós”, era integrado à terra e aos seus, “ele é quem (…) bebia e comia, falava e ria sempre lá entre os que eu amava vagamundeando nas ruas solitárias e velhas da nossa terra de Luanda. E a ele a carabina escolhera. Simples buraco, fino e furo, toda a vida por ele saiu…”, “para ficar da cor da farda que lhe embrulha, tapado nas moscas, antes que a salva do estilo vai-lhe acordar no sonho de amor que, no ódio do próprio ódio, queria construir”. Descobrimos também que, se Kibiaka “segue na mata seu caminho de dignidade”, também pode ter saído de suas mãos, “que são as culpadas de ter homens com ideias e dignidade”, o balázio que roubou a vida de Maninho. E que Mais-Velho, em um gesto de solidariedade à luta, no Natal colocara “no sapatinho o único brinquedo que merece um homem digno como o meu amigo Kibiaka: Parabellum, de 9 milímetros”.

Paizinho, cuja cabeça “era uma peça de alta precisão, um instrumento afinadíssimo que ele cuidava diariamente com pensamento e acção”, que “nunca trai, porque é sério em tudo que em sua vida faz”, de “sangrenta presença” nos presságios do meio-irmão, é apresentado ao Mais-Velho de seis anos de idade ao mesmo tempo que a dor da mãe “Estrudes”: “cara desfeita e enrugada, alguma coisa lhe dói no dentro da alma é o que pode ser, pois não tira os olhos do miúdo encardido, seguro na mão da mulher negra, está quieto como se fosse de pau”. Dela conhecemos ainda a funda dor da perda do filho, as “mãos grossas de unhas curtas e negras do trabalho, aquelas pernas de varizes que não se equilibravam nos sapatos de salto alto”, de “apanhar azeitona dentro de Invernos frios e descalços da tua infância”, a “coragem de sempre perder” – quando pai Paulo afirma que Paizinho é seu afilhado com o “tranquilo riso de quem que sabe verdade ou mentira ele é que fala verdade sempre”.

Pai Paulo, colono pobre e racista, é exemplar tão verossímil da colonização lusa quanto o operário Brito, com sua consciência de classe que permite linchar publicamente um trabalhador negro. O lamento materno desta morte evoca o peso da violência colonial sobre toda uma coletividade: “este o grito só que oiço ou é coro de milhões de gritos iguais?”. A narrativa dialeticamente evidencia as contradições de um sistema extremamente embrutecedor e não interdita a complexidade a nenhuma das personagens, recuperando traços que marcam também a constituição subjetiva de todo um grupo.

O vigor da premissa, que é possível vislumbrar mesmo com a apresentação de poucos elementos, somado à extraordinária habilidade com que o escritor humaniza todas as personagens sem jamais elidir as relações de força entre elas, entregam ao leitor um texto pelo qual é impossível passar incólume. “Amar os homens é sempre uma alegria dolorosa”, afinal.

São Paulo, abril de 2019.

Jacqueline Kaczorowski
Pesquisadora-bolsista (CAPES – FFLCH/USP), membro do grupo de pesquisa PIELAFRICA – Pactos e impactos do espaço nas literaturas africanas de língua portuguesa (Angola e Moçambique), vinculado à UFRJ.

Citar como:

O ARTIGO:
KACZOROWSKI, Jacqueline .“Nós, os do Makulusu: do fundo humano em cada caco”. Prefácio. In: VIEIRA, José Luandino. Nós, os do Makulusu. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/nos-os-do-makulusu-do-fundo-humano-em-cada-caco-por-jacqueline-kaczorowski/>

O LIVRO:
VIEIRA, José Luandino. Nós, os do Makulusu. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África]. Disponível em: https://www.kapulana.com.br/produto/nos-os-do-makulusu/<>

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Publicado pela Kapulana, Martinho da Vila lança em São Paulo o livro “2018 – Crônicas de um ano atípico”

A obra reúne 48 crônicas divididas pelos doze meses de 2018

O cantor, compositor e escritor Martinho da Vila realizou, na última quarta-feira (12), no Sesc Avenida Paulista, o lançamento de seu mais recente livro 2018 – Crônicas de um ano atípico, publicado pela Editora Kapulana. O evento, que também contou com um bate-papo com Martinho, teve a mediação do escritor e jornalista Tom Farias.

Durante a conversa, Martinho comentou sobre a elaboração do livro: “Escrever é trabalhar com a emoção. No primeiro momento, eu pensei em escrever uma crônica sobre os meus 80 anos de idade e o que aconteceu comigo nesses anos todos. Além de pegar esses momentos pessoais, também decidi escrever sobre os fatos que me cercaram. Vi que o ano de 2018 foi realmente atípico. Aí tive a ideia de colocar o título 2018 – Crônicas de um ano típico.

O livro reúne 48 crônicas divididas pelos doze meses do ano de 2018. Com humor e leveza, Martinho fala da comemoração dos seus 80 anos, da renovação dos votos de casamento com Cléo, da escola de samba Vila Isabel, da cidade do Rio de Janeiro, relembrando alguns de seus sucessos no samba e na literatura. Também aborda fatos marcantes, como o assassinato de Marielle Franco, as eleições presidenciais, a visita ao ex-presidente Lula em Curitiba e a derrota do Brasil na Copa do Mundo.

Martinho da Vila é um grande e legítimo representante da MPB, com várias composições gravadas por cantores e cantoras de diversas vertentes musicais, intérpretes consagrados no Brasil. Além disso, também é autor de quinze livros, tanto de ficção quanto de não ficção, lançados no Brasil e em Portugal, e alguns deles traduzidos para o francês. Continua em plena atividade como artista e como escritor, fazendo turnês nacionais e internacionais.

Assista trechos do bate-papo e lançamento:

 

13 de junho de 2019

★★★

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João Paulo Borges Coelho visita Kapulana, editora oficial do autor no Brasil

O premiado escritor moçambicano participou de um bate-papo audiovisual com a Profª Drª Rita Chaves na sede da Kapulana, editora que lançará dois livros do autor no Brasil

A Kapulana recebeu, no dia 6 de junho, em sua sede, a visita do premiado escritor e historiador moçambicano, João Paulo Borges Coelho, que publicará, pela primeira vez no Brasil, duas obras de sua carreira, As visitas do Dr. Valdez (setembro de 2019) e Crônica da Rua 513.2 (em 2020), pela Editora Kapulana. O autor também participou de uma entrevista audiovisual, conduzida pela Profa. Dra. Rita Chaves (USP) sobre os dois livros e a sua trajetória literária.

Na conversa com Rita Chaves, Borges Coelho comentou sobre o seu processo de escrita, o começo na ficção, o desenvolvimento e o trabalho narrativo das duas obras que a Kapulana lançará, como distingue as atividades de historiador e de escritor, assim com influências literárias que marcaram a sua escrita e os estudos universitários realizados em sua obra. O bate-papo será publicado em breve no canal da Kapulana no YouTube.

Apesar de a obra do consagrado escritor já ser objeto de muitos estudos acadêmicos no Brasil, será a primeira vez a ser publicada em nosso país.

OBRAS DA KAPULANA

13 de junho da 2019.

★★★

Saiba mais:

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Avisos à navegação, por Carmen Tindó Secco

Os saberes de uma época são formados por teias de representações sociais e culturais, incluindo os discursos literários. São essas malhas de conhecimentos e memórias que a escrita de Ana Paula Tavares revisita e tece com lucidez e poesia. Suas crônicas são curtas, densas e profundamente políticas.  A escritora – também exímia poeta – maneja as palavras com labor e arte, construindo sentidos que transformam seu discurso em viagem por dentro do tempo e da linguagem. Viagem que se converte em autoconhecimento, em regresso à própria casa, à terra natal, ao âmago de si e do poético. Ler Ana Paula é penetrar nos labirintos da história, repensando perdas, dores, tradições. É mergulhar no íntimo dos vocábulos que brilham com olhos de sabedoria e prazer.

As crônicas de Um rio preso nas mãos, de Ana Paula Tavares, questionam aspectos do presente angolano, ao mesmo tempo que reinventam tradições silenciadas de povos de Angola. Em sua escrita, sangram palavras, medos, silêncios, o livro do tempo em seus deveres e haveres. Desse modo, as pontas de vários contextos históricos vão-se enlaçando. Na crônica “As Mães”, por exemplo, a voz enunciadora, em diálogo intertextual com o poema do angolano Viriato da Cruz usado como epígrafe, lembra os sofrimentos das mães de ontem e de hoje em Angola.

A autora escava camadas de letras para encontrar uma “nova carta”, reveladora de outras lembranças e estórias. Fantasmas assombram a escrita, fazendo aflorarem do passado tradições esquecidas. Há a recordação de um tempo sem fronteiras, que excitava intercâmbios entre os povos, bem como a interpenetração de línguas e linguagens. Tudo isso, porém, ficou no outrora, na argila e na água com que se moldavam o barro e a vida. Hoje, “ao lado da fronteira alinhou-se a palavra ameaça (…). Cercaram o paraíso de muros altos e arame”.

Na crônica “O Livro do Deve e do Haver”, é elaborada, de modo crítico, uma contabilidade da história do colonialismo português, das dívidas cobradas à terra angolana. Aqui, é lançado um olhar questionador e defendida a urgente construção de uma solidariedade orgânica, capaz de romper com a contabilidade dos lucros que só beneficiava os algozes de uma terra que desejava hastear sua independência. Das contas, dos diários, a voz enunciadora passa aos poemas que prepararam e alimentaram a luta revolucionária. Bons tempos esses que não deveriam ser esquecidos! Contudo, mudanças ocorreram e a utopia da liberdade foi maculada por políticas e economias neocoloniais.

É melancólico esse balanço crítico, após tantos anos de guerras e sangue derramado! Esgarçam-se não apenas as economias e as sociedades africanas, mas, principalmente, as identidades. A contrapelo dessa história de estagnação, implosão e declínio econômico-cultural, as crônicas de Um rio preso nas mãos, muitas das quais originalmente publicadas, em 2014 e 2015, no Rede Angola[1], focalizam, em sua maioria, diversas tradições angolanas esquecidas, como, por exemplo, a das mulheres que vestiam panos, cumpriam rituais, cozinhavam com óleo de palma, bordavam colares de miçangas e modelavam o barro vermelho, ao mesmo tempo que recordavam os lemas revolucionários, quando eram ainda jovens e esperançosas da edificação de uma Angola livre e solidária. O diálogo com a liberdade, com a terra, com a comunhão entre os homens é rememorado, manifestando saudade dessa época.

Na crônica “Desafiar o Silêncio”, a cronista aborda a função social das mulheres no mundo atual e cobra das independências dos países africanos a urgência de “remover moléstias antigas, abrir escolas”. Defende que são as mulheres – tanto as dos espaços rurais, como as das cidades atuais – as conhecedoras da diversidade de seus papéis na família, no trabalho, no cotidiano das relações de vizinhança e na sociedade.

Ana Paula repensa o desempenho das mulheres em algumas tradições angolanas; acaba por refletir, também, metapoeticamente, sobre a função da palavra e da arte. Num corpóreo silêncio, sua escrita urde, crítica e poeticamente, sua trama com consciência e mel; estilhaça medos; “fala” pelo outro que toca a vida, muitas vezes, sem ter a real percepção dela. Medos, os mais variados, se repetem no mundo contemporâneo, em obras de poetas e romancistas. Por isso, é mister, cada vez mais, trabalhar a palavra, envolvê-la em tecidos finos, misturá-la a sons rústicos e estrepitosos, a vozes profundas que mergulhem no mistério das almas, como se estivessem sobre aveludados divãs de psicanalistas, magos ou visionários.

Na crônica “Humidade”, a voz poética enunciadora é a grande tecelã: a aranha do deserto a tecer a teia da vida, do tempo e da linguagem. Esse fluir, entretanto, se  encontra preso como o rio nas mãos gretadas e em sangue da mulher antiga. Mãos que, todavia, também guardam a gota preciosa do cacimbo, orvalho de esperança: água da palavra, poesia.

Em “O Medo”, a voz narradora, ao final, adverte: “Não tenho soluções, só pedidos: ajudem a parar esta dor de cacimbo, deixem passar as vozes para podermos ver claro no meio das sombras e partilhar agasalho neste cacimbo de frio”. Medo, cacimbo, sombras – recorrentes marcas metafóricas de uma escrita que persegue a luz para não se perder na névoa social e política que embaça a liberdade. Nas entrelinhas, fica uma probabilidade de que ainda seja tempo de escrever sonhos e cultivar desejos.

As crônicas de Ana Paula Tavares desenham paisagens e pessoas. “A Cor das Vozes” faz homenagem a Ivone Ralha, senhora das mãos de seda, da escrita das pedras, da areia, do amor. Há narrativas, como “A Voz da Avó” ou “As Formigas”,  que recriam provérbios nyanecas. Há outras que demonstram que a ideia de liberdade não se afigura de forma igual para todos. Há, ainda, as que relembram o fogo sagrado, a panela grande, a madeira que arde, o cheiro de flor, a máscara de Mwana Puó, a voz firme da avó a contar estórias encantadas. Tudo isso está presente na arqueologia da vida das crônicas de Ana Paula, cuja escrita vai acendendo, no avesso das palavras, pequenos lumes que funcionam como “avisos à navegação”, como alertas contra a violência e a ganância que destroem os sonhos.

[1] Rede Angola: Portal online de jornalismo independente, cujos objetivos eram a informação, o entretenimento, a divulgação não só da cultura e do pensamento angolano, mas também de acontecimentos sociais, políticos, econômicos, culturais do mundo. Idealizado em 2012 por Sérgio Guerra, Lara Longle, Saymon Nascimento, o Rede Angola foi gerido por esse trio, mas teve curta existência, sendo fechado no final de maio de 2017. Diversos artistas, músicos, poetas, escritores – Aline Frazão, José Eduardo Agualusa, Ana Paula Tavares, Ivone Ralha etc. – participaram desse portal, publicando, na seção “Cultura”, crônicas, ilustrações, etc. Disponível em: <http://www.redeangola.info/palavras-deserto/> Acesso em: 05 mar 2019.

Rio de Janeiro, 05 de março de 2019.

Carmen Lucia Tindó Secco
Profa. Titular de Literaturas Africanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
e da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro)

Citar como:

O ARTIGO:
SECCO, Carmen L. T. “Avisos à navegação”. Prefácio. In: TAVARES, Ana Paula. Um rio preso nas mãos – Crônicas. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/avisos-a-navegacao-por-carmen-tindo-secco/>

O LIVRO:
TAVARES, Ana Paula. Um rio preso nas mãos – Crônicas. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África]

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Canal FX anuncia a adaptação para série do livro “Água doce”, de Akwaeke Emezi

Obra de estreia de Akwaeke Emezi será publicada no Brasil pela Editora Kapulana

O canal por assinatura FX anunciou, por meio da revista americana Variety, que está desenvolvendo a adaptação para série da obra Água doce, livro de estreia de Akwaeke Emezi, da Nigéria, e que a Editora Kapulana publica no Brasil em agosto. A obra, lançada originalmente com o nome Freshwater, foi traduzida para o português por Carolina Kuhn Facchin. Emezi também escreverá e produzirá o seriado ao lado da diretora e roteirista Tamara P. Carter. O projeto contará com a supervisão de Kevin Wandell e Lindsey Donahue. A rede televisiva FX é responsável por trazer ao público premiadas e elogiadas séries, como Atlanta, Legion, American Horror Story, Fargo, entre outras. 

A obra conta a história de Ada, estudante do último ano de faculdade nos EUA. Quando criança, vivendo no sul da Nigéria, a família se preocupa com ela. Seguindo a tradição, os pais rezaram para consolidar a existência da criança ainda no ventre, mas algo deu errado: talvez os deuses tenham esquecido de fechar a porta, pois Ada nasceu com “um pé do outro lado”, e começa a desenvolver diferentes personalidades. Akwaeke brilhantemente cria uma obra que traz à tona reflexões universais e questões bastante atuais como o fortalecimento de identidades e o empoderamento pela diversidade, além do diálogo entre o tradicional e o inovador.

O livro foi pré-finalista do “Carnegie Medal of Excellence” e do “The Brooklyn Public Library Literary Prize”, além de receber resenhas elogiosas de jornais internacionais como New York Times, Wall Street JournalNew YorkerGuardian e LA Times.

27 de maio de 2019

★★★

Saiba mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/agua-doce/

Saiba mais sobre Akwaeke Emezi: https://www.kapulana.com.br/akwaeke-emezi-agua-doce/

Saiba mais sobre a tradutora: https://www.kapulana.com.br/carolina-kuhn-facchin-tradutora/

Para conhecer o catálogo da Kapulana, acessehttps://www.kapulana.com.br/catalogo/

 

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“O pátio das sombras”, escrito por Mia Couto e com ilustrações de Malangatana, vence Prêmio FNLIJ 2019

Obra infantojuvenil escrita por Mia Couto e com Ilustrações de Malangatana vence Prêmio FNLIJ 2019 

A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) premiou, na categoria Literatura em Língua Portuguesa, o livro infantojuvenil O pátio das sombras, de Mia Couto e com ilustrações de Malangatana. A obra é o último volume da série “Contos de Moçambique”, que, desde 2016, é publicada no país pela Editora Kapulana. A premiação é bastante relevante para o intercâmbio cultural entre os países de língua portuguesa.

No enredo de O pátio das sombras, um menino vive com a família em uma aldeia. Um dia, a avó se nega a ir até a plantação, pois diz estar cansada. Durante o trabalho, a família escuta ruídos de festa vindos da aldeia, e todos se perguntam se a avó tinha visitantes. O menino vai checar, mas encontra a avó sozinha. O acontecimento se repete, deixando o menino cada vez mais confuso, até que a avó lhe dá explicações ensinando-lhe uma linda lição sobre a vida e a morte. As páginas são compostas pelas deslumbrantes ilustrações de Malangatana (1936-2011). Utilizando da técnica de pintura nanquim, o artista moçambicano criou desenhos que dialogam com o texto de forma fluída e fascinante. 

A FNLIJ atribuiu, também na mesma categoria,  a outros três livros publicados em 2018 pela Editora Kapulana no Brasil a indicação de Altamente Recomendável. As obras recomendadas e que concorreram ao prêmio de 2019 foram originalmente publicadas em Moçambique pela Escola Portuguesa de Moçambique. Nas edições brasileiras, foi feita a adaptação para a versão da Língua Portuguesa em vigor no Brasil, conforme o Acordo Ortográfico atual.

Conheça as obras com o selo “Altamente Recomendável” e leia alguns trechos:

SÉRIE CONTOS DE MOÇAMBIQUE – A série “Contos de Moçambique” nasceu de um projeto de colaboração entre a “Escola Portuguesa de Moçambique” e a “Fundació Contes pel Món”, de Barcelona, Espanha. Em 2015, a Editora Kapulana fez uma parceria com a “Escola Portuguesa de Moçambique” para publicar no Brasil essa magnífica coleção, com o objetivo de apresentar ao leitor brasileiro uma amostra da cultura moçambicana. A série é composta por dez volumes de contos da tradição oral de Moçambique. 

27 de maio de 2019

★★★

Para conhecer mais sobre os outros volumes da série “Contos de Moçambique” e os demais livros infantis da Kapulanahttps://www.kapulana.com.br/infantis/

Para conhecer a FNLIJhttps://www.fnlij.org.br/

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Maria Celestina Fernandes vence prêmio Globos de Ouro Angola com a obra “Kambas para sempre”

Maria Celestina Fernandes vence importante prêmio literário em Angola

A escritora angolana Maria Celestina Fernandes recebeu, na noite do último domingo (26), prêmio dos Globos de Ouro Angola 2019 na categoria Obra literária do ano por uma Autora pelo livro Kambas para sempre. A Editora Kapulana publicou o título no Brasil, com as ilustrações da artista brasileira Mariana Fujisawa. Em seu discurso de premiação, Celestina Fernandes agradeceu à família e votantes: 

“Este Globo é dedicado, primeiro às pessoas que votaram em mim e que me depositaram confiança. Depois, à minha família, em particular aos meus filhos, que são os meus grandes inspiradores”.

Em Kambas para sempre, Celestina Fernandes narra a história de Lueji, uma menina brasileira e afrodescendente, com nome de rainha. Ela gosta de ouvir as histórias da avó, que narra os episódios contados por seus bisavós, que foram trazidos ao Brasil em navios negreiros. Nesta história, Lueji passa por diversos momentos de preconceito, porém, ao final, descobre o valor da amizade e a importância de celebrar as diferenças. 

Maria Celestina Fernandes nasceu no Lubango, província da Huíla. Ainda muito jovem foi para Luanda, onde cresceu e fez toda a sua formação. É Assistente Social e licenciada em Direito. Dentre as várias funções que exerceu, destaca-se o serviço prestado no Banco Nacional de Angola, onde chefiou o departamento social e posteriormente passou para a área jurídica, aposentando-se na categoria de subdiretora. Iniciou a carreira literária no início da década de oitenta. É autora de uma vasta obra, com destaque para a literatura infantojuvenil. Tem obras premiadas e algumas traduzidas para outros idiomas.

Os Globos de Ouro Angola são a mais importante premiação do país e que prestigia o trabalho de profissionais e artistas de diversas áreas, destacando anualmente as pessoas que mais se destacaram na sua arte e ofício. O prêmio é atribuído em iniciativa e organização conjunta da STEP e da Platina Line, além de contar com a “Academia Globos de Ouro Angola”, cujos integrantes são personalidades e profissionais convidados, especializados e reconhecidos nos ramos. As categorias de premiações são diversas e consagram artistas que se destacaram nas áreas do Teatro, Televisão, Rádio, Moda e Música, assim como na Literatura, com prêmios para a Obra Literária do Ano e o Autor do Ano

A Kapulana publicou no Brasil as seguintes obras de Maria Celestina Fernandes:

27 de maio de 2019

★★★

Saiba mais sobre a autorahttps://www.kapulana.com.br/maria-celestina-fernandes/

Saiba mais sobre o Globo de Ouro Angola: https://www.globosdeouroangola.com/

Assista a premiação: https://www.youtube.com/watch?v=q-ru31ffNug

Para conhecer o catálogo da Kapulana, acessehttps://www.kapulana.com.br/catalogo/

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Morre o escritor queniano Binyavanga Wainaina, aos 48 anos.

Binyavanga Wainaina, autor de livro Um dia vou escrever sobre este lugar, faleceu em 21 de maio de 2019.

É com enorme tristeza que a Editora Kapulana noticia o falecimento, aos 48 anos, do escritor e ativista queniano Binyavanga Wainaina, na última terça-feira (21). A Kapulana publicou, em novembro de 2018, no Brasil, a obra Um dia vou escrever sobre este lugar, em que ele entrelaça suas memórias de infância, adolescência e vida adulta à história contemporânea do continente africano.

Leitor de livros e lugares, palavras e pessoas, Binyavanga estrutura seu mundo através da linguagem. Sempre na margem e olhando para dentro, teve dificuldade para se encaixar nos padrões estipulados da sociedade. Estudou Administração na África do Sul, mas desistiu do curso, lendo vorazmente e fazendo trabalhos temporários até perceber que sua vocação era, de fato, a escrita. Seu texto “Discovering home”, sobre uma viagem com a família para Uganda, ganhou o “Caine Prize for African Writing”, em 2002, importante prêmio que reconhece o talento e a promessa de autores africanos de língua inglesa. One day I will write about this place, seu livro de memórias, foi publicado em 2011, cimentando a carreira do queniano como escritor.

22 de maio de 2019

Conheça a vida e a obra do autor:

https://www.kapulana.com.br/binyavanga-wainaina/

https://www.kapulana.com.br/produto/um-dia-vou-escrever-sobre-este-lugar-binyavanga-wainaina/

 

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Nós, os do Makulusu – a palavra e o outro, por Rita Chaves

De 1967, ano em que José Luandino Vieira escreveu essa extraordinária narrativa até o presente, muitos abalos têm sacudido Angola: o país conquistou sua independência em 1975, os conflitos armados se sucederam, em 2002 um acordo de paz foi assinado, a república tem agora o seu terceiro presidente, o projeto socialista foi abandonado, novos escritores fortaleceram o processo de formação da ficção angolana, outras formas de arte ganharam energia… A natureza e a intensidade de tantas mudanças nos levam certamente a levantar questões sobre a validade de uma nova edição no Brasil desta obra escrita no calor de uma hora tão particular na história do país e não só. Podemos começar por recordar, nesse sentido, que na década de 1960 o mundo à nossa volta vivia sob a luz de muitas utopias e olhava, com algum entusiasmo, as lutas de libertação que prometiam mais que a vitória sobre o colonialismo português e sua insistência em se prolongar na África. Mesmo no Brasil, imprensado sob mais um período ditatorial, havia réstias de esperança na resistência e na possibilidade de superar a truculência dos coturnos. Certamente pela primeira vez, do continente africano sempre visto como um espaço à parte no contexto mundial, alguns territórios emergem como focos de luz em um planeta que parecia sacudido por ideais de justiça e igualdade social.

Após quase meio século e as mudanças que ficaram a meio caminho do sonho, somos levados a pensar no significado de uma obra que nos fala da luta anticolonial e, sob o selo de uma inequívoca escolha ideológica, traz-nos as marcas de um pertencimento a um lado da cidade dividida tão bem descrita por Frantz Fanon em seus agudos tratados sobre o colonialismo. Como explicar a capacidade que a obra revela de se manter atual em um momento tão diverso daquele em que nasceu? Para nos aproximarmos da complexidade desses tempos (daquele passado e do nosso presente), e para examinarmos as relações da literatura com a experiência histórica que a linguagem de Luandino trabalha com maestria, é que podemos percorrer com um atormentado narrador as ruas e becos de uma cidade que é bem mais que uma paisagem, que é simultaneamente um espaço e um tempo, uma espécie de quadro vivo que, nas sensações que evoca, nos traz a dor e a perplexidade de uma geração.

Quando se fala de Angola e de seu caminho em direção ao fim do colonialismo, o conceito de geração se alarga. Não se trata de um grupo definido pela faixa etária, mas pelo compromisso com um projeto, o da libertação nacional. Desde o fim dos anos de 1940, o sonho de um país livre juntou angolanos de várias idades, raças e classes, empenhados na conquista da libertação política e social, entre os quais podemos identificar aqueles que, percebendo a escrita como uma arena, procuraram fazer da literatura mais um instrumento para a transformação. Aí encontramos José Luandino Vieira, um escritor cidadão movido desde cedo pelo compromisso de associar ao sentido ético de sua luta a dimensão estética de seus textos. Seu pacto, sempre e a um só tempo, com a ordem que desejava e com a beleza em seu sentido maior, manifesta-se nesse exercício de dupla lealdade a que ele devota seu trabalho e seu talento.

O primeiro título, A cidade e a infância, já apontava o caminho de dois temas caríssimos que serão visitados a partir de várias perspectivas, todas elas guardando a marca da complexidade que ele soube ver nas situações que aborda. Nesse conjunto de contos, uma funda familiaridade dos narradores com os espaços em que se armam os enredos, aponta para a sua capacidade de circular por áreas da cidade que permaneciam à margem e mantinham uma certa impermeabilidade à lógica imposta, a despeito das incursões nada amigáveis da violência policial, único braço do estado a se manifestar com frequência na cidade do colonizado. Poucos anos depois, em A vida verdadeira de Domingos Xavier e, principalmente, Luuanda, o processo de escrita de Luandino seria redimensionado na opção pela ruptura operada no domínio da linguagem. Será, todavia, nesse fabuloso Nós, os do Makulusu, escrito na aridez do Tarrafal (o terrível campo de concentração localizado em Cabo Verde, onde estavam presos nacionalistas que tinham ousado desafiar a opressão colonial), que as tintas da radicalidade darão nota ao projeto literário que, acompanhando as voltas e reviravoltas de Angola e do mundo, continua em curso. A condição do autor, detido e condenado a tantas formas de sujeição, torna ainda mais surpreendente o resultado de uma obra que renuncia à tentação do maniqueísmo e traz para o debate a humanização do inimigo. Não se trata de reduzir a tensão ou relativizar a dimensão do mal, mas de buscar uma reflexão mais densa sobre os embates que a História plantou naquele solo.

A morte, de que o tiro que dá início à narrativa é uma pungente metonímia, enraíza o problema da diferença de posições e dimensiona o drama, mas não dilui a necessidade de se ter em conta o lugar do angolano – esse outro invisível na sociedade colonial e na literatura produzida na metrópole, em cujas páginas ele não passaria de um elemento do cenário, como podemos observar em tantos títulos. Essa oclusão facilmente explicável no repertório mais afinado com as ideias do império, torna-se inquietante nos textos produzidos com o compromisso da denúncia social e coloca em debate a ausência do problema colonial e, consequentemente, dos africanos nas obras do Neorrealismo. Tal invisibilidade foi captada por Luandino que, contudo, não lança explicações superficiais, renunciando com firmeza o jogo da contraposição banal. Ao contrário, ao mergulhar nas águas fundas de um universo convulsionado deixa ver a contradição como traço dominante. Atento aos movimentos da História, ele põe em cena a dureza da experiência dos impasses da vida cortada pela guerra e pelos caminhos trilhados pelos quatro personagens que partilharam a infância nesse pedaço da cidade que o Makulusu inscreve.

Assim, os dilemas e a vivência algo surpreendente de personagens muito variados, coexistindo em mundos segmentados, não são apenas o tema, definindo-se como marcos da estrutura que nos coloca de frente para a profundidade da crise dinamicamente espelhada pela narrativa. O autor recusa-se a uma simples inversão de pontos de vista, conduzindo-nos, de modo muito produtivo, ao desafio de olhar a situação sob o signo da mobilidade, expondo, sem perder a medida do lado que é o seu, as hipóteses da diversidade que o maniqueísmo prefere banir. Nesse movimento, recorre à sobreposição temporal e potencializa a coexistência de tradições, línguas e códigos culturais para trazer à luz a fratura que define as relações sob a dominação colonial. O desejo de ruptura que o afasta deliberadamente da norma lusitana articula-se aos gestos de aproximação com o universo marginalizado pelo poder e o resultado é a construção de uma linguagem centrada no corte, nas elipses, no ritmo de uma sintaxe que evidencia o desconcerto do mundo à volta.

Na consciência do Mais-Velho, estilhaçada pela inviabilidade de um projeto de transformação imerso em tanto sangue, está interditada a sagração de uma mitomania nacionalista, como poderíamos esperar de um livro escrito no espaço do cárcere e na certeza de uma adesão. Aqui encontramos uma das grandes qualidades desse texto: a faculdade de perceber, para além das sombras do ressentimento, os mecanismos que acionam a incomunicabilidade e impedem qualquer hipótese de porosidade entre os seres e mundos marcados por alguma diferença. Converter a diferença em desigualdade era a tônica do sistema colonial, e pode nos parecer lógico que a resposta do combate atualize a proposta de apagar ou desumanizar o diferente. Em Nós, os do Makulusu, porém, a diversidade preenche a narrativa e nos ensina a exercitar outros olhares diante de uma realidade cortada pela perda e pelo irrevogável da morte inerentes à guerra. 

O confronto entre a década de 1960 e os nossos dias, sem dúvida, faz desfilar diante de nossos olhos um roteiro de mudanças. Se em Angola, também pela força de atores como Luandino, se pode notar a desnaturalização das barreiras raciais, que era um dos móveis da luta de libertação, sabemos que lá, como em todo o planeta, em nome de tantos deuses, sucedem-se as crises em que a recusa do Outro pode ser causa ou consequência. Os conflitos de natureza étnica em tantos países, o massacre dos refugiados na Europa, as agressões de base religiosa pelo mundo afora, os constantes ataques aos pobres no Brasil são manifestações dessa intolerância que, atentando contra a humanidade dos agredidos, exprimem a desumanidade do agressor. Diante desse panorama, somos tentados a repetir com Carlos Drummond de Andrade: “O mundo não vale o mundo, meu bem.” Como uma gota contra o desalento que daí nos vem, entretanto, vale a pena ler (e reler) Nós, os do Makulusu, e vislumbrar no jogo desgovernado de uma obra fabulosa algum sentido para a literatura. E para a vida. E, desse modo, poderemos compreender também a validade da reedição de um livro como esse.

Trouville / São Paulo, abril de 2019.

Rita Chaves
Professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa do
Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas (FFLCH-USP), e pesquisadora do
CELP-FFLCH-USP (Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa – FFLCH-USP)

Citar como:

O ARTIGO:
CHAVES, Rita “Nós, os do Makulusu – a palavra e o outro”. In: VIEIRA, José Luandino. Nós, os do Makulusu. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/nos-os-do-makulusu-a-palavra-e-o-outro-por-rita-chaves/>

O LIVRO:
VIEIRA, José Luandino. Nós, os do Makulusu. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África]

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Na asa da escrita, por José dos Remédios

Um romancista não terá, forçosamente, que depender do êxito ou fracasso dos seus livros,
terá que continuar, sem desfalecimentos, no caminho que se propôs seguir.
Eduardo Paixão

“Dazanana de Araújo Simplíssimo vivia uma estranha sensação de que estava morto. Durante muitos anos cultivava em demasia a crença de que a sua vida era a morte” (p. 9). Assim inicia a história de um personagem muito particular, obstinado e comprometido com as dimensões gigantescas do seu sonho: Dazanana, do rhonga, língua falada na capital moçambicana, idiota ou palerma. Pode ser que estes dois significados encaixem no perfil do protagonista de Cemitério dos pássaros, mas apenas se se considerar à sua entrega a um propósito claramente definido: o de construir um cemitério no qual os finados da sua família reencarnariam como pássaros, alcançando, por isso, outras dimensões da existência.

Colocando a narrativa neste prisma, Adelino Timóteo, logo no princípio da diegese, questiona sobre os limites da vida na mesma proporção que minimiza a morte, afinal, a acreditarmos como Dazanana defende, nunca deixamos de viver, quando morremos. O que ocorre é um trânsito para lugares quase inimagináveis, os quais, uma vez alcançados, conferem à alma uma espécie invulgar de transcendência. Então, diante do seu maior projecto de vida, o protagonista de Cemitério dos pássaros move-se num labirinto estranho, decidido a levantar o véu dum cenário jamais desmistificado: o além. No fundo, há nessa entrega uma continuidade, a de fazer do realismo mágico uma forma de escrita. Continuidade porque esta não é a primeira vez que Timóteo atribui à existência a capacidade de vencer a morte, revelando, nessa condição, as imprecisões características. 

Dazanana é o instrumento usado pelo escritor para representar a obsessão humana em prolongar a sobrevivência, não no além, que é incerto, mas neste mesmo mundo. Logo, o personagem funciona como cicerone de uma trajectória que termina em metamorfose. Não podendo permanecer eternamente no plano real, numa condição de partida, cheia de vigor juvenil, o herói timoteano, com uma fé religiosa, põe-se a sustentar a pretensão de transformar o seu cemitério num ninho, lugar predestinado para reinventar os conceitos de gestação. Na verdade, é mesmo de evolução que estamos a falar, como se a natureza fosse exageradamente generosa para permitir a humanidade permanecer num mundo que a destrói, de múltiplas maneiras.

Por via de Dazanana, o romance de Adelino Timóteo sustenta-se na susceptibilidade de mergulhar fundo nos aspectos folclóricos, se quisermos, tradicionais de uma cultura oral ainda bem enraizada no quotidiano dos moçambicanos, e, acreditamos, dos brasileiros também. Este livro inédito ora publicado pela editora Kapulana, fruto de uma imaginação absolutamente incrível, é um lugar de propagação de crenças, sem restringir-se a isso, mesclando uma ficção delicada com uma visão holística sobre o meio e as culturas. Quiçá, essa deve ser a razão de Cemitério dos pássaros ser um livro riquíssimo do ponto de vista temático. À semelhança dos títulos anteriores, por exemplo, Os oito maridos de dona Luíza Michaela da Cruz (romance) e Na aldeia dos crocodilos (infanto-juvenil considerado “Altamente recomendável” no Brasil, e, por isso, finalista do Prémio FNLIJ) este novo livro do poeta e romancista moçambicano, natural da Beira, cidade rebelde agora afamada devido aos danos do ciclone Idai, vai buscar ao Vale do Zambeze a fertilidade indispensável para uma boa narrativa, como quem reinventa as particularidades daquele espaço mitológico cheio de muitos encontros inaugurais entre povos de diversas culturas. Com o Zambeze resgata-se o passado (e a origem da miscigenação na Zambézia, província do Centro de Moçambique), eventualmente porque, como escreve Ungulani Ba Ka Khosa no seu Gungunhana, “esta terra [Moçambique] está sendo construída sem o passado. Tudo o que é passado é coisa morta”. Ou desvalorizada. Sendo que “morta” e “desvalorizada”, neste contexto, acabam sendo a mesma coisa.

A propósito, uma vez Adelino Timóteo prometeu-nos publicar três ou mais romances sobre o Zambeze. Pode ser que a promessa esteja já a ser cumprida, e, daí, um Moçambique diferente do actual esteja a ser apresentado ao mundo, na asa da escrita, onde cabe o imaginário, os hábitos e costumes no livro bem valorizados. Portanto, Cemitério dos pássaros é um romance filantrópico em que “Salvar a história, seja onde for, impõe a liberdade de escolher ser livre ou sujeitar-se ao sacrifício” (p. 56). Dazanana, tal como o seu criador, sempre escolhem a liberdade, mesmo quando o conforto está na covardia, mesmo quando a decisão de marchar em frente custa mais que suor. A liberdade de concretizar e assumir o risco disso está tão vincada em Dazanana que Maria de Lourdes Pintassilgo, a esposa, passa a ter um companheiro no lugar de um marido. Porque perseguindo o seu ideal, aquele protagonista reinventa-nos como leitores às vezes estáticos na ousadia de alcançarmos outros voos. Bem visto, esse tipo de relações amorosas que Maria de Lourdes deseja que sejam calorosas, cor-de-rosa, não têm proeminência em Adelino Timóteo. Os casais timoteanos, quase sempre desleixados às singularidades do afecto, deixam-se prender por outras obrigações. Em Cemitério dos pássaros acontece o mesmo, por exemplo, com Dona Ana, a lembrar-nos esse registo “ninfomaníaco” recorrente na narrativa do autor. Na verdade, Dona Ana é a continuidade do carácter que o romancista estampa numa outra personagem: Luíza Michaela, em Os oito maridos de dona Luíza Michaela da Cruz.

Quanto mais Adelino Timóteo vai escrevendo, traz propostas para a libertação das pessoas das amarras sociais, questionando preconceitos, tabus, e, em derradeira instância, os cânones civilizacionais, por exemplo, esses que oprimem a mulher em cada oportunidade cedida ao homem. Se Dazanana é um exemplo de coragem na luta pelo que acredita, Dona Ana pode ser entendida como esse pássaro decidido a aprender a voar na intimidade das suas sensações, desejos e fantasias. Com o sexo no centro de tudo.

À parte tudo isto, mais uma vez, a Kapulana publica – como nos lembra Eduardo Paixão no seu Tchova, tchova – um autor que não terá que depender do êxito ou fracasso dos seus romances, terá que continuar, e continua sem desfalecimentos, no caminho que se propôs seguir. Da Beira, onde vive, Adelino Timóteo projecta-se sempre com a sua obra, predisposto a reinventar a história, inovando-a, e, por consequência, a tornar os seus leitores melhores pastores da vida.

José dos Remédios
Jornalista
Maputo, 11 de Maio de 2019.

Citar como:

O ARTIGO:
REMÉDIOS, José. “Na asa da escrita”. In: TIMÓTEO, Adelino. Cemitério dos pássaros. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/na-asa-da-escrita-cemiterio-dos-passaros-por-jose-dos-remedios/>

O LIVRO:
TIMÓTEO, Adelino. Cemitério dos pássaros. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África]

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Martinho, um artesão, por Tom Farias

Martinho da Vila é realmente um sujeito fora do comum. No curso dos seus implacáveis 80 anos, o bamba de Vila Isabel trabalhou como nunca em sua festejada existência. Além de dois CDs e do DVD – este a caminho, gravado no imponente e lotado Theatro Municipal do Rio de Janeiro – que colocou na rua, falo do histórico “Alô Vila Isabeeeel!!!”, que reúne os clássicos sambas da escola do bairro de Noel Rosa, e, mais para o finalzinho do ano, o bem bolado “Bandeira da fé”, uma experiência contagiante, inovadora na vida do músico e compositor, como foi o trabalho que o antecedeu, no caso o antológico “De bem com a vida”, que marcou uma mudança de atitude, única do ponto de vista do conceito, mas sem desafinar a trajetória cinquentenária de uma carreira repleta de sucessos e muitos merecidos prêmios, nacionais e internacionais.

Foi nessa pegada de grandes eventos e fortes emoções, com destaque para as homenagens, em especial da sua terra natal, a cidade de Duas Barras, onde Martinho foi tema de selo comemorativo e titular de um ano inteiro de festejos, as atividades das escolas públicas do estado do Rio de Janeiro em torno da sua história, as paparicadas da Vila Isabel, onde saiu em destaque no carnaval, desfilando no alto do carro no Sambódromo, exatamente no dia das suas oitenta primaveras, e da Unidos do Peruche, tradicional agremiação de São Paulo, que o levou como enredo para a avenida dos desfiles, volto a dizer, foi nessa pegada, que Martinho laborou, com sua indiscutível disciplina de trabalho, a escritura de um livro novo, que exigiu dele, além de tudo, tarefa quase diária de muita escrita e seguidas leituras.

Das mãos desse metódico trabalhador incansável das madrugadas silenciosas – Martinho não dorme, ele repousa -, é que nasceu a joia rara de sua artesania, na arte de artesanar, de ser artesão, que é este 2018 – Crônicas de um ano atípico.

Faz dois anos que lançou o excelente Conversas cariocas, uma antologia de textos trabalhados para atender a uma coluna de jornal popular, como é o jornal O Dia, na sua edição dominical. Já 2018 – Crônicas de um ano atípico marca um processo diferente do artista, que é, diga-se de passagem, romancista de mão cheia. São dele Memórias Póstumas de Tereza de Jesus, Lusófonos, Vermelho 17, Barras, vilas & amores, entre outros mais, como o Vamos brincar de política? ou A serra do rola-moça, num total de 15. Neste novo trabalho, Martinho se supera na tacada e no acerto, ao narrar, toda semana, assuntos os mais variados e relevantes, dando a cada um deles, obviamente, seu toque pessoal, seu ponto de vista crítico, sua opinião ida e vivida. É assim que fala das festas de fim de ano, dos festejos em sua homenagem, da expectativa da Copa do Mundo, da questão política, da prisão do Lula, a quem, com Chico Buarque, foi visitar em Curitiba e saiu impressionado com o alto astral do ex-presidente, da sua atual paixão, a Barra da Tijuca, do amor à numerosa família, das viagens, da dura vida de artista no Brasil, da paixão pelo futebol, sobretudo pelo Vasco, dos amigos e das amizades, das pescarias onde ninguém volta com o pescado, do seu “off Rio”, de Vila Isabel e do samba, com muitas histórias e a transcrição de letras memoráveis, muitas que dão gosto de lembrar e reviver. Uma dessas histórias saborosas, sobre música e gente, trata do nascimento do samba O pequeno burguês, ainda nos tempos do Exército, quando era sargenteano, como ele mesmo diz. A canção (“Felicidade, passei no vestibular/Mas a faculdade é particular”, quem não se lembra?) é referência do seu cancioneiro até hoje, desde que foi lançada, há 50 anos.

São divertidas e instrutivas as histórias contadas por Martinho da Vila. De janeiro a dezembro, vamos tomando ciência dos acontecimentos, nem sempre noticiados na grande mídia, e dos que nos passariam despercebidos, não fosse a percuciente ideia do grande bamba, através da sua escrita semanal, no passo e compasso do seu ritmo como escritor e intelectual, nos trazer à tona, nos revelar, interagir. O resultado saiu-se o melhor possível: com muita harmonia, com muito talento, esmerando e lapidando, eis a carpintaria da palavra perfeita, do verso sincopado, do partido-alto da rima, nessa engenharia artesã, que labora e explora o infinito da criação artista, sem se tornar enfadonho, e, igualmente, sem a tal da pressa, pois com ele, as coisas vão sempre no ritmo do devagar, devagarinho.

O clima é de encantamento, de viva alegria, de requintada realeza – Martinho é um diplomata da magia, é amigo de todos, é um camarada aguerrido, e é, acima de tudo, um criador. No silencioso sossego do seu lar, no convívio da rainha Cléo Ferreira, dos filhos Alegria e do Preto, elucubra consigo mesmo, confabula e urde pensamentos e questões, como exercício existencial diário para respirar e para ser.

Falando de esperança e pensando na paz, como verdadeiro embaixador que de fato é, Martinho da Vila pode ser considerado a mais viva história de superação e fé no futuro. Aquele menininho, preto e pobre, filho do Josué e da Dona Tereza, nascido no recanto de uma fazenda do interior e criado no Morro dos Pretos Forros, na Boca do Mato, faz parte hoje da rica cultura popular, como um bem, uma preciosidade. Ler os seus textos, tomar nas mãos o seu livro, como o fazemos agora, é uma forma de continuar o reverenciando e merecendo, e o prestigiando e admirando, acima de tudo.

Tom Farias – jornalista e escritor
11 de fevereiro de 2019.

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O ARTIGO:
FARIAS, Tom. “Martinho, um artesão”. In: VILA, Martinho da. 2018, Crônicas de um ano atípico. São Paulo: Kapulana, 2019. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/martinho-um-artesao-por-tom-farias>

O LIVRO:
VILA, Martinho da. 2018, Crônicas de um ano atípico. São Paulo: Kapulana, 2019.

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CineGrafias Moçambicanas – Memórias & Crônicas & Ensaios: Apresentação, por Carmen T. Secco, Ana Mafalda Leite e Luís Carlos Patraquim

Este livro resultou de trabalho conjunto, apoiado por tríplice parceria: entre Carmen Tindó Secco, Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Ana Mafalda Leite, Professora da Universidade de Lisboa; e Luís Carlos Patraquim, um dos fundadores do cinema moçambicano, cuja participação foi fundamental pelo amplo (re)conhecimento da(na) área.

É decorrência, também, de trocas e diálogos entre os projetos “Literatura, Cinema e Afeto: figurações e tramas da história em escritas literárias e fílmicas de Moçambique e Guiné-Bissau” (coordenado por Carmen Lucia Tindó Secco, apoiado pelo CNPq e FAPERJ) e “NEVIS – Narrativas Escritas e Visuais da Nação Pós-Colonial” e “NILUS – Narrativas do Oceano Índico no Espaço Lusófono” (coordenados por Ana Mafalda Leite, com apoio da FCT), cujas ações têm possibilitado produtivo intercâmbio cultural entre Brasil, Portugal e Moçambique.

A ideia da publicação de entrevistas com realizadores de Moçambique surgiu em razão de ser ainda escassa a bibliografia a respeito do cinema moçambicano e, também, por não haver mais, atualmente, em Moçambique, uma política cultural de valorização de festivais cinematográficos, como ocorria, há alguns anos, com o Dockanema que, durante várias edições, promoveu a divulgação de filmes, debates e oficinas.

Como o cinema, no período logo após a independência, foi fundamental à construção da nação moçambicana, e, ainda hoje, continua a ser um dos meios importantes de preservar a memória do país e pensar Moçambique e o mundo, consideramos ser um significativo contributo a recolha de opiniões não só de antigos e reconhecidos realizadores moçambicanos, como também de representantes das jovens gerações. Decidimos, então, reunir, no livro, entrevistas, ensaios, crônicas[1] de realizadores e de estudiosos da área, com o intuito de registrar não só a trajetória passada do cinema moçambicano, mas também reflexões acerca das condições e do papel deste no presente.

Cada vez mais, entrevistas são utilizadas, metodologicamente, como rico instrumento de pesquisa, capaz de propiciar entrelaces interdisciplinares e interartísticos. Em literatura e história, é comum entrevistar poetas, escritores. Também no âmbito cinematográfico, entrevistas a cineastas e realizadores são usadas como fontes que permitem a criação de “arquivos vivos” que captam visões pessoais e memórias subjetivas dos entrevistados acerca de seus filmes, de seus posicionamentos ideológicos sobre contextos históricos, políticos e sociais vivenciados. A relevância das entrevistas reside em possibilitar a exteriorização de pontos de vista diferentes, assim como questionamentos e interpretações críticas a respeito de momentos controversos da história.

A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social, de interpretação informativa (…); pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. Em todos estes ou outros usos das Ciências Humanas, constitui sempre um meio, cujo fim é o inter-relacionamento humano.[2]

Quatro das entrevistas que compõem este livro – as de Licínio Azevedo, Sol de Carvalho, João Ribeiro e Yara Costa – foram respondidas, livremente, por escrito, a partir de perguntas formuladas pelos organizadores. A de Ruy Guerra foi realizada pessoalmente por Olivier Hadouchi e Vavy Pacheco Borges, em Paris, em 2012; já as de Isabel Noronha e Camilo de Sousa foram gravadas, durante uma conversa informal, por Ana Mafalda Leite, em Lisboa, em 2017.

A escolha dos realizadores entrevistados deveu-se, por uma lado, à representatividade de cada um e, por outro, ao fato de terem aceitado nosso convite. Alguns nomes importantes relacionados ao cinema moçambicano – como o de Pedro Pimenta, Gabriel Mondlane, José Luís Cabaço, Ungulani Ba Ka Khosa, entre outros – e o de Diana Manhiça – atual presidente do projeto do Museu do Cinema Moçambicano – também foram contatados, mas, infelizmente, por motivos vários, não responderam às entrevistas.

CineGrafias Moçambicanas: Memórias & Crônicas & Ensaios se estrutura em quatro partes, antes das quais, com a intenção de despertar a curiosidade dos leitores e instigar a leitura, foram inseridas imagens sugestivas: uma foto do velho prédio do cinema Império localizado em Maputo, fotografias de Camilo de Sousa e Isabel Noronha em antigas gravações e cenas representativas de filmes produzidos pelos realizadores entrevistados neste livro.

A primeira parte é constituída por dois ensaios: o de Guido Convents, que traça um panorama do cinema colonial moçambicano, evidenciando como este encontrava-se a serviço da propaganda do império português, e o de Luís Carlos Patraquim que reflete sobre o cinema moçambicano da pós-independência.

A segunda congrega entrevistas de realizadores incontornáveis, entre os quais: Ruy Guerra, Camilo de Sousa, Licínio Azevedo, Isabel Noronha, Sol de Carvalho, João Ribeiro, Yara Costa.

A terceira é constituída por crônicas de Ruy Guerra, Licínio Azevedo, Luís Carlos Patraquim, Sol de Carvalho e Isabel Noronha. Esta parte, a nosso ver, é de grande originalidade, uma vez que desvela os bastidores das filmagens, ou seja, o avesso das aventuras vivenciadas durante as gravações dos filmes por alguns dos realizadores.

Fechando o livro, a quarta parte contém dois ensaios: o de Júlio Machado, que analisa o filme Mueda, memória e massacre, de Ruy Guerra, marco do cinema moçambicano, e o de Ute Fendler, que investiga a presença do “fantástico” como uma das tendências existentes na filmografia moçambicana. Esta última seção é breve, contudo enriquecedora, na medida em que descortina um viés crítico, sugerindo a importância de estudos acerca de temáticas e filmes representativos do cinema moçambicano.

Das entrevistas obtidas depreende-se, de modo geral, que o cinema cumpriu a urgência de narrar a nação moçambicana, chamando atenção para questões de poder que marcaram profundamente a história de Moçambique – o colonialismo, a guerra, a miséria, a violência –, mas também apontando para a necessidade de revisitação de valores e traços africanos silenciados e para as múltiplas diversidades culturais, sociais, religiosas presentes em Moçambique e no continente africano.

Na entrevista de Ruy Guerra, desponta seu olhar de cineasta sempre atento às relações de poder, um olhar que põe em cena contradições sociais internas a serem repensadas criticamente. Em sua entrevista, Ruy enfatiza que são fortes as relações entre cinema e política; relembra, com seu humor crítico, algumas vivências relacionadas a filmagens por ele realizadas, entre as quais se encontram passagens especiais de sua parceria com Gabriel García Márquez, Chico Buarque, entre outros.

Camilo de Sousa, por sua vez, relembra sua infância na Mafalala; denuncia, nessa época, a ostensiva opressão colonial e o racismo; recorda sua tia Noémia de Sousa, sua relação com Ruy Guerra; fala sobre seus filmes. Isabel Noronha, em sua entrevista, narra suas experiências e aventuras de filmagem, relata a importância do surgimento do cinema moçambicano, a fundação e o fechamento do Instituto Nacional do Cinema em Moçambique. Com uma visão bastante lúcida e sensível, comenta que em seus filmes busca narrar histórias de pessoas que foram silenciadas. Mas observa que, para filmar “essas histórias privadas, é preciso encontrar o dispositivo certo para contornar ou quebrar a questão do silêncio político, que foi sendo e ainda é imposto”.

Licínio Azevedo, com respostas curtas e objetivas, criticamente, sintetiza a significação do cinema moçambicano, que, em sua opinião, representa “o próprio país, pois Moçambique é hoje a nação que o cinema ajudou a construir”. Sol de Carvalho, detalhadamente, avalia o importante papel do “Kuxa Kanema” em Moçambique; narra suas experiências de filmagem; fala da criação da produtora PROMARTE e comenta suas adaptações de textos literários para o cinema.

João Ribeiro também relaciona o nascimento do cinema moçambicano à construção da nação, observando que a descolonização do olhar tem sido uma espécie de clichê que persegue, em geral, o cineasta africano. Porém, enfatiza que, quando faz um filme, procura criar algo novo ou suficientemente forte para manter o suspense e surpreender o espectador. Para ele, fundamentais são as histórias contadas, as mensagens passadas, construídas de forma estética inovadora.

Já a realizadora Yara Costa critica a falta de investimentos em cinema atualmente em Moçambique e afirma ser muito difícil a realização de filmes moçambicanos, pois os apoios financeiros são quase inexistentes. Explana a respeito de seus filmes, entre os quais Entre Eu e Deus, que versa sobre a escolha radical de uma religião feita por uma jovem, num contexto de violência e intolerância religiosa.

Se as entrevistas deste livro são elementos fundamentais para a história do cinema moçambicano, as crônicas vêm acrescentar uma dimensão criativa e espetacular ao ofício dos realizadores, bem como uma tensão de reenquadramento da memória, entre outros aspectos. Com efeito, a noção de crônica, como lembra David Arrigucci[3], pressupõe a noção de tempo, presente no próprio termo, que procede do grego, chronos. É uma escrita que tece a continuidade do gesto humano na tela do tempo, que implica lembrar e escrever, relato em permanente relação com a temporalidade de onde retira a memória, enquanto sua matéria principal.

No caso dos dois textos de Sol de Carvalho, que situam alguns episódios na rodagem do seu último filme Mabata Mbata, deparamo-nos em especial com uma reflexão sobre o cinema africano e algumas das contradições existentes entre cinema pedagógico e dimensão estética, em que o realizador evoca palavras de Godard, quando o cineasta francês esteve em Moçambique, lembrando como ele considerava África como um mundo imaginário carregado de símbolos, imagens e representações, que constituem o enorme reservatório de criação de cinema inovador e, ao mesmo tempo, próximo dos seus destinatários.

Já as crônicas de Luís Carlos Patraquim retomam a posição instável e lúdica da crônica, entre jornalismo e literatura. O tempo dos leopardos situa criticamente uma época da história e do engajamento ideológico do cinema em Moçambique e narra o trabalho conjunto com Licínio de Azevedo, enquanto guionistas. A crônica “A Revolução dos Outros” evoca o encontro com a figura do realizador francês Jean-Luc Godard no Hotel Tivoli num sábado de 1978, perfazendo uma narrativa de memória pessoal e simultaneamente histórica, com a evocação das peregrinações utópicas e revolucionárias de várias figuras do cinema internacional, que por essa época passaram em Moçambique. É o caso de Florestano Vancini que esteve no Instituto Nacional de Cinema para falar da cinematografia italiana, ou de Med Hondo, da Mauritânia, que realizou um filme sobre o Sahara Ocidental – Teremos a morte para dormir – com produção moçambicana e estreia mundial em Maputo, ou ainda de Ruy Guerra com o projeto para o cinema móvel e com a realização do filme Mueda, memória e massacre. As crônicas de Patraquim, num estilo lírico-coloquial, reconfiguram historicamente a importância destes vários encontros com personalidades internacionais no quadro do cinema moçambicano, dimensão que veio também a ser documentada no filme de Margarida Cardoso, Kuxa Kanema: o nascimento do cinema (2003).

As cinco crônicas de Isabel Noronha e de Licínio de Azevedo percorrem também uma dimensão autobiográfica, mas enquanto ligação umbilical ao início dos seus percursos pessoais na entrada do mundo do cinema em Moçambique, aliando um registro histórico ao estórico, criando uma ponte de excelência entre a literatura e a história.

A primeira crônica de Isabel Noronha, “Quadro perdido, quadro partido, quadro reenquadrado – Uma das infinitas estórias do Cinema Moçambicano”, bem como “A Chegada”, de Licínio de Azevedo fazem essa travessia das estórias pessoais, quase em jeito de autoficção, para uma outra história, um outro quadro maior, agora reconfigurado, reenquadrado. A escrita dos dois realizadores confirma uma das características da crônica enquanto gênero compósito, capaz de gerir múltiplas componentes do relato: dimensão dramática, lírica, cômica. Como o próprio Licínio explica: “Mais do que uma reportagem objetiva, nós, também, procurávamos contar uma história, com personagens e ação. Falo disto porque é algo que depois foi importante para mim quando transitei para o cinema, e do documentário para a ficção, criando uma ponte entre ambos os gêneros.” E o realizador vai contando como a experiência de jornalista se reformulou no guionismo e foi, aos poucos, caminhando para a realização, passando do Instituto de Cinema para o Instituto de Comunicação Social, numa época com poucos recursos humanos e técnicos existentes em Moçambique, em que a opção de gênero cinematográfico a ser desenvolvido foi necessariamente o documentário.

No caso de Licínio de Azevedo a sua escrita é quase um exercício brechtiano, em que a reduplicação do sujeito enquanto espectador crítico e rememorativo de si próprio procura expor de forma simples, e por vezes bem-humorada, alguns aspectos da estrutura técnica do seu próprio processo compositivo. As suas crônicas mostram também a sua vertente de escritor, o gosto pelo enredo, pelas pequenas estórias ocorridas na realização dos seus documentários e filmes, em anotação quase diarística. Licínio respeita a relação com o mundo das crenças e espiritualidades, e nele mergulha para escrever e filmar, criando uma tensão criativa entre o mundo real e o mundo imaginário. Como ele afirma:

Para mim um documentário pode nascer de uma pequena notícia publicada na imprensa. Ler jornais diariamente é um hábito que adquiri lá atrás e não abandonei: um “fait divers”, a mulher agredida pelo marido, uma disputa entre vizinhos… Qualquer notícia, por mais banal que seja, pode transformar-se num bom documentário, se tratarmos o assunto da maneira correta, com respeito pelos seus protagonistas, pelas tragédias vividas pelos outros. Por vezes, um fragmento de um documentário inspira e dá lugar, anos mais tarde, a uma longa-metragem de ficção.

As crônicas de Licínio de Azevedo complementam de forma iluminante o estudo de filmes como Desobediência, A árvore dos antepassados, Virgem Margarida, Comboio de sal e açúcar, ou dos documentários Tchuma Tchato, Mariana e a Lua. Trazem as estórias e trilhos do processo, desvendam as peripécias dos vários momentos que acompanham a realização, à maneira de intermediações entre ator e plateia, como o coro do teatro grego, mostrando o processo que levou ao produto final dos seus filmes e docuficções.

Isabel Noronha perfaz também ao longo das cinco crônicas, aqui publicadas, uma cronologia de vida, desde o momento em que entra para o Instituto de Cinema, à sua experiência de trabalho e aprendizagem (“Caminhos do Ser”, “Sagrada Arrufada”), e saliento aqui, no quadro da guerra civil, muito especialmente a crônica “Satanhoco” que evoca, em termos de uma escrita dramática, a vivência de risco de todos aqueles que participavam nas filmagens de Kuxa Kanema. Nota-se na escrita de Isabel Noronha uma inflexão lírico-pessoal, uma subjetividade crítica muito intensa e simultaneamente tensa. A escritora, que Isabel Noronha também é, além de realizadora, revela-se muito especialmente com sua última crônica “O Pintor”, em que a crônica assume o esplendor da poesia, ao mesmo tempo que acompanha de forma muito sutil a origem e a realização do seu filme Ngwenya, o crocodilo (2007):

Toda a manhã, os olhares, guardados atrás das paredes de caniço, espreitariam ansiosos o cessar da chuva que, inclemente, devolvia à terra cada gesto desse estranho homem que dedicara a sua vida a colecionar pedaços vivos de luz para costurar com eles a camisa de retalhos com que cobria o seu peito, onde precocemente se tinham alojado todas as sombras da floresta.

Recuando no tempo, as crônicas de Ruy Guerra organizam-se em duas partes, as três primeiras publicadas em 1949, em Lourenço Marques, mostram o despontar do gosto do realizador pelo cinema e pela escrita, fazendo uma espécie de visitação do passado do artista enquanto jovem aprendiz. A primeira crônica “Foi assim que morreu o Bobby, o cãozinho de pelos de arame” é uma narrativa fabular, que faz lembrar, ainda que desfocadamente, Nós matamos o Cão Tinhoso!, de Luís Bernardo Honwana, e de imediato nos apela para o sentido de dependência e de liberdade e para as diferenças sociais e de sofrimento dos seres vagabundos e abandonados. Um cão da rua, sem raça, nem dono, sem nome, sobre quem Ruy escreve e se demora a caracterizar, mostrando talvez, de forma indireta, as conflitualidades latentes da sociedade colonial. Uma outra crônica “Utilidades e perigos do Cinema na formação do caráter da juventude” reflete sobre a importância do cinema e da literatura e os prejuízos do cinema comercial na formação intelectual dos jovens. Por outro lado, as duas últimas crônicas de 1997, escritas no Brasil, quase meio século depois, tratam da experiência cinéfila do realizador:

(…) ao longo da vida fui devorando vorazmente filme após filme, me alimentando de imagens, em preto e branco, coloridas, mudas, sonoras. E o meu conhecimento do mundo deve muito a essas vidas que passei nas salas escuras, os olhos fixos na tela, onde pessoas e coisas desfilavam diante de mim emoções que me foram moldando naquilo que sou.

Em “A imagem e o horror”, Ruy Guerra questiona o poder da imagem numa época em que a tecnologia nos leva para a virtualização e “em que o espetáculo toma frequentemente o lugar da realidade e se confunde com ela”. Por último, relata a sua experiência de conhecimento de Max Ophuls, quando ainda era estudante de cinema em Paris, deixando-nos mais um traço da memória do seu percurso de vida, em que a diversidade de contatos e internacionalização certamente vieram a contribuir para o transformar, no futuro, no marco do cinema, que ele é.

No último momento deste livro, fazemos a transição das crônicas dos realizadores para uma pequena seção de estudo crítico, em que se apresentam dois ensaios sobre cinema moçambicano, em que o leitor poderá aprofundar uma dimensão teórico-crítica sobre o cinema deste país. O primeiro ensaio, mais monográfico, intitula-se “Da fotografia ao teatro, da retórica à poética: reflexões sobre Mueda, memória e massacre, de Ruy Guerra”, de Júlio Cesar Machado de Paula, e mostra o caráter simultaneamente documental e ficcional do filme, ao mesmo tempo que discute a interpenetração entre as dimensões histórica e estética, considerando que o filme seja visto e debatido como parte da memória viva de Moçambique.

O segundo ensaio da autoria de Ute Fendler, “O Cinema Moçambicano – Um Cinema Fantástico?”, é mais abrangente e analisa a importante e comum dimensão do fantástico na filmografia moçambicana, considerando que o “fantástico” faz parte integral da própria visão de mundo africana. Neste sentido, a especialista afirma que, quando os cineastas utilizam elementos “sobrenaturais” ou “maravilhosos”, estes fazem parte do processo narrativo, criando um mundo imaginado, simultaneamente fictício e verdadeiro, levando os espectadores “a sonhar a realidade, em versões e variações intermináveis”.

18 de abril de 2019.

Os organizadores

  • Carmen Tindó Secco – Professora Titular de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ensaísta e pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).
  • Ana Mafalda Leite – Docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com Mestrado em Literaturas Brasileira e Africanas de Língua Portuguesa e Doutora em Literaturas Africanas. Professora Associada com Agregação na Universidade de Lisboa, pesquisadora do ISEG do Cesa, com bolsa da FCT.
  • Luís Carlos Patraquim – Jornalista, roteirista, pesquisador sobre cinema moçambicano. Autor de vasta obra publicada em prosa, poesia e teatro.

[1] Todas as informações contidas nas entrevistas, ensaios e crônicas são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.
[2] MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: O diálogo possível. São Paulo: Ática, 2002, p. 8.
[3] ARRIGUCCI, David. Enigma e comentário. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p.51. Rio de Janeiro, 18 de junho de 2018.

Citar como:

O ARTIGO:
SECCO, C. T.; LEITE, A. M.; PATRAQUIM, L. C. “Apresentação”. CineGrafias Moçambicanas: Memórias & Crônicas & Ensaios. São Paulo: Kapulana, 2019. [Ciências e Artes]. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/cinegrafias-mocambicanas-memorias-cronicas-ensaios-apresentacao-por-carmen-t-secco-ana-mafalda-leite-e-luis-carlos-patraquim/>

O LIVRO:
CineGrafias Moçambicanas: Memórias & Crônicas & Ensaios. São Paulo: Kapulana, 2019. [Ciências e Artes]

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Kapulana publica livro com crônicas inéditas de Martinho da Vila

A obra reúne 48 crônicas divididas pelos doze meses do ano de 2018

O escritor, cantor e compositor Martinho da Vila publica em maio pela Editora Kapulana o livro 2018 – Crônicas de um ano atípico. A obra reúne 48 crônicas divididas pelos doze meses do ano passado. Martinho descreve com originalidade literária a comemoração de seus 80 anos, da renovação dos votos de casamento com Cléo, da amada e histórica escola de samba Vila Isabel, da cidade do Rio de Janeiro, relembrando alguns de seus sucessos no samba e na literatura. Há crônicas a respeito da sua enorme admiração aos eternos sambistas, assim como a vida artísticas pelos palcos do mundo. No decorrer da obra, Martinho também aborda fatos marcantes ocorridos em 2018, como o assassinato de Marielle Franco, as eleições presidenciais, a visita ao ex-presidente Lula em Curitiba e a derrota do Brasil na Copa do Mundo. 

MARTINHO DA VILA nasceu em Duas Barras, Estado do Rio. É músico, ativista cultural e escritor. Desde 1965, suas atividades culturais e musicais estão vinculadas à escola de Samba Unidos de Vila Isabel, daí seu nome artístico – Martinho da Vila. Ficou conhecido nacionalmente a partir de 1967, quando se apresentou no III Festival da Record, com o partido alto Menina Moça. A partir de então, sua vasta produção musical cresceu e foi reconhecida nacional e internacionalmente. Como escritor, Martinho da Vila tem livros publicados desde 1986, tanto de ficção quanto de não ficção, lançados no Brasil e em Portugal, e alguns deles traduzidos para o francês. Tem se dedicado ao romance e à crônica, com regular colaboração para jornais e revistas. Continua em plena atividade como artista e escritor, fazendo turnês nacionais e internacionais, e, em 2019, lança pela Kapulana seu mais novo livro 2018 – Crônicas de um ano atípico.

18 de abril de 2019

★★★

Para conhecer o catálogo da Kapulana, acessehttps://www.kapulana.com.br/catalogo/

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Kapulana publica a obra “Minha irmã, a serial killer”, da nigeriana Oyinkan Braithwaite

A obra uma história cheia de suspense e mistério, com humor peculiar e ácido, sem deixar de lado a complexidade da mente de uma sociopata

Chega ao Brasil o aclamado livro Minha irmã, a serial killer, da escritora nigeriana Oyinkan Braithwaite. Elogiada pela crítica internacional, a autora conduz com maestria literária esse thriller psicológico que surpreende e encanta o leitor a cada página.

Com um enredo ambientado na Nigéria, Braithwaite conduz com maestria literária um thriller psicológico que conta a história assustadora sobre duas irmãs com temperamentos e atitudes bem diferentes uma da outra. Korede é amargurada, mas pragmática. Sua irmã mais nova, Ayoola, é a filha favorita e, possivelmente, com sérios distúrbios comportamentais. Seus três últimos namorados aparecem mortos. Um livro com humor peculiar e ácido, cheio de suspense e drama, sem deixar de lado as complexas relações humanas.

Ayoola me convoca dizendo: – Korede, eu o matei.
Eu tinha esperado nunca mais ouvir essas palavras.

(trecho do livro Minha irmã, a serial killer)

Oyinkan Braithwaite nasceu na Nigéria, África, onde ainda reside, na cidade de Lagos. Em 2014, foi indicada entre as dez melhores artistas spoken word no concurso de poesia slam “Eko Poetry Slam”, em Lagos, Nigéria. Em 2016, foi finalista do “Commonwealth Short Story Prize”, que premia os melhores textos ainda não publicados do ano. Minha irmã, a serial killer é o seu primeiro livro.

★★★

Para conhecer o catálogo da Kapulana, acessehttps://www.kapulana.com.br/catalogo/

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O Brasil e a poesia africana de língua portuguesa: perspectivas de leitura, por Anita M. R. de Moraes e Vima L. R. Martin

O interesse pelas literaturas africanas no Brasil tem sido crescente neste século XXI. Nas universidades e escolas, a pesquisa e o ensino se incrementaram. O meio editorial abriu-se para a publicação de obras africanas e a imprensa tem dado destaque aos autores do continente. Tais fatos certamente estão relacionados com a sanção da Lei 10.639, de janeiro de 2003, responsável por garantir o estudo de história e culturas africanas e afro-brasileira em nossas instituições de ensino. Especialmente nas áreas de artes, letras e história, observa-se, assim, a necessária abordagem de aspectos históricos e culturais dos diversos povos que participaram da formação de nosso país.

Tendo em vista esse cenário, e a partir de nossa área de atuação, preparamos este livro buscando contribuir para o acesso do público brasileiro à produção poética dos países africanos de língua oficial portuguesa. Trata-se do resultado de uma pesquisa desenvolvida desde 2009 que, felizmente, encontra agora espaço para maior divulgação. Para sua realização, agradecemos o apoio das pesquisadoras Simone Caputo Gomes e Tania Macêdo e dos poetas e familiares que gentilmente cederam os direitos autorais dos poemas selecionados.

O ponto de partida do trabalho é o reconhecimento das trocas culturais associadas ao processo de colonização, responsável por aproximar América e África. No campo dos estudos literários, as marcas da presença brasileira na formação das literaturas produzidas nos países africanos colonizados por Portugal foram identificadas já nos anos de 1980, em artigos pioneiros de Maria Aparecida Santilli que apontam para a criação de um patrimônio cultural forjado a partir de um intenso diálogo estabelecido entre brasileiros e africanos.

Esta antologia traz a público poemas que, de alguma maneira, fazem referência ao Brasil ou à cultura brasileira. Desse modo, o conjunto de textos aqui reunidos, organizados por país de origem, permite que sejam conhecidas diferentes dimensões de um diálogo intercultural, favorecendo a visibilidade de algo do Brasil que se fez e se faz presente na África. Ao longo de nossa pesquisa, voltamo-nos para antologias consagradas (como No reino de Caliban, de Manuel Ferreira), antologias recentes (como Poesia africana de língua portuguesa, organizada por Lívia Apa, Arlindo Barbeitos e Maria Alexandre Dáskalos, e  Antologia da nova poesia angolana, organizada por Francisco Soares) e livros de autoria individual (no caso de poetas que consideramos manter uma relação de intensa proximidade com o Brasil). Apesar de termos consultado fontes diversificadas, temos consciência de que nosso estudo pode – e deve – ser ampliado, uma vez que não esgotamos as fontes e que o diálogo com o Brasil ainda se mantém vigoroso nos países africanos de língua oficial portuguesa. 

Este livro conta com um glossário, contendo tanto termos relacionados ao universo africano e da diáspora africana, como também nomes próprios citados nos poemas. Ao final do volume, uma lista de poemas veicula os resultados mais gerais de nosso estudo, configurando um mapeamento, ainda que parcial, da presença do Brasil na poesia africana de língua portuguesa.

***

Ao longo dos cinco últimos séculos, os laços históricos que aproximaram o Brasil e a África foram, como se sabe, muito fortes. Desde o século XVI, a formação social brasileira foi determinada por relações coloniais e escravistas, que se materializaram a partir da circulação de um grande contingente de pessoas através do Atlântico. Como esclarece Alberto da Costa e Silva,

Há toda uma história do Atlântico. Uma história de disputas comerciais e políticas, de desenvolvimento da navegação e de migrações consentidas e forçadas. Mas há também uma longa e importante história que se vai tornando, aos poucos, menos discreta. A dos africanos libertos e seus filhos, a dos mulatos, cafuzos e brancos que foram ter ao continente africano, retornaram ao Brasil, voltaram à África ou se gastaram a flutuar entre as duas praias. (COSTA e SILVA, 2003, p. 236)

O trânsito intenso estabelecido entre as duas margens do Atlântico favoreceu a constituição de ideias e ideais e a construção de um forte imaginário ancorado em experiências concretas. Alguns dos poemas levantados em nosso mapeamento focalizam justamente o legado brutal, em terras africanas e americanas, das migrações forçadas – o tráfico de pessoas sequestradas para serem escravizadas. Trata-se, então, de lidar com a memória do horror, com o trauma da escravidão. Em poemas como “Epopeia”, do santomense Francisco José Tenreiro, escrito nos anos de 1950, por exemplo, o Brasil é sobretudo o trágico destino dos escravizados.

Já no soneto oitocentista que integra esta antologia, intitulado “O sonho dantesco”, do também santomense Caetano da Costa Alegre, é numa situação amena de leitura que emerge, incompreensível, o evento da escravidão: trata-se da leitura, feita por uma jovem, de “O navio negreiro”, de Castro Alves.

Observamos, assim, dois aspectos do relacionamento da poesia africana de língua portuguesa com o nosso país: 1) temos visibilizada uma história colonial comum, marcada pela escravidão e pelo sofrimento dela decorrente; 2) e encontramos um diálogo literário efetivado por autores que frequentemente encontraram em nossa realidade cultural fonte de inspiração.

Parte da poesia do angolano José da Silva Maia Ferreira marca-se por tais relações literárias.  Maia Ferreira estudou no Brasil de 1834 a 1844 e aqui entrou em contato com nossos textos românticos, muitos deles reivindicativos de uma identidade nacional. De volta a Angola, publica em 1849 Espontaneidades da minha alma: às senhoras africanas. Dessa obra, pelo menos dois poemas apresentam relações intertextuais com um texto de Gonçalves Dias, o notório “Canção do exílio” (1843), que ficou célebre na tradição literária brasileira. Trata-se de “À minha terra” e “A minha terra”, que apresentam, além do tema da valorização da terra natal, a métrica e o vocabulário muito próximos do poema de Gonçalves Dias. Vejamos algumas passagens de “À minha terra”, que integra esta antologia:

De leite o mar – lá desponta
Entre as vagas sussurrando
A terra em que cismando
Vejo ao longe branquejar!
É baça e proeminente,
Tem da África o sol ardente,
Que sobre a areia fervente
Vem-me a mente acalentar.
(…)
 
Bem-vinda sejas ó terra,
Minha terra primorosa,
Despe as galas – que vaidosa
Ante mim queres mostrar:
Mesmo simples teus fulgores,
Os teus montes têm primores,
Que às vezes falam de amores
A quem os sabe adorar!
 
(…)

Como se vê, o poeta caracteriza a sua terra natal com um entusiasmo relativo, admitindo a simplicidade de seus “fulgores”. Entretanto, já se nota no texto um sentimento nativista, de identificação com o espaço angolano. Nas palavras de Tania Macêdo:

(…) a leitura de “Canção do exílio” realizada pelo autor angolano, que se pode depreender, focalizará sobretudo o “cá”, da terra angolana, deixando na penumbra o “lá”, de onde ele chega [Brasil]. Sob esse particular, o poeta afirma a “singeleza” de sua terra, mas faz questão de apontar que ela tem primores “a quem os sabe adorar”, indicando uma explicitação de sua “pertença”, o que indica a presença de um nativismo nascente. (MACÊDO, 2002, p. 43)

Também no longo poema “A minha terra”, igualmente presente nesta antologia, a ambiguidade se instala, estando o poeta mais uma vez entre a valorização emocionada de sua terra natal e a avaliação de que se trata de um espaço sem os encantos das terras portuguesas e brasileiras e carente de seus grandes vates. Vemos, inclusive, que o sentimento de participação no “mundo português” é forte, cantando-se e louvando-se a valentia dos heróis do império. É interessante perceber que, ao lado de Portugal, o Brasil avulta como um espaço privilegiado, capaz também de causar inveja ao poeta. Trata-se de uma referência explícita ao Brasil independente, de estatuto elevado, confirmando a admiração pelo território já naquela altura liberto do domínio político português.

Décadas mais tarde, já em meados do século XX, chama a atenção a força com que a produção literária brasileira funcionou como uma espécie de estímulo para a produção literária das então colônias portuguesas, constituindo-se como uma referência cultural alternativa às imposições metropolitanas. É certo que a nossa literatura não foi a única a marcar as produções do período. Ecos da poesia escrita pelo norte-americano Langston Hughes, pelo haitiano Jacques Roumain e pelo cubano Nicolás Guillén, por exemplo, estão presentes nos poemas africanos, cujos autores intentavam romper com o cânone oficial. Numa atmosfera intelectual marcada pela Négritude, difundida sobretudo por Aimé Césaire e Senghor, um número importante de escritores africanos de língua portuguesa buscavam – também eles – consolidar uma noção de identidade negra.

Entretanto, ainda que essas referências sejam determinantes, é fato que as experiências e realizações do primeiro modernismo brasileiro e a literatura produzida na década de 1930 deixaram marcas profundas na formação das modernas literaturas africanas de língua portuguesa. Nos espaços então colonizados, a busca pela autonomia literária se deu paralelamente à organização e à luta pela autonomia política. Daí a relevância das propostas do nosso modernismo e da chamada literatura “regionalista”, com sua forte opção pelos excluídos, como modelos inspiradores das transformações que se buscavam no momento da afirmação das identidades nacionais.

A revista angolana Mensagem (1951), cujo lema era “Vamos descobrir Angola!”, a pioneira revista Claridade (1936), em Cabo Verde, e a revista Msaho (1952), em Moçambique, foram espaços de expressão de movimentos literários que, como já havia ocorrido no Brasil, reclamavam uma cultura “autêntica”, enfatizando as realidades locais e as aspirações de liberdade popular. Sobre a forte presença das letras brasileiras em Angola, declara o crítico angolano Costa Andrade em 1963:

Entre a nossa literatura e a vossa, amigos brasileiros, os elos são muito fortes. Experiências semelhantes e influências simultâneas se verificaram. É fácil, ao observador corrente, encontrar Jorge Amado e os seus capitães de areia nos nossos melhores escritores. Drummond de Andrade, Graciliano, Jorge de Lima, Cruz e Sousa, Mário de Andrade e Solano Trindade, Guimarães Rosa, têm uma presença grata e amiga, uma presença de mestres das novas gerações de escritores angolanos. E por isso mesmo, pelo impacto que têm junto do nosso povo, são vetados pelos colonialistas. Eles estão presentes, porém, nas preocupações literárias dos que lutam pela liberdade. (ANDRADE, 1980, p. 26)

Para termos uma dimensão mais exata desse interesse, que toma a forma de um encantamento cultivado por parcela significativa de intelectuais e escritores dos países africanos, evoquemos as enfáticas palavras de outro angolano, Ernesto Lara Filho, presentes em crônica publicada no periódico Notícia (entre 1960 e 1962):

Rubem Braga, o “sabiá” da crônica do Brasil, anda nos nossos recortes literários. Henrique Pongetti é lido por nós, também, Raquel de Queiroz e Nelson Rodrigues, esses tratamo-los por tu. São-nos familiares. Todo o angolano, do Dirico a Cabinda, do Luso ao Lobito, lê o “Cruzeiro”, ri com as piadas de Millôr Fernandes e chora com as reportagens de David Nasser sobre Aida Curi.
Esses são afinal os nossos ídolos. Se pudéssemos votar, muitos de nós, angolanos de nascença, havíamos de ir às urnas depor o nosso voto nas próximas eleições brasileiras, pelo espetacular Jânio Quadros, o Jânio da “Vassoura”. Sabemos quem é Leandro Maciel, Carlos Lacerda, Pascoal Carlos Magno. Sabemos de cor frases como esta: “O petróleo é nosso”. (LARA FILHO, 1990, p. 58)

Em um texto bem mais recente, intitulado “O sertão brasileiro na savana moçambicana” (2005), Mia Couto também reconhece a importância capital do Brasil na formação da literatura moçambicana. Aliás, logo no início de sua reflexão, o escritor narra, de maneira idealizada, numa chave romântica, aquele que teria sido o momento inaugural da poesia em seu país: a união da moçambicana Juliana e do poeta brasileiro desterrado Tomás Antônio Gonzaga e os inúmeros serões ocorridos em sua casa, na Ilha de Moçambique, espaço onde teria florescido o primeiro núcleo de poetas e escritores da então colônia. Depois de evocar esse casamento, espécie de “presságio” de um “entrosamento maior”, continua Mia Couto:

O nascimento da poesia moçambicana está marcado por um encontro que seria bem mais do que um casamento entre duas pessoas. Havia ali uma espécie de presságio daquilo que seria um entrosamento maior que iria prevalecer.
Mais de um século depois, nascia em Moçambique uma corrente de intelectuais ocupados em procurar a moçambicanidade. Já era, então, clara a necessidade de ruptura com Portugal e os modelos europeus. Escritores como Rui de Noronha, Noémia de Souza, Orlando Mendes, Rui Nogar, ensaiavam uma escrita que fosse mais ligada à terra e à gente moçambicana.
Necessitava-se de uma literatura que ajudasse a descoberta e a revelação da terra. Uma vez mais, a poesia brasileira veio em socorro dos moçambicanos (…) os moçambicanos descobriram nesses escritores e poetas a possibilidade de escrever de um outro modo, mais próximo do sotaque da terra, sem cair na tentação do exotismo. (COUTO, 2005, p. 103)

No que diz respeito às relações entre as literaturas do Brasil e de Cabo Verde, é necessário sublinhar o papel decisivo exercido pela literatura social de 1930 na produção de escritores como Baltazar Lopes e Manuel Lopes, ambos vinculados à já referida revista Claridade. A similaridade climática entre o nordeste brasileiro e as ilhas de Cabo Verde favoreceu ainda mais as ressonâncias dos romances regionalistas em textos, de prosa e poesia, que buscavam afirmar a “cabo-verdianidade”. As palavras do poeta Gabriel Mariano, recolhidas por Michel Laban, atestam essa relação:

(…) Foi um alumbramento porque eu lia um Jorge Amado e estava a ver Cabo Verde. De Jorge Amado, o Quincas Berro d’Água, quando eu o li pela primeira vez, a personagem, as características psicológicas da personagem, a reação das pessoas, quando souberam da morte de Quincas Berro d’Água, eu li isso tudo e eu estava a ver a Ilha de São Vicente, Cabo Verde… Estava a ver a Rua de Passá Sabe… (In: LABAN, 1992, p. 331)

Também é bastante significativa a leitura que os autores cabo-verdianos fizeram da poesia de Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Ribeiro Couto. Desse conjunto de poetas, Manuel Bandeira se destaca como um interlocutor privilegiado, fazendo-se presente em vários poemas, e não apenas de autores de Cabo Verde. Sua dicção pretensamente simples, a intensa valorização da oralidade e o lirismo de seus poemas certamente seduziram os poetas africanos que lhe dedicaram versos e estabeleceram pontes com a sua poesia.

Exemplar dessas relações é a intertextualidade verificada no conjunto de poemas escritos em diálogo explícito com “Vou-me embora pra Pasárgada” (1930). Como observamos a partir de nosso mapeamento, na série “Itinerário de Pasárgada”, que consta de cinco poemas escritos em 1946 pelo cabo-verdiano Osvaldo Alcântara (pseudônimo de Baltazar Lopes para sua produção poética), o tom oscila do nostálgico ao contestatório, mas afinal o poeta afirma – como no poema brasileiro – a utopia de um futuro desejado. Mais tarde, outro poeta, Ovídio Martins, retomará o tema em seu poema “Anti-evasão” (1974), dessa vez rejeitando a “viagem para Pasárgada” e afirmando a necessidade de permanecer em Cabo Verde para construir um futuro qualitativamente diferente para o país. Na presente antologia, a referência a Manuel Bandeira surge em outro poema cabo-verdiano, bem mais recente, atestando a continuidade desse diálogo intertextual: trata-se de “Os meninos”, da escritora Vera Duarte. Nesse poema em prosa, a interlocução com a poesia de Manuel Bandeira dá-se pela menção, não de sua utópica Pasárgada, mas da sua também muito conhecida “Estrela da Manhã”, igualmente signo de inconformidade.

Podemos notar que a produção africana de língua portuguesa aponta para a permanência da ligação estabelecida entre africanos e brasileiros. De fato, referências a escritores, livros e espaços geográficos e ficcionais do Brasil ainda estão presentes em produções contemporâneas de diferentes autores de ficção e poesia. Em publicações das últimas décadas, além de Manuel Bandeira, escritores como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles, Manoel de Barros, Raduan Nassar e Adélia Prado têm acolhida marcante. Por exemplo, nos poemas “Drummondiana” e “Metamorfose”, publicados nesta antologia, o poeta moçambicano Luís Carlos Patraquim trava diálogo explícito com a poesia de Carlos Drummond de Andrade. No primeiro, o título é convite para que se persigam sutis alusões a poemas como “A máquina do mundo” e “A flor e a náusea”; já no impressivo “Metamorfose”, a leitura de Drummond é referida como marco temporal, desdobrando-se a relação intertextual com a alusão ao famoso poema “O sentimento do mundo”. Por fim, em “Poesia verde”, do poeta angolano José Luís Mendonça, também presente nesta antologia, é pela referência ao conhecido verso “no meio do caminho tinha uma pedra” que a intertextualidade com Carlos Drummond de Andrade se estabelece.

Um dos poemas do angolano Ondjaki presente neste livro intitula-se “Chão” e apresenta uma dedicatória que merece destaque: “palavras para manoel de barros”. O nome do poeta brasileiro está grafado em letra minúscula, assim como todas as palavras que compõem o poema. O efeito dessa escolha parece ser o de desautomatizar o uso da língua portuguesa, efeito reforçado pelos neologismos, pelas inversões sintáticas e pelo uso não convencional da pontuação. De viés filosófico, o poema se vale de imagens lúdicas e desconcertantes para expressar o desejo de autoconhecimento, em busca de uma identidade primordial. Trata-se de empreender um inusitado processo de retorno ao reino mineral (areia, barro, chão), numa metamorfose voltada sempre para dentro e para baixo, como se essa involução à terra fosse capaz de revelar uma verdade essencial. Ao “chãonhe-ser-se”, amalgamando-se ao mundo natural, o poeta simultaneamente se mineraliza e se humaniza, num gesto forte e delicado que parece abdicar da artificialidade que, de certo modo, pauta o mundo social. Como se vê, a relação do poema angolano com a poética de Manoel de Barros ultrapassa a singela dedicatória e manifesta-se no próprio fazer poético que atualiza as linhas de força do projeto literário do escritor cuiabano.

Referências à música brasileira também são recorrentes na poesia africana de língua portuguesa. Lembremos do poema “Samba”, datado de 1949, em que a poetisa moçambicana Noémia de Sousa toma esse gênero musical como atestado da presença cultural africana no Brasil, aludindo a um ritmo de histórias entrelaçadas e lutas partilhadas. Referências mais recentes a Tom Jobim, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Roberto Carlos e Milton Nascimento evidenciam a continuidade do interesse pela música brasileira em terras africanas. Destaca-se, nesse sentido, o poema “Setenta e seis”, aqui publicado, do poeta e letrista angolano Carlos Ferreira, em que a familiaridade com “a canção de roberto” é sugerida (numa alusão certa ao cantor Roberto Carlos e ao famoso verso da canção “Baby”, de Caetano Veloso).

O poema “Canção para Milton Nascimento”, do angolano João Melo, é outro exemplo  do diálogo da poesia africana com a nossa música. Nos primeiros versos, marcados por assonâncias e aliterações, o poeta evoca as origens africanas do compositor e cantor da nossa Música Popular Brasileira, que se notabilizou por abordar temas como liberdade e solidariedade.

Canção para Milton Nascimento

A lonjura da tua voz não é apenas dos amplos vales de Minas Gerais:
abarca a negra imensidão do oceano azul que em galeras te levou
das praias invadidas do Congo, Ndongo e Benguela,
alcança os planaltos ancestrais
de onde te arrancaram ao coração da terra,
sem suspeitar que na tua voz
ia a alma de todos os homens do mundo.

Na sequência, o texto afirma que na voz de Milton ressoam não apenas instrumentos musicais africanos (ngomas), mas também instrumentos ibéricos e ameríndios, capazes de iluminar “os dilacerados quadris da memória reconstruída”. Trata-se, aqui, não apenas de celebrar a riqueza da heterogeneidade cultural brasileira, que ganha materialidade no trabalho do compositor, mas, sobretudo, de sublinhar a dimensão trágica de uma história, assentada no colonialismo e na escravidão, cuja memória se encontra em processo de reconstrução. Por isso, como bem revelam os versos finais, a voz de Milton nem sempre é alegre e ele precisa de coragem para “cantar sozinho no meio da escuridão”.

É importante considerar que não apenas a poesia, mas também a prosa africana de língua portuguesa tem mantido diálogo fecundo com o Brasil. Alguns ficcionistas destacam, em entrevistas e ensaios, a importância do contato com, por exemplo, a escrita de João Guimarães Rosa, como os angolanos Luandino Vieira e Ruy Duarte de Carvalho (este, também importante poeta) e o já mencionado escritor moçambicano Mia Couto. Ruy Duarte de Carvalho, em seu livro Desmedida, de 2006, relata:

Quando aí por 1965, numa tabacaria da Gabela, interior do Kwanza-Sul, dei encontro com o Grande sertão: veredas em edição, a 5ª parece-me, da Livraria José Olympio, o facto foi, de fato e de várias maneiras, muito importante na minha vida. Foi um daqueles livros que vêm, literalmente, ao nosso encontro (…). (…) Defrontei-me então muito arduamente com as primeiras páginas do Grande sertão e deixei-me depois entrar naquilo para tornar-me, a partir daí e até agora, um leitor compulsivo, permanente e perpétuo, de Guimarães Rosa. (…)
Mas para o que talvez possa interessar agora, eu estava a encontrar ali, finalmente, um tipo de escrita e de ficção adequadas à geografia e à substância humana que eu andava então, técnico da Junta do Café, a frequentar e a fazer-me delas por Angola afora. (…) E nas paisagens que Guimarães Rosa me descrevia, eu estava a reconhecer aquelas que tinha por familiares. Já porque de natureza a mesma que muitas paisagens de Angola – e em algumas das paisagens de Angola eu reconhecia aquelas, enquanto o lia – já porque a gente que ele tratava, gente de matos e de grotas, de roças e capinzais, era também em Angola aquela com quem durante muitos anos andei a lidar pela via do ofício de viver. (CARVALHO, 2006, p. 85-86)

A leitura de Grande sertão: veredas, na década de 1960, chamou a atenção de Ruy Duarte de Carvalho, gerando uma sensação de familiaridade. E as semelhanças entre as paisagens e as gentes do Brasil e Angola são aspectos que ele viria a explorar em obras futuras, como no próprio livro Desmedida, aqui citado.

Nesta antologia, contudo, dedicada apenas à poesia, o diálogo entre prosadores, tão intenso, não é explorado. Por essa razão, do conjunto da obra escrita por Ruy Duarte de Carvalho, o texto que está presente em nosso levantamento é o poema intitulado “Fala de um brasileiro ao capitão-mor Lopo Soares de Lasso”, de 1974, que traz justamente a fala (ficcional) de um brasileiro do século XVII em terras angolanas. Esse poema evidencia antigos laços entre Angola e Brasil, dando voz a um brasileiro que abandona projetos de conquista e escolhe seguir novo – e próprio – rumo na nova terra (Angola), tendo, agora, conhecido “as muitas coisas boas”, “sabida outra maneira de aqui estar”. Para os leitores da prosa de Ruy Duarte de Carvalho, o destino desse brasileiro ecoa o de alguns de seus personagens, como o inglês Archibald Perkings (protagonista de Os papéis do inglês), Severo (protagonista de As paisagens propícias) e o próprio autor ficcionalizado (narrador-personagem dos romances da trilogia Os filhos de Próspero, cujo primeiro volume, o já mencionado Os papéis do inglês, está publicado no Brasil).

Podemos perceber diferentes formas de impacto da prosa sobre a poesia, e mesmo encontrar a homenagem, na forma de poema, a prosadores brasileiros. No conjunto desta antologia, chama especial atenção, nesse sentido, o “Poema a Jorge Amado”, de Noémia de Sousa. Vejamos sua estrofe inicial:

O cais…

O cais é um cais como muitos cais do mundo…
As estrelas também são iguais
às que se acendem nas noites baianas
de mistério e macumba…
(Que importa, afinal, que as gentes sejam moçambicanas
ou brasileiras, brancas ou negras?)
Jorge Amado, vem!
Aqui, nesta povoação africana
o povo é o mesmo também
é irmão do povo marinheiro da Baía,
companheiro de Jorge Amado,
amigo do povo, da justiça e da liberdade!
(…)

Os versos de Noémia de Sousa, de 1949, estabelecem uma identificação plena entre Moçambique e Brasil (Bahia), sublinhando elementos que aproximariam os dois espaços (cais, estrelas, povo). Numa perspectiva humanista, que se constrói para além da nacionalidade e cor da pele “(Que importa, afinal, que as gentes sejam moçambicanas/ ou brasileiras, brancas ou negras?)”, o texto propõe o estabelecimento de uma rede solidária entre “as gentes”, pautada em valores como justiça e liberdade, dos quais Jorge Amado seria o porta-voz. Ao convocar a presença companheira do escritor baiano em terras moçambicanas, a poetisa expressa uma utopia libertária, enraizada na cultura popular, que naquele contexto funcionava simultaneamente como crítica à presença colonialista e aspiração de independência política.

O veemente combate à brutal configuração de um sujeito racial nos processos coloniais é traço marcante da poesia de Noémia de Sousa. A luta que se propõe é de todos, sem discriminação, uma luta contra qualquer forma de racialização – em sintonia, assim, com proposições recentes, como as do filósofo camaronês Achille Mbembe (pensamos especialmente em Crítica da razão negra, publicado no Brasil em 2018). A questão racial nos leva, contudo, a lidar com uma referência bem mais antiga: a do lusotropicalismo defendido pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, que celebrava no Brasil uma espécie de espaço exemplar de liberdade e democracia racial. Lembremos que sua obra magna, Casa Grande e senzala, publicada em 1933, impactou fortemente não apenas a intelectualidade brasileira, mas também intelectuais portugueses e africanos dos países que então eram colônias de Portugal. Outros livros, como O mundo que o português criou (1940) e Aventura e rotina (1953), serão centrais para a difusão do lusotropicalismo. Para Fernando Arenas,

As bases teóricas do que seria o lusotropicalismo estender-se-ão eventualmente a praticamente todo o império colonial português a partir de uma série de conferências proferidas [por Gilberto Freyre] na Europa em 1937 e reunidas na obra O mundo que o português criou (1940), onde se exalta a miscigenação e a mestiçagem, sobretudo relativamente ao Brasil, embora projetando-se para o resto do império. (ARENAS, 2010)

Entre 1951 e 1952, Gilberto Freyre foi convidado pelo governo português para viajar pelas terras do império. É preciso lembrar que após a Segunda Grande Guerra tornou-se internacionalmente mais difundida a condenação de regimes de natureza colonial. O governo de Salazar – ditador português de 1928 a 1968 – recorre, então, ao lusotropicalismo freyriano para reformular sua ideologia colonial, apelando para a ideia do “bom colono português”. Com a apropriação salazarista do pensamento do sociólogo brasileiro na década de 1950, nota-se o afastamento, por parte de muitos escritores e intelectuais africanos, das teses lusotropicalistas de Freyre. O poema “Presença de Gilberto Freyre”, do caboverdiano Guilherme Rocheteau, publicado em 1951, evidencia, contudo, a força do lusotropicalismo nos países africanos de língua oficial portuguesa ainda no início da década de 1950, especialmente em Cabo Verde.

É importante destacar que, em nossa perspectiva, na poesia de Noémia de Sousa não há, de modo algum, negação ou suavização da violência colonial portuguesa. O “Poema de João”, presente nesta antologia, denuncia justamente sua brutalidade, afirmando também a força da resistência. Mais uma vez, Achille Mbembe vem a nosso auxílio. No já citado Crítica da razão negra, Mbembe sugere haver traços de um imaginário cristão em discursos e práticas de combate à escravidão e ao colonialismo. No poema de Noémia de Sousa, a morte violenta é vencida pela ressurreição simbólica: ao invés de morto, João ressurge vivo no seio do povo, tornando-se uma espécie de mártir. O “Poema de João” pode, nesse sentido, ser comparado ao romance A vida verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira, cujo protagonista constrói-se sob o signo do sacrifício (de 1961, este livro foi censurado e só veio a ser publicado em 1974).

A questão racial recoloca-se, com contundência, nos textos “Poema preto de fome” e “A cor da Humanidade”, de José Luís Mendonça, também aqui publicados. No primeiro, talvez algo do devir-negro proposto por Mbembe se delineie. Para o filósofo, a exploração capitalista, que remonta à escravidão nas plantations das Américas, implica a invenção do “negro” como destituído de humanidade plena. Contudo, Mbembe afirma também que aqueles que assim se viram brutalmente tratados reafirmaram sua condição humana invertendo o rótulo “negro” em chave afirmativa. Sinais de tal duplicidade aparecem no poema de José Luís Mendonça, em que o signo “preto” remete tanto à condição de vítima histórica como à força da resistência daqueles que lutaram e lutam contra a violência e a exploração.

No poema “A cor da Humanidade” é a própria farsa do rótulo racial que se vê denunciada. Como em “A viagem profana”, do moçambicano Nelson Saúte, estamos diante de um sujeito em deslocamento, uma espécie de sujeito global ou globalizado. Contudo, no poema de Saúte, tal sujeito se configura numa chave subjetiva, trata-se de um viajante apaixonado que traça suas afinidades eletivas, suas preferências tanto literárias como espaciais (ocupando, o Brasil, lugar afetivo privilegiado). Já no poema de Mendonça, configura-se um sujeito coletivo que parece implicar todo aquele que possa ser estigmatizado, apanhado na armadilha da racialização. Se o mundo se oferece com generosidade ao poeta em “A viagem profana”, no poema angolano toma a forma do impedimento, arma-se contra o sujeito. Assim, em “A cor da Humanidade”, a onipresença das categorias raciais é problematizada, afirmando-se, com Martin Luther King e Nelson Mandela, a inalienável condição humana de toda pessoa.

***

Como apontamos inicialmente, este trabalho busca visibilizar as trocas culturais que aproximaram – e ainda aproximam – o Brasil e os países africanos de língua oficial portuguesa, ao longo de séculos de uma história de entrelaçamentos. No diálogo poético estabelecido desde o século XIX até a contemporaneidade, capaz de aproximar as duas margens do Atlântico, a solidariedade e a criatividade emergem como marcas efetivas da aproximação estabelecida.

O conjunto de poemas reunidos em nosso mapeamento, ponto de partida da presente antologia, aponta para representações diversas: há poemas que apenas mencionam o Brasil, entre outros países do continente americano, como destino de africanos escravizados; há poemas que estabelecem alguma relação intertextual com obras da literatura brasileira; outros enaltecem o Brasil, desde uma perspectiva idealizada, por vezes até mesmo exotizante ou turística; há aqueles que se referem com admiração a personalidades brasileiras (escritores, compositores, intelectuais etc.); há, ainda, poemas que mencionam a opressão – e a resistência a formas de opressão – dos negros no Brasil. Como se vê, de maneira múltipla, o Brasil se faz presente.

Dessa maneira, como conclusão parcial, podemos reter que, por vezes, o Brasil é rememorado na poesia africana como destino de brutal tráfico humano (com destaque para poemas do período colonial); e, outras, imaginado como espaço utópico de liberdade política e harmonia racial (imbuindo-se, então, de traços do lusotropicalismo freyriano); de modo geral, nosso país emerge como um território cúmplice, de onde emanam vozes capazes de compreender e se irmanar com realidades sociais e culturais percebidas a partir de uma óptica comparatista.

Entendemos que os textos levantados sugerem que, seja no profícuo diálogo literário, seja na menção a traços da cultura brasileira veiculada em terras africanas, seja ainda no recurso a uma memória colonial comum de assombrosa violência e na afirmação de resistência (o negro que luta, na África e nas Américas, contra o racismo, por exemplo), o Brasil está fortemente presente no repertório poético africano de língua portuguesa.

Trata-se de uma presença viva, de um diálogo em curso, como atestam os textos de escritores que, em publicações recentes, continuam a mencionar nosso país. Nos poemas selecionados de autores contemporâneos, as referências ao Brasil, sua paisagem e sua cultura – nomeadamente nos campos da literatura e da música – demonstram que o país ainda ocupa um espaço privilegiado no imaginário dos autores africanos. Há certamente muito ainda a descobrir. Os poemas reunidos por nós não esgotam a questão dos trânsitos culturais entre o Brasil e os países africanos de língua oficial portuguesa. Ao contrário, esta seleção pretende abrir caminhos e instigar o estudo de aspectos da presença do Brasil nas literaturas africanas de língua portuguesa, inclusive a investigação de novas formas e possibilidades de diálogo.

Referências:
ANDRADE, Costa. Literatura angolana (opiniões). Lisboa: Edições 70, 1980.
ARENAS, Fernando. “Reverberações lusotropicais: Gilberto Freyre em África”. In: Buala – Cultura Contemporânea Africana, 2010. Acessível em: http://www.buala.org/pt/a-ler/reverberacoes-lusotropicais-gilberto-freyre-em-africa-1-cabo-verde
CARVALHO, Ruy Duarte de. Desmedida: crônicas do Brasil (Luanda – São Paulo – São Francisco e volta). Lisboa: Cotovia, 2006.
COSTA e SILVA, Alberto da. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Editora UFRJ, 2003.
COUTO, Mia. Pensatempos: textos de opinião. Lisboa/Maputo: Editorial Ndjira, 2005.
LABAN, Michel. Cabo Verde. Encontro com escritores. Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida, 1992.
LARA Filho, Ernesto. Crônicas da roda gigante. Porto: Afrontamento, 1990.
MACÊDO, Tania. Angola e Brasil: estudos comparados. São Paulo: Editora Arte e Ciência, 2002.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: Edições N-1, 2018.

 São Paulo, janeiro de 2019.

Anita M. R. de Moraes é Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade de Campinas (Unicamp), com pós-doutorado pela Universidade de São Paulo e Professora de Teoria da Literatura na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Vima Lia de Rossi Martin é Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e Professora de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa na mesma instituição (FFLCH-USP).

Citar como:

O ARTIGO:
MORAES, Anita M. R.; MARTIN, Vima L. R. “O Brasil e a poesia africana de língua portuguesa: perspectivas de leitura “. Posfácio. In. MORAES, Anita M. R.; MARTIN, Vima L. R. O Brasil na poesia africana de língua portuguesa: antologia. São Paulo: Kapulana, 2019.[Vozes da África] Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/o-brasil-e-a-poesia-africana-de-lingua-portuguesa-perspectivas-de-leitura/>

O LIVRO:
MORAES, Anita M. R.; MARTIN, Vima L. R. O Brasil na poesia africana de língua portuguesa: antologia. São Paulo: Kapulana, 2019. [Vozes da África]

Publicado em

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A Kapulana é uma editora voltada para a publicação e divulgação da literatura de autores brasileiros e estrangeiros. Atualmente, o catálogo da editora é composto por livros de ficção e científicos, para adultos e crianças, em prosa e poesia. Os autores são de países como Brasil, Angola, Moçambique, Nigéria, Portugal, Quênia e Zimbábue.

 

 

Confira as seguintes obras disponíveis em e-book:

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Para conhecer o catálogo da Kapulana, acessehttps://www.kapulana.com.br/catalogo/

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Entrevista com Pepetela, por José dos Remédios

PEPETELA, um dos mais importantes escritores de Angola, concedeu essa entrevista ao jornalista José dos Remédios, do jornal O País, de Moçambique.

“O escritor deve ser capaz de criar empatia com o pior da terra”  (Pepetela)

Aprendeu a gostar de histórias era ainda verde, como a cor da alface. A mãe, uma professora e um amigo de infância, sem que se apercebessem disso, ajudaram-no a descobrir um grande escritor que morava dentro de si. E a descoberta teve como consequência transformar o pequeno menino contador de estórias num autor de utopias, dedicado no futuro sem deixar de trazer ao presente as cicatrizes do passado. Escreveu sobre a sociedade angolana como ninguém e, por via disso, projectou-se para o espaço da língua portuguesa e para o mundo inteiro. É um escritor sem fronteiras. A sua obra transborda o que mais interessa à literatura: a emoção sempre em sintonia com uma técnica de escrita inigualável. Chama-se Pepetela, e nesta entrevista fala-nos das especificidades da sua escrita, das suas convicções – como a de que nunca seria um neo-liberal –, de como a literatura pode ser usada para aproximar os povos africanos e dos problemas que abalam a Humanidade.  

1- Gostava de começar com uma pergunta que, de algum modo, sintetiza a sua obra. Cada livro seu reflecte, de forma satírica ou metafórica, determinados momentos da sociedade angolana e, consequentemente, dos países que mantêm uma acentuada ligação histórica com Angola – inclusive Moçambique. O que lhe leva a fazer da sua ficção um veículo que permite os seus leitores voltarem-se para o seu contexto social com um olhar mais crítico e consciente?

R- Se consigo isso, fico satisfeito. A intenção é mesmo a de chamar a atenção para determinadas problemáticas da Humanidade, embora geralmente os temas sejam inseridos na realidade que conheço melhor, a angolana.

2- No seu repertório, dois romances apresentam uma intertextualidade firme com a Literatura Moçambicana. Refiro-me a O cão e os caluandas, que dialoga com Nós matamos o Cão-Tinhoso, de Luís Bernardo Honwana, e Predadores, que dialoga com Apocalipse dos predadores, de Adelino Timóteo. Pensa na possibilidade de ao escrever sobre Angola tornar-se num autor reivindicado por outras literaturas africanas do ponto de vista identitário?

R- As nossas literaturas têm muitos pontos comuns, porque as sociedades e seus dilemas não diferem tanto assim. Mas coincidências de títulos não querem dizer muito, ou mesmo nada. O que interessa é o conteúdo.

3- Na sua opinião, como é que os povos africanos, com passado e presente muito comum, podem fazer da literatura a ponte que torne os territórios virtualmente mais próximos, de modo que não precisemos sair do continente para encontrar melhores conhecimentos sobre nós próprios?

R- O primeiro passo seria o de fazer conhecer as respectivas literaturas, o que na verdade não acontece. Os livros de países africanos circulam pouco fora do seu espaço natural, nacional. Tem havido tentativas aqui ou ali, por iniciativas de editoras. Mas a primeira barreira, falando de África no seu conjunto, é a da necessidade de traduções. Para países usando a mesma língua, a barreira principal é a pobreza que impede as pessoas de acederem aos livros, seus ou de outros. Organizações como a CPLP ou SADC deveriam ser um meio privilegiado para isso.

4- A literatura angolana já esteve próxima à moçambicana e aos PALOP. Sente que os laços do passado continuam presente?

R- Acho que sim. Como disse, ambas tratam de realidades semelhantes, quase com caminhos paralelos.

5- A certa altura d’O cão e os caluandas, uma voz diz: “o escritor deve ser cruel e desumano, é essa a sua humanidade”. Como autor empírico, concorda com essa afirmação?

R- Já passou muito tempo sobre a escrita desse livro, mas imagino que quisesse dizer que para entrar na cabeça de personagens de toda a natureza, desde os santos até aos mais loucos assassinos, o escritor deve ter essa capacidade de criar empatia com o pior que existe na face da Terra para poder descrever por dentro mesmo aquilo que lhe repugna. E só o ser humano pode fazer isso.

6- A imprevisibilidade caracteriza a sua escrita. Lueji, o nascimento de um império é um exemplo disso. Neste livro, desmistifica o estereótipo de que em África só o homem pode herdar o poder e erguer um império. Reactivando o enredo desse livro, Lueji, uma personagem com o dom da liderança e que encara o inimigo nos olhos, é a representação da mulher que os africanos precisam para mudar a sua condição de submissão em relação ao Ocidente, por exemplo, já que os homens parecem incapazes?

R- Boa pergunta. A um momento dado eu deixava as minhas amigas e camaradas dizerem que se fossem elas a liderar o mundo, tudo seria diferente. Bem, hoje já aparecem mulheres nos postos mais importantes do poder. E parece que as coisas não mudaram muito apenas por causa disso. De qualquer forma, devemos em livros ou de outra forma qualquer lutar para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades dos homens. Escrever esse livro inscrevia-se nessa linha. Mas a estória é baseada em mitos reais. E se houve mitos, é porque algo aconteceu de facto.

7- Em Lueji, Yaka, O desejo de Kianda ou Mayombe liberta-se aquele desabafo de Karl Liebknecht, político alemão, a de que o inimigo mais perigoso está perto de nós, se quisermos, nos nossos países. Usa a literatura para combater esse inimigo?

R- Não concordo muito com a tentativa de fazer da literatura uma arma de combate. Houve épocas em que se tentou isso, fracassando geralmente em termos de qualidade. Mas Liebknecht tinha razão, o pior inimigo vive connosco.

8- “A virtude dos governantes é terem os defeitos dos governados”, diz José António Barreiros na introdução de O Príncipe, de Maquiavel. Qual seria a virtude dos governados para acabarem com os governantes que traem a causa nacional na mesma proporção que Malongo, Caposso ou CCC, algumas das suas personagens?

R- Os governados deveriam ter a coragem de dizer não. E só de vez em quando temos essa coragem e na maior parte das vezes de forma isolada. Um NÃO de muitos ao mesmo tempo que se ouvisse na sociedade poderia fazer tremer os outros e não nós.

9- Quem lê os seus romances, apercebe-se que subverte, diria, as teorias literárias, na medida em que introduz no enredo uma entidade que não é narrador, personagem e nem autor textual, pelo menos não logo à partida. Essa entidade, às vezes, tem a autoridade de demitir o narrador ou de revelar o final da história que contraria a do narrador. É um cenário propositado?

R- Se todos escrevêssemos da mesma maneira, segundo manuais de academias, já ninguém nos lia porque todos os leitores morreriam de tédio. É só por uma questão de sobrevivência que tento de vez em quando surpreender o leitor.

10- Com os romances Jaime Bunda (O agente secreto e A morte do americano) mergulha os seus leitores no universo da literatura policial, que se tece com humor e algumas decepções amorosas pelo meio. Estes dois livros revelam-nos um escritor sensível à configuração dos espaços urbanos de Angola e dos cidadãos que neles habitam. Isso faz parte das suas preocupações literárias?

R- Tendo sido obrigado a viver em Luanda tantos anos, é normal que o espaço urbano se torne uma estrutura daquilo que escrevo. Escrevi vários livros passados em outros espaços, alguns rurais, outros quase indefiníveis. Mas a marca urbana acaba por se impor.

11- Já agora, voltaremos a ter o agente Jaime Bunda num outro livro? Coloco-lhe esta pergunta porque no segundo livro faltou-lhe o prazer literário que sentiu ao escrever o primeiro.

R. Não sei se haverá outro. Enquanto não me apetecer muito mesmo tratar esse personagem, ele fica na geleira.

12- O que contribui para que alguns livros escreva por prazer e outros por obrigação?

R. Eu procuro sempre escrever por prazer e recuso tratar temas propostos por outrem. Acho que nem seria capaz. Talvez seja no fundo ainda uma forma de rebeldia, de defender o meu último pedaço de liberdade.

13- Qual é a obra que lhe deu mais prazer de escrever?

R. É impossível escolher. Umas são mais difíceis, mas vencer a dificuldade também dá prazer.

14- Pedi que um leitor seu, o meu amigo Jaime Malendza, lhe fizesse uma questão. E ele pergunta: “Em A geração da utopia, um personagem faz apologia ao neo-liberalismo. Diante da falência dos ideais socialistas e neo-liberais, quais são as melhores ideias para o mundo actual?

R. Se eu tivesse resposta a isso, candidatava-me para um cargo qualquer. Mas neo-liberal nunca seria, nem cortado às postas. 

15- E à volta do mundo gira um dos melhores romances seus, O quase fim do mundo. Que metáfora é esta que põe em causa a ética, a moral e questiona as relações do mundo contemporâneo?

R. A metáfora está cada vez mais perto de se concretizar. O Homem é capaz de transformar a Terra em três Luas desertas, é só darem tempo para ele encontrar os meios. Em nome de um deus qualquer ou de uma filosofia. Pretextos não faltam.

16- Neste livro, a Humanidade quase que desaparece por culpa dela mesma. Em geral, sobram algumas comunidades isoladas de África. Quis nos lembrar que, apesar de toda diferenciação social, é este o berço da Humanidade, o continente que vai continuar a sobreviver a tudo…?

R. Que pelo menos foi onde tudo começou e a haver algum recomeço só poderia ser numa verde montanha com capim e alguns gorilas.

17- Quais julga que são as mazelas que conduzem o Homem quase que a uma extinção total, neste tempo, como acontece em O quase fim do mundo?

R. Existem muitas, desde a ganância à pobreza mental e à arrogância do ignorante. Sobretudo, a incapacidade de aprender com a História.

18- É um autor do povo, que, de tanto ouvir estórias do seu amigo Thor, na infância, transformou a escrita numa roda à volta da fogueira africana. Que sonhos a sua obra transporta?

R. Gostaria que transportasse os sonhos de muitos Thor, que transportasse o que prometíamos fazer quando enfrentávamos as tropas coloniais ou dos invasores seguintes, quando éramos puros e gostávamos realmente uns dos outros. Gostaria que fosse isso. Mas tenho a noção de não ter sido capaz, porque a vida nos trai sempre.

19- Sugestões artísticas para os leitores do jornal O País?

R. Andre Brink, escritor sul-africano morto ano passado e que merecia um Nobel. E Ngugi Wa Thiongo, queniano refugiado nos Estados Unidos, que ainda pode recebê-lo.

Maputo, 11 de Fevereiro de 2016, no jornal O País.

Citar como: PEPETELA. Entrevista a José dos Remédios. 25 fev. 2019. [Publicada originalmente em O País. 11 fev. 2016. Cedida gentilmente à Editora Kapulana por José dos Remédios.]

Saiba mais sobre Pepetelahttps://www.kapulana.com.br/pepetela/

Saiba mais sobre José dos Remédioshttps://www.kapulana.com.br/jose-dos-remedios/

Livros de Pepetela no catálogo da Kapulana

O cão e os caluandas. São Paulo: Kapulana, 2019.
https://www.kapulana.com.br/produto/o-cao-e-os-caluandas/

O quase fim do mundo. São Paulo: Kapulana, 2019. (em edição)
https://www.kapulana.com.br/produto/o-quase-fim-do-mundo/

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Conheça as ilustrações do livro “Nina tem medo de palhaço”, realizadas pela artista Mariana Fujisawa

Além de abordar o conteúdo sobre o medo na infância, o livro também abrange as questões sociais e políticas no mundo, como as crianças em situação de risco e que passaram por várias perdas, fornecendo, assim, importante reflexão da atualidade

Nina tem medo de palhaço, escrito por Walter de Sousa, é o novo livro infantil publicado pela Kapulana. Na obra, Nina é uma menina que perdeu a casa e vive com mãe em um campo de refugiados. Corajosa, ela enfrenta de tudo, a única questão é o seu medo de palhaço. Mas e de palhaça? É quando conhece a palhaça Jurubeba que Nina aprende sobre as coisas e lugares e que o medo é um sentimento normal. Além de abordar o conteúdo sobre o medo na infância, o livro também abrange as questões sociais e políticas no mundo, como as crianças em situação de risco e que passaram por várias perdas, fornecendo, assim, importante reflexão da atualidade.

O livro é uma homenagem ao trabalho social e cultural da palhaça brasileira Gabi Sigaud Winter, a Jurubeba, e de todas as palhaças e palhaços que divertem e confortam crianças pelo mundo todo. A obra também homenageia os Palhaços sem Fronteiras (Clowns without Borders International) organização que atua desde 1993.

Nina tem medo de palhaço conta com as ilustrações de Mariana Fujisawa. Leia abaixo um depoimento da artista sobre o processo de desenvolvimento das maravilhosas artes presentes no livro:

Ilustrei o ‘Nina tem medo de palhaço’ sempre em contato com o autor e, principalmente, com a Gabi Winters – a palhaça Jurubeba. Foi uma grande preocupação que eu pudesse retratar esta história ao mesmo tempo com liberdade e fidelidade à situação vivida por crianças nos campos de refugiados ao redor do mundo. Para isso, recebi dezenas de fotos dos trabalhos da Gabi em vários países e campos, e me baseei nelas para compor personagens e cenários.  A técnica utilizada foi tinta guache e lápis de cor sobre um papel de cor terrosa. Enquanto o guache apresenta cores vibrantes, o lápis de cor enriquece as ilustrações com textura.  Procurei manter formas simples nos desenhos: a ideia é de que todos possam reconhecer e se empatizar rapidamente pelas situações vividas por Nina e seus amigos – mesmo que estas realidades pareçam muito distantes.
 
22 de fevereiro de 2019
 
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Kapulana publica a obra infantil “Nina tem medo de palhaço”

O livro trata de um tema bastante recorrente no universo infantil: os medos das crianças e como lidar com eles

Em março, a Kapulana publica Nina tem medo de palhaço, obra infantil escrita pelo brasileiro Walter de Sousa e com ilustrações da artista Mariana Fujisawa. O livro trata de um tema bastante recorrente no universo infantil: os medos das crianças e como lidar com eles. Nina, a personagem título, passa a enfrentar seus medos após conhecer a palhaça Jurubeba.  A obra já está em pré-venda.

Em um ambiente indefinido – sem fronteira e sem espaço -, e além de abordar conteúdo sobre o medo na infância, a obra também abrange as questões sociais e políticas no mundo, como as crianças em situações de risco devido as condições dos refugiados na atualidade, fornecendo, assim, uma importante reflexão. Em um trecho, pode-se destacar a competente narrativa desenvolvida pelo autor, transformando em leitura fundamental para todas as idades:

– Você tem medo de alguma coisa? – perguntou Nina.
– Todo mundo tem medo. Até palhaça.
– Tem medo de ficar sem casa?
– Tenho medo de não poder mais dar risada.
Nina entendeu que rir era a casa de Jurubeba.

HOMENAGEM

O livro Nina tem medo de palhaço é uma homenagem ao trabalho social e cultural da palhaça brasileira Gabi Sigaud Winter, a Jurubeba, e de todas as palhaças e palhaços que divertem e confortam crianças pelo mundo todo, particularmente aquelas crianças em situação de risco, vulneráveis e que passaram por várias perdas, como as crianças de campos de refugiados. A obra também é uma homenagem aos Palhaços sem Fronteiras (Clowns without Borders International) organização que atua desde 1993.

15 de fevereiro de 2019

★★★

Saiba mais sobre a obrahttps://www.kapulana.com.br/produto/nina-tem-medo-de-palhaco/

Saiba mais sobre o autorhttps://www.kapulana.com.br/walter-sousa-jr/

Saiba mais sobre a ilustradorahttps://www.kapulana.com.br/mariana-fujisawa/

Saiba mais sobre a homenageadahttps://www.kapulana.com.br/gabi-sigaud-winter-palhaca-jurubeba/

Saiba mais sobre Palhaços sem Fronteirashttp://palhacossemfronteiras.org.br/?gclid=EAIaIQobChMImJz1_9y94AIViRCRCh0GFgQJEAAYASAAEgJzjfD_BwE

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Confira cinco curiosidades sobre o livro “O cão e os caluandas”, de Pepetela

A Kapulana destaca cinco curiosidades importantes sobre o seu próximo lançamento, a obra do premiado escritor angolano Pepetela

  1. PRIMEIRA PUBLICAÇÃO NO BRASIL: Clássico da literatura angolana, publicado originalmente em 1985 em Angola e Portugal, a obra é inédita no Brasil – em pré-venda – e conta com um maravilhoso projeto editorial da Kapulana, assim como uma incrível ilustração de capa feita pela artista Mariana Fujisawa, que explicou o seu processo para esta obra:

“A ilustração da capa foi feita com aquarela. As cores remetem à praia. Por cima da tinta foi utilizado sal, que em contato com a tinta absorve parte da umidade e cria texturas e manchas, além de novamente remeter ao mar. A imagem do cão foi feita em carvão, técnica que permite pouca definição. Isso foi pensado porque a figura do cão na obra é construída de forma fragmentada e difusa”.

  1. ORIGINALIDADE NA ESCRITA: Em mais um enredo singular da trajetória literária de Pepetela, a obra aborda as histórias em Luanda, capital de Angola, na década de 1980, e trazem episódios e anedotas sobre as andanças do cão que leva título da obra. Os relatos, coletados por um autor anônimo, contam as diversas versões da vida do cão, seus diferentes donos, e os muitos lugares por onde passou e onde foi visto. Em O cão e os caluandas, Pepetela faz uma análise profunda e crítica do período após a Independência de Angola.

 

  1. O AUTOR: Nascido em 1941, em Benguela, Angola, Pepetela é licenciado em Sociologia e trabalhou na representação do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Autor dos clássicos As aventuras de Ngunga (1973), Mayombe (1980), A geração da utopia (1992) e O quase fim do mundo (2008) – que também será publicado pela Kapulana -. Pepetela recebeu diversas homenagens literárias, como o Prêmio Camões, em 1997, um dos maiores da literatura, pelo conjunto da obra.

 

  1. SÉRIE VOZES DA ÁFRICA: A série nasceu de um projeto da Editora Kapulana para divulgar a literatura africana no Brasil. Com esse propósito, a fundadora da editora brasileira, que é doutora em Literatura e teve experiência como docente em Moçambique, passou a coordenar, a partir de 2015, a publicação de livros de origem africana. A série é composta por obras de ficção em prosa e poesia, dedicadas a crianças e a adultos. Já foram publicadas as obras de Ungulani Ba Ka Khosa, Luís Bernardo Honwana, Suleiman Cassamo, Noémia de Sousa, entre outros.

 

  1. LEIA UM TRECHO:

As cenas que se vão narrar passaram no ano de 1980 e seguintes, nessa nossa cidade de Luanda. No século passado, portanto. Século sibilino.

Peço esforço para compreenderem a linguagem, que é a da época em que aconteceram os casos. Os que conheceram o cão pastor-alemão deixaram os documentos escritos ou gravados, que me resumi a pôr em forma publicável. Foi preciso um inquérito rigoroso, muitas solas gastas, a procurar as pessoas e, sobretudo, convencê-las a falar, a escrever, ou a darem-me na candonga fotocópias de documentos. O pouco conseguido aí está. E ficou guardado muitos anos na gaveta, por promessa feita a alguns dos informadores benévolos. Hoje, passado tanto tempo, será difícil descobrir a maior parte dos narradores. Há pessoas mal intencionadas que só leem livros para neles encontrarem alusões a conhecidos. Mas aqui os segredos ficam resguardados. E mesmo os herdeiros não me podem vir exigir os direitos de autor, o que é uma vantagem.

Trata-se pois de estórias dum cão pastor-alemão na cidade de Luanda. Também se trata duma toninha, ser todo de espuma, algas como cabelos, que talvez só tenha vivido na minha cabeça. E na do cão, claro. Será mesmo só isso? Responda o leitor.

Mais previno que qualquer dissemelhança com fatos ou pessoas pretendidos reais foi involuntária.

Calpe, ano de 2002.

O autor.

 

1 de fevereiro de 2019

 

★★★

A obra: https://www.kapulana.com.br/produto/o-cao-e-os-caluandas/

O autor: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

Leia também – A crítica de Pepetela, por Tania Macêdo: https://www.kapulana.com.br/a-critica-de-pepetela-tania-macedo/

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Volta às aulas: Kapulana faz indicações de leituras para estudantes da pré-escola ao ensino universitário

A Editora Kapulana indica livros de seu catálogo para estudantes da pré-escola ao ensino universitário para o ano de 2019!

INDICAÇÕES DE LEITURAS DA KAPULANA

PRÉ-ESCOLA

  • Sonho da lua – Sílvia Bragança – poesia – infantil – Moçambique.
  • Viagem pelo mundo num grão de pólen e outros poemas – Pedro P. Lopes– poesia – inf. – Moçambique.

FUNDAMENTAL I

  • Clarinha e Berenice e o Dicionário do Inesperado – Carolina Mondin – Brasil (inf./bilíngue).
  • Contos de Moçambique (volumes de 1 a 10) (contos infantis ilustrados)
  • Kalimba – Maria Celestina Fernandes – Angola (infantil).
  • Kambas para sempre – Maria Celestina Fernandes – Angola (infantil).
  • O jovem caçador e a velha dentuça – Lucílio Manjate – Moçambique (infantil).
  • Serei sereia? – Kely de Castro – Brasil (infantil/ inclusão social) .
  • Sonho da lua – Sílvia Bragança – Moçambique (poesia – infantil).
  • Titus e as galinhas – Aurélio de Macedo – Brasil (infantil/bilíngue).
  • Viagem pelo mundo num grão de pólen e outros poemas – Pedro P. Lopes – Moçambique (poesia – infantil).

FUNDAMENTAL II

  • A triste história de Barcolino, o homem que não sabia morrer – Lucílio Manjate – Moçambique (novela).
  • Nós matamos o Cão Tinhoso! – Luís Bernardo Honwana – Moçambique (novela).

MÉDIO

  • Esperança para voar – Rutendo Tavengerwei – Zimbábue (romance).
  • Nós matamos o Cão Tinhoso! – Luís Bernardo Honwana – Moçambique (novela).
  • A triste história de Barcolino, o homem que não sabia morrer – Lucílio Manjate – Moçambique (novela).
  • O caso de Pedro e Inês: Inês(quecível) até o fim do mundo – Francisco M. Silveira – Brasil (poesia/cordel).
  • O domador de burros e outros contos – Aldino Muianga – Moçambique (contos).
  • A noiva de Kebera, contos – Aldino Muianga – Moçambique (contos).
  • Sangue negro – Noémia de Sousa – Moçambique (poesia).

UNIVERSITÁRIO

  • Perto do Fragmento, a totalidade:  olhares sobre a literatura e o mundo – Francisco Noa – Moçambique (ensaios).
  • Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador – Ungulani Ba Ka Khosa – Moçambique (romance).
  • O cão e os caluandas – Pepetela – Angola (romance).
  • Império, mito e miopia:  Moçambique como invenção literária – Francisco Noa – Moçambique (ensaios).
  • Uns e outros na literatura moçambicana – Francisco Noa – Moçambique (ensaios).
  • Pensando o cinema moçambicano: ensaios  – Carmen Lucia Tindó Secco – Brasil (ensaios).
  • O cão e os caluandas – Pepetela – Angola (novela). em pré-venda.

31 de janeiro de 2019.

Saiba mais sobre as obras: https://www.kapulana.com.br/catalogo/

Saiba mais sobre os escritores: https://www.kapulana.com.br/nossos-autores/

 

 

 

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Kapulana publica obra inédita no Brasil do premiado escritor angolano Pepetela

Em O cão e os caluandas, Pepetela faz uma análise profunda e crítica da situação do período após a Independência de Angola

Inédito no Brasil, o livro O cão e os caluandas, do consagrado escritor angolano Pepetela, narra os caminhos de um cão que, sucessivamente, é adotado por pessoas diferentes. A partir desse olhar do narrador, que revela as histórias das famílias que o adotam, o leitor passa a ter contato com o cenário histórico e político de Angola. O resultado é uma análise profunda e crítica da situação do período após a Independência de Angola. A obra já está em pré-venda e chega às livrarias na metade de fevereiro.

O livro, da série Vozes da África, criada pela Kapulana, aborda as histórias em Luanda, capital de Angola, na década de 1980, e trazem episódios e anedotas sobre as andanças do cão que leva título da obra, que invade desde passeatas até reuniões de sindicato, sempre lembrando ao leitor e os caluandas – palavra para designar os moradores de Luanda – deste pedaço do colonizador deixado para trás. Os relatos, coletados por um autor anônimo, contam as diversas versões da vida do cão, seus diferentes donos, e os muitos lugares por onde passou e onde foi visto. Há um poeta, uma prostituta, um funcionário público, um mecânico, diversas pessoas que conheceram o cão de alguma maneira.

Pepetela

Nascido em 1941, em Benguela, Angola, Pepetela é licenciado em Sociologia e trabalhou na representação do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Autor dos clássicos As aventuras de Ngunga (1973), Mayombe (1980), A geração da utopia (1992) e O quase fim do mundo (2008). Pepetela recebeu diversas homenagens literárias, como o Prêmio Camões, em 1997, um dos maiores da literatura, pelo conjunto da obra.

Série Vozes da África

A série “Vozes da África” nasceu de um projeto da Editora Kapulana para divulgar a literatura africana no Brasil. Com esse propósito, a fundadora da editora brasileira, que é doutora em Literatura e teve experiência como docente em Moçambique, passou a coordenar, a partir de 2015, a publicação de livros de origem africana. A série é composta por obras de ficção dedicadas a crianças e adultos.

29 de janeiro de 2019.

★★★

Saiba mais sobre a obra: https://www.kapulana.com.br/produto/o-cao-e-os-caluandas/

Saiba mais sobre o autor: https://www.kapulana.com.br/pepetela/

Leia – A crítica de Pepetela, por Tania Macêdo: https://www.kapulana.com.br/a-critica-de-pepetela-tania-macedo/

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Em parceria com a Kapulana, Biblioteca Mário de Andrade realiza clube de leitura da obra “O que acontece quando um homem cai do céu”, de Lesley Nneka Arimah

Encontro literário abordou a originalidade dos contos escritos pela autora 

Na última quarta-feira, 9 de janeiro,  a Biblioteca Mário de Andrade realizou o Clube de Prosa da Mário com o livro O que acontece quando um homem cai do céu, de Lesley Nneka Arimah, publicado pela Kapulana. Com mais de trinta leitores e leitoras, foram discutidos os doze contos que contemplam a obra, destacando a originalidade e a atualidade dos temas desenvolvidos pela autora. 

Em seu livro de estreia, Arimah desenvolve as diversas formas literárias que abrangem o insólito, a distopia, as memórias da guerra na Nigéria, as relações entre mãe e filha, a convivência humana com as tecnologias, a infância e o embate entre as tradições de seus familiares e o cotidiano na América, muitas vezes com uma visão afrofuturista. Lesley nasceu no Reino Unido, viveu na Nigéria e agora mora nos EUA. O livro fez parte das listas de “Melhores de 2018” nas mídias especializadas em literatura, como o “Suplemento Pernambuco”, a “CartaCapital” e o “Plano Crítico”.

★★★

Saiba mais sobre a escritora: https://www.kapulana.com.br/lesley-nneka-arimah/

Saiba mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/o-que-acontece-quando-um-homem-cai-do-ceu/

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Conheça os livros da Kapulana para 2019

O catálogo inclui autores angolanos, nigerianos, moçambicanos, zimbabuenses e brasileiros, como Pepetela, Akwaeke Emezi, Adelino Timóteo, Tsitsi Dangarembga, Walter Sousa Jr. e Marcelo Jucá

A Kapulana divulgou o seu calendário de publicações para 2019. O catálogo inclui autores angolanos, moçambicanos, zimbabuenses e brasileiros. Entre os títulos estão as obras O cão e os caluandas e O quase fim do mundo, ambas do consagrado autor angolano Pepetela, e o romance Cemitério dos pássaros, do moçambicano Adelino Timóteo. A editora também lançará duas obras infantis de autores brasileiros, com temáticas que abordam reflexões socais acerca de temas atuais: Nina tem medo de palhaço, de Walter de Sousa Júnior, e Ilha, de Marcelo Jucá – este, vencedor do concurso “Seja Nosso Autor”, promovido pela Kapulana.

Dando continuidade às publicações de autores africanos de língua inglesa – projeto que teve início em 2018 para o catálogo da editora -, a Kapulana prepara o livro Nervous conditions, da escritora e cineasta Tsitsi Dangarembga, do Zimbábue, premiado e classificado entre os 12 primeiros livros no ranking dos “100 Melhores Livros Africanos do Século XX”, e contemplado, em 2018, na lista da BBC de “100 Histórias que Formaram o Mundo”. A obra retrata a história da uma família Shona, durante o período pós-colonial, no Zimbábue (Rodésia, antes da independência). O aclamado Freshwater, de Akwaeke Emezi, da Nigéria, utiliza uma linguagem crua e, ao mesmo tempo, sensível, a obra celebra a possibilidade do ser múltiplo, os muitos “eus” que podem existir dentro de qualquer um. Já em Minha irmã, a serial killer, Oyinkan Braithwaite, também da Nigéria, conta uma história ao mesmo tempo bem-humorada e assustadora sobre duas irmãs com temperamentos e atitudes bem diferentes uma da outra.

Leia as sinopses de cada obra: https://www.kapulana.com.br/proximos-lancamentos/?mc_cid=44f2daace9&mc_eid=d9a246dbcb

Conheça os autores: https://www.kapulana.com.br/nossos-autores/

Saiba mais sobre a Editora Kapulana: https://www.kapulana.com.br/a-editora/

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Editora Kapulana traz mais uma vez ao Brasil o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa para lançamento de novo livro sobre o imperador Gungunhana

O premiado escritor moçambicano esteve em novembro no Brasil para lançar seu novo livro e participar de diversos eventos culturais e acadêmicos no país

O premiado escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa esteve em novembro no Brasil para realizar o lançamento de seu novo livro Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador, publicada pela Editora Kapulana, além de participar de eventos pelo país onde conversou sobre a sua trajetória literária. O autor passou pelas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Salvador.

O livro é composto por duas obras em um só volume. As duas obras têm o imperador Gungunhana como elo. Na primeira história, publicada em 1987, Ualalapi, classificado em rancking internacional entre “os 100 melhores romances africanos do século XX”, conta a história de Gungunhana, de sua ascensão à sua queda. Na segunda história, As mulheres do Imperador (2018), Ungulani traz de volta a mesma personagem Gungunhana, mas as protagonistas são suas mulheres, que são separadas do Imperador no exílio e retornam a Moçambique após quinze anos de isolamento.

Em São Paulo

Na Universidade de São Paulo (USP), em 5 de novembro, seu primeiro encontro no país, o escritor compartilhou com o público, durante a programação do “XVIII Encontro de Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa”, a sua carreira na escrita literária e a nova edição de Ualalapi, obra bastante estudada no país. O encontro contou com a participação da diretora da Kapulana, Rosana Weg, que explicou o processo editorial do novo volume, e da pesquisadora Jaqueline Kaczorowski, que conversou com o autor sobre Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador. Segundo Ungulani:

“A literatura tem dessas pretensões de não moralizar os personagens que escolhemos, torna-se importante socializar essas figuras histórias. A minha vontade foi tentar deixar o Gungunhana mais humano. Já em “As mulheres do Imperador” eu quis encontrar o ponto certo e entrar naquele universo. O escritor escolhe um enredo e entrega o resultado de corpo e alma”.

Na Blooks Livraria, do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, na noite do dia 12 de novembro, o autor bateu um papo com o jornalista e crítico literário Rodrigo Casarin. Durante a conversa, Ungulani destacou a homenagem que prestou às esposas de Gungunhana, e a todas as mulheres, em sua mais recente obra:

“Foi uma ideia que eu vinha tendo ultimamente e, de repente, enxerguei um tema que dá para eu tratar sobre isto. Procurei por documentos sobre elas e não encontrei nada. Anos depois recebi alguns documentos se tratando do exílio delas em São Tomé, capital de São Tomé e Príncipe, e, à medida que fui analisando, percebi o papel secundário que a História renega às mulheres”.

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Campinas-SP, no dia 14 de novembro, Ungulani esteve com estudantes de diversos cursos, inclusive estudiosos de suas obras. O encontro foi organizado pelo GELCA – Grupo de Estudos de Literaturas e Culturas Africanas e mediado pela Profa. Dra. Elena Brugioni. Contou com as presenças da pesquisadora Natasha Magno e da diretora da Kapulana, Rosana Weg.

Ainda em São Paulo, em 23 de novembro, Ungulani Ba Ka Khosa participou de mesa de debate no “II Seminário A língua portuguesa na educação, na literatura e na comunicação”, promovido pela CPCLP, Comissão para a Promoção de Conteúdo em Língua Portuguesa, da Câmara Brasileira do Livro (CBL), realizado no Sesc – Centro de Pesquisa e Formação. Participaram do bate-papo o escritor moçambicano e a premiada escritora brasileira Maria Valéria Rezende, sob a mediação da escritora e jornalista Josélia Aguiar. Os convidados debateram com o público presente sobre sua produção literária, sua experiência em educação, e também sobre as principais influências culturais e literárias em suas obras. Na ocasião, Ungulani realizou o lançamento, com sessão de autógrafos, da edição brasileira de Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador.

No Rio de Janeiro

Na cidade carioca, Ungulani Ba Ka Khosa, participou de dois eventos organizados para a sétima edição da Festa Literária das Periferias, FLUP, realizada no Cais do Valongo.

Em 7 de novembro, na Flup Parque, Ungulani conversou com alunos do ensino fundamental da região sobre o seu processo de desenvolvimento do livro infantil O rei mocho – que faz parte da série Contos de Moçambique, publicada pela Kapulana -, assim como sobre sua experiência como educador.

Em 9 de novembro, na Flup, realizou o lançamento nacional da obra Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador e compartilhou a sua experiência literária ao lado dos pesquisadores e escritores brasileiros Tom Farias e Djamila Ribeiro. Em uma noite de teatro cheio, Ungulani destacou a importância da literatura no país moçambicano:

“A literatura tem desempenhado o papel de recuperar a memória, porque a memória é uma amnésia em nosso país. As elites que nascem no nosso continente muitas vezes se afastam de seu chão cultural. Desta forma, as jovens gerações perdem as suas ancestralidades. No entanto, para encontrá-los e trazê-los de volta para a nossa cultura, eu faço por meio da literatura. E se não consigo desta maneira, acabo não sendo ninguém para este mundo”

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou de vários encontros sobre literatura e cinema de Moçambique, em seminário organizado pela Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco: “Literaturas Africanas & Cinema & História: olhares múltiplos, perspectivas críticas, leituras cruzadas”:

Em 21 de novembro, debate e lançamento do livro de ensaios organizado da Profa. Carmen L. T. Secco, publicado pela Editora Kapulana: Pensando o cinema moçambicano – ensaios.

Em 22 de novembro, debate e lançamento do livro da Kapulana, Gungunhana: Ualalapi e as Mulheres do Imperador, seguido de sessão de autógrafos.

Recebido por estudantes, professores, pesquisadores de sua obra literária e da cultura moçambicana em geral, Ungulani conversou sobre o seu processo criativo em geral e sobre a obra Ualalapi (1987), e sobre sua mais recente obra As mulheres do imperador (2018), juntas agora na edição brasileira da Kapulana.

Em Salvador

Em sua 13ª edição, a já tradicional “Balada Literária” convidou o escritor Ungulani Ba Ka Khosa para a sua programação realizada em Salvador (BA).

Em 17 de novembro, na Casa do Benin, no Pelourinho, o escritor moçambicano participou da mesa “Sei dos caminhos – Moçambique e Brasil”, ao lado dos professores e escritores Nelson Maca, também curador da Balada na Bahia, Wesley Correia e Rodrigo Dultra. Ungulani falou sobre o seu processo criativo e da sua paixão pela Literatura. Depois da conversa, o escritor moçambicano lançou Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador.

O escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa ainda visitou livrarias brasileiras, no Rio e em São Paulo, onde seus livros estão à venda. Lá encontrou os livros publicados pela Kapulana no Brasil: O rei mocho, Orgia dos Loucos e o mais recente Gungunhana. Nessas visitas, os profissionais do livro tiveram a oportunidade rara de conhecer pessoalmente um grande escritor de ficção moçambicana.

São Paulo, 27 de novembro de 2018.

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FOTOS das atividades:

SÃO PAULO

05/11/2018 – Encontro com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa na USP, em São Paulo, SP.

https://www.kapulana.com.br/05-11-2018-encontro-com-o-escritor-mocambicano-ungulani-ba-ka-khosa-na-usp-em-sao-paulo-sp/

12/11/2018 – Resistência na Literatura: bate-papo com Ungulani Ba Ka Khosa, na Blooks Livraria, em São Paulo, SP.

https://www.kapulana.com.br/12-11-2018-resistencia-na-literatura-bate-papo-com-ungulani-ba-ka-khosa-na-blooks-livraria-em-sao-paulo-sp/

14/11/2018 – Encontro com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, na Unicamp, Campinas, SP.

https://www.kapulana.com.br/14-11-2018-encontro-com-o-escritor-mocambicano-ungulani-ba-ka-khosa-na-unicamp-sp/

23/11/2018 – Lançamento de Gungunhana: Ualalapi e as Mulheres do Imperador, de Ungulani Ba Ka Khosa, no Sesc Centro de Pesquisa e Formação, em São Paulo, SP.

https://www.kapulana.com.br/lancamento-de-gungunhana-ualalapi-e-as-mulheres-do-imperador-de-ungulani-ba-ka-khosa-no-sesc-centro-de-pesquisa-e-formacao-em-sao-paulo-sp/nggallery/page/1

 

RIO DE JANEIRO

22/11/2018 – Lançamento de Gungunhana: Ualalapi e as Mulheres do Imperador, de Ungulani Ba Ka Khosa, na UFRJ, Rio de Janeiro, RJ.

https://www.kapulana.com.br/lancamento-e-sessao-de-autografos-do-livro-gungunhana-de-ungulani-ba-ka-khosa-na-ufrj-rj/

 

SALVADOR

17/11/2018 – Ungulani Ba Ka Khosa na Balada Literária de Salvador, BA.

https://www.kapulana.com.br/ungulani-ba-ka-khosa-na-balada-literaria-de-salvador-ba/

 

VÍDEOS com o escritor:

Flup Parque (07/11/2018) – Rio de Janeiro, RJ

https://www.facebook.com/FlupRJ/videos/345874612637916/

FLUP (09/11/2018) – Rio de Janeiro, RJ

https://www.facebook.com/FlupRJ/videos/vl.1966763803623029/2109192102465286/?type=1

https://www.facebook.com/FlupRJ/videos/vl.319463598867952/254753368535403/?type=1

 

ENTREVISTAS E LEITURAS de texto com o autor, para a Editora Kapulana, São Paulo, SP.

Entrevista: https://www.kapulana.com.br/uma-entrevista-com-ungulani-ba-ka-khosa-autor-de-gungunhana-ualalapi-as-mulheres-do-imperador/

Entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=ZI-PMk9HrA4&t=8s

Leitura de trechos: https://www.youtube.com/watch?v=2X_t52b4xwA

 

ARTIGOS E MATÉRIAS sobre a obra:

Por Rita Chaves (Profa. da USP): https://www.kapulana.com.br/ualalapi-a-narrativa-e-os-ciclos-por-rita-chaves/

Por Carmen Lucia Tindó Secco (Profa. da UFRJ): https://www.kapulana.com.br/as-mulheres-do-imperador-entrelaces-de-historias-e-estorias-por-carmen-l-tindo-secco/

Por José dos Remédios (jornalista de Moçambique): https://www.kapulana.com.br/a-degradacao-da-personagem-em-gungunhana-por-jose-dos-remedios/

Jornal O GLOBO (RJ): Destaques culturais na Semana da Consciência Negra: https://oglobo.globo.com/cultura/selecionamos-destaques-culturais-na-semana-da-consciencia-negra-23244197

SOBRE OS LIVROS DO AUTOR publicados pela Kapulana:

Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador: https://www.kapulana.com.br/produto/gungunhana-ualalapi-as-mulheres-do-imperador/

O rei mocho: https://www.kapulana.com.br/produto/o-rei-mocho-1-contos-de-mocambique/

Orgia dos loucos: https://www.kapulana.com.br/produto/orgia-dos-loucos/

 

SOBRE O AUTOR: https://www.kapulana.com.br/ungulani-ba-ka-khosa/

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Kapulana publica o livro “Um dia vou escrever sobre este lugar”, do escritor queniano Binyavanga Wainaina

Binyavanga entrelaça suas memórias de infância, adolescência e vida adulta à história contemporânea do continente africano

A Kapulana publica em novembro um dos livros mais aguardados do ano, a obra Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina. E para celebrar este incrível livro, a editora realizou uma parceria com a TAG – Experiências Literárias para as primeiras vendas dos exemplares.  A obra estará à venda na TAG Loja do período de 5 a 25 de novembro. No site da Kapulana e nas livrarias, o livro estará à venda a partir de 26 de novembro

Em Um dia vou escrever sobre este lugar, Binyavanga entrelaça suas memórias de infância, adolescência e vida adulta à história contemporânea do continente africano. Utilizando referências políticas, da cultura africana e da cultura popular mundial, o autor nos apresenta as constantes transformações acontecidas em países como Quênia, África do Sul, Uganda, Gana e Togo, a partir de seu próprio crescimento e amadurecimento como pessoa e, principalmente, escritor e constante observador do mundo ao seu redor.

Fascinado pelas diversas linguagens humanas, de palavras ao corpo, Binyavanga descreve, na obra, as diversas nuances e facetas de uma África gigante, complexa, mal compreendida, presenteando os leitores com histórias, acontecimentos e anedotas contadas com um olhar de dentro que não se pauta pelo externo, que não quer acomodar visões e conceitos restritos sobre África, mas, sim, explodi-los, para dar lugar a uma rica constelação de pessoas, impressões, línguas, costumes e situações, utilizando a própria vida, seus percalços, sua história para afogar ideias pré-concebidas e constantemente disseminadas sobre o continente africano.

A edição da Kapulana, traduzida por Carolina Kuhn Facchin, contém, ainda, o que o autor considera como um “capítulo perdido” de suas memórias, chamado “Mãe, eu sou homossexual”, publicado em 2014, três anos após o livro original. No texto, Binyavanga reinventa como teriam sido os últimos momentos de vida de sua mãe se ele tivesse viajado até o Quênia para estar com ela, e lhe contado que é um homem gay. Com muita sensibilidade, ele nos apresenta uma vida de autoconsciência mas, também, de restrição, devido ao medo, à vergonha e a profundas amarras culturais.

Em depoimento sobre o livro, o célebre escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o destacou:

“Wainaina é um cantor e pintor de palavras. Ele faz você cheirar, escutar, tocar, ver e, acima de tudo, sentir o drama e as vibrações da vida abaixo da superfície capturada de forma brilhante e concreta do Quênia e da África”.

Para a cantora e compositora Ellen Oléria, que assina o texto de orelha da versão brasileira da obra:

“em um dia vou escrever sobre este lugar pregamos e liberamos cada passo numa teia diversa de povos, costumes, idiomas de uma áfrica múltipla em visões e memórias que falam com a verdade da autonomia, da conexão ancestral, da força de laços e rompimentos”.

Um dia vou escrever sobre este lugar é uma admirável leitura sobre o retrato reflexivo de um momento recente da história da África, pela perspectiva criativa de Binyavanga, onde a linguagem é o mote fundamental para a composição destas memórias afetivas e atenciosas, dialogando com cultura pop e tradições africanas. Uma obra mais que necessária para acompanhar a profunda jornada das sensações marcantes da escrita de um dos autores mais geniais da literatura deste começo de século.

Conheça o catálogo da Kapulanahttps://www.kapulana.com.br/catalogo/

 

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Premiado escritor moçambicano, Ungulani Ba Ka Khosa vem ao Brasil lançar a obra “Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador”

O autor moçambicano participa de mesas de conversas nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Salvador, além de realizar sessões de autógrafos de sua recente obra publicada pela Kapulana

O premiado escritor moçambicano virá ao Brasil em novembro para realizar o lançamento de sua obra Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador, publicada pela Editora Kapulana, além de participar de eventos pelo país sobre a sua trajetória literária. O autor estará presente nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Salvador.

O livro Gungunhana é composto por duas obras em um só volume. As duas obras têm o imperador Gungunhana como elo. Na primeira história, publicada em 1987, Ualalapi recebe a missão de matar o rei Mafename, a mando de seu próprio irmão Ngungunhane (Gungunhana) que se torna, assim, o imperador de Gaza. Este imperador é famoso pela resistência que opôs aos portugueses nos finais do séc. XIX, mas a narrativa revela que Ngungunhane era um homem cruel e violento, um tirano para o seu povo. Eleito um dos cem melhores romances africanos do século XX, conta a história de Gungunhana de sua ascensão até sua queda. Na segunda história, As mulheres do Imperador (2018), Ungulani Ba Ka Khosa traz de volta a mesma personagem Gungunhana, mas as protagonistas são suas mulheres, que acompanham o Imperador ao exílio e retornam a Moçambique após quinze anos de isolamento.

Em depoimento para a editora, Ungulani destacou o seu trabalho de pesquisa histórica e a realização de escrita de suas obras:

“Quando escrevo, deixo-me levar pelo texto, pelos personagens. Não tenho um guião à priori. O tema do livro dá-me a estrutura e o movimento dos personagens. O que me ficou dos tempos de aprendizagem, ou seja, o meu mote, foi o de construir uma narrativa que tivesse por base os movimentos do cavalo: passo, trote e galope. Quero que o texto vibre como os tambores que ressoam pela noite adentro na savana tropical. O resto não me interessa”.

<https://www.kapulana.com.br/uma-entrevista-com-ungulani-ba-ka-khosa-autor-de-gungunhana-ualalapi-as-mulheres-do-imperador/>

Com uma longa trajetória literária, o autor e também professor, em 2018 recebeu o Prêmio de Literatura José Craveirinha, um dos maiores da área literária de Moçambique. Foi também condecorado, pelo Governo do Brasil, com o grau de comendador ao receber a “Ordem de Rio Branco”.  

Ungulani participará no Brasil de encontros culturais e universitários, assim como de conversas com o público sobre o seu processo criativo e a pesquisa para a elaboração da história de uma das  figuras simbólicas de Moçambique: Gungunhana.

Confira abaixo a agenda de Ungulani Ba Ka Khosa no Brasil:

SÃO PAULO – SP

5 de novembro, segunda-feira – 19h30

LANÇAMENTO DO LIVRO GUNGUNHANA na

Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Letras, no

XVIII Encontro de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.

Mesa: “Encontro com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa”

Mediação: Profa. Dra. Tania Macedo (USP)

 

12 de novembro, segunda-feira – 19h00

LANÇAMENTO DO LIVRO GUNGUNHANA na

Blooks Livraria (Shopping Frei Caneca)

Mesa: “Resistências literárias” – Bate-papo com Ungulani Ba Ka Khosa

Mediação: Rodrigo Casarin, jornalista e editor do blog literário “Página Cinco”, do UOL

 

14 de novembro, quarta-feira (cidade de Campinas) – 15h

LANÇAMENTO DO LIVRO GUNGUNHANA na

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)/ IEL

“Encontro com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa”

Mediação: Profa. Dra. Elena Brugioni

 

23 de novembro, sexta-feira – 10h30

LANÇAMENTO DO LIVRO GUNGUNHANA no

SESC – Centro de Pesquisa e Formação, durante o

II Seminário “A língua portuguesa na educação, na literatura e na comunicação”

Mesa: “Brasil e Moçambique: leituras, influências e produção literária”, ao lado da premiada escritora Maria Valéria Rezende

Mediação: Josélia Aguiar, jornalista e escritora

 

RIO DE JANEIRO – RJ

7 de novembro, quarta-feira – 10h40

ENCONTRO LITERÁRIO NA FLUP PARQUE (Festa Literária das Periferias)

Mesa: “Encontro literário: música e literatura”, ao lado de Carlos Carvalho

Mediação: Janine Rodrigues, professora e escritora

 

9 de novembro, sexta-feira – 18h00

LANÇAMENTO DO LIVRO GUNGUNHANA na Flup (Festa Literária das Periferias)

Mesa: “Nossos passos vêm de longe”,  ao lado da escritora e pesquisadora Djamila Ribeiro e do escritor e biógrafo Tom Farias.

Mediação: Thiago Ansel, professor e escritor

 

21 de novembro, quarta-feira – 15h25

Participação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Faculdade de Letras, no evento

“Literaturas Africanas & Cinema & História: olhares múltiplos, perspectivas críticas, leituras cruzadas”

Debate sobre o filme O silêncio da mulher, do cineasta moçambicano Gabriel Mondlane

 

22 de novembro, quinta-feira – 15h25

LANÇAMENTO DO LIVRO GUNGUNHANA na

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Faculdade de Letras, no evento

Mesa de debate sobre o livro com:

Profa. Dra. Rita Chaves (USP)

Profa. Dra. Carmen L. T. Secco (UFRJ)

Rosana M. Weg (Mediadora – Ed. Kapulana)

 

SALVADOR – BA

Balada Literária

(Ainda em desenvolvimento)

 

São Paulo, 31 de outubro de 2018.

 

LINKS

Saiba mais sobre o autor: http://kapulana.com.br/ungulani-ba-ka-khosa/

Saiba mais sobre “Gungunhana: Ualalapi | As mulheres do Imperadorhttp://kapulana.com.br/produto/gungunhana-ualalapi-as-mulheres-do-imperador/

Saiba mais sobre “Orgia dos loucos”: http://kapulana.com.br/produto/orgia-dos-loucos/

Saiba mais sobre “O rei mocho”: http://kapulana.com.br/produto/o-rei-mocho-1-contos-de-mocambique/

Leia – “A degradação da personagem em Gungunhana – por José dos Remédios”: https://www.kapulana.com.br/a-degradacao-da-personagem-em-gungunhana-por-jose-dos-remedios/

Leia – “As Mulheres do Imperador: Entrelaces de Histórias e Estórias – por Carmen L. Tindó Secco”: https://www.kapulana.com.br/as-mulheres-do-imperador-entrelaces-de-historias-e-estorias-por-carmen-l-tindo-secco/

Leia – “Ualalapi: a narrativa e os ciclos – por Rita Chaves”: https://www.kapulana.com.br/ualalapi-a-narrativa-e-os-ciclos-por-rita-chaves/

Leia – “Escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa é condecorado pelo Brasil com a Ordem de Rio Branco”: https://www.kapulana.com.br/escritor-mocambicano-ungulani-ba-ka-khosa-e-condecorado-pelo-brasil-com-a-ordem-de-rio-branco/

Leia – “Orgia dos Loucos: Moçambique sem saída de emergência – por Vanessa Ribeiro Teixeira”: https://www.kapulana.com.br/orgia-dos-loucos-mocambique-sem-saida-de-emergencia-por-vanessa-ribeiro-teixeira/

Leia – “A instabilidade social em O rei mocho, de Ungulani Ba Ka Khosa – por José dos Remédios”: https://www.kapulana.com.br/a-instabilidade-social-em-o-rei-mocho-de-ungulani-ba-ka-khosa-por-jose-dos-remedios/

 

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Ualalapi: a narrativa e os ciclos – por Rita Chaves

Publicado pela primeira vez em 1987, Ualalapi permanece mobilizando corações e mentes à volta de debates que, entre outros aspectos, exprimem a dinâmica histórica de Moçambique, um país atravessado por muita instabilidade e uma grande capacidade de resistir. A longa noite colonial, a difícil luta pela independência, os sucessivos conflitos que vêm atravessando décadas e a intensa pobreza que quase inviabiliza a vida de seus habitantes têm como contraface uma notável pluralidade cultural e uma imensa vocação para se reinventar.  Ungulani Ba Ka Khosa, o autor dessa narrativa e muitos outros títulos, inscreve-se nesse contexto, procurando de diversas maneiras balançar qualquer cordão de isolamento erguido para separar as tintas e disciplinar as cores. Sua opção ao longo dos anos tem sido o caminho da insubmissão no exercício de uma escrita que se demarca de versões cristalizadas pelo discurso hegemônico.

Reeditado entre nós em muito boa hora pela Kapulana, Ualalapi é um bom exemplo desse desassossego que marca o itinerário do autor em sua circulação pelos gêneros literários e em seu compromisso com os modos de ler a História enfrentando  com energia os perigos de sua petrificação. Mesmo a afirmação que escolhe como epígrafe “A História é uma ficção controlada”, colhida à romancista portuguesa Agustina Bessa Luís, em sua narrativa convida à discussão. Em um momento pulsante da vida do recém-fundado país, Ungulani vai buscar uma figura histórica escolhida pelo novo poder para ser uma espécie de mito fundador da nacionalidade e investe no desvendamento das contradições dessa hipótese que o discurso político elegia. Nas páginas em que desfilam passagens decisivas da vida de Gungunhana, o sentido da resistência desse imperador que lutou bravamente contra a invasão colonial é emoldurado pelas cenas que nos trazem as invasões protagonizadas pelo próprio na expansão de seu império.

Uma espécie de convulsão percorre o tempo captado, levando-nos logo à desmitificação da ideia de harmonia que ainda frequenta o imaginário sobre o período pré-colonial e exporta uma equivocada ideia do continente. Contaminada pela violência dos fatos, a escrita se apoia em expressões fortes, reveladoras da dimensão dos conflitos que estavam no cotidiano daquele espaço. Se, por um lado, dilui-se o mito da paz harmônica entre os africanos antes da chegada dos invasores, por outro lado, as ações revelam o africano como sujeito ativo, desfazendo a noção de passividade que a literatura colonial desejou perpetuar. Aqui, não nos vemos diante de elementos do cenário  – como podemos encontrar até mesmo em textos paradigmáticos do cânone ocidental – mas de homens em confronto com adversários. E, ao perderem, pagam o alto preço da derrota. São de qualquer forma, homens inteiros, empenhados em suas lutas, agentes de sua própria história.

As notas da originalidade que tocam o enredo são amplificadas na estrutura da obra que se nutre de elementos variados, que vão da incorporação de passagens bíblicas ao aproveitamento de provérbios africanos, propondo um diálogo refratário à rigidez de limites entre os vários patrimônios culturais que constroem Moçambique no presente. A montagem dos fragmentos aponta para um desenho peculiar que barra, à partida, a rápida identificação de um gênero literário. Assim, em sua interdependência, as partes que compõem o todo, combinam-se em sua autonomia e nos fazem indagar se o que nos apresenta é  um romance ou um conjunto de contos, questão que não precisa ser respondida e aguça o interesse da obra, pois nos coloca de frente para a reinvenção de modelos estéticos, compromisso com que os escritores africanos têm lidado e do qual desdobram-se diferentes soluções. A presença de matrizes da oralidade é apenas uma das chaves para esse processo que resulta na mesclagem entre bens de raiz e valores trazidos com a colonização.

A desmitificação de um dos heróis sagrados pela História que a voz dominante da independência quer disseminar exprime-se na força de uma escrita hiperbólica, que, em certa medida, reforça a função conativa e espelha um desejo de convencimento. Desse modo, insinua-se a disputa de versões presentes na construção da narrativa histórica que dá corpo ao discurso da nacionalidade. A pluralidade etno-linguística, por um lado, a ocupação recente do território colonial e, consequentemente, a tardia definição do mapa moçambicano explicam a instabilidade do terreno, no plano físico e no domínio cultural, tudo  a projetar-se em uma linguagem carregada de energias. Na voz do narrador e nas falas das personagens se fazem notar sinais de uma inegável aspereza refletida na escrita por uma adjetivação empenhada em banir qualquer hipótese de estabilidade.

Ao trazer as pontas de uma história constituída sobre abalos, o escritor busca demonstrar os limites de medidas que não considerem a profundidade das fendas que os tempos impuseram ao espaço que hoje é Moçambique.  Em 1985, após uma longa negociação com instituições portuguesas, o governo do país independente recupera o que seriam as cinzas de Gungunhana e, ao transportá-las solenemente de volta à terra da qual ele foi levado como símbolo da conquista colonial, pretende consagrá-lo entre os heróis da libertação. A reorganização da memória coletiva centrada na revisão de verdades plantadas pela dominação estrangeira integrava o programa da FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique, em evidente coerência com o projeto de nacionalidade que a independência animava. Ao escrever Ualalapi, seu autor, sem dúvida, mostra-se atento a uma das funções da literatura: a de colocar em causa a horizontalidade das narrativas políticas e, assim, manter aceso o debate que atesta a vivacidade das questões éticas e a necessidade de projetos estéticos capazes de acusar a transitoriedade de pensamentos que se querem únicos e definitivos. Penetrando na linguagem, a noção de descontrole parece dominar a atmosfera para sugerir a iminência de novos ciclos, afinal, como evocaria outro escritor africano, o angolano Pepetela em A geração da utopia: “só os ciclos são eternos”. Se é verdade que a nação precisa de monumentos, e a história de todos os países não nos brinda com exemplos contrastantes, Ungulani Ba Ka Khosa nos recorda que a literatura só faz sentido como movimento, compromisso que ele tem abraçado ao longo de uma já extensa travessia.

Maputo, 23 de julho de 2018.

Rita Chaves é Professora Doutora do Depto. de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (FFLCH-USP) e pesquisadora do CELP-FFLCH-USP (Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa – FFLCH-USP). É colaboradora da Editora Kapulana. 

Citar como:

O ARTIGO:
CHAVES, Rita. “Ualalapi: a narrativa e os ciclos”. In: KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador. São Paulo: Kapulana. 2018. [Série Vozes da África]. Disponível em:<https://www.kapulana.com.br/ualalapi-a-narrativa-e-os-ciclos-por-rita-chaves/>

O LIVRO:
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador. São Paulo: Kapulana. 2018. [Série Vozes da África] 

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As Mulheres do Imperador: Entrelaces de Histórias e Estórias, por Carmen L. Tindó Secco

Ao reunir em um só volume, sob o título Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do imperador, dois romances em torno de Ngungunhane, o imperador de Gaza, o escritor Ungulani Ba Ka Khosa propõe uma desconstrução crítica da controvertida figura do imperador, tão contestada pelo colonialismo, quanto louvada pelos que lutaram pela independência de Moçambique. Trinta anos separam a publicação dessas duas narrativas – Ualalapi (1987) e As Mulheres do Imperador (2017) –, o que possibilita um distanciamento capaz de propiciar uma leitura questionadora de dois significativos momentos históricos moçambicanos: o do poder e queda, em 1895, de Ngungunhane – abordados em Ualalapi – e o da história de Moçambique colonial do início do século XX, ficcionalmente narrada pelo romance mais recente, a partir das vidas das viúvas do imperador, após o retorno delas do exílio, em 1911.

Ungulani, ao principiar As Mulheres do Imperador com instigantes epígrafes sobre a memória, traz à discussão a polivalência do conceito de “verdade histórica”, ratificando quão ambivalentes são tais “verdades”, uma vez deslizarem, constantemente, entre o real e o ficcional. Deixa evidente que muito depende dos olhares dos leitores, de sua capacidade hermenêutica, a construção das “verdades históricas”, levando-se em consideração inexistirem pontos de vista únicos. Memória e esquecimento fazem parte da “oficina da história” e de sua relação com a literatura, a geografia, a etnografia e com outras ciências e artes.

As histórias e estórias do imperador de Gaza e de suas mulheres, com compassados movimentos, são tecidas por um discurso literário aberto a múltiplas “verdades”. As sete mulheres de Ngungunhane – Phatina, Malhalha, Namatuco, Lhésipe, Fussi, Muzamussi e Dabondi –, aquando da queda do imperador, foram, em 1896, exiladas junto com este para Lisboa e, depois, para os Açores. Diferentemente de Ngungunhane que aí foi mantido até sua morte em 1906, as mulheres, forçadas a deixarem os Açores, seguiram para novo exílio em São Tomé, onde viveram até 1911, ocasião em que conseguiram regressar a Lourenço Marques. Entretanto, das sete mulheres só quatro – Phatina, Malhalha, Namatuco, Lhésipe – voltaram a Moçambique, acompanhadas de Oxaca e Debeza, estas mulheres de Zilhalha, súdito de Ngungunhane.

A narrativa de As Mulheres do Imperador começa, justamente, com esse retorno das quatro mulheres de Ngungunhane a Lourenço Marques. Decorridos quinze anos fora de terras moçambicanas, regressaram a bordo do paquete África a um Moçambique colonial, pressionado, ao mesmo tempo, por interesses portugueses e capitais ingleses. Essas mulheres, segundo entrevista do próprio escritor Ungulani Ba Ka Khosa, “queriam regressar à terra, mas não sabiam que a terra se chamava Moçambique. Para elas, Moçambique nunca existiu, existia apenas o império de Gaza em que tinham vivido[1]”. 

O narrador vai delineando a cartografia da cidade de Lourenço Marques, nas primeiras décadas do século XX, sob o jugo do colonialismo português. Ele vai mostrando como os espaços eram demarcados: o dos brancos, o dos negros, o dos orientais – indianos e chineses – com suas especiarias e cheiros, o da prostituição – a Rua Araújo, conhecida como “Rua do Pecado”, onde, no início do colonialismo, só brancas e mestiças podiam oferecer seus corpos a marujos de diferentes nacionalidades. À medida em que narra, vai apreendendo, também, referências culturais da época, ressaltando, entre outras, a importância do bilinguismo do jornal O Africano, dos irmãos Albasini.

Tais cartografias expressam contradições não só espaciais, como de classe, gênero e poder. Cartografias que nos dizem de margens, de mulheres que, embora rainhas, se encontravam, em suas culturas, nas franjas do domínio masculino, mas que conseguiram fugir dos limites e, pelas fronteiras do poder, provocaram, de alguma forma, rupturas em relação às cristalizações sociais impostas.

O regresso das mulheres do imperador a Lourenço Marques leva o olhar atento do narrador a descrever o cenário que elas encontraram: uma cidade cindida, conforme observa o escritor Ungulani na entrevista já mencionada:

Havia, na altura, a estrada da Circunvalação, que dividia a parte branca da negra – parte branca, é como quem diz, porque existia uma grande comunidade chinesa e indiana que ocupava uma grande parte da cidade. E aqueles conflitos, no primeiro ano da República [portuguesa], em 1911, retratam um pouco isso. E depois havia a parte negra, que era do outro lado, onde elas sentem que estão de regresso à terra que é o espaço delas modificado[2]

Chamando atenção para a pujança da cidade colonial, com seu desenvolvimento, suas diversidades, sua economia, seus usos, costumes e, também, para muitos preconceitos e estereótipos, a instância narracional vai, criticamente, evidenciando a oposição existente entre o passado de poder do imperador – denominado o “Leão de Gaza” –, entendido como tempo da barbárie, e a colonização lusitana, compreendida como engenho e acesso à civilização.

Também são assinaladas no romance contradições percebidas a partir de atitudes e práticas exercidas pelas mulheres de Ngungunhane, principalmente, após sua morte. Nos comportamentos destas são depreendidos jogos de poder, questões étnicas, desejos, novos interesses. Phatina, Malhalha, Namatuco, Lhésipe choram e recordam Ngungunhane. Debatem e se perguntam: que futuro teriam sem seu rei, elas que foram rainhas de um vasto império? Recorrendo às tradições, Namatuco, por meio de adivinhações dos espíritos ao redor do canhoeiro, vaticina acerca dos papéis e da vida de outras mulheres do imperador. O narrador, por meio de referências a documentos históricos, vai mencionando, com olhar crítico, a África dos colonizadores; a do governador-geral Mouzinho de Albuquerque, responsável pela prisão e exílio de Ngungunhane; a de Ayres d’Ornellas, militar português que empreendeu campanhas contra o imperador de Gaza e escreveu Cartas de África; a África dos relatórios e decisões dos que dominam. Mostra, não obstante, a partir do ponto de vista das viúvas do imperador, que existia uma outra África, misteriosa e profunda, a África de Namatuco, com suas crenças e profecias animistas.

O poder, emanado da figura autoritária e tirana de Ngungunhane, vai sendo, desse modo, subvertido pelos discursos e atitudes de suas mulheres. A instância narradora assinala a soberania masculina, porém, ao mesmo tempo, insinua como o feminino, por vezes, foi capaz de burlar o domínio másculo: “A palavra está para os homens, como o olhar, a linguagem das luzes e das sombras, para as mulheres”— comenta o narrador, na parte 6 do romance, referindo-se à Debeza que soube esconder seu adultério com o príncipe Godide. Essa cartografia do olhar, da memória e da imaginação traz lembranças que escrevem uma história no feminino, uma história que dá voz às mulheres de Ngungunhane, até então esquecidas sob a poeira dos tempos. O romance As Mulheres do Imperador comprova que, mesmo em um universo predominantemente masculino, essas mulheres conseguiram desvelar outras versões possíveis da história.

Ba Ka Khosa, em seu percurso literário, efetua uma reescrita de Moçambique pelo jogo entre história e ficção, entre tradição e modernidade, entre narrativas imaginadas e episódios históricos ocorridos, entre versões da oralidade e da história oficial. Optando, no título  Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do imperador, pela grafia portuguesa da época – Gungunhana –, e usando, na escrita dos romances, Ngungunhane – que, graficamente, reproduz a forma oral, ou seja, a pronúncia própria da língua nguni –, Ungulani, intencionalmente, expressa a dualidade de pontos de vista, demonstrando que não existe uma única versão histórica. Entrelaçando literatura e história, repensa Moçambique pela voz dos que estão à margem do poder, joga com a sedução e o fascínio que o domínio da escrita literária pode oferecer tanto ao escritor como ao leitor. Este, com certeza, irá se encantar não só pelo prazer de decifrar a polêmica figura do imperador, mas também as vidas e as histórias de suas mulheres.

Rio de Janeiro, 18 de junho de 2018.

[1] KHOSA. “A memória é sempre costurada. É preciso escangalhá-la para abrir caminhos”. Entrevista a Nuno Ramos de Almeida. Lisboa, 03/04/2018. Disponível em: https://ionline.sapo.pt/606664. Acesso em 14/06/2018. 
[2] idem, ibidem.

Carmen Lucia Tindó Secco é Profa. Titular de Literaturas Africanas, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). É colaboradora da Editora Kapulana. 

Citar como:

O ARTIGO:
SECCO, Carmen L. T. “As Mulheres do Imperador: Entrelaces de Histórias e Estórias”. In: KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador. São Paulo: Kapulana, 2018. [Vozes da África]. Disponível em: <https://www.kapulana.com.br/as-mulheres-do-imperador-entrelaces-de-historias-e-estorias-por-carmen-l-tindo-secco/>

O LIVRO:
KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador. São Paulo: Kapulana, 2018. [Vozes da África]

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A degradação da personagem em Gungunhana, por José dos Remédios

O ser humano não morre quando o seu coração deixa de bater.
O ser humano morre quando, de alguma forma, deixa de se sentir importante.
in O vendedor de sonhos, Jayme Monjardim

Há 31 anos, Ungulani Ba Ka Khosa estreou-se em livro, num período em que a literatura moçambicana passava, eventualmente, por um dos melhores momentos até aqui. Na década de 80, foi lançado o primeiro concurso literário do país, foi criada a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), e, enfim, foi lançada a primeira revista literária moçambicana pós-independência, a Charrua, de que o nosso escritor é co-fundador. Este foi um momento de ouro, que, inclusive, contribuiu para a afirmação de uma escrita comprometida com a estética, por nela existir, quiçá, os (des)equilíbrios cruciais à literatura.  É neste contexto de reinvenção de uma arte, num país recém-nascido, que Ba Ka Khosa ousa apresentar-se em obra, depois de muito publicar na imprensa. Nessa altura, tinha 30 anos de idade e havia vivido em todas as regiões de Moçambique.

E então, o livro escolhido para a primeira aparição foi Ualalapi, colectânea de contos, para uns, romance, para muitos, e novela, para os mais centristas. Neste livro, um dos dois que constitui Gungunhana, obra ora lançada pela editora Kapulana, Ungulani percorre os labirintos da história, e, fugaz, aldraba a morte, retirando nela um personagem controverso (ora herói, por ter travado toda uma luta contra o regime colonial português, ora vilão, por tanto ter liderado ofensivas contra os chopes, uma etnia do Sul de Moçambique): Gungunhana/ Ngungunhane. Ao ficcionar a vida do imperador de Gaza, homem extremamente violento, Khosa constrói um cenário maquiavélico, que ao tirano permite atingir o poder sem ameaças de o perder, delegando, por isso, a morte do seu irmão, Mafemane, a Ualalapi.

A partir dos conflitos, da ganância e dos jogos de interesse instituídos na narrativa, Ungulani introduz-nos no raciocínio de um ditador que, à imagem de tantos outros de terno e gravata, não medem consequências no longo percurso ao trono. Por isso, esta é uma história actual e com muitos anos de vida.

O segundo livro que compõe a obra Gungunhana é intitulado As mulheres do imperador, na qual temos um narrador didático como cicerone no prosseguimento dos caminhos trilhados pelas rainhas de Gaza, na desnecessária viagem que termina com um exílio delas na sua terra, mas longe da sua gente. Se Ualalapi, essencialmente, ergue e derroca um império nguni, essa etnia de Ngungunhane, As mulheres do imperador é mais uma história além das peripécias que ditaram o fim de um reinado. Esta história produz-se na viagem pelo Sul de Moçambique, por Portugal, São Tomé e, mais profundo, pelas crenças, dores, desassossegos e sentimentos dessas rainhas pretas, desabitadas de si mesmas por terem conquistado a preferência de Ngungunhane. Também por isso, dá-se nesta ficção a grave degradação da personagem. Mas comecemos pelo primeiro livro.

Em Ualalapi, temos pelo menos dois momentos em que a degradação da personagem acontece. No primeiro, é Damboia, tia do imperador, quem está no centro das atenções, quando morre ainda viva, vítima de uma menstruação de três meses. Devido ao cheiro nauseabundo aí causado, Damboia perde poder e influência, quando os seus movimentos ficam condicionados ao átrio domiciliar. A linguaruda, que chama cães aos súbditos, enferma, perde a capacidade de falar e é invadida por loucura: “Começou a andar de gatas e a trepar as paredes da casa como um réptil em desespero. Durante a noite uivava como os cães” (p. 48).

Num segundo momento, a degradação da personagem, em Ualalapi, acontece quando o imperador, já nas mãos dos portugueses, profere o seu último discurso ao seu povo. Sem poder nenhum, Ngungunhane transforma-se numa entidade banal, ridícula, deprimida e cheia de fel. Destarte, o outrora poderoso imperador vira um objecto falante, prémio de guerra, conduzido, na verdade, não para um exílio, mas para um museu em que ele é a síntese do passado.

Em As mulheres do imperador essa degradação continua, quer em Ngungunhane quer nas suas esposas. No caso do “leão de Gaza”, a situação é agravada porque, arrancado da sua terra com as sete das tantas mulheres que possui, em Portugal, não fica nem com uma sequer, um verdadeiro ultraje e castigo para quem tanto preza o calor feminino. Além disso, mesmo tendo-se recusado a converter-se à religião dos brancos, já dominado, o imperador é baptizado, passando a ter um nome português. Morre triste e humilhado.

Não obstante, separadas do homem, as rainhas de Gaza, igualmente, experimentam a derradeira condição do marido. Logo, com a excepção de Namatuco, tornam-se vulneráveis, passando a comer peixe e a desejarem ser amarfanhadas pelos braços dos homens. E o facto de Namatuco ser a mais sisuda, não a impede de se tornar uma personagem amarga, pois, desterrada de Moçambique, perde o contacto com os seus espíritos, daí a incapacidade de enxergar o futuro.

Portanto, este Gungunhana encerra nas suas linhas uma preocupação estética alicerçada a uma história que se vai diluindo. Esta é uma porta de entrada para quem se preocupa com o passado e com o presente de Moçambique. E faz sentido o livro ser publicado no Brasil, afinal em causa está o conhecimento sobre a humanidade, que não se esgota na fronteira dos nossos pés, que nos faz proprietários da nossa própria voz. A degradação da personagem manifesta em Gungunhana também é nossa, por aceitarmos ser parte de uma história cujos protagonistas são os narradores do esquecimento, esses que nos afastam da nossa terra e das nossas particularidades.

Maputo, 20 de outubro de 2018.

José dos Remédios é jornalista, pesquisador, resenhista e colaborador em veículos de comunicação em Moçambique como o jornal O país e a emissora de televisão STV. É colaborador da Editora Kapulana. 

Citar como:

REMÉDIOS, José dos. “A degradação da personagem em Gungunhana”. In: https://www.kapulana.com.br/artigos/

O livro: KHOSA, Ungulani Ba Ka. Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador. São Paulo: Kapulana, 2018. [Vozes da África]

 

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Entrevista com Ungulani Ba Ka Khosa, moçambicano, autor de “Gungunhana: Ualalapi | As mulheres do Imperador”

UNGULANI BA KA KHOSA, escritor moçambicano, autor de Gungunhana: Ualalapi | As mulheres do Imperador, concede uma entrevista à Editora Kapulana

1. Você publicou Ualalapi em 1987, marcando o cenário da ficção histórica moçambicana. O que o fez escrever apenas recentemente As mulheres do Imperador, dando prosseguimento a Ualalapi?

As motivações por detrás de um livro estão, muitas das vezes, na esfera do imponderável: as vezes é uma ideia que surge, outras, uma paisagem, por vezes, uma frase, enfim, vários motivos. As mulheres  do Imperador foram-me martelando a cabeça depois da edição do livro Entre as memórias silenciadas. Isto em 2013. Anunciei a intenção aos amigos mais próximos. E quis com o livro prestar uma singela homenagem às mulheres sempre secundarizadas na História maiúscula. Mas o livro não conseguia sair das primeiras três páginas. Faltava-lhe alma. Até então eu não conhecia o nome das mulheres do Imperador que regressaram a Moçambique depois de quinze anos de exílio. E andei à busca delas em tudo o que era arquivo em Moçambique. Estive em S. Tomé, terra em que elas passaram catorze anos e nove meses de exílio, e nada encontrei. E foi graças ao meu editor  português, o João Rodrigues, que consegui ter os nomes das mulheres. Encontrei a alma. E o livro arrancou. Isto em 2016

E por ocasião dos trinta anos de Ualalapi, quis fechar o ciclo sobre o império de Gaza, trazendo à luz As mulheres do Imperador.

2. Qual você acredita que pode ser a importância de republicar Ualalapi atualmente, para Moçambique?

Ualalapi tem, felizmente, tido edições sucessivas em Moçambique. É um livro de leitura obrigatória para os alunos do ensino secundário e médio e universitário. E tem, estoicamente, resistido ao  desgaste do tempo. Isso satisfaz qualquer autor. O que falta ao Ualalapi é uma maior divulgação no exterior. Acabou de sair, ainda este ano, a edição americana –Ualalapi, fragments from the end of empire, pela prestigiosa editora Tagus Press, da Universidade de Massachusetts Dartmouth. Na colecção constam autores como Eduardo Lourenço,  Luís de Camões, Eça de Queirós, Sophia de Mello Breyner, entre outros. É prestigiante. Aqui no Brasil, a editora Kapulana prepara uma edição conjunta com As mulheres do Imperador. Em Portugal já saiu a edição conjunta, o Gungunhana. Enfim, os bons ventos estão dando vida ao Ualalapi e As Mulheres do Imperador.

3. Um dos pontos mais reiterados por pesquisadores de suas obras literárias é o fato de suas narrativas não serem maniqueístas no tratamento dos personagens, negando a estrutura de heróis x vilões. Isto é uma preocupação sua durante a escrita?

Na verdade, pouco leio o que têm escrito sobre a minha obra. Sei de uma quantidade de teses e dissertações, para além de críticas avulsas que as leio na diagonal.

Quando escrevo, deixo-me levar pelo texto, pelos personagens. Não tenho um guião à priori. O tema do livro dá-me a estrutura e o movimento dos personagens. O que me ficou dos tempos de aprendizagem, ou seja, o meu mote, foi o de construir uma narrativa que tivesse por base os movimentos do cavalo: passo, trote e galope. Quero que o texto vibre como os tambores que ressoam pela noite adentro na savana tropical. O resto não me interessa.

4. Se sim, qual a importância desta perspectiva, sobretudo em relação a uma figura histórica controversa como Gungunhana?

Tu queres tocar o Gungunhana. É provável que a tal perspectiva se encaixe no imperador. Mas quando escrevi sobre Gungunhana, em Ualalapi, tive em mente retratar a imagem do Gungunhana que sobrevive na história oral: um tirano, um invasor, um colonizador. Esta leitura difere da que é oficialmente veiculada: o grande herói da resistência anticolonial. O que de facto foi. Mas que não retira o seu lado tirano.

Eu enveredei por essa via da chamada tradição oral. Fiquei-me por aquilo que ouvi dos meus avós e outros da mesma geração.

5. De que maneira a Literatura pode contribuir com a História, e especificamente com a História moçambicana?

Hoje é já um lugar comum estudar-se uma época e recorrer-se a literatura de então. Penso que a literatura vai além do preenchimento dos espaços vazios ou dos interstícios da História maiúscula; ela dá alma a uma época, humaniza um período histórico.

Quando os alunos me perguntam como é que eu consegui retratar o Gungunhana daquela maneira, pensando eles que aquilo é verdade e não ficção, fico feliz porque a tal  verosimilhança que os académicos tanto apregoam, deu certo. E quando isto acontece, a literatura sai a ganhar.

 

6. Por que existe sua preocupação como autor em manter em suas obras diversos vocábulos das línguas locais?

Dei-me conta, ainda cedo, que certos vocábulos das línguas locais não têm correspondência na língua portuguesa e vice-versa. E isso levou-me a construir a minha narrativa sem me socorrer ao glossário. Vou explicando, dentro da narrativa, os significados dos vocábulos locais ou a interpretação do vocábulo português na língua local. Mas por vezes, em edições brasileiras,  veem-se forçados a usar um glossário por causa de alguns vocábulos que necessitam de uma explicação mais detalhada. Esta minha bantunização do português, como um académico se referiu à minha obra, torna a língua portuguesa mais moçambicana. Explico-me:

Mais do que debater a validade ou não do acordo ortográfico, eu sou dos que defendem a inclusão, nesta língua comum que é o português, dos  significados locais. Penso que a língua portuguesa só sai a ganhar na diversidade de significados.

7. Tanto Ualalapi quanto As mulheres do Imperador giram em torno de acontecimentos históricos moçambicanos bastante específicos, porém são obras que geram extremo interesse por parte dos leitores brasileiros. Por que você acredita que isso ocorre?

Todo o escritor, é minha opinião já arreigada, tem que partir do seu Macondo, do seu nicho cultural, do seu espaço, e dar alma a esse espaço. Craveirinha conseguiu fazer da Mafalala algo universal. Luís Bernardo Honwana, pegou na sua Moamba, terreola a cerca de 70 quilómetros de Maputo, e deu-nos um livro imortal: Nós Matamos o Cão Tinhoso. Malangatana, com os seus espíritos ancestrais, deu-nos quadros memoráveis. Estes meus três mestres ensinaram-me que é a partir do local, do teu espaço vital, que podes ir ao mundo. O mundo, esse mundo globalizado, vai entender essa alma local porque é uma alma por todos partilhada. As cores, as matizes, mudam, mas a alma, nas suas várias gradações, é universal.

8. Qual a importância de tratar especificamente das mulheres de Gungunhana neste novo texto?

Acho que respondi parcialmente a pergunta  em questões anteriores. Mas avanço, dizendo que As mulheres do Imperador é uma homenagem a todas as mulheres. Estas mulheres ocuparam um lugar tão secundário na História, que só lhes deram a graça de ter  o nome  ao lado do imperador. A História foi sempre machista. É chegada a altura de  se criarem outras narrativas, outros ângulos de observação, outros olhares à História.

Ao tempo delas, era normal, nos portos e em alguns jornais, constar a lista de passageiros a desembarcar. No caso, nada ficou grafado. Sabe-se apenas que desembarcaram em Lourenço Marques, no ano de 1911. O resto é ficção. É triste o que a História maiúscula reserva a certas personagens.

9. Além desta obra, você publicou no Brasil (também pela Kapulana) um livro de contos (Orgia dos loucos) e um de literatura infantil (O rei mocho). Como autor, quais são as diferenças em seu processo de escrita para gêneros literários tão diversos?

O conto, gênero difícil porque ou se agarra no princípio ou se perde, é um grande gênero. E é necessário para quem se aventura na narrativa. Já o conto infanto-juvenil exige outro músculo. É um gênero a que não me atrevo a mergulhar de qualquer maneira. Corre-se sempre o risco de fazer trapaça. E muito do que por aí circula no gênero infanto-juvenil é texto de segunda categoria. É preciso ter uma grande alma para escrever um conto infanto-juvenil. Vou ancorando noutros portos da narrativa. Sinto-me seguro aí.

Maputo, 24 de setembro de 2018.

Citar como:

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Entrevista. São Paulo: Kapulana, 24 set. 2018. Disponível em: https://www.kapulana.com.br/uma-entrevista-com-ungulani-ba-ka-khosa-autor-de-gungunhana-ualalapi-as-mulheres-do-imperador/

Saiba mais sobre o autor: http://kapulana.com.br/ungulani-ba-ka-khosa/

Saiba mais sobre “Gungunhana: Ualalapi | As mulheres do Imperadorhttp://kapulana.com.br/produto/gungunhana-ualalapi-as-mulheres-do-imperador/

Saiba mais sobre “Orgia dos loucos”: http://kapulana.com.br/produto/orgia-dos-loucos/

Saiba mais sobre “O rei mocho”: http://kapulana.com.br/produto/o-rei-mocho-1-contos-de-mocambique/

Leia – “Escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa é condecorado pelo Brasil com a Ordem de Rio Branco”: https://www.kapulana.com.br/escritor-mocambicano-ungulani-ba-ka-khosa-e-condecorado-pelo-brasil-com-a-ordem-de-rio-branco/

Leia – “Orgia dos Loucos: Moçambique sem saída de emergência – por Vanessa Ribeiro Teixeira”: https://www.kapulana.com.br/orgia-dos-loucos-mocambique-sem-saida-de-emergencia-por-vanessa-ribeiro-teixeira/

Leia – “A instabilidade social em O rei mocho, de Ungulani Ba Ka Khosa – por José dos Remédios”: https://www.kapulana.com.br/a-instabilidade-social-em-o-rei-mocho-de-ungulani-ba-ka-khosa-por-jose-dos-remedios/

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Kapulana lança em outubro a obra “O pátio das sombras”, escrita por Mia Couto e com ilustrações de Malangatana

Décimo e último volume da série “Contos de Moçambique”, o livro, escrito por Mia Couto e com deslumbrantes ilustrações do célebre artista Malangatana, narra a história sobre vida e morte pela perspectiva infantil

A Editora Kapulana publica em outubro o décimo volume da série de literatura infantil “Contos de Moçambique”, o livro O pátio das sombras, escrito por Mia Couto, com ilustrações de Malangatana.  A obra já está em pré-venda.

No enredo, um menino vive com a família em uma aldeia. Um dia, a avó se nega a ir até a plantação, pois diz estar cansada. Durante o trabalho, a família escuta ruídos de festa vindos da aldeia, e todos se perguntam se a avó tinha visitantes. O menino vai checar, mas encontra a avó sozinha. O acontecimento se repete, deixando o menino cada vez mais confuso, até que a avó lhe dá explicações ensinando-lhe uma linda lição sobre a vida e a morte. Mia Couto, em depoimento para o livro, explicou o motivo da escolha desta história que faz parte da tradição oral moçambicana.  “Este conto maconde foi a história escolhida por mim como base do conto que intitulei ‘O Pátio das Sombras’ por ser um conto muito sugestivo. Através dele podemos ver que os mortos, quando lembrados, não chegam nunca a morrer […] Do ponto de vista formal, pensei que seria bom criar um clima de mistério e introduzir um núcleo de conflito que se adensaria para, no final, se resolver de forma positiva”.

O livro é composto de deslumbrantes ilustrações do artista moçambicano Malangatana. Utilizando da técnica de pintura nanquim, os desenhos dialogam com o texto de forma fluída e fascinante. Com talento reconhecido em diversas vertentes da arte, Malangatana foi também poeta, cantor, dramaturgo, músico e dançarino. Durante sua carreira artística, foi premiado e celebrado no mundo, seu nome está ligado à criação de várias instituições culturais, como o Museu Nacional de Arte, Centro de Estudos Culturais, atual Escola Nacional de Artes Visuais, Centro Cultural de Matalana, e outras organizações artísticas. Malangatana faleceu em 2011, em Portugal.

O pátio das sombras é o último volume da série “Contos de Moçambique”, que, desde 2016, é publicada no país pela Editora Kapulana, tendo como objetivo divulgar no Brasil as histórias das tradições orais moçambicanas aos leitores brasileiros. O projeto surgiu da colaboração entre a Escola Portuguesa de Moçambique e a Fundació Contes pel Món, de Barcelona, Espanha. São histórias recontadas por renomados escritores e ilustradas por artistas de diversas expressões, como pintura, desenho, escultura, batique e artesanato.

Ilustração de Malangatana, que faz parte da obra “O pátio das sombras”

 

★★★

Saiba mais sobre a obra: https://www.kapulana.com.br/produto/o-patio-das-sombras-10-contos-de-mocambique/

Saiba mais sobre o autor: https://www.kapulana.com.br/mia-couto/

Saiba mais sobre o ilustrador: https://www.kapulana.com.br/malangatana-mocambique-patio-das-sombras/

Saiba mais sobre a ilustração: https://www.kapulana.com.br/nanquim-as-ilustracoes-de-malangatana-em-o-patio-das-sombras-de-mia-couto/

Conheça a série “Contos de Moçambique”: https://www.kapulana.com.br/serie-contos-de-mocambique/

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Poeta e artista plástica moçambicana Sónia Sultuane participa de eventos no Brasil em setembro

Sónia Sultuane realiza mesas de conversas e sessões de autógrafos em eventos culturais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraíba

A Editora Kapulana trouxe em setembro para o Brasil a poeta e artista plástica moçambicana Sónia Sultuane, que publicou pela editora o livro Roda das encarnações. A poesia de Sultuane passa pelo feminismo, tradições africanas, principalmente as de Moçambique, maternidade, assim como pelo universo sensorial e místico. A poeta realizou mesas de conversas e sessões de autógrafos em eventos nas cidades de São Paulo, Campinas, São José dos Campos e Rio de Janeiro. No final do mês, a poeta ainda fará encontros literários em Recife, capital de Pernambuco, e João Pessoa, na Paraíba.

Com um vasto trabalho cultural, Sónia, além de poeta, é artista plástica e curadora de eventos. Sua poesia emociona ao trazer à tona suas impressões mais profundas, reveladoras das marcas de seu percurso como mulher, mãe, poeta e trabalhadora. Seus versos transportam o leitor por um universo sensorial e místico, com movimentos harmoniosos, no tempo e no espaço, muitas vezes em diálogo com a dicotomia vida e morte. Seus poemas transitam por mares, ares e terras, em meio a odores, sons, imagens e texturas surpreendentes.

Em São Paulo

Na cidade de São Paulo, Sónia participou, na quarta-feira (12), de bate-papo na “IV Feira Literária da Zona Sul” (Felizs), na Biblioteca Marcos Rey, em Campo Limpo, bairro da capital paulistana, ao lado do professor e escritor José de Nicola e do poeta angolano Ermi Panzo. Com a mediação da docente Érica Cristina Ferreira, a conversa teve como tema “Literatura Africana de Língua Portuguesa – Das heranças aos processos identitário de resistência”. Durante a conversa, Sónia contou sobre o seu processo criativo na literatura e nas artes plásticas, inclusive em relação à construção de seus poemas:

“A palavra para mim tem muito poder. Ela está sempre em trânsito, principalmente aqui no Brasil, onde pude trazer as linguagens que produzo no meu país, tendo sempre que buscar uma nova interpretação da linguagem”. Com um público de sua maioria professores da rede pública, Sónia destacou que “são os professores que nos formam e é incrível poder conversar e mostrar as diversidades literária de Moçambique”.

Sobre o trabalho artístico, a poeta abordou as recompensas que as artes fornecem:

“A arte tem a função de tornar as pessoas mais ricas intelectualmente. Sou mulher e sou da África e, destas formas, quero, de alguma maneira, escrever poemas de como enxergo o mundo”.

Em Campinas, na quinta-feira (13), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), localizada no interior de São Paulo, Sultuane realizou uma roda de conversa com alunos do curso de Letras, sob a mediação da mestranda Jéssica Fabricia da Silva. O evento contou com o apoio do Grupo de Estudos de Literaturas e Culturas Africanas (GELCA), do IEL-Unicamp. Sónia falou sobre as suas motivações na escrita de Roda das Encarnações:

“Eu tive um câncer e poderia ser que eu não tivesse mais a possibilidade de escrever outro livro, queria terminar o Roda das encarnações pelas pessoas que eu amo e que me apoiaram. O amor é dá genuinamente sem estar à espera de nada e o Roda foi o meu ato de amor”.

Durante a sua fala, Sónia comentou sobre a interlocução com as artes plásticas e poesias:

“A poesia e as artes plásticas têm lugares em diversas outras formas, principalmente em transmitirmos a nossa evolução artística para as pessoas”.

De volta à capital paulista, Sónia esteve presente, na sexta-feira (14), na palestra com os alunos da Universidade da São Paulo (USP). O evento, com coordenação da Profa. Dra. Tania Macêdo e da Profa. Dra. Rita Chaves, contou com apoio do Centro de Estudos Africanos (CEA) e do Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa (CELP), da FFLCH-USP, e teve a mediação da pesquisadora de doutorado Jacqueline Kaczorowski. A poeta moçambicana conversou sobre Literatura e o começo de sua escrita: “Fiquei grávida muito cedo, aos treze anos, e, como forma de comunhão, comecei a escrever, de modo a compartilhar os meus sentimentos”.

Sónia também falou sobre seu projeto artístico “Walking Words”, em que se veste com uma roupa confeccionada com diversas palavras, tendo como intuito caminhar pelas ruas de Moçambique a compartilhar as variadas maneiras que a linguagem fornece: “Este projeto é essencial para tornar as palavras em algo físico, que se sente, para que elas não se diluem”.

No sábado, 15 de setembro, Sónia fez parte da programação da “V Festa Literomusical” (FLIM) do Parque Vicentina Aranha, na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo. O evento, realizado entre os dias 14 e 16 deste mês, teve a curadoria do escritor Marcelino Freire. A mesa literária com o tema “Por dentro dos gêneros” contou com as participações de Sónia Sultuane, da poeta e editora Jarid Arraes e da cantora e compositora Ellen Oléria, sob a mediação da apresentadora do programa Metrópolis, da TV Cultura, Adriana Couto. Muito emocionada, Sultuane comentou com o público sobre a produção de escrita de seu livro de poemas Roda das encarnações:

“A poesia para mim é um lugar sagrado. Quem escreve poesia conta sempre um pouco de nosso interior, ou seja, é parte de nós”. “O Roda das encarnações vem todo de um processo de minha luta pelo câncer, e é uma possibilidade de estar aqui no mundo”.

No Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, Sónia participou de palestras e debates sobre a cultura moçambicana, nos dias 18 e 19 de setembro, com alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e realizou sessão de autógrafos de seu livro de poesia publicado pela Kapulana, Roda das encarnações. O evento, intitulado “África & Brasil – trânsitos culturais: literatura, cinema e educação”, foi organizado pela Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco. Durante sua participação, Sónia falou com professores, estudantes e outros pesquisadores, sobre a sua produção poética, literatura infantil e o cinema moçambicano.

Em Pernambuco

Na capital de Pernambuco, Recife, em sua última semana no Brasil, a poeta moçambicana Sónia Sultuane participou de rodas de conversas e sessões de autógrafos em duas faculdades: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE).  Sultuane falou sobre o seu processo criativo e a publicação no Brasil, do livro de poemas Roda das encarnações. As atividades foram conduzidas pelo Prof. Dr. Sávio de Freitas (UFRPE) e Profa. Dra. Luiza Reis  (UFPE).

“Escrevi este livro pensando que seria a última vez que a literatura seria o porto seguro para minhas confidências, mas o Senhor Deus mostrou que me ama e me deu a oportunidade de fazer minha roda girar no mundo como um objeto de cura da alma”

Além das participações em mesas de conversas, debates e palestras, Sónia Sultuane foi muito bem recebida em centros culturais, exposições de artes e nas grandes livrarias, tendo, assim, a oportunidade de vivenciar um pouco da vida cultural brasileira e de reencontrar seu próprio livro nas estantes à disposição do leitor brasileiro.

Na Paraíba

Em João Pessoa, capital da Paraíba, a poeta e artista plástica moçambicana Sónia Sultuane realizou uma roda de conversa sob a mediação dos docentes acadêmicos Vanessa Riambau e Sávio Freitas. No encontro, Sónia abordou o desenvolvimento do seu livro de poemas Roda das encarnações, publicado pela Kapulana, e seus mais de dezessete anos dedicados às artes. O evento aconteceu na terça-feira, 25 de setembro, às 10h00, na sala 401 CCHLA, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

“Sou mulher e mestiça, não me considero negra, respeito as discussões sobre raça, mas não devemos alimentar o discurso racista, minha literatura é livre, universal, dialoga com os propósitos da humanidade. A literatura é uma arte, não faço poesia combate, pois José Craveirinha e Noémia de Sousa já o fizeram”.

São Paulo, 20 de setembro de 2018

Saiba mais sobre o livro Roda das Encarnações:

https://www.kapulana.com.br/produto/roda-das-encarnacoes/

Saiba mais sobre a escritora Sónia Sultuane:

https://www.kapulana.com.br/sonia-sultuane/

 

Veja fotos das atividades:

SÃO PAULO

11/09/2018 – Sónia Sultuane na Editora Kapulana, em São Paulo, SP:

https://www.kapulana.com.br/sonia-sultuane-na-editora-kapulana-em-sao-paulo-sp/

12/09/2018 – Sónia Sultuane na IV Feira Literária da Zona Sul (FELIZS), em São Paulo, SP:

https://www.kapulana.com.br/sonia-sultuane-na-iv-feira-literaria-da-zona-sul-felizs-em-sao-paulo-sp/

13/09/2018 – Sónia Sultuane no IEL-Unicamp, em Campinas, SP:

https://www.kapulana.com.br/sonia-sultuane-na-unicamp-iel-em-campinas-sp/

14/09/2018 – Mesa de conversa com Sónia Sultuane na FFLCH-USP, em São Paulo, SP:

https://www.kapulana.com.br/mesa-de-conversa-com-sonia-sultuane-na-fflch-usp-em-sao-paulo-sp/

11/09/2018 – Sónia Sultuane nas livrarias brasileiras:

https://www.kapulana.com.br/sonia-sultuane-nas-livrarias-brasileiras-sao-paulo/

15/09/2018 – Sónia Sultuane na Festa Literomusical do Parque Vicentina Aranha (FLIM), em São José dos Campos, SP:

https://www.kapulana.com.br/sonia-sultuane-na-festa-literomusical-do-parque-vicentina-aranha-flim-em-sao-jose-dos-campos-sp/

RIO DE JANEIRO

19/09/2018 – Debate sobre o cinema moçambicano com Sónia Sultuane na UFRJ, no Rio de Janeiro, RJ.

LINK: https://www.kapulana.com.br/palestra-e-sessao-de-autografos-com-sonia-sultuane-na-ufrj-no-rio-de-janeiro-rj/

Assista aos vídeos com a escritora:

Entrevista: 

https://www.youtube.com/watch?v=EH1R5-uOy0c

Leitura dos poemas do livro “Roda das encarnações”: 

https://www.youtube.com/watch?v=9p7SA1VeGjQ&feature=youtu.be

Vídeo 3ª Mesa Literária: POR DENTRO DOS GÊNEROS

https://www.youtube.com/watch?v=fGXR2Pm9NkU

 

 

 

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Kapulana lança em agosto “Leona, a filha do silêncio”, nono volume da série “Contos de Moçambique”

A série apresenta histórias tradicionais recriadas com narrativas que revelam os múltiplos universos do país

A Kapulana lança em agosto o nono volume da sérire de literatura infantil “Contos de Moçambique”, chega às livrarias o livro “Leona, a filha do silencio”, de Marcelo Panguana e ilustrações a aquarela de Luís Cardoso.

Em um lugar de mil encantos, vivem o Leão, a Leoa e sua filha, Leona. Leona é muito bela e encanta a todos que enxergam sua beleza, mas é triste e há muito tempo que não fala nada, nem ri. Um dia, seus pais viajam para um reino distante e, ao retornarem, trazem um vestido de noiva e decretam que aquele que conseguisse fazer Leona falar, a levaria ao altar. O que ninguém sabe é que Leona já está apaixonada e espera a volta do seu amado. Será que algum dia seu amor vai retornar e ela vai voltar a falar e a rir?

Marcelo Panguana nasceu em 1951, na cidade de Lourenço Marques, atual Maputo, capital de Moçambique. Escreve desde o momento em que conheceu as primeiras letras do alfabeto. Começou por pequenas histórias para as páginas e revistas culturais. A página literária “Diálogo”, do Notícias da Beira, foi o espaço onde começou a amadurecer a sua escrita. Em Maputo, junta-se a um grupo de escritores do projeto da revista “Charrua”. Deste grupo nasceram alguns dos que constituem, hoje, a nata dos melhores escritores do país. Foi fundador da Editora Lithangu.

Luís Cardoso nasceu na cidade da Beira, em Moçambique, em 1962. É artista e publicitário. Desde pequeno conviveu com o universo das cores, das artes. Participou, desde muito jovem, de núcleos de arte e cultura, onde estabeleceu seu primeiro contato com as várias vertentes das artes plásticas. Teve formação como professor de Português e História, e, mais tarde, como designer. Desenvolve, também, projetos de ilustração, onde utiliza várias técnicas como a fotografia, o desenho, a aquarela e a ilustração digital.

Arte de Luis Cardoso

CONTOS DE MOÇAMBIQUE

A série “Contos de Moçambique” surgiu da colaboração entre a Escola Portuguesa de Moçambique e a Fundació Contes pel Món, de Barcelona, Espanha. A Editora Kapulana fez uma parceria com a Escola Portuguesa de Moçambique para publicar no Brasil a coleção, com o objetivo de apresentar ao leitor brasileiro um pouco da cultura moçambicana. A série é composta por dez volumes de contos da tradição oral de Moçambique. São histórias recontadas por renomados escritores e ilustradas por artistas de diversas expressões, como pintura, desenho, escultura, batique e artesanato.

Arte de Luis Cardoso

20 de julho de 2018

★★★

Saiba mais sobre a obra: https://www.kapulana.com.br/produto/leona-a-filha-do-silencio/

Saiba mais sobre o autor: https://www.kapulana.com.br/marcelo-panguana/

Saiba mais sobre o ilustrador: https://www.kapulana.com.br/luis-cardoso/

Saiba mais sobre a ilustração: https://www.kapulana.com.br/ilustracoes-de-leona-a-filha-do-silencio-aquarela/

Conheça a série “Contos de Moçambique”: https://www.kapulana.com.br/serie-contos-de-mocambique/

À VENDA NAS SEGUINTES LIVRARIAS:

Amazon.com.br: https://amzn.to/2mvBrwz
Livraria Cultura: https://bit.ly/2mxlVjX
Livraria Travessa: https://bit.ly/2NzlNvN
Martins Fontes Paulista: https://bit.ly/2O426NG
Cia dos Livros: https://bit.ly/2uRQXXp
Fnac: https: //bit.ly/2LE8ZUo
Mundo da Leitura: https://bit.ly/2uPhTHq

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Escritora Rutendo Tavengerwei, do Zimbábue, participa de sessões de lançamento de seu livro no Brasil

Rutendo Tavengerwei, jovem escritora do Zimbábue, esteve no Brasil, nas cidades de São Paulo (SESC Paulista) e Salvador (Flipelô), de 4 a 12 de agosto de 2018, para promover seu novo livro Esperança para voar, da Editora Kapulana

Em dois bate-papos e visitas a livrarias, a autora conversou sobre seu livro Esperança para voar (Hope is our only wing), seu processo criativo e de escrita, suas opiniões e visões sobre a literatura africana e literatura negra, sua existência como mulher, negra e africana, além de questões sobre a política e a economia do Zimbábue em 2008, época dos acontecimentos do livro. Conversou também sobre a situação atual no Zimbábue e da conexão com o momento político brasileiro.

Em 7 de agosto, terça-feira, participou do bate-papo “Vozes da África”, em São Paulo, no SESC Avenida Paulista, na companhia de Luciana Bento, do Instagram @amaepreta e do canal Quilombo Literário, no YouTube, e de Bianca Gonçalves, do blog “Bianca Não É Branca” e idealizadora do projeto “Leia Mulheres Negras”.

A conversa focou na construção das personagens do livro, na dinâmica de escrita da autora e na questão dos autores negros e, principalmente, autoras negras no Brasil e no mundo, além da situação da literatura africana dentro do mercado editorial brasileiro e mundial. O público, que se envolveu ativamente nas perguntas e nos comentários acerca dos assuntos trazidos durante o evento, fez fila para cumprimentar a autora, levar para casa livros assinados e tirar fotos com Rutendo.

No dia seguinte, 8 de agosto, a escritora, acompanhada de equipe da Editora Kapulana, embarcou para Salvador, capital do estado da Bahia. A convite da “Fundação Casa de Jorge Amado”, marcou presença na 2ª Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) onde, no dia 9, quinta-feira, participou de bate-papo com a historiadora Profa. Luiza Reis (UFPE) sobre literatura “Esperança para voar – uma conversa sobre África”.

Em Salvador, as questões principais foram sobre o livro Esperança para voar, como as referências literárias presentes na obra, dentre elas os nigerianos Chimamanda Ngozi Adichie e Chinua Achebe, e a presença musical no livro, representada pela mbira, instrumento tradicional africano, que é uma personagem dentro da história.

O público, que lotou o auditório do SESC-SENAC Pelourinho, também quis conhecer as impressões de Rutendo sobre o Brasil e a Bahia e as aproximações possíveis entre Brasil e Zimbábue. Após o debate, que contou com a participação ativa do público, houve fila para a sessão de autógrafos e fotos com a autora.

Além das duas mesas de conversa para as quais foi convidada, Rutendo, acompanhada da equipe da Kapulana, também visitou diversas livrarias, nas quais assinou exemplares de seu livro que estão disponíveis para compra e fez sessões de fotos. Em São Paulo, a autora foi sempre muito bem recebida pelas equipes das livrarias Martins Fontes Paulista, Cultura do Conjunto Nacional, Giostri na Casa das Rosas e  Blooks do Shopping Frei Caneca. Em Salvador, visitou e deu autógrafos na LDM, livraria oficial da Flipelô, e foi recepcionada na Livraria Cultura do Salvador Shopping.

As atividades da escritora foram divulgadas por alguns dos maiores veículos de comunicação brasileiros, como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Carta Capital e Geledés.

Nos bate-papos, nas visitas, nas entrevistas e em outros momentos em que trocou ideias com o público brasileiro, Rutendo Tavengerwei esteve sempre acompanhada da intérprete da Kapulana, Carolina Kuhn Facchin, a tradutora de seu livro para o Português.

A Kapulana agradece às equipes da “Fundação Casa de Jorge Amado”, de Salvador, Bahia, e do SESC Unidade Av. Paulista, de São Paulo, SP, pelo apoio dado à escritora no Brasil.

São Paulo, 17 de agosto de 2018.

 

LINKS:

Livro: https://www.kapulana.com.br/produto/esperanca-para-voar/

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=TnIMNidh-8g&t=11s

 

FOTOS:

Na Flipelô:

https://www.kapulana.com.br/09-08-2018-rutendo-tavengerwei-na-flipelo-festa-literaria-internacional-do-pelourinho-em-salvador-ba/

No Sesc Av. Paulista:

https://www.kapulana.com.br/07-08-2018-bate-papo-com-rutendo-tavengerwei-lu-bento-e-bianca-goncalves-no-sesc-avenida-paulista-em-sao-paulo-sp/

Nas livrarias:

https://www.kapulana.com.br/04-a-11-08-2018-rutendo-tavengerwei-nas-livrarias-brasileiras-sao-paulo-e-salvador/

Na Editora Kapulana:

https://www.kapulana.com.br/rutendo-tavengerwei-no-brasil/

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“Serei sereia?”, da Editora Kapulana, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo

A Kapulana participa da Bienal Internacional do Livro de São Paulo com duas mesas, uma com a autora e a ilustradora do livro, e outra com a diretora editorial Rosana M. Weg

A 25ª edição da Bienal Internacional de Livro de São Paulo terá um estande dedicado exclusivamente a livros publicados em múltiplos formatos acessíveis e inclusivos, destinados não apenas ao público com deficiência, mas a todos os tipos de leitores. Cada obra reúne vários recursos de acessibilidade, como narração em áudio, texto original e/ou em Leitura Fácil, interpretação em Libras e descrição das imagens em áudio. Os livros contam ainda com animações e trilhas sonoras desenvolvidas especialmente para as versões acessíveis.

Foram produzidos livros em domínio público, que poderão ser acessados por todo público, e livros proprietários que, segundo a legislação brasileira, são conectados de forma gratuita por pessoas com deficiência, a Coleção de Livros Acessíveis.

A coleção tem 10 títulos da literatura infantil e infantojuvenil: Uma nova amiga, de Lia Crespo; O discurso do urso, de Julio Cortàzar e O menino no espelho, de Fernando Sabino; Peter Pan, de J. M. Barrie; A volta ao mundo em 80 Dias, de Júlio Verne; Frritt-Flacc, de Júlio Verne; A bolsa amarela, de Lygia Bojunga; Bem do seu tamanho, de Ana Maria Machado e Sei por ouvir dizer, de Bartolomeu Campos de Queiros.

Publicado pela Kapulana, o livro infantil Serei sereia?, de Kely de Castro, com ilustrações de Amanda Azevedo, também faz parte dessa importante Coleção de Livros Acessíveis

Programação na BIENAL: Mesas de conversas

06/08 – 14h – estande O030: A Kapulana estará presente, na segunda-feira, 6 de agosto, na Bienal, com duas mesas de conversas. Será realizada a roda de conversa “Livro e leitura para todos”, com Rosana M. Weg, diretora da Editora Kapulana.

06/08 – 16h – estande O030: acontecerá um bate-papo com a autora Kely de Castro e a ilustradora Amanda de Azevedo.

A venda de livros será feita no Clube do Livro (estande A098).

Sobre o livro

Serei sereia? é a história de Inaê, uma menina que já nasceu com um grande desafio a vencer: o fato de não poder andar. Nessa narrativa, contada pela artista Kely de Castro, Inaê, como todas as crianças, passa por momentos de tristeza, alegria, conflito e tranquilidade. A bordo de sua cadeira de rodas, enfrenta obstáculos e, aos poucos, com o apoio de sua mãe, descobre que pode construir sua própria história. O livro é ilustrado por Amanda de Azevedo e por fotos de bonecas confeccionadas pela autora.

A Bienal

A 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo acontecerá de 03 a 12 de Agosto de 2018 no Pavilhão de Exposições do Anhembi. O evento é palco para o encontro das principais editoras, livrarias e distribuidoras do país, apresentando seus mais importantes lançamentos para aproximadamente 700 mil visitantes em um espaço total de 70 mil m². Além da grande oferta de livros, a Bienal do Livro ainda conta com uma programação cultural abrangente, mesclando literatura, gastronomia, cultura e negócios.

3 de agosto de 2018

 

 

Saiba mais:

Sobre as atividades: https://www.kapulana.com.br/eventos/kapulana-na-bienal-internacional-do-livro-de-sao-paulo/

Sobre a escritora: https://www.kapulana.com.br/kely-de-castro/

Sobre a ilustradora: http://www.kapulana.com.br/amanda-de-azevedo/

Sobre a diretora editorialhttps://www.kapulana.com.br/rosana-morais-weg/

Sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/serei-sereia/

Sobre a Bienalhttp://www.bienaldolivrosp.com.br/

Conheça a Kapulanahttp://kapulana.com.br/a-editora/

 

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Os recentes lançamentos da Kapulana, “O que acontece quando um homem cai do céu” e “Esperança para voar”, já estão disponíveis em e-book

As obras estão disponíveis nas plataformas da Amazon.com.br, Livraria Cultura, Apple iBooks Store, Google e Kobo

Os dois novos lançamentos deste ano também estão disponíveis em e-book.  Os livros Esperança para voar, de Rutendo Tavengerwei, e O que acontece quando um homem cai do céu, de Lesley Nneka Arimah, já estão disponíveis nas plataformas da Amazon.com.br, Livraria Cultura, Apple iBooks Store, Google e Kobo

A obra de estreia da jovem autora narra a história de amizade de duas adolescentes. Shamiso retorna com sua família do Reino Unido para o Zimbábue, após a morte do pai, jornalista de oposição ao regime ditatorial da época. Ocorrido em 2008, ano de grave crise política nesse país africano, o livro mostra um lugar destroçado pela corrupção e pelo autoritarismo. Abre-se um enredo de como jovens no século XXI enfrentam perdas, rupturas, dores, miséria e autoritarismo. Delicado e emocionante, ao mesmo tempo em que nos apresenta um cenário africano com muita musicalidade, a obra é uma espécie de fábula universal, cujos fatos poderiam ter ocorrido em qualquer país em qualquer tempo. O livro foi traduzido por Carolina Kuhn Facchin.

Confira as livrarias com o romance disponível em e-book:

Amazon.com.br: https://amzn.to/2Iar9KR
Livraria Cultura: https://bit.ly/2QIJaJq
Apple iBooks Store: https://apple.co/2lzBwPu
Google: http://bit.ly/2yGdlbs
Kobo: https://bit.ly/2Mpg2jN

Em O que acontece quando um homem cai do céu, a escritora Lesley Nneka desenvolve, em doze contos, diversas formas literárias que abrangem o insólito, a distopia, as memórias da guerra na Nigéria, as relações complexas entre mãe e filha, a convivência humana com as tecnologias,  a infância e o embate entre as tradições de seus familiares e o cotidiano na América, muitas vezes com uma visão afrofuturista. Lesley nasceu no Reino Unido, viveu na Nigéria e agora mora em Minnesota, nos Estados Unidos. A obra original foi publicada nos Estados Unidos, em 2017, com o título de What it means when a man falls from the sky, e será lançada pela Editora Kapulana em julho de 2018. A escritora ganhou o “Kirkus Prize”, além da obra ter recebido aclamação da crítica e de leitores internacionais.  O livro também foi traduzido por Carolina Kuhn Facchin.

Confira as livrarias com o livro de contos disponível em e-book:

Amazon.com.br: https://amzn.to/2uFfUVR
Livraria Cultura: https://bit.ly/2JFX6QV
Apple iBooks Store: https://apple.co/2uwDbdc
Google: encurtador.com.br/dnzKL
Kobo: https://bit.ly/2Lj6iY1

 

★★★

Saiba mais sobre Lesley Nneka Arimah: https://www.kapulana.com.br/lesley-nneka-arimah/

Saiba mais sobre “O que acontece quando um homem cai do céu”: https://www.kapulana.com.br/produto/o-que-acontece-quando-um-homem-cai-do-ceu/

Saiba mais sobre Rutendo Tavengerweihttps://www.kapulana.com.br/rutendo-tavengerwei/

Saiba mais sobre “Esperança para voar”https://www.kapulana.com.br/produto/esperanca-para-voar/

Saiba mais sobre a tradutora: https://www.kapulana.com.br/carolina-kuhn-faccin/

 

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Kapulana lança o aclamado livro de contos “O que acontece quando um homem cai do céu”, de Lesley Nneka Arimah

Evocativo e provocativo, O que acontece quando um homem cai do céu anuncia a chegada de uma autora com capacidade narrativa extraordinária, uma nova voz da literatura contemporânea

A Kapulana lança no Brasil nesta quinta-feira, 12 de julho, o elogiado O que acontece quando um homem cai do céu, da autora de origem nigeriana Lesley Nneka Arimah.

Em seu livro de estreia, a escritora desenvolve, em doze contos, diversas formas literárias que abrangem o insólito, a distopia, as memórias da guerra na Nigéria, as relações complexas entre mãe e filha, a convivência humana com as tecnologias, a infância e o embate entre as tradições de seus familiares e o cotidiano na América, muitas vezes com uma visão afrofuturista.

Aclamado pela crítica internacional, a autora ganhou o “Kirkus Prize” e recentemente o “Young Lions Fiction Award”, promovido por The New York Public Library, premiação que celebra os autores em ascensão no mundo da literatura. O livro também foi indicado para o “John Leonard Prize”, da National Book Critics Circle.

Evocativo e provocativo, O que acontece quando um homem cai do céu anuncia a chegada de uma autora com capacidade narrativa extraordinária, uma nova voz da literatura contemporânea. O The Washington Post, na resenha da jornalista Tayla Burney, destacou: “A voz de Arimah é vibrante e nova, os assuntos que ela traz são, ao mesmo tempo, oportunos e atemporais. Este é um volume raro que fui forçada a colocar nas mãos de amigos dizendo ‘Você tem que ler isso’”. Segundo o The New York Times Book Review, o livro é “estranho e maravilhoso. Uma contadora sagaz, oblíqua e provocativa, Arimah consegue encaixar a história de uma família em poucas páginas, e inventar parábolas utópicas, fábulas mágicas e cenários aterrorizantes”.

No Brasil, a obra, traduzida por Carolina Kuhn Facchin, já está ganhando boas críticas, como na resenha do escritor Allan da Rosa, publicada na edição de julho do Suplemento Pernambuco: “Lesley Arimah abre o ser humano como uma cebola. Despetala, corta, pica e não perdemos seu ardor. Conta histórias com excelência e seus enredos magnetizam quem ouve, como tirei a prova lendo em aulas pra turma e em casa pro meu guri. Mas como ela domina sobretudo a linguagem da escrita por seus ritmos e imagens, referências e funduras, encanta a cabeça e infla o peito de quem a lê em silêncio, desenhando no seu tempo e na sua mente as figuras e passagens que nos entortam no desfrute nem sempre doce. Com apenas este livro, compilação, Lesley Arimah já é uma das grandes”. A slammer e apresentadora, Roberta Estrela D’Alva, no texto da versão brasileira da orelha do livro escreveu: “Vozes negras de um feminino diaspórico, que sempre chegando ou partindo de algo (uma pessoa, uma lembrança, um país, um medo) criam territórios imaginários, emocionais, familiares que nos transportam para o centro da ação”.

Com lançamento em 12 de julho de 2018, O que acontece quando um homem cai do céu é o segundo livro de autores das literaturas africanas de língua inglesa que a Kapulana lança neste ano. Em maio, a editora publicou o romance Esperança para voar, da jovem escritora Rutendo Tavengerwei, do Zimbábue, e em novembro será a vez do livro de memórias Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina.

12 de julho de 2018

 

★★★

Saiba mais sobre a escritora: https://www.kapulana.com.br/lesley-nneka-arimah/

Saiba mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/o-que-acontece-quando-um-homem-cai-do-ceu/

Saiba mais sobre a tradutora: https://www.kapulana.com.br/carolina-kuhn-faccin/

Assista ao booktrailer: https://www.youtube.com/watch?v=co_yxwtmq08

Leia as sinopses dos três livros africanos de língua inglesa: http://kapulana.com.br/em-2018-kapulana-lanca-tres-livros-de-autores-de-literaturas-africanas-de-lingua-inglesa/

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Leia as resenhas internacionais sobre o livro “O que acontece quando um homem cai do céu”, de Lesley Nneka Arimah, que a Kapulana lança no Brasil

O foco de Arimah é na construção do enredo que permeia a originalidade de contar surpreendentes histórias

Elogiado por jornais e revistas internacionais, o livro O que acontece quando um homem cai do céu, da autora de origem nigeriana Lesley Nneka Arimah, finalmente chega ao Brasil em uma extraordinária publicação da Editora Kapulana.

Em doze contos, a autora aborda histórias contadas majoritariamente de uma perspectiva feminina, e trazem questões como maternidade e relação mãe e filha, sacrifício, feminilidade, amadurecimento e violência. Alguns dos contos apresentam aspectos da literatura fantástica e afrofuturismo, outros são mais realistas. A autora ganhou o “Kirkus Prize” e recentemente o “Young Lions Fiction Award”, promovido por The New York Public Library, premiação que celebra os autores em ascensão no mundo da literatura. O livro também foi indicado para o “John Leonard Prize”, da National Book Critics Circle.

O foco de Arimah é na construção do enredo que permeia a originalidade de contar surpreendentes histórias. Sua habilidade narrativa é fascinante em textos concisos que abordam as relações humanas. Elogiada por diversos jornais e revistas internacionais, Arimah aborda o rompimento da rotina e a vulnerabilidade de seus personagens. O livro, traduzido por Carolina Kuhn Facchin, será lançado no dia 12 de julho. 

Com a publicação em julho, O que acontece quando um homem cai do céu é o segundo livro de autores das literaturas africanas de língua inglesa que a Kapulana lança neste ano. Em maio, a editora publicou o romance Esperança para voar, da jovem escritora Rutendo Tavengerwei, do Zimbábue, e em novembro será a vez do livro de memórias Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina.

Confira os trechos de resenhas e críticas na imprensa internacional:

 

“A voz de Arimah é vibrante e nova, os assuntos que ela traz são, ao mesmo tempo, oportunos e atemporais […] Este é um volume curto e raro que fui forçado a colocar nas mãos de amigos dizendo ‘Você tem que ler isso’.” (Washington Post, EUA, 13 de abril de 2017)

 

“[…] uma escritora surpreendente, cujas palavras desafiam o coração e a mente a permanecerem impassíveis. Com sua mistura fluida de humor sombrio, tristeza e visitas a um realismo mágico, algumas das histórias de Arimah parecem com as de Octavia Butler e Shirley Jackson. Porém, não há nada derivativo aqui. A escrita de Arimah é deliciosamente imprevisível. As palavras dela pulsam, verdadeiras.” (Boston Globe, EUA, 14 de abril de 2017)

 

“Arrepiante, surreal, frequentemente arrebatador… As histórias de Arimah são espirituosas, poéticas e queimantes, cheias de personagens com falhas, mas amáveis, e imagens que fazem o leitor querer reler algumas passagens. A autora tem um senso apurado de fantasia e do absurdo, e o seu trabalho se baseia em experiências e impulsos que parecem muito familiares.” (The Seattle Times, EUA, 16 de abril de 2017)

 

“Estranho e maravilhoso… uma contadora de histórias sagaz, oblíqua e provocativa, Arimah consegue encaixar a história de uma família em poucas páginas, e inventar parábolas utópicas, fábulas mágicas e cenários aterrorizante, movendo-se com desembaraço entre um distanciamento cômico e um realismo psicológico perspicaz […] As suas histórias de ficção científica, que trazem questões feministas e relativas ao meio-ambiente, lembram as de Margaret Atwood.” (New York Times Book Review, EUA, 11 de maio 2017)

 

“Arimah capta o senso de tempo narrativo e muda o tom caótico. Contos rápidos e impiedosos, deixando os enredos fora de nossas mãos”. (The Guardian, Reino Unido, 2 de setembro de 2017)

 

“Em sua coleção de estreia, Lesley Nneka Arimah mistura realismo mágico e elementos de ficção científica para criar um conjunto de histórias realmente únicas sobre família, amizade e a ideia de um lar, que vão deixar o leitor faminto para ler mais do seu trabalho.” (Cosmopolitan, EUA, 11 de dezembro de 2017)

 

“Deslumbrante… Cada história no conjunto de estreia de Arimah consegue cumprir a tarefa difícil de ser, ao mesmo tempo, complexa e convidativa. Parte da atração se deve às frases maravilhosas construídas por Arimah. Os temas são duros, e as situações são frequentemente desesperadoras, mas há algo estranhamente reconfortante sobre essas histórias. Talvez seja o fato de que nesses mundos problemáticos há personagens com os quais conseguimos nos conectar. Ou talvez seja mais simples do que isso. Talvez eles sejam nós.” (Critical Mass, EUA, 16 de janeiro de 2018)

26 de junho de 2018

★★★

Saiba mais sobre a escritora: https://www.kapulana.com.br/lesley-nneka-arimah/

Saiba mais sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/o-que-acontece-quando-um-homem-cai-do-ceu/

Saiba mais sobre a tradutora: https://www.kapulana.com.br/carolina-kuhn-faccin/

Leia as sinopses dos três livros africanos de língua inglesa: http://kapulana.com.br/em-2018-kapulana-lanca-tres-livros-de-autores-de-literaturas-africanas-de-lingua-inglesa/

 

EM PRÉ-VENDA NAS SEGUINTES LIVRARIAS:

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“Esperança para voar”, de Rutendo Tavengerwei, disponível em e-book

Kapulana lançou em maio o romance “Esperança para voar”, da jovem autora do Zimbábue, Rutendo Tavengerwei. E uma grande novidade, o livro também está disponível em e-book 

A obra de estreia da jovem autora narra a história de amizade de duas adolescentes. Shamiso retorna com sua família do Reino Unido para o Zimbábue, após a morte do pai, jornalista de oposição ao regime ditatorial da época. Ocorrido em 2008, ano de grave crise política nesse país africano, o livro mostra um lugar destroçado pela corrupção e pelo autoritarismo. Abre-se um enredo de como jovens no século XXI enfrentam perdas, rupturas, dores, miséria e autoritarismo. Delicado e emocionante, ao mesmo tempo em que nos apresenta um cenário africano com muita musicalidade, a obra é uma espécie de fábula universal, cujos fatos poderiam ter ocorrido em qualquer país em qualquer tempo. O livro foi traduzido por Carolina Kuhn Facchin.

 

Confira as livrarias com o romance disponível em e-book:

Amazon.com.br: https://amzn.to/2Iar9KR
Livraria Cultura: https://bit.ly/2IoUscH
Apple iBooks Store: https://apple.co/2lzBwPu
Google: http://bit.ly/2yGdlbs
Kobo: https://bit.ly/2Mpg2jN

Esperança para voar é o primeiro livro de literatura em língua inglesa que a Kapulana lança neste ano. Em 12 de julho, será publicado o livro de contos O que acontece quando um homem cai do céu, da autora de origem nigeriana Lesley Nneka Arimah. Em novembro, ocorrerá a publicação do livro de memórias, Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina.

 

★★★

Saiba mais sobre a escritorahttps://www.kapulana.com.br/rutendo-tavengerwei/

Saiba mais sobre o livrohttps://www.kapulana.com.br/produto/esperanca-para-voar/

Saiba mais sobre a tradutorahttps://www.kapulana.com.br/carolina-kuhn-faccin/

Uma entrevista com Rutendo Tavengerwei: https://www.kapulana.com.br/uma-entrevista-com-rutendo-tavengerwei-autora-de-esperanca-para-voar/

Assista ao vídeo com Rutendo Tavengerwei: https://www.youtube.com/watch?v=0oZBCwnbfTk&t=3s

Assista o booktrailer: https://www.youtube.com/watch?v=Vu0x0XTGnkw

Leia a resenha de Lu Bentohttps://www.kapulana.com.br/esperanca-para-voar-um-livro-envolvente-e-emocionante-por-luciana-bento/

Leia as sinopses dos três livros africanos de língua inglesa: http://kapulana.com.br/em-2018-kapulana-lanca-tres-livros-de-autores-de-literaturas-africanas-de-lingua-inglesa/

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[Sobre] O que acontece quando um homem cai do céu, de Lesley N. Arimah, por Roberta Estrela D’Alva

O povo negro sempre teve suas contadoras de histórias. Lembro-me de Dona Rosa, minha saudosa e enérgica avó, tecendo suas narrativas para uma plateia de netos um tanto atônita, um tanto maravilhada. Boas contadoras de história têm a capacidade de mover nossos sentidos com suas vozes. Foi exatamente assim que me senti ao ouvir Lesley Nneka Arimah. Sim, porque ainda que escrita, é uma voz que se escuta, e que faz com que muitas outras sejam escutadas, e às quais não há como se passar incólume. Vozes negras de um feminino diaspórico, que sempre chegando ou partindo de algo (uma pessoa, uma lembrança, um país, um medo) criam territórios imaginários, emocionais, familiares que nos transportam para o centro da ação. Uma negritude não- maniqueísta, onde não só a poesia e a virtude, mas também a crueldade de mulheres que se encontram dentro de sistemas com os quais tem que contracenar, e dos quais não conseguem escapar, estão expostas. Sombras de passados, luzes do presente, adestramento de cabelos e caráteres aos quais desde muito cedo mulheres negras são submetidas. Sem ranço, com ironia, humor e um tanto de imaginação fantástica que nos faz tirar os pés do chão (e cá pra nós, estamos precisando).

São Paulo, 4 de junho de 2018.

Roberta Estrela D’Alva é atriz, Mc, diretora, diretora musical, ativista, apresentadora e slammer. Formada em Artes Cênicas pela USP (Universidade de São Paulo), Roberta também fez mestrado em Semiótica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), onde atualmente cursa o doutorado.

Citar como: ESTRELA D’ALVA, Roberta.  In: ARIMAH, Lesley Nneka. O que acontece quando um homem cai do céu. (orelha) São Paulo: Kapulana, 2018.

 

 

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Confira a capa do livro “O que acontece quando um homem cai do céu”, de Lesley Nneka Arimah, com lançamento em julho

São histórias contadas majoritariamente de uma perspectiva feminina, e trazem questões como maternidade e relação mãe/filha, sacrifício, feminilidade, amadurecimento e violência

Conheça a capa brasileira do próximo lançamento da Kapulana. Em julho, a editora publica O que acontece quando um homem cai do céu, de Lesley Nneka Arimah. Em doze contos, a autora, de origem nigeriana, desenvolve diversas formas literárias que abrangem a distopia, as memórias da guerra na Nigéria, as relações complexas entre mãe e filha e a convivência humana com as tecnologias, muitas vezes com uma visão afrofuturista. Lesley ganhou o “Kirkus Prize”, além de o livro estar em várias listas dos mais lidos e mais recomendados de 2017. A obra é traduzida por Carolina Kuhn Facchin.

 

 

“A voz de Arimah é vibrante e nova, os assuntos que ela traz são, ao mesmo tempo, oportunos e atemporais”

(Washington Post, EUA, 13 de abril de 2017)

“Estranho e maravilhoso… uma contadora de histórias sagaz, oblíqua e provocativa, Arimah consegue encaixar a história de uma família em poucas páginas, e inventar parábolas utópicas, fábulas mágicas e cenários aterrorizante, movendo-se com desembaraço entre um distanciamento cômico e um realismo psicológico perspicaz”

 (New York Times Book Review, EUA, 11 de maio 2017)

“Arimah capta o senso de tempo narrativo e muda o tom caótico. Contos rápidos e impiedosos, deixando os enredos fora de nossas mãos”.

(The Guardian, Reino Unido, 2 de setembro de 2017)

 

Conheça a capa:

 

Com o lançamento em julho, O que acontece quando um homem cai do céu é o segundo livro de autores das literaturas africanas de língua inglesa que a Kapulana lança neste ano. Em maio, a editora publicou o romance Esperança para voar, da jovem autora Rutendo Tavengerwei, do Zimbábue, e em novembro será a vez do livro de memórias Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina.

22 de maio de 2018

★★★

 

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Leia as sinopses dos três livros africanos de língua inglesa: http://kapulana.com.br/em-2018-kapulana-lanca-tres-livros-de-autores-de-literaturas-africanas-de-lingua-inglesa/

 

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Revelação do Zimbábue, Rutendo Tavengerwei lança pela Kapulana, no Brasil, o romance “Esperança para voar”

Rutendo Tavengerwei aborda uma emocionante história, com extraordinárias personagens, dialogando e refletindo sobre as mudanças da adolescência, as questões político-sociais e, claro, a importância da amizade

Já à venda nas livrarias o novo livro publicado pela Editora Kapulana, o romance Esperança para voar, de Rutendo Tavengerwei, do Zimbábue. A obra de estreia da jovem autora narra a história de amizade de duas adolescentes. Shamiso retorna com sua família do Reino Unido para o Zimbábue, após a morte do pai, jornalista de oposição ao regime ditatorial da época. Ocorrido em 2008, ano de grave crise política nesse país africano, o livro mostra um lugar destroçado pela corrupção e pelo autoritarismo. Abre-se um enredo de como jovens no século XXI enfrentam perdas, rupturas, dores, miséria e autoritarismo. Delicado e emocionante, ao mesmo tempo em que nos apresenta um cenário africano com muita musicalidade, a obra é uma espécie de fábula universal, cujos fatos poderiam ter ocorrido em qualquer país em qualquer tempo.

“Quando refleti sobre 2008, percebi que a maioria das minhas lembranças e a maneira como eu via o mundo era da perspectiva de uma adolescente, então fez sentido para mim que as protagonistas fossem adolescentes”, explicou a autora em entrevista exclusiva para a Kapulana. “Ainda mais porque lições sobre esperança e perseverança são importantes, e eu queria compartilhá-las especialmente com o público jovem”, concluiu.

Promissora e com hábil desenvolvimento narrativo, Rutendo aborda uma emocionante história, com extraordinárias personagens, dialogando e refletindo sobre as mudanças da adolescência, as questões político-sociais e, claro, a importância da amizade. “De certa maneira, eu traço paralelos entre minha escrita e meu cotidiano. Acho que é importante, se você quer que a história fique plausível, usar situações reais e adicioná-las à história. Então, em alguns casos, se eu escuto algo interessante ou engraçado, às vezes eu tento incorporar isso à história. Mas tanto de minha vida está na minha escrita. Eu escrevo sobre música e os sons que escuto, escrevo sobre cenários que eu acho maravilhosos. Basicamente, eu tento compartilhar tudo que me toca com o mundo”, destacou a escritora. “O mundo é muito caótico, e muitas coisas frustrantes acontecem em nossos países e nas nossas vidas pessoais também. A história da Shamiso e da Tanyaradzwa é sobre lutar para sair de tempos difíceis, e preservar a esperança em momentos sombrios. Meu desejo é que esta história sobre esperança inspire a vida dos leitores, mesmo que de uma maneira singela”, desejou a autora.

Em seu texto na versão brasileira na orelha do romance, a blogueira Luciana Bento apontou: “Este é um YA (Young Adult) contemporâneo que apresenta questões universais , sem perder a essência africana […] Rutendo Tavengerwei tem uma voz própria que cala estereótipos sobre África ressoando jovialidade e leveza na escrita mesmo diante de temas áridos. Esperança para voar nos apresenta um novo momento da literatura de língua inglesa africana”.

Esperança para voar é o primeiro livro de literatura em língua inglesa que a Kapulana lança neste ano. Em julho, será publicado o livro de contos O que acontece quando um homem cai do céu, da autora de origem nigeriana Lesley Nneka Arimah. Em novembro, ocorrerá a publicação do livro de memórias, Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina.

 

 

★★★

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Uma entrevista com Rutendo Tavengerwei: https://www.kapulana.com.br/uma-entrevista-com-rutendo-tavengerwei-autora-de-esperanca-para-voar/

Assista ao vídeo com Rutendo Tavengerwei: https://www.youtube.com/watch?v=0oZBCwnbfTk&t=3s

Assista o booktrailer: https://www.youtube.com/watch?v=Vu0x0XTGnkw

Leia a resenha de Lu Bentohttps://www.kapulana.com.br/esperanca-para-voar-um-livro-envolvente-e-emocionante-por-luciana-bento/

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À VENDA NAS SEGUINTES LIVRARIAS:

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Entrevista com Rutendo Tavengerwei, autora de “Esperança para voar”

RUTENDO TAVENGERWEI, nascida no Zimbábue, autora de Esperança para voar, concede entrevista à Editora Kapulana

1- Como surgiu a ideia de escrever o romance e como foi a construção das personagens Shamiso e Tanyaradzwa?

R- Uma das coisas pelas quais meu país é conhecido é a instabilidade econômica e política de 2008, mas o que sempre me incomodou é que não há muitas histórias sendo contadas por habitantes do Zimbábue sobre o que realmente estava acontecendo no país. Então, enquanto eu estava escrevendo “Esperança”, eu queria tentar contar a história de 2008 de uma perspectiva zimbabuana*. Especialmente porque a maior parte da história foi escrita em 2016, quando as coisas estavam começando a piorar de novo, e eu queria mandar uma mensagem de esperança para os zimbabuanos que estavam desesperados, e usar minha voz para resistir com os milhares de habitantes do Zimbábue que estava exigindo que o governo instituísse mudanças.

Quando refleti sobre 2008, percebi que a maioria das minhas lembranças e a maneira como eu via o mundo era da perspectiva de uma adolescente, então fez sentido para mim que as protagonistas fossem adolescentes. Ainda mais porque lições sobre esperança e perseverança são importantes, e eu queria compartilhá-las especialmente com o público jovem.

2- Em seu romance, é muito importante a contextualização geográfica e histórica sobre o Zimbábue. Para você, na elaboração do enredo, o que veio primeiro: o desenvolvimento da trama, detalhes narrativos e personagens ou a circunstância político-social do país?

R- Não acho que houve uma cronologia clara quanto ao que veio antes. Meu processo de escrita é relativamente aleatório e não ortodoxo. Então, a situação político-social definitivamente inspirou a trama e as personagens. Mas a trama também influenciou a caracterização; os eventos que eu escolhi para a história determinaram como as personagens seriam, por causa de como eu queria que elas respondessem a esses eventos. Então, resumindo, foi um processo bastante “misturado”.

3- Você traça um paralelo entre seu processo de escrita e seu cotidiano?

R- De certa maneira, eu traço paralelos entre minha escrita e meu cotidiano. Acho que é importante, se você quer que a história fique plausível, usar situações reais e adicioná-las à história. Então, em alguns casos, se eu escuto algo interessante ou engraçado, às vezes eu tento incorporar isso à história. Mas tanto de minha vida está na minha escrita. Eu escrevo sobre música e os sons que escuto, escrevo sobre cenários que eu acho maravilhosos. Basicamente, eu tento compartilhar tudo que me toca com o mundo.

4- A carta/apresentação no início do livro mostra como você está feliz de publicá-lo, e como isso é importante para você. O que significa para você estar publicando este livro? Você sempre sonhou em escrever um livro?

R- Eu quero ser escritora desde que eu tinha 6 anos, como disse na carta. O amor dos meus pais por contar histórias e pela escrita foi inegavelmente contagioso. No início do Ensino Médio, eu costumava comprar caderninhos de 32 páginas e escrever histórias para os outros alunos lerem. Os meus colegas gostavam do que eu escrevia, e isso me encorajou a continuar. E eu lembro que costumava dizer para todo mundo que um dia eles leriam um livro meu de verdade, que eles comprariam na livraria. E acho que esse dia chegou.

“Esperança” é particularmente importante para mim por causa da mensagem que ele traz. Não é apenas uma mensagem positiva para o mundo, mas também um lembrete para que eu não esqueça de ter esperança. E para mim foi muito importante usar minha voz para protestar contra as grandes injustiças que estavam acontecendo no meu país.

5- Quem são os escritores que mais influenciaram você, e quais são os seus gêneros favoritos?

R- Eu cresci lendo Enid Blyton. Os livros dela ampliaram minha imaginação e meu gosto por aventuras, e eu amava as histórias dela porque eu conseguia imaginar o que ela estava descrevendo.

No Ensino Médio eu lia muito as escritoras Tsitsi Dangarembga e Chimamanda Ngozi Adichie. Elas me fizeram sentir que não era impossível a literatura africana ser lida no mundo todo, em especial a literatura africana escrita por mulheres negras. Particularmente, eu devo ter lido o “Hibisco roxo” da Chimamanda mais de uma dúzia de vezes, muito interessada no uso que ela faz da linguagem e em como ela se atém às suas raízes nigerianas. Eu sabia que queria escrever de maneira parecida.

E, é claro, para mim foi sempre um prazer ler Shakespeare. Eu sempre amei como a escrita dele é lírica e poética. Como ele criava sua própria linguagem e expressões. Eu acabo fazendo isso muito quando escrevo; a linguagem, como qualquer experiência gastronômica, deve ser apresentada e saboreada.

Recentemente, tenho me inspirado muito em Angie Thomas e Tomi Adeyemi. Porque a escrita delas é um movimento, uma contribuição para o difícil diálogo sobre a marginalização dos negros nos Estados Unidos, mas também porque as histórias que elas contam passam uma mensagem para o público jovem. E eu sempre acreditei muito nisso.

Quanto aos gêneros, não sei se consigo escolher um favorito. Eu leio qualquer coisa que seja interessante, porém tenho uma tendência a gostar de livros que ensinem algo a seus leitores, seja qual for o gênero.

6- Você planeja escrever outros livros?

R- Sim, planejo escrever outros livros, porque eu realmente amo escrever e compartilhar minhas histórias com o mundo. Eu acredito que é muito importante que livros de escritores marginalizados se tornem a norma na literatura contemporânea, porque isso nos ajudaria a entender mais uns sobre os outros, apesar das nossas diferenças. E mais do que isso, porque talvez uma menina com um sonho como o meu, que sente que ninguém prestaria atenção nela por causa da cor da pele dela ou do país de onde ela é, pudesse ver que não é impossível. 

Eu já estou trabalhando no meu próximo livro, que também vai se passar no Zimbábue. Quero dividir um pouco mais da história do Zimbábue nesta próxima história, e compartilhar mais sobre a cultura também.

7- Finalmente, considerando a situação atual do mundo, você tem uma mensagem para os leitores brasileiros que vão conhecer Shamiso e Tanyaradzwa?

R- O mundo é muito caótico, e muitas coisas frustrantes acontecem em nossos países e nas nossas vidas pessoais também. A história da Shamiso e da Tanyaradzwa é sobre lutar para sair de tempos difíceis, e preservar a esperança em momentos sombrios. Meu desejo é que esta história sobre esperança inspire a vida dos leitores, mesmo que de uma maneira singela.

02 de abril de 2018.

(*) Em 2008 ocorreram tumultuadas eleições presidenciais no Zimbábue. A disputa ocorreu entre Robert Mugabe (ZANU), presidente do país desde 1987 e o opositor Morgan Tsvangirai (MDC). Em 29 de março ocorreu o primeiro turno das eleições, que apontaram pequena maioria dos votos para Tsvangirai. Entre a data de divulgação deste fato e o segundo turno das eleições, seguidores dos dois partidos travaram violentos conflitos que resultaram em dezenas de mortes. Diante da situação, Tsvangirai decidiu desistir de concorrer ao cargo, afirmando que seus eleitores corriam risco de serem mortos, o que fez com que Mugabe fosse mais uma vez eleito.

 

Citar como:

TAVENGERWEI, Rutendo. Entrevista. São Paulo: Kapulana, 02 abr. 2018. [Trad. de Carolina Kuhn Facchin]. Disponível em: https://www.kapulana.com.br/uma-entrevista-com-rutendo-tavengerwei-autora-de-esperanca-para-voar/

Saiba mais:

sobre a escritora: https://www.kapulana.com.br/rutendo-tavengerwei/

sobre o livro: https://www.kapulana.com.br/produto/esperanca-para-voar/

um vídeo com Rutendo Tavengerwei: https://www.youtube.com/watch?v=0oZBCwnbfTk&t=11s&mc_cid=fc7d7ceed9&mc_eid=d9a246dbcb

 

 

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Esperança para voar: um livro envolvente e emocionante, por Luciana Bento

Sabe quando você começa a ler um livro e ele automaticamente transporta você para outro lugar? Esperança para voar é um desses livros. Ele conta a história de duas adolescentes, Shamiso e Tanyaradzwa, que fazem da perda – concreta ou iminente – um caminho para o florescimento de uma amizade e para o amadurecimento pessoal.

Shamiso é uma jovem que retorna ao Zimbábue com sua família após crescer no exterior. Seu pai, um famoso jornalista investigativo e contrário ao governo, é morto em circunstâncias suspeitas e ela precisa se adaptar ao novo rumo de sua vida.  A ausência do pai, o novo colégio interno e a distância das amigas da Europa… tanta coisa acontecendo! Shamiso sente dificuldades em se adaptar à nova rotina e estabelecer vínculos com seu país de origem e as pessoas ao seu redor.

Tanyaradzwa é uma garota feliz. Nem a terrível doença que enfrenta é capaz de afetar a sua paixão pela música e sua vontade de viver. Mas os sintomas da doença são cada vez mais marcantes e sua fraqueza aparente pode impedi-la de fazer o que mais ama: cantar.

Esperança para voar narra o encontro dessas duas jovens que amadurecem juntas a partir das dificuldades e que lutam contra as vozes que gritam para que elas desistam de tudo. Em meio à uma situação política delicada e um caos social, as duas precisam descobrir uma forma de lidar com as transformações em suas vidas.

Ao mesmo tempo que o encontro das amigas poderia se dar em qualquer lugar do mundo sem perder o sentido, a autora reforça a importância da territorialidade na narrativa, situando seu livro em um importante momento da história recente do país. De forma leve e cuidadosa, Rutendo traz para a literatura o contexto político do Zimbábue a partir dos relacionamentos humanos e nos apresenta os impactos das escolhas políticas no cotidiano da população.

Em seu romance de estreia, Rutendo Tavengerwei mostra que sua juventude não é sinônimo de imaturidade na escrita. Sua obra traz uma nova perspectiva sobre realidade africana, em especial a do Zimbábue, que também é o país de origem da autora.  Aborda questões universais como a morte e a política sem perder a essência africana. A musicalidade é o pano de fundo perfeito, conferindo ritmo ao enredo e uma melodia que amarra todo a história.

A edição do livro reforça o compromisso da editora Kapulana em apresentar ao público brasileiro narrativas africanas contextualizadas. Termos tradicionais são mantidos na tradução, e essa decisão editorial é fundamental para que os leitores permaneçam atentos à riqueza cultural e étnica do universo narrado.

Um livro envolvente e emocionante que trata de temas áridos sem ser piegas e nos mostra o valor da coragem de lutar pelo que se acredita. A autora diz na nota introdutória ao livro que seu objetivo era contar uma história que trouxesse uma mensagem ao leitor sem subestimar o quão difícil a vida pode ser. Ao final da leitura, suspirei com aquele sorriso satisfeito por conhecer essa história. Rutendo, creio que a sua mensagem foi recebida.

São Paulo, 1 de abril de 2018.

Luciana Bento – A mãe preta

 

Citar como: BENTO, Luciana. “Esperança para voar: um livro envolvente e emocionante.” In: Tavengervei, Rutendo. Esperança para voar. Trad. Carolina Kuhn Facchin. São Paulo: Kapulana, 2018.

 

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Confira a capa do romance ‘Esperança para voar’, da jovem escritora Rutendo Tavengerwei

O romance, com lançamento para maio, é a primeira obra das literaturas de língua inglesa que a Kapulana publica neste ano. Os títulos, inéditos e com primeiras traduções em língua portuguesa, são de diversas temáticas e estilos literários

Esperança para voar narra a história de superação e amizade de duas adolescentes. Shamiso retorna com sua família do Reino Unido para o Zimbábue, após a morte do pai, jornalista de oposição ao regime ditatorial da época. O cenário é o Zimbábue, em 2008, ano de grave crise política nesse país africano, destroçado pela corrupção e pelo autoritarismo. Abre-se um enredo de como jovens no século XXI enfrentam perdas, rupturas, dores, miséria e autoritarismo. Delicado e emocionante, ao mesmo tempo em que nos apresenta um cenário africano com muita musicalidade, a obra é uma espécie de fábula universal, cujos fatos poderiam ter ocorrido em qualquer país em qualquer tempo.

Rutendo Tavengerwei nasceu, cresceu e estudou no Zimbábue, onde morou até os dezoito anos. Em seu primeiro romance, a jovem autora constrói uma emocionante narrativa, com extraordinárias personagens, dialogando diretamente com o público jovem, além de abordar as mudanças da adolescência, a superação e, claro, a importância da amizade. A obra, traduzida por Carolina Kuhn Facchin, será lançada no Brasil pela Editora Kapulana.

Veja abaixo a capa:

O romance é o primeiro das literaturas de língua inglesa que a editora lança neste ano. Os títulos, inéditos e com primeiras traduções em língua portuguesa, são de diversas temáticas e estilos literários. Em julho será publicado o livro de contos O que acontece quando um homem cai do céu, da autora de origem nigeriana Lesley Nneka Arimah. E em novembro ocorrerá o lançamento do livro de memórias Um dia vou escrever sobre este lugar, do queniano Binyavanga Wainaina.

Saiba mais:

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Kapulana celebra o Dia da Mulher Moçambicana

A data é comemorada em 7 de abril e homenageia Josina Machel

O Dia da Mulher Moçambicana é comemorado no dia 7 de abril. Na ocasião, é lembrado do aniversário de morte de Josina Machel (1945-1971), segunda esposa de Samora Machel (1933-1986), primeiro presidente de Moçambique após a independência. Josina, que se juntou à Luta Armada de Libertação Nacional ainda jovem, é destacada como heroína de Moçambique, por batalhar a favor da independência de seu país, além de ser inspiração do movimento feminino moçambicano.

A Kapulana tem muito orgulho de publicar as obras literárias de magníficas autoras moçambicanas e homenagear a data simbólica do país africano.

Josina Machel

Confira as autoras moçambicanas que fazem parte do catálogo da editora:

Lica Sebastião – Nasceu em Maputo, capital de Moçambique. Fez a licenciatura em Ensino do Português em 1994. Concilia a atividade docente com as artes plásticas e a poesia desde 2006. Participou de exposições coletivas e realizou várias mostras individuais. É membro do “Núcleo de Arte” em Maputo.

Livro publicado pela Kapulana: 

de terra, vento e fogo, da série “Vozes da África”, é uma coletânea inédita de poemas da escritora moçambicana. Em seu primeiro livro publicado no Brasil, a poeta expressa um lirismo incontido quando expõe corajosamente suas alegrias e angústias. Para o título, escolheu três dos quatro elementos da natureza, terra, vento e fogo. O quarto elemento, a água, aparecerá para o leitor durante a leitura deste precioso conjunto de versos. Amanda de Azevedo criou as delicadas vinhetas para esta edição.

 

Noémia de Sousa – Nasceu em 1926, em Catembe, vila no litoral Sul de Moçambique, banhada pelo Oceano Índico, na baía de Maputo, bem em frente à capital de Moçambique. Faleceu em 2002, em Cascais, Portugal. Por sua influência nas gerações de poetas de Moçambique, ficou conhecida como “Mãe dos poetas moçambicanos”. É autora de densa obra poética, que representa a resistência da mulher africana e luta do povo moçambicano por sua liberdade. 

Livro publicado pela Kapulana: 

Seu único livro, Sangue negro, é composto por 49 poemas, escritos entre os anos de 1948 e 1951 do século passado, que circularam em jornais como O brado africano. Em 2001, seus poemas foram reunidos no livro Sangue negro, publicado pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) e, dez anos mais tarde, uma nova edição foi publicada pela editora moçambicana Marimbique. No ano de 2016, a Editora Kapulana publicou a primeira edição brasileira da obra, com os 49 poemas mais marcantes da literatura moçambicana.

 

Sílvia Bragança – Nasceu em Goa, na Índia, e vive em Moçambique há muitos anos. É professora, pintora, poeta e escritora. Sempre teve paixão por crianças e dedica-se a projetos de educação com crianças moçambicanas. É artista bastante conhecida internacionalmente e faz várias exposições de arte na Índia, em Portugal e em Moçambique. Silvia foi casada com Aquino de Bragança, figura importante na libertação dos povos africanos e na luta contra o sistema colonial português. Aquino morreu em 1986 em um acidente de avião, no qual se encontrava toda a comitiva do então presidente de Moçambique, Samora Machel, também falecido na ocasião, de quem era muito próximo.

Livro publicado pela Kapulana: 

Na obra Sonho da Lua, da série “Vozes da África”, a escritora Sílvia Bragança, com vasta e profunda vivência em Moçambique, nos oferece dez poemas infantis sobre o universo, apresentando às crianças o mundo que está ao seu redor, visível ou não. As ilustrações da brasileira Amanda de Azevedo enriquecem ainda mais as pequenas joias poéticas de Sílvia sobre a lua, o vento, a chuva, o elefante, a aranha, as flores, os pássaros, o arco-íris e outros elementos da natureza.

 

 

Sónia Sultuane – Nasceu em Maputo, em 4 de março de 1971. É uma artista multifacetada: poeta, artista plástica e curadora. Sultuane é uma voz afirmada na poesia, desde a estreia com a obra Sonhos, em 2001. Ganhou notoriedade em Imaginar o poetizado, 2006, e No colo da lua, 2009. Publicou igualmente o conto infantojuvenil A Lua de N’weti, 2014. É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), onde ocupou o cargo de Secretária da Assembleia Geral.

 

Livro publicado pela Kapulana: 

Em Roda das encarnações, da série “Vozes da África”, a poeta moçambicana emociona o leitor ao revelar suas impressões mais profundas, como mulher, mãe, poeta e trabalhadora. Os poemas levam o leitor por um universo sensorial e místico em que as vivências espiritual e terrena se misturam, numa viagem por Moçambique, pela Índia e pelo interior vivo e profundo da poeta. Amanda de Azevedo criou delicadas vinhetas para esta edição.

 

Tatiana Pinto – Nasceu na Zambézia, província do norte de Moçambique, em 1985. Em Moçambique, viveu 17 anos da sua vida. Após isso, foi viver mais uns tantos em Timor-Leste, país de sua mãe. Em 2006 mudou-se para Portugal para estudar Jornalismo. Após  terminar o curso, decidiu regressar para Moçambique.

Livro publicado pela Kapulana: 

A viagem é o terceiro volume da série “Contos de Moçambique”. Masud e Wimbo tinham dois filhos, Agot e Mbuio, e uma filha, Inaya, que deseja ter o mesmo tratamento que seus irmãos. Ela sai de sua aldeia para salvá-los em outra cidade. Durante seu caminho, descobre sua força e coragem. Luís Cardoso usa diversas técnicas para dar vida aos bonecos tradicionais de Tomás Muchanga, ilustrando belamente esta história moçambicana.

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Em 2018, Kapulana lança três livros de autores de literaturas africanas de língua inglesa

Rutendo Tavengerwei, Lesley Arimah e Binyavanga Wainaina são os autores dos  títulos inéditos da Kapulana, que tratam de diversas temáticas em cenários do Zimbábue, Nigéria e Quênia

 

Neste ano, a Editora Kapulana amplia seu catálogo e publica três obras de autores africanos de língua inglesa. Em maio, chegará aos leitores brasileiros o romance Esperança para voar, da zimbabuense Rutendo Tavengerwei. Já em julho, será lançado o premiado livro de contos de Lesley Nneka Arimah, de origem nigeriana – O que acontece quando um homem cai do céu. E em novembro ocorrerá a publicação do livro de memórias, do queniano Binyavanga Wainaina – Um dia vou escrever sobre este lugar.

Confira as sinopses dos três livros:

Esperança para voar, de Rutendo Tavengerwei, jovem escritora do Zimbábue, é a história de superação e amizade de duas adolescentes, Shamiso e Tanyaradzwa. Shamiso retorna com sua família do Reino Unido para o Zimbábue, após a morte do pai, jornalista de oposição ao regime ditatorial da época. O cenário é o Zimbábue, em 2008, ano de grave crise política nesse país africano, destroçado pela corrupção e pelo autoritarismo. É a história de como jovens no século XXI enfrentam perdas, rupturas, dores, miséria e autoritarismo. Esse delicado e emocionante livro, ao mesmo tempo em que nos apresenta um cenário africano com muita musicalidade, é uma espécie de fábula universal, cujos fatos poderiam ter ocorrido em qualquer país em qualquer tempo.

O que acontece quando um homem cai do céu é o livro de estreia da premiada Lesley N. Arimah. Elogiado por jornais e revistas do mundo todo, o livro discute, em doze contos, diversas temáticas contemporâneas como o insólito, a distopia, as memórias da guerra na Nigéria, a convivência humana com as tecnologias, a infância, a mulher na sociedade, e o embate entre as tradições familiares e a cultura na América – a autora nasceu no Reino Unido, viveu na Nigéria e agora mora em Minnesota, nos Estados Unidos.

Um dia vou escrever sobre este lugar, do escritor queniano Binyavanga Wainaina, conta suas memórias desde a infância, de forma bastante lírica, dando grande ênfase às questões linguísticas e culturais, revelando muito da história do Quênia e de outros países da África, como Uganda e África do Sul. O autor é um digital influencer bastante ativo em questões relativas à África e ao ativismo LGBTQ+, já participou de TED Talks e escreveu para grandes revistas e jornais, como National Geographic e NY Times. Em 2017, a Times o elegeu como “Uma das 100 pessoas mais influentes do mundo”. A edição da Kapulana inclui texto inédito do autor: “I am a homosexual, mum”.

Conheça os próximos lançamentos: https://www.kapulana.com.br/proximos-lancamentos/

Conheça as biografias dos novos escritores: https://www.kapulana.com.br/nossos-autores/